sábado, 20 de agosto de 2022

A Outorga entre: “o Ter e o Necessitar”

 Envolvidos, como todos devemos estar, numa sociedade que tem por obrigação combater os pessimismos, para elevar a autoestima das pessoas mais desalentadas, promover o bem-estar das diversas e cada vez mais heterogéneas comunidades, é necessário prepararmo-nos para ajudarmos quem ainda está a percorrer os caminhos mais difíceis da vida, no sentido de, paulatina, mas seguramente, eliminarmos toda a discriminação negativa, e nos erguermos à dignidade humana, naturalmente, tendo sempre presente a objetividade das diversas realidades que nos circundam.

Ainda há muita gente que, por um ou quaisquer outros sentimentos negativos, estes do ponto de vista de quem deseja uma sociedade livre, igualitária, democrática, fraterna e desenvolvida, continua a defender, e a praticar, posições incompatíveis com: a solidariedade, a amizade, a lealdade, a gratidão, a humildade e a generosidade, provocando um grande mal-estar entre seres que têm o superior dever de se respeitarem.

Cada vez se torna mais premente uma mentalidade que patrocine, e facilite, o bem-comum, se se quiser, uma atitude que nos despoje de egoísmos, que nos liberte da ganância, ilegítima, injusta e, eventualmente, ilegal, porque ganância também é sinónimo de: se desejar tudo o que nos apetece, sem olhar a meios; vontade veemente e duradoura de possuir, e/ou adquirir mais do que os demais; cobiça ou desejo muito forte, descontrolado, por bens e riqueza, o que não é a mesma coisa de se desejar conforto, saúde, trabalho, educação e outros bens materiais e imateriais, incluindo-se, obviamente, o dinheiro, porque não é proibido, nem crime, ter-se dinheiro.

O que se poderá afigurar censurável, é nada se fazer para se ganhar dinheiro, e pretender-se que sejam os seus semelhantes a sustentar tais pessoas, inclusive, vícios que, para além de fazerem mal à saúde, são dispendiosos. Como pessoas participativas na sociedade, todos temos o dever e o direito de produzir para nós e para o bem-estar da comunidade, naturalmente, pelo trabalho.

Identicamente, será criticável que quem trabalha esbanje tudo quanto ganha e, quando precisa para uma situação inesperada, tenha de recorrer a quem trabalhou, ganhou e economizou, às vezes durante uma vida inteira, ou então, elaborar “sofisticados” esquemas para subtrair subsídios e abonos sociais.

Compreende-se que quando a sociedade, no seu todo, está sensibilizada para ajudar as pessoas mais frágeis, aquelas que, realmente, tudo fizeram para terem algum conforto, a vida, por circunstâncias diversas, as “atraiçoou” com: doenças, desemprego involuntário, acidentes e outras situações inesperadas e incontroláveis, então sim, tais pessoas têm o direito (devem) ser apoiadas, entendidas, por aquelas outras a quem nada lhes falta.

Nesse sentido, e com estes princípios: «A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo de globalização caímos na globalização da indiferença. Habituámo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!» (PAPA FRANCISO, 2016:90).

Bem se sabe que por entre tanta ganância, no meio de tanto egoísmo, ainda há pessoas e instituições altruístas, que doam grandes fortunas para projetos científicos, tecnológicos e humanitários, todavia, trata-se de uma pequena “bola de sabão verdadeira”, no meio dos “bilhões de balões ilusórios”, que necessitam de apoio a todos os níveis ou, dito de outra forma, trata-se de “uma gota de água num oceano de carências”.

É claro que quem já conseguiu atingir a riqueza material: bens, dinheiro, poder, influência, por processos legítimos, justos e legais; por mérito próprio, através do trabalho, do estudo, da poupança, do investimento e do risco, está no seu lícito direito de dar a orientação que mais desejar à sua fortuna, mas também pode aceitar repartir o seu património, ou parte dele, por organizações, por exemplo, Não-Governamentais, que visem promover o bem-comum, a salvaguarda de vidas humanas, e quaisquer outros projetos de natureza filantrópica.

Formar toda uma sociedade para os valores humanistas, é tarefa para várias gerações, não se consegue em poucas décadas, é verdade, mas também se reconhece que cada vez a premência de uma educação/formação, direcionada para o outro é, eventualmente, uma necessidade de primeira linha, quanto mais não fosse, e já não seria pouco, porque é impossível a alguém viver isoladamente, no limite, sempre iremos depender uns dos outros.

O espaço ecuménico que habitamos é cada vez menor, porque os avanços das ciências e das tecnologias permitem aproximarmo-nos, física, eletrónica e virtualmente, com mais celeridade, e sabe-se, portanto, que: «Hoje vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximos uns dos outros. Os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos mais próximos, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos mais interdependentes.» (Ibid.:91).

Estes avanços, que a inteligência e habilidades humanas têm vindo a desenvolver, sem dúvida alguma que são muito importantes, contribuem, em parte, para uma melhor qualidade de vida, mas ainda são insuficientes para aniquilar muitas situações de verdadeira indigência, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

A vertente social-humanista, tem de ser muito mais trabalhada e aplicada no terreno, como também a educação/formação para a filantropia, para as virtudes: da caridade, da compaixão e da benevolência, a que acresce a obrigação de nos preocuparmos com quem, materialmente, pouco ou nada tem, de resto: «A nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas de uma cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas. (…) O mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas económicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.» (Ibid.).

Este ostracismo, a que milhares de milhões de seres humanos estão votados, constitui um terrível libelo: em primeiro lugar, contra todos nós em geral; depois, seguramente, dirigido a todas as pessoas e organizações, aqui, com o Estado à cabeça que, podendo, e devendo tomar medidas adequadas, nem sempre assim procede.

Neste primeiro quarto do século XXI, não se justifica que o mundo tenha de estar sujeito a mais um movimento para além daqueles que astronómica e fisicamente já tem. O novo movimento que poderíamos designar por “merco- económico”, em que os mercados e a economia submetem tudo e todos, só se justificará quando contribuir substancial, e urgentemente, para minimizar e depois reduzir desigualdades e exclusões sociais.

Muito embora se possa afirmar como um lugar-comum, a verdade é que há mais mundo e mais vida para além dos mercados, da economia e do dinheiro, de resto e em bom rigor: «Há depois o compromisso por uma maior justiça social, por um sistema económico que se ponha ao serviço do homem e em benefício do bem-comum. Entre as nossas tarefas, como testemunhas do amor de Cristo, conta-se a de fazer ouvir o brado dos pobres, para que não sejam abandonados às leis de uma economia que, por vezes, parece considerar o homem só como consumidor.» (Ibid.:92).

Existe muito pouca atenção para com os mais necessitados, e o grande valor que, frequentemente, se esquece, chama-se Solidariedade, que pode, e é essencial que seja, aplicado em vários contextos da vida em sociedade, até porque se deveria considerar como  valor-chave, o comportamento verdadeiramente característico da pessoa genuinamente humana, porque: «Solidariedade significa muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade; supõe a criação de uma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns.» (Ibid.:95).

O princípio ativo, a termos em consideração, é muito simples: Quem tem, quem possui, que utilize, um “bocadinho”, apenas um “pouquinho”, para doar a quem não tem, e o mundo ficará bem melhor, mais justo, mais fraterno, mais solidário.


Bibliografia.

 

PAPA FRANCISCO (2016). Proteger a Criação. Reflexões sobre o Estado do Mundo. 1ª Edição. Tradução, Libreria Editrice Vaticana (texto) e Maria do Rosário de Castro Pernas (Introdução e Cronologia), Amadora-Portugal:20/20 Nascente Editora.


Apanhados de surpresa, entre os fogos de uma guerra cruel, desumana e, a todos os títulos, inaceitável, imploremos a Deus, e aos homens, para que o sofrimento de milhões de seres humanos, termine definitivamente. Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros, porque o PERDÃO será um dos grandes “Valores Axiológicos” da Humanidade, que deixaremos às Gerações Futuras.  GLÓRIA À UCRÂNIA.

Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música:

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https://youtu.be/DdOEpfypWQA  https://youtu.be/Z7pFwsX6UVc


Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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