domingo, 15 de fevereiro de 2015

Carreira Profissional: Estímulo à Competência?


No âmbito do exercício de uma atividade profissional, numa instituição, quem é admitido ao seu serviço, com uma determinada categoria, é legítimo que interiorize a possibilidade de ter uma carreira, ao longo da qual poderá vir a assumir diversas funções, inerentes aos cargos que estarão disponíveis, em certas condições, nomeadamente: promoções a níveis superiores daqueles que já ocupou, transferências, estruturações, melhores reformas, entre outros mecanismos legais.
Ter-se conhecimento de que na instituição onde se trabalha, ou se pretende vir a laborar, existem circunstâncias para uma progressão profissional, mediante a conjugação de certos requisitos, constitui, por si só, um forte estímulo para que os colaboradores se dediquem à organização, comungando do respetivo espírito que a caracteriza, perante os diversos públicos que com ela se relacionam, porque se trata de uma cultura diferenciadora das suas congéneres, portanto, os seus trabalhadores, quando sintonizados neste diapasão, começam por reunir condições de ascensão na respetiva carreira.
É certo que também há instituições onde, praticamente, não se verifica uma hierarquia vertical, mas outro sim, uma colaboração horizontal, entre funcionários e uma cúpula Diretiva ou de Administração, embora, ainda que de forma ligeiramente atenuada, possam existir coordenadores intermédios. Nestes casos, a progressão na carreira não será tanto por denominações categoriais, mas sim, por exemplo, pela atribuição de escalões de antiguidade.
Afirmam os especialistas que: «A ideia de carreira esteve durante muitos anos associada à passagem por várias etapas, todas numa dada atividade profissional, frequentemente através de promoções numa mesma organização. O conceito relaciona-se com o que pode denominar-se “mercado de trabalho interno” (Baron e Kreps, 1999; Fernandez-Mateo, 2006, in CUNHA, et. al., 2010:574). Este tipo de mercados pode parecer estranho do ponto de vista da eficiência, na medida em que parece mais apropriado que, para preencher um dado lugar, a organização recorre aos candidatos mais habilitados, sejam eles internos ou externos à mesma.» (CUNHA, et. al., 2010:574).
Eventualmente, nos tempos modernos, o vocábulo “carreira” não terá, em todas as pessoas que exercem uma profissão, um significado de promoção, de auferir maiores rendimentos, de melhorar o seu próprio estatuto, porque qualquer profissional, individualmente considerado, em determinadas profissões liberais, ao longo das suas atividades, desenvolve uma carreira, sem que isso envolva qualquer promoção: o advogado que trabalha por conta própria, será sempre advogado, nem de primeira, nem de segunda, quando muito pode vir a ser eleito “Bastonário” da respetiva Ordem, pelos seus pares, todavia, por um determinado período de tempo, voltando depois à sua anterior situação, na carreira profissional da advocacia.
A progressão numa carreira profissional, quando esta existe, assenta num processo de longo prazo, no qual estão definidos os critérios, metodologias, responsabilidades e benefícios a aplicar ao trabalhador, e ainda deverá haver uma parceria estratégica entre a organização e o/s colaborador/es, por forma a que se verifique, na medida do possível, o princípio de igualdade de oportunidades, para todos quantos reúnam as condições estabelecidas, para a ascensão a um novo cargo, dentro da instituição.
Certamente que nas organizações devidamente estruturadas, para além de uma hierarquia, existem conceitos e boas-práticas que são necessários ao bom funcionamento, assim como se conhece qual a missão, os valores, os objetivos e, indubitavelmente, um Código de Ética que, entre outros, pode incluir os seguintes princípios: «Responsabilidade da empresa; Impacto comercial e económico da empresa; Conduta empresarial; Respeito às regras; Apoio ao comércio unilateral; Respeito ao meio ambiente; Prevenção de operações ilícitas; Relação com clientes; Direitos e deveres dos colaboradores; Agregação de valor para os proprietários e investidores; Parcerias com fornecedores; Práticas perante a concorrência; Inserção da comunidade nas decisões empresariais.» (CARVALHO, 2007:91).
Qualquer profissional que se preze, independentemente da sua categoria e posição hierárquica, na organização, não pode ignorar aqueles princípios e praticar, apenas, os que mais se relacionam com as suas funções, porque assumir, sem reservas, um comportamento ético, também constitui um dever que, muito provavelmente, será considerado como um critério a ser avaliado no processo de progressão na carreira profissional e, mais uma vez, se demonstra que o “saber-fazer” por si só, não constitui um valor absoluto, na apreciação final do colaborador, para ascender a nova categoria/cargo.
Ao longo do exercício de uma atividade profissional, na maior parte das situações, o trabalhador insere-se, de facto, numa carreia e que, sinteticamente, se pode trazer para esta reflexão, algumas delas, a saber: «Três formas possíveis de carreiras: a burocrática, baseada no percurso vertical numa estrutura hierárquica», na qual se verifica: «previsibilidade, carreira organizacional, segurança no emprego»; a «profissional, baseada no desempenho de uma actividade específica (profissional ou artesanal), inserida ou não numa organização», onde é importante: «o conhecimento, reputação individual, comunidades profissionais» e a «empreendedora, baseada no desenvolvimento de um negócio» no qual existe: «risco, criação de valor, controlo sobre o seu próprio trabalho» (Kanter, 1989, in CUNHA, et. al., 2010:588-89).
Certamente que outros especialistas defendem modelos diferentes, maior ou menor diversidade de carreiras, todavia, qualquer que seja a forma, é muito difícil, atualmente (2015), escolher-se uma carreira profissional que garanta pleno emprego e um sucesso enorme, de resto, em muitos países, qualquer pessoa, ao longo da sua vida, muda de ocupação, algumas vezes: umas, porque ficam desempregadas; outras, porque lhes surgiu uma oportunidade, previsivelmente, melhor; outras, ainda, porque não conseguem colocação na área específica que melhor domina.
Vale a pena refletir no facto de que: talvez se possam classificar de privilegiadas, as pessoas que exercem uma profissão, do seu total agrado, com prazer e alegria, incluindo aqui, aquelas atividades consideradas vocacionais, seja no domínio religioso, seja, na dimensão do voluntariado (neste caso enquanto opção, independentemente da profissão) e, eventualmente, em menores percentagens, nos domínios da investigação técnico-científica.
Por outro lado, ainda é notório que algumas profissões perduram desde há milénios, que se constituíram em carreiras profissionais e/ou profissões liberais, podendo-se apontar algumas que são imprescindíveis à sobrevivência humana, com qualidade de vida, como por exemplo: a Medicina, nas suas múltiplas especialidades; a Enfermagem, a Investigação em todas as áreas do conhecimento, o Direito, a Filosofia, a Política, a Religião, o Comércio, a Indústria, entre muitas outras com milénios de existência.
Coloca-se, então, a questão: será importante escolher uma carreira profissional? Se a resposta é afirmativa, que critérios, que cuidados, com que objetivos? Conhece-se, muito bem, que ao longo da História do Trabalho, certas profissões se criaram e foram integradas em carreiras e que, decorridas algumas décadas, foram extintas e substituídas por outras. Mas também é verdade que a investigação e as tecnologias têm avançado de tal forma rápida, que novas profissões surgiram no mercado de trabalho e, igualmente, se organizaram em carreiras com várias categorias.
A escolha de uma atividade com vista a uma carreira profissional, nem sempre é da responsabilidade direta e imediata do futuro trabalhador, havendo, por vezes, a influência de vários intervenientes: família, amigos, potenciais colegas e, também, situações resultantes dos diversos estratos sociais.
Sabe-se que: «Historicamente as primeiras abordagens da escolha da carreira enfatizavam a importância da estrutura social, nomeadamente a classe sociai do indivíduo, enquanto condicionante das suas escolhas de carreira, ou seja, as escolhas de carreira eram vistas como limitadas pelos constrangimentos decorrentes da classe social de pertença do indivíduo. Por exemplo, as escolhas colocadas a um indivíduo proveniente da classe operária eram distintas das escolhas colocadas a outro indivíduo de origem burguesa.» (Ibid.:594).
Como é fácil de se comprovar, concetualizar uma carreira, estabelecer critérios para a sua escolha, determinar a sua duração, são questões de grande relevo e de uma incerteza crescente, atendendo à evolução da investigação científica e tecnológica, cada vez mais céleres e instáveis, sendo verdade que, atualmente, não se poderá afirmar, com total segurança, que alguém possa garantir-se para si, ou para outrem, uma carreira profissional longa, para toda a vida, mas é claro que ainda existem, nomeadamente, em certos setores de atividade: função pública, forças armadas e de segurança, entre outras.
Em todo o caso não será despiciendo manter-se durante mais algum tempo a noção que nos foi incutida: «O conceito de carreira tem múltiplas significações na disciplina de GRH. No seu sentido mais tradicional e burocrático, a carreira descreve uma sequência de posições ocupadas por uma pessoa ao longo da vida profissional, normalmente ascendentes na hierarquia da organização e fundamentalmente definidos por ela. Num sentido mais lato, a carreira é o cumular de experiências de trabalho que um indivíduo vai ganhando ao longo da sua vida, deste modo não se limitando ao seu percurso numa única organização.» (Ibid.:622).

Bibliografia

CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional
CUNHA, Miguel Pina, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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