terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Paz Social para uma Estabilidade Dinâmica

Só as obsessões, próprias da teimosia, do orgulho inflamado, da arrogância e da prepotência, é que possibilitam comportamentos tão desestabilizadores, quanto injustos e prejudiciais à tranquilidade, harmonia e paz sociais.
A estabilidade que conduz a uma determinada paz, equivalente ao marasmo ou à acomodação, obviamente que não interessa, na medida em que prejudica o desenvolvimento, a troca de conhecimentos, de experiências, de ideias e de opiniões. Uma estabilidade sem progresso, sem debate, sem democracia, seria própria de uma monopartidocracia qualquer.
Não é isso que se está a defender aqui, mas, bem pelo contrário, uma estabilidade dinâmica, que se credibiliza pela evolução, isto é: cada meta alcançada e ganha, a favor da comunidade, deve ser consolidada; fixados os seus resultados, a partir dos quais se avança para novos objetivos; caminhando sempre para um valor-ideal, o da perfeição, conscientes, porém, que jamais será alcançado, embora, persistentemente buscado.
O confronto de ideias, a utilização recíproca de conhecimentos e experiências, sem recurso a ‘bodes expiatórios’, aproveitando os erros do passado, para com eles se aprender ou, pelo menos, a não repeti-los, e conjugando as sinergias de todas as pessoas e grupos de boa-vontade, parece uma boa metodologia para apaziguar ânimos mais exaltados, compreender as razões pelas quais certos factos aconteceram, e determinadas pessoas e/ou grupos tiveram comportamentos diferentes dos esperados.
Nem sempre o que parece é e, em política, como em religião, entre quase todas as restantes atividades, e como em tudo na vida, tal como se aplica, através do aforismo que nos ensina que: “à mulher de César, não basta parecer; é preciso ser”, na circunstância, é necessário parecer e ser, por exemplo, honesta ou, numa outra situação e interveniente: “não basta parecer sério; é preciso ser sério”.
No contexto da governação política, poucos valores são tão importantes como a estabilidade, não significando que seja este o único, e o mais valorizado valor, numa hierarquia axiológica, ou no quadro das referências ético-políticas. Em democracia é muito difícil governar, devido, justamente, à instabilidade provocada pela luta política pelo poder.
Os interventores políticos têm dificuldades em separar a dimensão pública da cidadania, da dimensão privada dos adversários, recorrendo, quantas vezes, acreditando-se que sem intencionalidade ofensiva, ao insulto, à ingerência na vida particular do concorrente, na família, na atividade profissional, tudo vasculhando para denegrir e eliminar o opositor político.
A estas práticas, normalmente, adiciona-se: uma linguagem complexa, por demasiado técnica, por excessivamente ambígua; também pela circularidade dos desenvolvimentos temáticos, vislumbrando-se, eventualmente, algumas técnicas ‘tautológicas’, um certo “cinzentismo” que nada afirma e nada nega, mas que poucos entendem.
A estabilidade social, no seio de uma comunidade, como são os aglomerados populacionais, da maior parte dos concelhos portugueses, consegue-se, portanto, a partir dos comportamentos modelares dos dirigentes, através de uma comunicabilidade assertiva, que se caracteriza, por uma: «Comunicação transparente, através da qual as pessoas expressam necessidades, pensamentos e sentimentos, de forma clara, honesta e direta, respeitando o direito dos outros. (…) A comunicação assertiva é o estilo que possibilita SER e PARECER, pois suas características estimulam uma comunicação transparente, honesta, objectiva e de mão dupla. A pessoa que adopta a comunicação assertiva consegue estabelecer as duas direcções que flexibilizam e dão equilíbrio à sua relação com o outro: influenciar e ser influenciado. » (MARTINS, 2005:16, 28, 48, 50).
A estratégia, normalmente, utilizada por regimes prepotentes, passa pelo recurso a várias ‘técnicas’, como por exemplo: lançar a divisão entre os que se pretende governar; pelo obscurantismo e desinformação da população; pela hipocrisia envolvida em lamúria e tristeza, por situações conhecidas, entre outras.
Felizmente, neste primeiro quarto do século XXI, têm vindo a implementarem-se e a consolidarem-se instrumentos políticos, os quais se revelam s propícios à eliminação de tais sistemas políticos, embora, ainda, sem resultados evidentes, sendo a Democracia, atualmente, um valor frágil, mas essencial ao exercício pleno da cidadania.
Hoje, pretende-se que se formem verdadeiros líderes, no sentido profundo da Democracia, da comunicação e do comportamento assertivos. É não só desejável como imperioso a prática do diálogo democrático-assertivo, de elevado nível, e no respeito pela dignidade dos interlocutores, independentemente das suas posições.
Atualmente, desejam-se líderes com autoridade democrática. Adotando, pois, alguns princípios e valores de liderança assertiva, num contexto de sinceras relações humanas, é possível viver com estabilidade, até com amizade e simpatia, na medida em que: «As relações sociais são cruciais para o desenvolvimento do indivíduo. Um corolário é que apenas através da experiência de outras pessoas podemos aprender a fazer frente a outras pessoas e compreendê-las, e isto, evidentemente, pressupõe que permitamos às nossas mentes permanecer abertas e que estejam preparadas para reconsiderar nossos próprios pontos de vista, quando estes forem questionados por outros. » (WILLIAMS, 1978:95).
No espaço físico-territorial dos municípios portugueses, obviamente que os Presidentes das Câmaras Municipais e os Presidentes das Juntas de Freguesia, politicamente considerados como as máximas autoridades civis locais, são os líderes que devem constituir-se em paradigmas dos valores genuinamente humanos, tais como: o respeito pelo seu concidadão; pela dignidade da pessoa humana; a tolerância, a solidariedade, a humildade democrática e tantos outros.
Os líderes locais devem simbolizar a autoridade democrática, a garantia da estabilidade social, os dinamizadores do trabalho em equipa, quaisquer que sejam as tarefas, com objetivos inequivocamente comunitários, os moderadores de conflitos, solucionadores de problemas e das dificuldades, enfim, devem ser os garantes de uma genuína e insofismável paz social, num clima de liberdade, de empatia, de relações humanas assertivas, de sincera amizade, ajudando a construir uma comunidade de valores, verdadeiramente solidária e coesa.
A estabilidade dinâmica é a palavra-chave para o êxito dos líderes, quaisquer que sejam os níveis do poder que ocupam. A segurança pode conseguir-se pela generosidade, pela humildade, pela compreensão, pela entreajuda, pela tolerância e pelo respeito pela pessoa humana. É impossível liderar-se e pretender-se a paz e coesão pela “força violenta das armas”, considerando-se aqui como armas, por exemplo, o insulto, a humilhação, a perseguição e todos os métodos que violam os mais elementares direitos humanos.

Bibliografia

MARTINS, Vera Lúcia Franco, (2005). Seja Assertivo – como ser direto, objetivo e fazer o que tem de ser feito: como construir relacionamentos saudáveis usando a assertividade. Rio de Janeiro: Elsevier
WILLIAMS, Michael, (1978). Relações Humanas. Tradução, Augusto Reis. São Paulo: Atlas


Venade/Caminha – Portugal, 2019

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
                                                                                                                                                http://nalap.org/Directoria.aspx                      

domingo, 29 de dezembro de 2019

História da Humanidade


O homem vive no mundo, compreendido num espaço e num tempo, rodeado de seres animais, vegetais e minerais, possivelmente iluminado por “Algo”, de tal forma que lhe permita ser diferente de toda a restante criação e, em certa medida, dominar, relativamente, em seu proveito a própria natureza.
A História da Humanidade é tão antiga quanto o homem, embora cientificamente não seja conhecida com rigor absoluto, a partir da sua génese, circunstância que impede qualquer tentativa de remontar às origens da humanidade, ficando assim um longo espaço e tempo históricos ignorados pelo homem, acerca da sua própria existência.
A História não admite verificação experimental, sendo impossível repetir um raciocínio, renovar uma observação, fazer uma experimentação. O passado não pode tornar-se presente, logo não pode ser motivo de anotação e experiência diretas. O passado, com todas as suas circunstâncias, é irreversível.
Os factos históricos são originais e únicos, porque jamais se repetem em idênticas condições de espaço e tempo, não podendo ser estudados em grupos, mas cada um de “per si”, não conduzindo, por isso, ao estabelecimento de leis fixas e genéricas. É impossível repetir-se, por exemplo, da mesma forma, a segunda Guerra Mundial.
A historiografia grega não ultrapassou muito a crónica, predominando uma orientação filosófica sustentada por Platão e Aristóteles, e porque os principais historiadores, Heródoto e Tucídides não foram capazes de fornecer, em relação ao passado, mais que informações imprecisas.
Pode-se considerar, portanto, que a História Tradicional, a História Conjuntural e a História Estrutural, constituem unidades de medida diferentes. A História Tradicional seria a história de boatos; a História Conjuntural, história de blocos e a História Estrutural, a história de movimentos plurisseculares.
A Nova História ocupa-se das conjunturas e das estruturas, do que muda e permanece, é uma História Total. A História Estrutural carateriza-se por uma história das populações totais, é oposta à História Tradicional, elitista e sem preocupação pelo problema demográfico.
A História Total prefere o banal, o repetitivo, o quotidiano, as maiorias, embora não exclua as minorias privilegiadas do saber, do poder, da religião, etc., visa detetar e conhecer reações, e toda a espécie de comportamentos das populações.



Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

TÍTULO NOBILIÁRQUICO DE COMENDADOR, condecorado com a “GRANDE CRUZ DA ORDEM INTERNACIONAL DO MÉRITO DO DESCOBRIDOR DO BRASIL, Pedro Álvares Cabral” pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística  http://www.minhodigital.com/news/titulo-nobiliarquico-de

COMENDADOR das Ciências da Educação, Letras, Cultura e Meio Ambiente Newsmaker – Brasil

TÍTULO HONORÍFICO DE EMBAIXADOR DA PAZ pelos «serviços prestados à Humanidade, na Defesa dos Direitos as Mulheres. Argentina»

DOCTOR HONORIS CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Natal. Tempo para eliminar as iniquidades


Mais uma quadra natalícia está em curso, este ano, em Portugal, com muita chuva, humidade, frio e vento excessivos, mar extremamente agitado. O ambiente social ainda não é o que sociedade portuguesa merece, na medida em que: a fome graça em muitos lares; as pessoas sem abrigo, continuam a deambular pelas ruas, em situação miserável de extrema agonia;  o futuro digno para algumas das camadas sociais mais baixas, apresenta-se incerto; muitos idosos, estão “arrumados” em macas de hospitais, ou abandonados em alguns lares sem condições mínimas para os acolher com respeitabilidade; e, finalmente, milhares de pessoas, de várias idades, tentam “viver” com salários degradantes ou pensões de reforma que, em muitos casos, quase não chegam para cuidar, minimamente da saúde, com os gastos em consultas, exames médicos e medicamentos. Este poderá ser o quadro mais negro que atualmente e no limite se pode desenhar.
Entretanto, a “outra” verdade, também deve ser divulgada e: em abono da resiliência da nossa população; da credibilidade e eficiência dos nossos governantes, não há dúvidas que a situação social dos portugueses, tem vindo, paulatinamente, nos últimos quatro anos a melhorar, embora, ainda, com muitas carências nos sistemas de saúde, educação, Justiça, segurança, erradicar a violência doméstica, infraestruturas, transportes, ambiente, entre outros.
Neste Natal de 2019, as palavras de ordem bem poderiam ser: Solidariedade, Coesão, Respeito, Equidade e dignidade da pessoa humana. Naturalmente que estes objetivos não serão alcançáveis, enquanto prevalecerem as discriminações, as desigualdades sociais, os “compadrios” e os “amiguismos”, entre outras aberrações.
Todavia, importa viver o presente o melhor possível e, todos juntos, construirmos o futuro, que seja promissor nas situações que atualmente ainda se encontram muito fragilizadas e já mencionadas. A boa qualidade de vida é essencial para melhorar a dignidade da pessoa humana.
Utilizemos esta quadra natalícia pra refletir nas situações sociais mais degradantes, seja dos nacionais seja dos imigrantes que escolheram o nosso país para refazerem as suas vidas, entretanto destroçadas por conflitos incompreensíveis, inaceitáveis e horrendos. Meditemos, durante alguns minutos no seguinte: “Ninguém vai ficar neste mundo terrestre infinitamente”, mais cedo ou mais tare todos partiremos para um “Destino Desconhecido”, levaremos connosco os valores humanos essências à nossa condição superior de todos os Seres que habitam este Planeta Terra que é a nossa casa-comum.
Aproveito para vos desejar: Um Natal com verdade, com lealdade, com reciprocidade, com gratidão, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor-de-Amigo», com um sentimento de tolerância, de perdão e muito reconhecimento para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida, me têm ajudado, compreendendo-me e nunca me abandonando. É este Natal que eu desejo festejar com muita alegria.

Santo e Feliz Natal. Próspero Ano Novo.


Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

TÍTULO NOBILIÁRQUICO DE COMENDADOR, condecorado com a “GRANDE CRUZ DA ORDEM INTERNACIONAL DO MÉRITO DO DESCOBRIDOR DO BRASIL, Pedro Álvares Cabral” pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística  http://www.minhodigital.com/news/titulo-nobiliarquico-de

COMENDADOR das Ciências da Educação, Letras, Cultura e Meio Ambiente Newsmaker – Brasil

TÍTULO HONORÍFICO DE EMBAIXADOR DA PAZ pelos «serviços prestados à Humanidade, na Defesa dos Direitos as Mulheres. Argentina»

DOCTOR HONORIS CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Evolução da História


Parece existir grande consenso sobre a determinação espácio-temporal da génese da História, e que segundo o mesmo assentimento, ela terá surgido da antiga Grécia, a partir de uma tentativa para passar de uma explicação mitológica dos factos para uma interpretação mais racional, mais humana, o que implica que nas origens da História se possa encontrar a influência da Filosofia, tendo sido Heródoto o seu principal impulsionador, que toma a seu cargo a tarefa de consultar as testemunhas oculares dos acontecimentos que narra, resultando numa maior dose de verdade das narrativas, às quais ele próprio resolve chamar de História.
A historiografia grega não ultrapassou muito a crónica, predominando uma orientação filosófica sustentada por Platão e Aristóteles, e porque os principais historiadores, Heródoto e Tucídides não foram capazes de fornecer, em relação ao passado, mais que informações imprecisas.
A finalidade do estudo histórico nos gregos era contribuir para a formação da polis, através da memória da ação do homem no passado, verificando as causas da guerra. De uma maneira geral, os historiadores gregos, já apontados e ainda um outro chamado Políbio, não conseguiram libertar-se, totalmente, dos efeitos da Mitologia e da Filosofia, conferindo às suas narrações um certo cunho determinista, subordinando, excessivamente, a ação do homem ao meio e aos deuses.
Apesar de tudo, os gregos deram passos significativos para a elaboração de uma teoria da história e, paulatinamente, foram passando de um teocentrismo crítico para um antropocentrismo racional, colocando o homem no centro das preocupações filosóficas, sendo de realçar o contributo dos sofistas e de Sócrates.
Na época cristã medieval, a História assume uma nova dimensão, face à influência dos textos sagrados da Bíblia, que se tornaram relevantes para a teoria da história, afirmando-se, claramente, a unidade da espécie humana, a irreversibilidade do tempo, em oposição ao tempo mitológico, cíclico, tornando-se num tempo linear, procurando alcançar uma meta, no sentido do progresso, defendendo-se a dualidade da sua fundação, porque se considera que a História é obra de Deus e do Homem e, finalmente, a defesa do conceito cristão da incomparável dignidade da pessoa humana. Sempre a pessoa em destaque, na sua dimensão mais humanista.
Durante esta época, a História desenvolve-se muito à volta da vida dos santos, é a chamada Hagiografia, e que tinha como principal interesse e objetivo, descrever a vida de grandes homens, cujos exemplos de abnegação e sacrifício, em defesa duma religião e de Cristo, deveriam servir de guias orientadores para os vindouros, tal como os gregos a perspetivaram para a formação dos governantes da polis.
Com o Renascimento a História comporta novas influências, no sentido da revolução da mentalidade, encaminhada agora para que o homem atingisse a maioridade e que, segundo Kant, seria alcançada no século XVIII, com o iluminismo. É assim que o homem se desprende mais da divindade, para se agarrar à vida terrena, reduzindo-se o papel de Deus e dando-se ênfase à condição humana.
É no período das Luzes e, como consequência, de todo um movimento expansionista da Europa que se verificam grandes acontecimentos, dignos de registo histórico: o desenvolvimento das ciências, os grandes inventos, enfim, todo um conjunto de factos que impulsionam as técnicas a todos os níveis. A História teve de acompanhar este movimento ascensional.
No campo religioso acentua-se a mentalidade iniciada no Renascimento, no Humanismo e na Reforma, difunde-se uma religião sem dogmas. Verifica-se um grande desnível entre os séculos XVII e XVIII. No primeiro, o homem é profundamente cristão, dogmático; pelo contrário, o homem do século XVIII é anticristão, defende o direito natural e relega para segundo plano o direito divino.
Estes movimentos repercutem na História algumas dificuldades na sua evolução, já que os iluministas eram a-históricos, não lhes interessando o passado, apenas consideravam o presente, como ponto de partida. Não obstante esta posição anti-histórica, o século XVIII produziu alguns historiadores, tais como David Hume, Condorcet, Montesquieu.
Fizeram-se reflexões sobre a História, pretendeu-se explicar a História através da razão, acentua-se a corrente naturalista. A História vai, assim, evoluindo no sentido mais profano, mais tecnicista para, finalmente, desembocar no positivismo de Augusto Comte, no século XIX e aqui sofre, pela primeira vez, a sua grande transformação: quer no que se refere aos seus objetivos; quer quanto aos métodos. É o Positivismo, período de grande salto histórico, a partir do qual a História entra, definitivamente, no grande mundo das ciências.
Os positivistas exigem da História filiação racional, elevação para além do individual, formulação de leis absolutas, objetivas e universais. Eles, os positivistas, partem das fontes e da sua crítica interna para delas extrair os factos. A erudição afirma-se, a formação profissional do historiador apura-se e desenvolve-se, exaustivamente, a crítica da proveniência, da autenticidade e da exatidão das fontes.
A História torna-se ciência de laboratório, em que o historiador é um observador passivo, uma espécie de fotógrafo do passado, o dado histórico é perfeitamente objetivo, basta apreendê-lo e reconstruir com “tesoura e cola”. A História positivista dá primazia ao facto político e secundariza os aspetos económicos, sociais e culturais.
É uma História factual, que reconhece que os fenómenos políticos dominam os fenómenos profundos da vida económica, intelectual e social. Não obstante as transformações que os positivistas tentaram introduzir, a caraterística da História do século XIX é a da História Normativa, tal como no século XVIII, onde, por vezes, romanesco e histórico se confundem. Esta História é uma história objetiva, individualizante, evoca a Idade Média e glorifica a Pátria.
Valerá a pena tentar interpretar o conceito de História, através de alguns autores, deste século XIX. Assim, para Alexandre Herculano: «História, não tanto dos indivíduos como da nação; História que não ponha à luz do presente o que se deve ver à luz do passado; História que ligue os elementos diversos que constituem a existência de um povo em qualquer época, em vez de ligar um ou dois desses elementos, não com os outros que com ele coexistirem, mas com os seus afins na sucessão dos tempos, graduados pelos topos cronológicos, com massa de papel feita das folhas da arte de verificar as datas.» (HERCULANO, 1842: 37-38; 100-103).
Para outro autor, Hegel, que não sendo propriamente um historiador, deu, no entanto, o seu conceito sobre a História, e que para o qual a História seria a “odisseia do Espírito”. Apesar de tudo, a História ainda não é a História do passado humano, não é a História do homem ou dos homens e, como tal, ela procura evoluir no sentido de cumprir o melhor possível os objetivos que lhe são próprios, pelos métodos científicos que a caracterizam e que melhor se adequem à concretização da sua objetividade.
O século XX ficará na história da História como o século do arranque final de uma nova História, contra uma pseudo-História, contra a História dos privilegiados, contra os métodos tendenciosos, comprometidos e corruptos, utilizados por certo tipo de historiadores.
De facto, a História assumiu, definitivamente, o seu lugar entre as ciências humanas. Uma História que se viu apoiada no início daquele século pela Sociologia de Émile Durkheim,  pela Geografia Humana de Albert Demangeon e Vidal de la Blache, ela evoluiu na Sociologia, na Economia e no Espaço.
Em consequência da grande crise do mundo capitalista de 1929, Lucien Febvre  e Mark Block lançaram a revista "Annales d'histoire économique et sociale”, reagindo, firmemente, ao monopólio da História política institucional, factual e determinista dos positivistas.
É uma História explicativa, renovadora da problemática das suas fontes, técnicas e métodos, captando a realidade social e eleva-se até à história comparada das civilizações. É uma História Total, interessando-se tanto pelo passado como pela atualidade.
Ela trata de promover o conhecimento da situação económica, chama a atenção para os grupos sociais, sua estratificação e relações entre si, para as interações existentes entre os diferentes níveis da realidade histórica – o económico, o social, o cultural, o religioso.
Entretanto, em 1946 os “Annales” tomam nova designação: “Annales, Economies, Sociétés, Civilizations. Mais do que nunca os “Annales” querem fazer compreender, pôr problemas, construir uma História Problemática.
Uma História regressiva, que permita compreender o presente pelo passado e, igualmente, o passado pelo presente: «De entre as coisas passadas, mesmo aquelas – crenças desaparecidas sem deixar o menor rasto, formas sociais malogradas, técnicas mortas – que, como parece, deixaram de dirigir o presente, iremos considerá-las inúteis para a sua compreensão? Seria esquecer que não há verdadeiro conhecimento sem um certo teclado de comparabilidade ao mesmo tempo diferentes e, contudo, apresentadas. Ninguém poderá dizer que não seja assim.» e, ainda: «A incompreensão do presente, nasce fatalmente, da ignorância do passado» (cf. BLOCK, 1982:39-46)
Uma História explicativa, comparada. Ela renova-se integralmente, quer a nível da problemática, quer a nível da metodologia quer, ainda, pela aparição no campo da História, aliás, já em 1869, Michelet faz uma referência à Nova História, apelando para duas orientações essenciais: uma, História da cultura material, interessando-se pelo clima e alimentação; a outra, uma História mais espiritual, dos costumes, anunciando a História Antropológica.
A Nova História, é a História de todos, de todos os homens, sem privilégios, História de estruturas de movimentos. Esta História destrona facilmente a História Política e aproxima-se da Antropologia, Economia, Geografia, Sociologia, Psicologia, Ciências Exatas.
Segundo Jaime Cortesão: «Uma antiquada conceção, cuja carreira não terminou de todo em Portugal, faz consistir a História na evocação dos homens e dos eventos singulares, faustosa galeria de retratos e painéis de batalhas, a que se acrescenta quando muito o quadro das instituições» (CORTESÃO, 1964:13). Esta História já não tem justificação moral, verídica e científica.
Numa linha de orientação muito semelhante, REGLÁ defende que: «No nosso tempo os historiadores protagonizam uma autêntica revolução metodológica, destinada, primordialmente a alcançar a maior aproximação possível entre a História como ciência e a vida humana como realidade, que consiste em adequar a História à vida.» (1970:13-14).
Por outro lado, Simiand, em 1903 denuncia os três ídolos da tribo dos historiadores: o ídolo político – preocupação geral pela história política; o ídolo individual – hábito de conceber a História como a história dos indivíduos e, por fim, o ídolo cronológico – costume dos historiadores se perderem nos estudos das origens. (cf. SIMIAND, 2003)
Finalmente, a Nova História, relaciona-se com o Marxismo, o qual apela à noção de estrutura, periodizando a História em: Esclavagismo, Feudalismo e Capitalismo que, segundo ele, constitui uma teoria de longa duração.
A Nova História interessa-se pelo que é constante, durante longo espaço de tempo, prefere o facto regular, daí que em 1932, Labrousse distinga três tipos de movimentos: Longa Duração, Oscilação Cíclica e Variações Sazonais. É necessário estudar o que muda lentamente, a estrutura.
Segundo Braudel, pode-se distinguir no tempo histórico três níveis diferentes: «À superfície, uma História dos eventos, inscreve-se no tempo curto; é uma micro-história. A meia encosta, uma história da conjuntura, desenvolve-se a um ritmo mais largo e mais lento. Até hoje ela foi estudada no plano da vida material, dos ciclos ou intercíclos económicos. Para além de tal recitativo da conjuntura, a história estrutural, ou de duração longa, respeita a séculos inteiros, situa-se no limite do movente e do imóvel e, pelos seus valores estáveis durante muito tempo, parece invariável relativamente às outras histórias, que se escoam e realizam mais rapidamente e que, em suma, gravitam em torno dela». (BRAUDEL, 1958, in: GURVITCH, 1977: 92-93).
É possível resumir os três níveis diferentes do tempo histórico, da seguinte forma: a) Acontecimentos – Factos ocasionais, efémeros, aparentemente independentes, localizando-se a tempo curto, ou de curta duração; b) Conjunturas – Acontecimentos que interessam enquanto elementos de uma série que se interrelacionam na medida em que permitem chegar às variações conjunturais. As conjunturas dizem respeito às oscilações cíclicas, ao tempo de média duração. Há conjunturas sociais, políticas, económicas, culturais, religiosas, etc. São pedaços da História; c) Estruturas – São realidades estáveis e permanentes, quase imóveis. Nestas realidades, aceitam-se as sujeições impostas pelo meio geográfico, pelas hierarquias sociais, pelas mentalidades coletivas, pelas necessidades económicas. O estudo da estrutura, é o estudo do residual.
Pode-se considerar, portanto, que a História Tradicional, a História Conjuntural e a História Estrutural, constituem unidades de medida diferentes. A História Tradicional seria a história de boatos; a História Conjuntural, história de blocos e a História Estrutural, história de movimentos plurisseculares.
A evolução historiográfica foi influenciada pela técnica, métodos e vocabulário de sociologia, da linguística, da política, da economia, surgiu a história serial, a história qualitativa e quantitativa.
A Nova História ou História Total, tende para a História Global, com o auxílio das séries e das estatísticas, muito ficando a dever à quantificação que passa da curta para a longa duração.


BLOCK, Marc, (1982). Introdução à História. 4ª Edição. Tradução, Maria Manuel e Rui Grácio. Sintra: Publicações Europa-América
CORTESÃO, Jaime, (1964). Os Factores Democráticos na Formação de Portugal. Lisboa: Livros Horizonte. (1ª ed. 1930).
GURVITCH, Georges, (1977). Histoire et Sociologie, in: Traité de Sociologie. Tomo I. São Paulo-Brasil: Livraria Martins Fontes
HERCULANO, Alexandre, (1842). Cartas sobre a História de Portugal. Opúsculos. Tomo V, 4ª ed. Carta I 37-38; Carta IV 100-103.
REGLÁ, Juan, (1970). Introdução à História. Barcelona: Teide.
SIMIAND, François, (1903). Método Histórico e Ciências Sociais. Tradução, José Leonardo do Nascimento. Bauru/SP: Edusc.2003.

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

domingo, 8 de dezembro de 2019

Processos Especiais da História


Podemos afirmar, com a maior segurança, que a história, para além de ser uma ciência e tal como quaisquer outros conhecimentos, verificáveis, reversíveis e dinâmicos, ela, parte do passado para o presente, sempre numa perspectiva da descoberta de factos novos que nos ajudem a melhor compreender os arquétipos do passado. Nesse sentido e com esse desiderato, analisemos os vários processos especiais da História:
 a) Investigação dos Documentos - Os factos passados chegam até aos dias contemporâneos através dos documentos que constituem o traço material daqueles factos sendo, posteriormente, efetuado um trabalho de heurística sobre os testemunhos, que consiste na sua recolha e investigação.
Os documentos podem apresentar-se sob três espécies: 1) Orais, que consistem nas lendas e tradições e se transmitem de gerações em gerações e, por vezes, estão na base de certos costumes; 2) Materiais, que encontram a sua máxima expressão nos monumentos, palácios, templos, túmulos, arcos e pontes, medalhas e moedas, selos, brasões e títulos; 3) Escritos, compostos por memórias oficiais, anais, cartas, ofícios, jornais, crónicas, biografias, inscrições em monumentos, entre outros.
Estes documentos ainda podem classificar-se em: diretos ou conscientes, quando elaborados com o objetivo de fazer História; indiretos ou inconscientes quando, pelo contrário, não lhes preside qualquer intenção histórica. Estes últimos são mais valiosos, porque oferecem mais garantia de veracidade dos factos que mencionam, precisamente por não terem sido elaborados com objetivos históricos.
Para o estudo dos documentos, muito têm contribuído as novas ciências ditas auxiliares da História, tais como a Arqueologia, Medalhística, Numismática, Paleografia, Epigrafia, Diplomática e a Filosofia, entre muitas outras.
b) A Crítica Histórica - Trata-se de outro processo da História que vem, precisamente, complementar o trabalho heurístico feito antes, e julgar do valor dos materiais recolhidos, a fim de determinar o seu significado exato. É um estudo metódico das fontes históricas, procurando a sua autenticidade, o valor do seu testemunho, exigindo discernimento e respeito, opondo-se, quer ao espírito cético, quer ao espírito crédulo.
Tradicionalmente é costume distinguir-se dois tipos de crítica: 1) Crítica Externa ou de Autenticidade, que examina a proveniência dos documentos: verdadeiros ou falsos, originais ou cópias; 2) Crítica Interna ou de Credibilidade ou de Autoridade, que avalia o grau de confiança que se pode dar ao documento, escrito ou material.
Esta divisão da crítica em dois tipos, não deve ser entendida como sendo um mais importante do que o outro, mas no sentido da sua complementaridade, porque os dois tipos da crítica, já referidos, são relevantes para o estudo dos documentos, muito embora se possa realçar o papel da Hermenêutica ou Crítica da Interpretação, através da qual se estabelece o sentido do documento, e precisa o que o seu autor disse ou quis dizer. A Hermenêutica é a ciência da interpretação das fontes em geral, mas com particular incidência sobre os documentos escritos.
c) A Síntese Histórica – Depois da análise, segue-se a síntese e esta compõe-se, essencialmente, de três aspetos fundamentais e que são: 1) Classificação ou agrupamento dos factos, o historiador procura dar uma ordem definitiva aos factos; 2) Interpretação dos factos, o historiador pesquisa os traços gerais e constitui grupos, esforçando-se por preencher as lacunas que se lhe depararem, através de raciocínios construtivos; 3) Explicação dos factos, o historiador visa o estabelecimento dos laços de causalidade.
O historiador tem de penetrar no encadeamento dos factos, porque nenhum facto histórico constitui a causa única e exclusiva do outro facto. A explicação da História consiste na descoberta, apreensão e análise.
A síntese procura, precisamente, apreender as ligações entre conjuntos significativos ou séries evolutivas, as conexões existentes entre as diversas ordens da realidade. A História é arte pelo seu esforço de reconstituição e exposição do passado, reclama do historiador sensibilidade, criação verbal, mestria de estilo claro, simples e concreto.
d) Filosofia da História – Para completar as abordagens do método histórico é necessário encarar o quarto e último processo especial, consubstanciado na Filosofia da História, pelo qual se obtém uma vista de conjunto, no sentido de passar de um conhecimento das causas e leis particulares para a determinação de leis gerais, que regulam o desenvolvimento da humanidade ou, pelo menos, a evolução de um povo. Pretende descobrir o sentido ou a direção e o significado da evolução humana.
A Filosofia da História procura descobrir o que há de comum e essencial nos diversos factos históricos, é como que uma preparação da Sociologia, ou então um trabalho puramente filosófico que procura fornecer e interpretar as razões que orientam a evolução da humanidade, no seu fluir constante.



Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

TÍTULO NOBILIÁRQUICO DE COMENDADOR, condecorado com a “GRANDE CRUZ DA ORDEM INTERNACIONAL DO MÉRITO DO DESCOBRIDOR DO BRASIL, Pedro Álvares Cabral” pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística  http://www.minhodigital.com/news/titulo-nobiliarquico-de

COMENDADOR das Ciências da Educação, Letras, Cultura e Meio Ambiente Newsmaker – Brasil

TÍTULO HONORÍFICO DE EMBAIXADOR DA PAZ pelos «serviços prestados à Humanidade, na Defesa dos Direitos as Mulheres. Argentina»

DOCTOR HONORIS CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.