domingo, 5 de janeiro de 2014

Melhor Vida


Muitos são os princípios, valores e sentimentos que podem contribuir para uma vida melhor, não tanto na perspetiva material mas, principalmente, no âmbito superior e sublime que é o espiritual, onde os mais secretos desejos, as maiores desilusões, os projetos mais íntimos e as cumplicidades se escondem do mundo complexo, por vezes perverso, também, em algumas circunstâncias, muito específicas, quanto ao exercício da solidariedade e generosidade.
A vida moderna impõe padrões de intervenção que, quantas vezes, contrariam a própria natureza e maneia de ser das pessoas. Hoje, (2014) a necessidade, qualquer que ela seja: material, social, política, estatutária, poder em geral, ergue-se muito acima do racional e moralmente aceitáveis, porque a pessoa só é importante enquanto detém alguma forma de influência, algum tipo de decisão, num determinado setor e/ou assunto.
A verdade, contudo, é que a vida é curta, muito rápida na sua trajetória terrena e, tendo em atenção esta realidade, facilmente se pode inferir que é muito importante tudo se fazer, para que a nossa passagem por este mundo seja o mais agradável possível, por vezes com alguns exageros, não se olhando a meios par se atingirem determinados fins e, pior do que isso, desconsiderando, humilhando e prejudicando outras pessoas, nos seus mais elementares direitos ao respeito, à estima, à dignidade.
Desenvolver atitudes comportamentais que visem proporcionar uma qualidade de vida digna da superior condição humana pode, desde já, ser um primeiro caminho a percorrer, porque é essencial estarmos de bem connosco, antes de nos envolvermos em quaisquer atividades na sociedade onde nos encontramos inseridos, ou seja: procurarmos tudo fazer para que possamos ter uma tranquilidade espiritual que influencie as nossas relações interpessoais pela positiva.
Qualquer noção de vida melhor deve começar na própria pessoa, porque só ela conhece, e quando conhece, as suas dificuldades, os seus anseios, os seus projetos. Pertence à pessoa avaliar o seu nível, por exemplo, de auto-estima, a partir da noção do próprio estado de espírito e, neste caso: «Auto-estima é a vivência de sermos apropriados à vida e às exigências que ela faz. Mais especificamente, auto-estima é: 1) Confiança em nossas capacidades para pensar e enfrentar os desafios da vida; 2) A confiança em nosso direito de ser feliz, a sensação de sermos merecedores, dignos, qualificados para expressar nossas necessidades e desejos e desfrutar os resultados de nossos esforços.» (NATHANIEL BRANDEN, in CLARET, s.d.:13).
A velha máxima Socrática do “Conhece-te a ti próprio” é aqui muito importante, na medida em que: qualquer relacionamento pressupõe um mínimo de conhecimento do outro, para ter sucesso; todavia, é indispensável que as pessoas se esforcem para se determinarem perante os seus semelhantes, a partir do que sabem de si mesmas, porque melhor poderão avaliar o nível da relação.
Aceita-se, sem grandes reservas, que para uma vida melhor, entre muitos fatores materiais e imateriais, o valor, ou, se se preferir, uma atitude de compreensão, justamente a partir do “Conhece-te a ti próprio” é, seguramente, uma boa postura, considerando, inclusivamente, um dos muito conceitos de compreensão.
Pode-se aceitar que: «O exercício da compreensão é como um bálsamo agradável e salutar para eliminar todas as feridas prejudiciais ao ser humano. Também a compreensão é muito importante para o melhor equilíbrio energético e, em consequência, favorecer o descortinar dos mais sadios e positivos caminhos para uma comunicação paranormal, sempre mais eficaz» (FRANCESCHINI, 1996:126).
É claro que compreender não significa abdicar de princípios, valores, sentimentos e emoções, que constituem parte da nossa personalidade, que integram o nosso caráter, que sustentam a nossa honra, bom-nome e dignidade. A compreensão, por exemplo, não poderá ser compaginável com atitudes desencadeadas pelos nossos semelhantes, quando visam denegrir e negar aqueles valores a que temos direito.
Não confundir compreensão com tolerância é essencial, porque: quer uma, quer outra, pressupõem limites, no sentido em que tudo se poderá compreender e tolerar, mesmo que outros princípios, valores e sentimentos sejam negados. Compreensão e tolerância, sem prejuízo de deveres e direitos de terceiros. Ninguém deve ser ilimitadamente compreensivo e tolerante, prejudicando outras pessoas e/ou a si próprio, porque então toma-se o caminho da parcialidade e da injustiça.
Compreende-se, e aceita-se, que qualquer pessoa desenvolva todas as suas capacidades, mova influências e se entregue totalmente a um objetivo, procurando alcançar os melhores resultados, porém, sem colocar em causa idênticos direitos de seus semelhantes, sem prejudicar, de alguma forma ou por um qualquer processo, os legítimos e legais interesses de eventuais concorrentes. Aqui deve funcionar a lealdade, o respeito, a correção e boa educação e, sempre que necessário, a solidariedade e, por que não, a amizade.
A sociedade complexa que atualmente se enfrenta, envolve situações, por vezes, dramáticas, para partes significativas das populações, mas também condições muito favoráveis para outros extratos mais pequenos. Verifica-se que os princípios, valores e sentimentos não são necessariamente idênticos, porque os objetivos são diferentes e os meios a utilizar para alcançar os melhores resultados também são diversos.
Aceita-se, como verdadeiro, que qualquer pessoa goste, minimamente, de si própria e que, por isso mesmo, faça alguma coisa para usufruir do melhor nível possível na vida. Admite-se que em cada indivíduo exista: alguma, razoável, muita ou excessiva auto-estima, que é necessária para se ter sucesso na vida, porque se trata de uma auto-avaliação que conduz a um maior ou menor nível de confiança em si próprio, nas suas capacidades.
Com efeito, tudo indica que: «Hoje, experiências comprovam que, ao agir como se fossem dotados de elevada auto-estima, os indivíduos acabam desenvolvendo um melhor sentimento sobre si mesmos. No mundo do futuro, em que o ser humano é cada vez mais valorizado, o domínio dos mecanismos que levam à felicidade será prioritário e percebido como um verdadeiro fator crítico de sucesso de vida. Nestes novos tempos, ser bem-sucedido estará intrinsecamente vinculado a ser feliz.» (VIANA & VELASCO, 1998:143).
É claro que para uma vida melhor, afigura-se indispensável haver um permanente equilíbrio entre as dimensões material e espiritual, da pessoa humana, porque ambas são necessárias para que a convivência harmoniosa, a estabilidade no conforto e a segurança quanto ao futuro se conjuguem, permanentemente, em todas as fases da vida, com especial acuidade na parte final da existência humana.
Importa, aqui e agora, desenvolver uma ideia que parece pretender denegrir todos aqueles que, trabalhando uma vida inteira, cumprindo com todas as suas obrigações que lhe eram impostas e que, acreditando nas instituições, como sendo pessoas coletivas de bem, objetivamente, o Estado, composto pelos seus governantes, tais pessoas tenham projetado um final de vida tranquilo, relativamente confortável, enfim, tenham nesta fase das suas existências, uma vida melhor, mas que agora, são confrontadas com a negação dos seus direitos.
E uma vida melhor não significa apenas ter uma reforma, pode e deve ser muito mais do que isso. Uma vida melhor também se identifica com atividade, participação, reconhecimento, utilidade, de um conjunto de pessoas, muito válidas, experientes e que detestam a ociosidade, que pretendem continuar a ser produtivas, não só para elas, como para a sociedade, significando esta posição uma forma de vida melhor, o processo, afinal, para a vida boa.
É sabido que, por exemplo: «Na cultura indígena, assim como em outras, a idade traz uma experiência que é usada em benefício das comunidades. Limitar a ação das pessoas por seu tempo de vida é aniquilar as informações que elas carregam. Essas informações, se não forem usadas, tornam-se verdades que, dentro dos corações delas, ficam ultrapassadas por meio de uma visão fragilizada de desprezo ou descaso com relação às suas existências como terceira geração.» (ROMÃO, 2000:171).
Quando se reflete sobre uma vida boa, ou melhor vida, pretende-se que este conceito seja abrangente a todas as faixas etárias dos escalões societários mais desfavorecidos, que são a maioria das pessoas, porque um bom nível e qualidade de vida são essenciais para se viver numa sociedade mais justa, onde o futuro não se constitua em incertezas, em perdas de direitos conquistados ao longo de uma vida de trabalho. Que um futuro desejado e merecido não seja de pesadelo, mas com uma esperança e realidade de melhor vida.

Bibliografia

CLARET, Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

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