domingo, 18 de março de 2012

A Arte e a Ética

A relação entre a arte e a ética apresenta, pelo menos, duas correntes, segundo as quais: a arte tem o direito de ser imoral; a ética deve ser moral. Entretanto, e numa perspectiva eclética, há os que defendem que a arte é amoral.
Afirmar a amoralidade da arte, provavelmente, comporta dois aspetos que são: negar, pura e simplesmente a possibilidade de uma relação ético-estética e afirmar que a imoralidade se dissolve no cadinho da arte.
No primeiro aspeto, nega-se, implicitamente, a ação formativa da arte no sentido vivo, amplo, de formação de gerações inteiras, pelo contato direto com as grandes manifestações artísticas. No segundo aspeto, a arte transformaria tudo em que toca, e então o mais fétido lodo surgiria transformado em oiro.
Tratar o elemento estético à maneira de realidade de coisa, é tratá-lo como matéria de que o artista se serve. O artista, como tal, escolhe o que exprime, exprime o que pensa. Mas o artista pode ser moral ou imoral, mas desta situação nada se conclui para a arte.
O preceito dado ao artista, numa perspectiva de amoralidade da arte, destina-se a dar-lhe plena liberdade de ação ou é desnecessário? A amoralidade só pode ser preceito negativo se condicionar o passo do artista, de contrário só o liberta de uma condição prévia, ou seja, de um preceito.
A arte jamais pode ser vista, exclusivamente, pela perspectiva da eticidade, na medida em que se pode encontrar o belo numa qualquer manifestação de arte, seja ela moralmente condenável ou não. A Beleza abstrai-se, distingue-se e aprecia-se naquilo que ela nos toca de mais profundo, no nosso juízo de gosto, pois quem não admira um nu do Éden, quem não se maravilha com um óleo da maternidade?
A arte e a ética jamais se confundem ou se condicionam, muito embora se entenda como bela uma boa ação moral, no entanto, tal beleza é de natureza abstrata, inefável e, nesse campo, poderemos relacionar a Arte e a Ética defendendo, então, que toda a atividade humana, logo e também a atividade artística, se deve conformar às leis da moral e deve ser orientada no sentido do fim último do homem, que é Deus.
Daqui não será líquido concluir que o artista tenha sempre em vista a glorificação de uma virtude, porque na alma dos espetadores a emoção estética, que o artista sentiu pela produção de tal obra, é manifestamente patente, sendo por meio desta emoção estética que a arte se realiza, e inspira virtude, porque na verdade a emoção estética desapega a alma de tudo o que é pequeno e mesquinho, elevando-se à contemplação de Deus, fonte de toda a Beleza.
Obviamente que a arte é um refúgio, onde o homem encontra repouso das suas preocupações vitais, porque faz nascer nele o sentimento de admiração, desenvolve a simpatia, produz o respeito, contribui para uma melhor educação individual e coletiva e, nesse sentido, se pode afirmar que um país sem arte é um país sem cultura, porque as obras de arte mostram-nos o que de mais perfeito foi feito, num determinado país, durante uma época bem definida.

Bibliografia

DUCASSÉ, P., (s.d.). As Grandes Correntes da Filosofia. 5ª Ed. Lisboa: Publicações Europa-América
HADJINICOLAOO, N., (1978). História das Artes e Movimentos Sociais. Lisboa: Edições 70
MARCUSE, H., (s.d.). A Dimensão Estética. Lisboa: Edições 70
PLAZAOLA, Juan, (1973). Introdución a la Estética. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos
SCHILLER, Johann Christoph Friedrich von, (s.d.). Cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade. Buenos Aires: Ed. Aguilar.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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