Discute-se, por vezes acaloradamente, até onde pode
chegar a autoridade do docente e considera-se, em certos meios menos
prevenidos, a autoridade no sentido do respeito devido ao professor e
autoridade do docente no sentido do domínio das matérias que leciona.
Obviamente que são aspetos, dimensões ou realidades
diferentes que, congregadas na mesma pessoa, o professor, desenvolvem-se em
contextos escolares distintos.
Desde já, esta dupla autoridade, quando existe e é
exercida, dá segurança aos alunos, encarregados de educação, instituições,
sistema e comunidade em geral, motivando o docente para o seu uso prudente e
didático-pedagógico, mais no sentido de formar, objetivamente, para a vida, do
que, propriamente, ensinar esta ou aquela teoria.
Destaca-se, a partir das reflexões que antecedem, a
propósito destas matérias, uma evidência fundamental: é imprescindível a
competência multidimensional do docente, para que possa inspirar autoridade e
segurança, às comunidades escolar e civil que o envolvem.
Apresenta-se claro e diverso que o professor
trabalha num ambiente muito especial, com públicos oriundos de variadas
origens: culturais, sociais, étnicas, etárias, económicas, religiosas e até políticas,
ou seja, um público heterogéneo, que sendo mais ou menos exigente, obriga o
docente a ser competente, polivalente, especializado, flexível e rigoroso,
porém, cabe à escola, enquanto sistema educativo/formativo, estabelecer, ainda
que minimamente, os programas, os conteúdos, as avaliações e certificações.
Com a mesma coerência, exige-se que as escolas que
formam professores os preparem, também, para os domínios relacionados com a
gestão das carreiras, desde logo a do próprio docente, porque só com esta
estratégia é que ele, o professor, pode, perante os seus alunos, incutir
autoridade e segurança: «As escolas, com
raríssimas excepções, nunca incluíram em seus objectivos e papeis proporcionar
alguma orientação de carreira aos seus alunos. Talvez não julguem ser essa uma
obrigação sua; talvez considerem tratar-se de uma questão complexa; talvez
considerem que ao optarem pelos cursos especializados, as pessoas já tenham
definido as suas carreiras e não há muito mais o que fazer. Como predomina a
crença de que a principal qualificação para a carreira profissional são os
conhecimentos técnicos, adquiridos nas escolas, directores, professores e
alunos acham que a questão está fundamentalmente resolvida.» (RESENDE,
2000:112).
A autoridade docente, nas suas diferentes
abordagens: específicas de cada disciplina; culturais, humanas, sociais,
políticas e de cidadania; deve ser exercida: não só em contexto escolar da sala
de aula; mas também noutros âmbitos da vida do professor, o qual deve ser o
primeiro a manifestar um comportamento deontológico, compatível com a sua nobre
função e estatuto exemplar, porque só por esta forma revelará competência e
inspirará segurança.
Definitivamente, o docente, assim preparado e
atuante, constituirá uma referência para a sociedade em geral, e para a
comunidade escolar em particular. Ao longo da sua carreira, o professor é,
também, um cogestor de interesses, recursos, expectativas e classificações. Uma
vez mais tem de se revelar competente e seguro porque: «Aquele que tem de intervir em deliberações, conselhos e decisões,
há-de conhecer a fundo o terreno que pisa, e necessita de ter uma competência
adquirida através do estudo, da experiência e do trato com homens e coisas.»
(WELTY, 1966:428).
Valerá muito pouco ao docente, e servirá muito
menos aos alunos, apenas os conhecimentos muito especializados do primeiro, se
não tiver competência e autoridade para os transmitir, aliás, poderá,
inevitavelmente, nem sequer ser escutado ativamente.
Competência e autoridade acumulam-se e ganham-se,
respetivamente, através do estudo e da experiência de vida, coerente com os
princípios e valores que propaga, no meio estudantil. Seria inútil, e até
improcedente, tentar transmitir e incutir no espírito dos alunos, um
conhecimento, uma teoria que, na vida prática, o docente nega pelo seu
comportamento. Que autoridade poderá ter o professor que assim se posiciona na
vida?
Naturalmente que se determinados programas e
conteúdos são de ensino/aprendizagem obrigatórios, e o professor discorda
deles, o que eticamente deve fazer é, justamente, revelar esta sua posição e
colocar-se numa atitude de conselheiro dos seus formandos, no sentido de lhes
notar que em termos de programa e avaliação tais conteúdos devem estar sabidos.
O comportamento deontológico do docente sugere,
nestas circunstâncias, uma separação nítida entre o seu pensamento e a
divulgação e explicação dos conteúdos oficiais que superior, legal e
legitimamente estão determinados.
Mesmo em discordância, eticamente assumida, o
professor não perde a sua competência, nem a autoridade, antes as reforça, como
ganha em domínio, incutindo ainda maior segurança.
Bibliografia
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento
das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade.
Rio de Janeiro: Qualitymark.
WELTY, Eberhard, (1966). Manual de Ética Social III – O Trabalho e a
Propriedade, Tradução, José da Silva Marques, Lisboa: Editorial Aster.
Diamantino Lourenço
Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689
Imprensa Escrita Local:
Jornal: “Terra e Mar”
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