segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ética dos Valores nas Relações Humanas

Enquanto valor absoluto, provavelmente, a Ética não existirá, desde logo porque a pessoa humana continua a sua construção ao longo da vida e sabe que é um ser inacabado, imperfeito. A dinâmica da sua vivência leva-a a descobrir novas formas de melhorar comportamentos, tomar decisões que, depois, tenta aplicar no espaço e no tempo.
A sua grande capacidade de mobilidade e flexibilidade, resultará em grandes avanços para a própria harmonia entre os seus pares, porém, sem nunca perder a sua dignidade e a exigência de reciprocidade que deve existir no relacionamento entre as pessoas, nas diversas situações da vida.
O relacionamento pessoal, entre pessoas que se respeitam, deve, desde logo, incluir a verdade porque esta também significa lealdade. É certo que, para determinadas pessoas, e em certas circunstâncias, a mentira parece ajudar a resolver certos problemas, porém, mais tarde ou mais cedo, ninguém pode prever as consequências, de resto: “Numa pesquisa realizada na Alemanha, a grande maioria dos pesquisados, achava que – mentir em assuntos menos importantes para proteger a si ou a outros é permissível e até mesmo necessário para que as pessoas se possam dar bem -. Um jornalista escreveu: falar a verdade, somente a verdade, todo o tempo é louvável, mas enfadonho.” (Testemunhas de Jeová, 2007: 3)
Naturalmente que a verdade gera a confiança. As relações pessoais entre duas ou mais pessoas, devem criar, em cada uma delas, um sentimento de confiança, que conduz a uma total abertura, ao ponto de toda e qualquer dificuldade, problema, alegria ou tristeza, doença ou saúde, êxito ou fracasso: pessoal, social e profissional, dever ser transmitido à outra parte, entretanto transformada em amiga/o, sincero, leal, verdadeiro.
Assim poder-se-ia aplicar o princípio segundo o qual: “O amor ao próximo nos motiva a buscar o bem-estar das pessoas, a não abusar da sua confiança. Esse princípio poderia acabar com as várias formas de exploração humana, estimuladas pela ganância. (Testemunhas Jeová, 2010:5)
Um outro valor que é essencial nas relações humanas é a lealdade. Na verdade, este grande valor estará presente em muitas das circunstâncias da vida humana: no casamento, no trabalho, nos meios sociais, entre amigos que de facto o são. Interessa aqui, porque normalmente é pouco focada, destacar a lealdade como fundamental para a amizade, porque: “Um amigo não é apenas um conhecido. Temos muitos conhecidos – vizinhos, colegas (…). Mas a verdadeira amizade requer que se invista tempo, energia e dedicação. É uma honra ser amigo de alguém. Amizades trazem não só benefícios, mas também responsabilidades.” Testemunhas Jeová, 2005:6)
As relações pessoais, como se pode verificar, serão muito mais facilitadas e enriquecedoras quando este valor é incluído nelas. A amizade poderá ser fácil de se obter: por simpatia, por necessidade, por uma circunstância inesperada da vida, nas relações de trabalho, mas reforçá-la, mantê-la cada vez mais dinâmica, parece bem mais difícil para a maioria das pessoas. Só com muita determinação e uma sincera cumplicidade isso será possível.
O relacionamento entre amigos verdadeiros implica, entre eles, uma lealdade sem limites, porque é necessário que confiem um no outro. Não pode existir amizade sem um verdadeiro sentimento de “Amor-de-Amigo”, isto é, os amigos nutrem um pelo outro mais do que uma simples amizade circunstancial, resultante de uma qualquer situação limitada pelo tempo e pelo espaço, porque: ” A “Lealdade é essencial para a amizade. Um ato de deslealdade, por outro lado, pode acabar com um relacionamento de longa data. É comum que os amigos se consultem um ao outro, mesmo em assuntos confidenciais. Os amigos vão falar o que tiverem no coração sem temer ser menosprezados ou ter a confiança traída (…) o verdadeiro companheiro está amando todo o tempo e é um irmão nascido para quando há aflição.” Testemunhas Jeová, 2005:6).
Considera-se de fundamental importância, para um bom relacionamento pessoal, mais do que um valor, uma virtude, trata-se da Humildade, que parece estar afastada de muitas “boas” mentes, eventualmente por um qualquer complexo, talvez de vergonha, ou até por ser conotada a uma atitude ou comportamento persistente de “fraqueza” de quem a possui porque: “Ser humilde não significa que a pessoa não tenha habilidades ou não tenha conseguido nada na vida (…). A humildade envolve não ter orgulho, nem arrogância (…) uma mente humilde é o resultado de uma avaliação realista de nós mesmos – das nossas virtudes e fraquezas, das nossas vitórias e derrotas (…) sem dúvida, cultivar a humildade mental é uma excelente maneira de manter boas relações com os outros. Ela pode nos ajudar a enfrentar os desafios de um mundo egoísta e competitivo (…) O orgulho vem antes da derrocada e o espírito soberbo antes do tropeço.” (Testemunhas Jeová, 2007: 4-7).
 A Ética enquanto valor universal que baliza e reflecte sobre os comportamentos das pessoas, independentemente do contexto (embora e também no quadro profissional que, aqui, ao assumir um conjunto de deveres se designará por Deontologia) é essencial às boas relações, sejam estas pessoais, profissionais, sociais, políticas ou de qualquer outra natureza. 
Uma Ética não individualista e egocêntrica, mas uma Ética para todos e com todos: “A Ética não pode ser nem simples reflexo da consciência individual, nem o produto (ou resultado) de cálculo utilitarista, de prazeres ou dores (de contentes e descontentes). A Ética tem de ver com homens de carne e osso, com bens reais e com normas possuidoras de fundamento objectivo, que são válidas para todos, ainda que nem sempre se consiga chegar a um acordo explícito.” (MOREIRA, 1999:49)
A preocupação Ética nas relações pessoais, deve, portanto, ser uma inquietação de todos, de tal modo que (sem a confundir com a amizade, porque esta constitui um valor sentimental, não materialista) possa ter sempre consequências práticas, designadamente no comportamento individual, grupal e societário. Uma sociedade eticamente bem formada, nunca será atingida pela conflitualidade agressiva e/ou violenta.
De igual forma, uma família, uma empresa ou, simplesmente dois amigos, quando utilizam um comportamento ético, com todos os valores que a Ética comporta: Lealdade, Solidariedade, Carácter, Assertividade, Transparência, enfim, Verdade, o relacionamento interpessoal será melhor.
As sociedades contemporâneas vivem um período muito complexo. As dificuldades são imensas, as pessoas encontram-se, quantas vezes, como que perdidas e, neste labirinto de situações incertas, reagem de formas diferentes, quer individual, quer grupalmente. Os comportamentos atingem, compreensivelmente (o que não significa aceitavelmente) os limites do racional, ultrapassando as barreiras do bem e de outros valores civilizacionais.
As relações interpessoais devem, portanto, incorporar, como pressuposto insubstituível, a dimensão Ética, aqui considerada como: “O referencial do acto ou comportamento ético, é o Bem, o Correcto, o Certo. Qualquer destes termos é utilizado para desempenhar esta função, na língua portuguesa de uso corrente (…) Comportamentos que realizam objectivos próprios do homem, no seio de uma sociedade concreta. Cada homem é responsável pelos seus actos e pelo seu comportamento. É assim em sociedades que aceitam o princípio da liberdade.” (PATRÍCIO, 1993:140)
O comportamento ético implica autonomia para, “face ao outro”, agir com responsabilidade e objectividade, de forma a prever, antecipadamente, tanto quanto possível, as consequências que daí possam resultar. As relações pessoais com Ética, numa sociedade de valores, como a democracia, a cidadania, a liberdade, postulam uma aprendizagem.
Os valores não se adquirem pela via genética, na medida em que: “Sendo a pessoa o sujeito e fim da sociedade, tudo deve estar orientado para o aperfeiçoamento das suas faculdades. Isto implica a educação do homem para que no exercício de seus deveres e direitos, proceda por decisões pessoais, fruto da própria convicção, da própria iniciativa, do próprio sentido de responsabilidade, mais que por coação, pressão ou qualquer outra forma de imposição externa.” (GALACHE-GINER-ARANZADI, 1969:18)
Uma Ética para as relações humanas passa, necessariamente, por valores que suportam os comportamentos correctos, objectivos, bons. O mundo, excessivamente materializado, em que se vive actualmente, não engrandece os velhos, mas ainda não superados valores: “Pena que a vida moderna não favoreça a existência da figura do filósofo, cuja espécie parece extinta. O mundo tem ganho em desenvolvimento científico e tecnológico, mas não tanto em sabedoria (não confundir com cultural geral). Existem muitos pensadores, mas não sábios como os do tempo da velha Grécia. Filosofia e Arte, são, talvez, os únicos aspectos do conhecimento em que o mundo moderno não superou o antigo.” (RESENDE, 2000:85). É, portanto, no conhecimento filosófico, de que a Ética é parte integrante e insubstituível, que também se pode buscar um quinhão para um comportamento correcto.

Bibliografia

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2002). “Silvestre Pinheiro Ferreira: Paladino dos Direitos Humanos no Espaço Luso-Brasileiro” Dissertação de Mestrado, Braga: Universidade do Minho, Lisboa: Biblioteca Nacional, CDU: 1Ferreira, Silvestre Pinheiro (043), 342.7 (043).
BARTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2009). Filosofia Social e Política, Especialização: Cidadania Luso-Brasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais, Tese de Doutoramento, Bahia/Brasil: FATECTA – Faculdade Teológica e Cultural da Bahia: GALACHE – GINER – ARANZADI, (1969). Uma Escola Social. 17ª Edição. São Paulo: Edições Loyola
JEOVÁ, Testemunhas, (2005) Os Benefícios de Ser Leal, in “A Sentinela”, Brasil, 1º Setembro 2005.  
JEOVÁ, Testemunhas, (2007). Falar a Verdade é só para os Outros?, in “A Sentinela”  Brasil, 1º Fevereiro 2007 
JEOVÁ, Testemunhas, (2007:6) Revesti-vos de Humildade Mental, in “A Sentinela”, Brasil, 1º Setembro 2007.  
JEOVÁ, Testemunhas, (2010). Uma Crise de Confiança Geral, in “A Sentinela”, Brasil, 1º Outubro 2010. 
MOREIRA, José Manuel, (1999). A Contas com a Ética Empresarial, 1ª. Ed., S. João do Estoril-Cascais: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, Apud Alexandre Herculano, (1853) “A Descentralização”, em O Portuguez, de 8 de Junho de 1853.
PATRÍCIO, Manuel, (1993). Lições de Axiologia Educacional. Lisboa: Universidade Aberta
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: http://www.caminha2000.com/ (Link Cidadania)

1 comentário:

Cecília disse...

Após ler este artigo, não tenho mais nada para comentar, sem dúvida que a Ética para as relações humanas passa, necessariamente, por valores que suportam os comportamentos correctos, objectivos, bons.
Relativamente ao facto de referir que a figura do filósofo está en via de extinção, permita-me discordar, o problema que hoje em dia se coloca é que quase todos nós somos filósofos à nossa maneira, toda a gente se questiona sobre algo, quer resposta, investiga, quer mudar... daí quando surge outro filósofo ao lado não lhe dê o devido valor. No entanto pode identificar-se com o seu pensamento e ambos podem construir pensamentos conjuntos...é isso o papel de um filósofo já não é ensinar a construir um pensamento filósofo, é ajudá-lo a aperfeiçoar-se, a alcanças as respostas mais rapidamente...basta observar as crianças e ver a sua ansiedade em querer o conhecer o mundo, já e agora! Por vez dizemos "parece que já nascem ensinadas!", as crianças não nascem ensinadas, mas apreendem tudo muito rapidamente, adquirem conhecimento muito rapidamente, depois cabe-nos a nós canalizar esse conhecimento para uma boa construção do seu saber ser, saber estar e saber fazer!
Posso concluir que hoje o filósofo já não é o filósofo da antiguidade ou da sociedade moderna, é simplesmente o filósofo da vida! E penso que todos nós o somos à nossa maneira. O papel dos filósofos de hoje é perpetuar por escrito esta mudança e registar o conhecimento que têm da vida, de modo a ajudar os menos experientes a aperfeiçoarem o seu conhecimento através do questionamento.
Obrigada por mais este excelente artigo!