domingo, 5 de junho de 2011

Amor e Tolerância no Matrimónio


A complexidade da vida moderna, face às diversas exigências que ela coloca, vem atingindo, de forma mais ou menos acentuada, todas as pessoas, quer ao nível individual, quer no contexto das próprias famílias. Vários são os factores que contribuem para uma certa instabilidade em muitos casais: falta de emprego, rendimentos insuficientes, horários incompatíveis com a reunião da família às refeições e para o convívívio dos cônjuges com os seus filhos.
As dificuldades, as incertezas  quanto ao futuro, a impossibilidade de abandonar um emprego, podem conduzir, caso não se lute até às últimas boas consequências, à ruptura matrimonial.
O casal deve, portanto, ancorar-se na compreensão, no bom-senso, na cedência mútua de certos procedimentos, hábitos e outras ocupações, com dignidade, porque, indiscutivelmente,  vale mais a felicidade de um amor sincero e recíproco do que determinadas actividades, quantas vezes efêmeras, que até podem proporcionar convívios alegadamente alegres, com pessoas ditas interessantes que, porém, em alguns casos, apenas se preparam para uma intromissão na vida íntima do casal e daí retirar algum “proveito”.
Naturalmente que não se defende nesta reflexão uma vida de clausura, para todas as pessoas e muito menos para os casais, todavia, estes devem usufruir, em privado, de todo o amor que os une e, nesta situação, colocarem-se, reciprocamente, todas as dúvidas que os atormentam e poderem encontrar as soluções salvíficas do matrimónio, que satisfaçam a ambos os cônjuges e, havendo filhos, que possam contribuir para que estes, no futuro, tenham orgulho dos próprios pais.
A vida de um casal não é fácil, em todas as fases do matrimónio, independentemente do tempo decorrido nesta qualidade. Sempre existem situações novas, provocadas pela própria sociedade, da alteração de muitos dos seus valores, do exercício da actividade profissional, dos relacionamentos interpessoais, das amizades que se estabelecem, algumas destas com fins inconfessáveis. Compreender e articular todos estes factores exige grande capacidade de adaptação, de confiança entre os cônjuges, de flexibilidade de posições e, acima de tudo, de um maior reforço do amor que os une.
A família tem, portanto, o significado mais importante e dignificante para qualquer sociedade, por muito moderna e liberarl que esta seja. A família constituida pelos cônjuges e pelos filhos. 
Tudo o que o casal fizer por esta união nunca será excessivo, porque segundo GALACHE-GINER-ARANZADI, (1969:246): “O filho encarna o amor do pai e da mãe. Ele projecta ao exterior o amor íntimo e secreto dos esposos. A preesença dos filhos é o que vivifica o verdadeiro matrimónio, aumenta o amor dos esposos e oferece um nvo motivo para a união, é o sacrifício generoso. A debilidade da criança que necessita dos cuidados dos pais, precisa da colaboração, da estabilidade e da união do lar para seu pleno desenvolvimento.”
Resulta da citação anterior que os superiores interesses da criança têm de estar sempre em primeiro lugar, que devem ser esgotadas todas as alternativas até se consumar a separação dos pais, se outra solução não houver.
Os progenitores, certamente, enqanto pessoas que se amam, que consideram a família como um valor supremo e a preservar, tudo farão para evitar o desenlace, pelo menos por processos violentos que deixarão estigmas indeléveis na criança. Em todo o caso, esta deverá ter sempre a possibilidade de conviver com os pais biológicos, em condições a acertar, preferencialmente, pelos cônjuges.
Obviamente que não se defende nesta reflexão, nem em nenhuma circunstância, uma vida conjugal de permanente conflito entre os cônjuges, em que os filhos vão presenciado as desavenças dos pais, como não se aceita a permanente desconfiança, como não se tolera quaisquer tipos de violências e muito menos a subordinação de um dos cônjuges ao outro. A igualdade, a harmonia, a educação, o respeito e o amor são, entre outros, valores constituintes da felicidade do casal e da alegria e orgulho dos filhos.
É certo que os compromissos profissionais, por vezes, não facilitam a reunião da família por muito tempo, mas também é verdade que, em algumas circunstâncias, surgem outros “afazeres”, ditos sociais, políticos, culturais, que tomam imenso tempo e que, em alguns casos, se podiam dispensar, tudo em benefício da união da família.
Parece que a opção de dispensa de tais actividades não será nada difícil, principalmente para quem ama a família e os verdadeiros amigos. Família constituida pelos laços do amor e amigos verdadeiros, unidos pela lealdade e honestidade, poderão ser o sucesso para a felicidade.
Valerá mais uma hora com a família e com os verdadeiros amigos do que uma semana com com outras pessoas, situações e interesses, quando, verdadeiramente, se ama e se quer bem à família e aos amigos sinceros, leais, carinhosos e cúmplices, aqui no sentido da confidencialidade das situações de vida.
É nos tempos de crise familiar que, havendo amigos verdadeiros, aqueles que se sabe que estão do lado de quem  precisa, aqueles que vivem e sentem bem sinceramente o “amor-de-amigo, se pode pedir auxílio, porque eles não o vão negar, porque estarão, voluntariamente, disponíveis para ajudar.
 É este amigo leal que guarda, secretamente, as confidências de uma família ou de um dos seus cônjuges em dificuldade. Então, para salvar o casamento e antes de qualquer decisão “fatal” recorra-se a mais esta “alternativa” e quem sabe se o tal amigo sincero e leal não será como que mais uma “tábua de salvação”.
Muito embora se viva num mundo cada vez mais individualizado, egocêntrico e materialista, e isto é uma realidade que não se pode escamotear, a luta para manter famílias nucleares unidas parece ser um bom caminho na perpsectiva de TORRE, (1983:197), segundo o qual: “A família, hoje, é mais um centro de vida afectiva e moral.” e, ao contrário do que se verificava no passado, eles, os cônjuges, estarão ao lado um do outro, tanto nos bons como nos maus momentos, ambos participarão em tudo o que respeita à administração económica do lar, na educação dos filhos, dando e recebendo amor, carinho e feliccidade. Só assim poderá o casal encontrar o equilíbrio e a felicidade familiar.
Compete, por isso mesmo, ao casal fazer todos os esforços para preservar e, se possível, aumentar a sua felicidade e a dos seus filhos. Não basta desfrutar de muitos bens materiais, de muitas diversões, de actividades sociais, de relacionamentos casuísticos que, às vezes, provocam a derrocada do natrimónio e, também, não se pode garantir que sejam seguras  quaisquer outras “amizades  circunstanciais”, alguns relacionamentos profissionais e de lazer temporários.
É preciso receber-se provas frequentes, dir-se-ia, diárias, dos amigos incondicionais, leais, de que estão inequivocamente com os interesses do casal, e do amigo, para com eles desabafar, confiantemente, todos os problemas da vida, que sejam verdadeiros confidentes, que ajudem a enocntrar as melhores soluções, no mais completo sigilo.
Esqueçam-se, para os casais que verdadeiramente se amam, aqueles contactos duvidosos que, por detrás deles, podem estar algumas estratégias extremamente perigosas, tanto para o homem como para a mulher, quando indefesos e/ou agem de boa-fé. 
Os estrategas das “oportunidades”, os “abutres” da desgraça alheia,  os “galãs” das fragilidades humanas, possuem valores diferentes, eventualmente, desvalorizam a família e podem conduzir algum dos cônjuges a situações de que não mais se livram,  levando à miséria do casal, com consequências nefastas para os filhos, que não têm culpa de nada. De resto, as iniciativas predadoras para o casal, tanto podem partir de um homem como de uma mulher.
A felicidade do matrimónio é um bem que deve ser bem guardado, bem usufruido e sempre alimentado pelo casal. Segundo RESENDE, (2000:176): “Ser feliz é o objectivo principal de todas as pessoas. E a felicidade é obtida em pequenas doses, como resultante de seus esforços, da efecftivaçao prática de suas aspriações, da sua capacidade de resolver problemas, para adaptar-se à vida, e da sua capacidade, também, de saber usufruir dos seus recursos pessoais (…) será feliz do ponto de vista quantitativo, quem tiver maior quantidade e duração de momentos de felicidade (…) qualitativamente falando, ser feliz é (…) sentir-se valorizado, aceito e amado.”
Se dificuldades inultrapassáveis não existirem, é dever dos cônjuges lutarem pela sua felicidade, amarem-se até ao limite possivel com este sentimento sublime, ultrapassarem divergências de comportamentos, de pontos de vista, consensualizerem todos os aspectos em discussão e daí construirem um novo modelo de vida matrimonial.
Hoje pode dizer-se que o amor, seja no contexto do casamento, seja no âmbito do “amor-de-amigo”, seja no quadro mais vasto da humanidade, amores distintos, evidentemente, tudo pode resolver. Sem amor, tudo é muito difícil, por isso se apela a que se lute pelo amor.
Este nobre sentimento, talvez o mais sublime e dignificante de todos, que tudo perdoa, que conduz à felicidade suprema, deve ser cultivado no seio das familias e por ele tudo se deve fazer, até se esgotarem todas as possibilidades para o manter bem vivo, no coração dos que se amam, também dos verdadeiros amigos e da humanidade em geral É, também, um valor para as crianças adoptarem bem cedo nas suas vidas. Mas o exercício prático, sincero e de dádiva recíproca deste amor, deve partir do casal.
Lutar pela manutençao digna e amorosa do casamento é um acto de grande humildade mas também de uma imensa generosidade. Lutar para reconquistar um amor quase perdido é uma atitude corajosa, reveladora de quem ainda ama um ente que já foi muito querido e que, por circunstânstâncias da vida, se estaria prestes a perder. Lutar pela defesa dos filhos para que possam ser acompanhados pelos pais é, no mínimo, um acto de amor supremo e um dever legal. Lutar pela felicidade, baseada num grande amor dos esposos é a maior conquista que estes, enquanto tais, podem alcançar nesta vida.
Também não se pode ignorar a importância e influência da amizade sincera, límpida e  generosa dos verdadeiros amigos que, imediatamente a seguir ao amor do casal, é fundamental e que, de alguma forma, ajuda a consolidar a união dos cônjuges, quando os amigos se comportam com respeito, com solidariedade, com um verdadeiro “Amor-de-Amigo”.
Todos os casais podem (e/ou devem) ter pelo menos um amigo, para se poderem apoaiar nos momentos de crise. Para além dos cônjuges que se amam, nada melhor do que um/a bom/a amigo/a, por isso é preciso ter muita cautela com os amigos que se escolhem ou daqueles que se querem fazer de amigos.
São necessárias muitas provas, diariamente manifestadas, para se acreditar e confiar nesse amigo. É nos pequenos gestos, nas palavaras simples, nas pequenas coisas, na simplicidade dos actos e na humildade de um relacionamento carinhoso, inocente e nobre que os verdadeiros amigos se revelam.

Bibliografia

GALACHE – GINER – ARANZADI, (1969). Uma Escola Social. 17ª Edição. São Paulo: Edições Loyola
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
TORRE, Della, (1983). O Homem e a Sociedade. Uma Introdução à Sociologia. 11ª Edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: http://www.caminha2000.com/ (Link Cidadania)

2 comentários:

Cecília disse...

Considero que o segredo da longevidade de um matrimónio, para além do amor, tolerância, confiança é o companheirismo, porque se não existir mais este ingrediente, ao longo do tempo a relação perderá todo o seu sabor.

Cecília disse...
Este comentário foi removido pelo autor.