domingo, 11 de maio de 2014

Dilemas do Professor/Formador


Salvo raras e dramáticas exceções, onde a força das armas foi utilizada para, alegadamente, defender direitos fundamentais da humanidade, violados por minorias elitistas (Iraque/Kuwait, Indonésia/Timor, Jugoslávia/Kosovo, Síria, entre outros) estará inequivocamente provado que terá de ser pela força da razão, do diálogo, da democracia e da solidariedade que o Homem resolverá os problemas mais prementes.
Trata-se de um caminho difícil, de paciência, de persistência, de cedências recíprocas, mas que, indubitavelmente, nos conduz à sublime dignidade de podermos ser, finalmente, “pessoas humanas civilizadas”.
Não é nada fácil, a um qualquer cidadão, optar por caminhos tão complexos e assumir papéis públicos e privados em coerência com as metodologias que são indispensáveis aplicar para, ao fim de um determinado tempo e percurso, podermos vislumbrar alguns resultados, por pequenos que eles sejam. Sim, porque o resultado final há-de ser, sempre, um produto inacabado, ainda que em constante aperfeiçoamento.
Ao longo desta caminhada, cada um de nós, terá de assumir-se, inequivocamente, como um paladino dos princípios, valores e sentimentos que deverão nortear as sociedades modernas, onde, de resto, quase nada de material nos falta, mas, também, onde reina, infelizmente, muita discórdia, onde os espíritos não sossegam e vivem em profunda e quase permanente ansiedade.
Em termos de estratificação etária, gostaria que me permitissem, na perspectiva do aprofundamento desta reflexão, tendo em consideração os estudos sociais, quanto à esperança de vida, sugerir uma sequência simplificada da progressão do Homem, este integrado numa sociedade em desenvolvimento.
Consideraria, então, quatro períodos ou fases importantes da vida de todos nós: 1) período de preparação para a vida ativa; 2) fase da vida produtiva, 3) etapa de passagem de testemunho; 4) espaço de preparação para uma outra existência transcendental, quaisquer que sejam as nossas convicções teleológicas.
 No primeiro período, a sociedade, com todas as suas instituições: família, escola, igreja, política, tem a obrigação de preparar o jovem para assumir um papel no seio da comunidade; num segundo percurso, o “jovem-adulto; integrar-se-á, numa sociedade complexa, ativa competitiva, desenvolvendo uma atividade profissional produtiva, contribuindo para o aumento da riqueza material, mas também, paralelamente, para o enriquecimento intelectual e espiritual dessa mesma comunidade, intervindo sempre que possível, nos diversos setores da vida societária; numa terceira fase, na qual, este homem que gostaríamos pudesse vir a ser o cidadão do futuro, carregado de experiências, dotado com uma maturidade consolidada, cauteloso, previdente, moderado, tolerante e cooperante, possa, pelo seu exemplo, pela sua sabedoria, transmitir, compartilhar, estimular, precisamente, todos aqueles adolescentes e jovens da primeira idade da vida e, finalmente, no espaço temporal que lhe restará, segundo a esperança de vida e em condições normais, consciencializar-se para um fim biológico próprio da dignidade da pessoa humana e iniciar toda uma meditação e preparação para uma outra existência.
Resumiríamos, na medida do possível, quantificando, aqueles 4 períodos ou fases, os quais compreenderiam: o primeiro até aos 23/25 anos; o segundo dos 23/25 aos 60/65; a terceira fase entre os 60/65 até cerca dos 80 anos e finalmente a última fase prolongar-se-ia até à morte física, podendo haver entre aquelas idades, pequenos períodos de cerca de 2/3 anos de transição.
Todos somos necessários e úteis em qualquer idade, é isto o que pretendo provar com a teoria que acabei de expor nestes parágrafos, porque temos a obrigação de desenvolver um projeto de vida privada e pública, enquanto possuidores das capacidades físicas, inteletuais e éticas, adequadas a tais projetos e à sociedade.
Sabemos ser difícil abdicar, quando necessário ao bem comum, de posições individualistas; custa-nos, por vezes, perder privilégios que obtivemos com algum esforço próprio, mas, nem sempre, por processos legítimos, transparentes e não prejudiciais a terceiros.
Agimos, em certas circunstâncias, a partir de velhos e desajustados preconceitos. Exercemos, em certas situações, o autoritarismo para dominarmos e humilharmos aqueles que podem obstaculizar os nossos projetos egoístas, individualistas, hipócritas e desmesurados, em prejuízo de terceiros. Contribuir para a mudança, também é função do professor/formador.
A idade, o percurso efetuado nas primeiras etapas desta breve “corrida” pelo mundo terreno em que nos encontramos, dão-nos a possibilidade de, pelas experiências vividas, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor sucesso, podermos, a partir de agora, e como refiro nesta reflexão, iniciar, com proveito para a sociedade, a terceira etapa. Na meu caso em concreto, estou disponível, estimulado, determinado e preparado, ainda que minimamente, para passar este testemunho, repleto de vivências, atitudes, valores e princípios, aos “atletas” da primeira etapa.
Assim, pretendo justificar o meu interesse, empenhamento e dedicação com uma metodologia muito simples mas objetiva: primeiro, conseguir, pelos estudos que venho fazendo nos últimos trinta anos, alcançar mais uma pequena “meta-volante” desta etapa; segundo, manter-me e envolver-me mais profundamente no ensino, educação e formação profissional como atividades nobres, úteis e motivantes para mim e para a sociedade que, em cada momento e lugar, vou fazendo parte; terceiro, continuar a participar na vida ativa comunitária, seja ao nível politico-institucional, seja no âmbito sócio-profissional, seja no quadro das coletividades e organismos intelectuais, culturais, mutualistas, humanitários e de solidariedade social, preferencialmente.
Este desígnio terá a garantia da minha determinação na implementação de um projeto de vida que possa ser útil, ainda que simbolicamente, à sociedade em geral, mas e fundamentalmente, às comunidades de língua portuguesa e, nesta linha, tentarei sempre ser fiel à língua, à história e à cultura dos povos que adotaram como pátria a língua lusitana.
Nenhum sistema político-constitucional, nenhum Governo, nenhum cidadão, têm o direito de excluir da vida ativa da sociedade, aqueles que, independentemente de terem ou não frequentado estabelecimento de Ensino Superior, se prepararam também na universidade da vida, porque sabemos o suficiente para aceitarmos sem reservas, que, atualmente, o conhecimento científico, as técnicas e tecnologias, os paradigmas, não são absolutos e imutáveis, bem pelo contrário, a transitoriedade, a insuficiência, o desconhecido e o misterioso, provocam-nos tal ansiedade e insatisfação que, para além dos princípios e valores imateriais e espirituais, pouco, muito pouco, poderá ser definitivamente seguro e estável.
É aqui e por isso mesmo que entram atitudes, princípios, valores, sentimentos, direitos e deveres que a universidade da vida nos ensina. A impetuosa generosidade e voluntarismo da juventude; o calculismo, a objetividade inconfessável e o materialismo que ainda adultos ativos, procuram justificar certas atitudes e comportamentos, devem ser moderados, caldeados, temperados com esta prudência sábia que se adquire ao longo da vida e que deve ser transmitida, incutida, estimulada em toda a sociedade e a todos os níveis etários, porque afinal, ninguém estará isento de erros, de atitudes menos boas, incorretas e injustas, de comportamentos menos exemplares, por isso, todos seremos poucos para melhorarmos a convivência entre cidadãos desta mesma pátria ecuménica que todos habitamos.  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

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