domingo, 12 de fevereiro de 2012

Justiça Distributiva

A divisão do mundo em binómios, trinómios ou quaisquer outros critérios qualificativos, é uma realidade que deve estar presente em diferentes discussões sobre a justiça distributiva da riqueza. Na divisão dos recursos naturais, e daqueles que são gerados pela comunidade, deve haver uma maior equidade, de tal forma que o contributo de cada cidadão, através do seu trabalho, do pagamento dos diversos, múltiplos e pesados impostos, beneficie a todos,  especialmente, de acordo com as respectivas necessidades.
Algo vai muito mal na sociedade humana se e enquanto existirem situações injustas, humilhantes e inaceitáveis. Nestas circunstâncias, os conflitos locais, regionais, nacionais e internacionais manter-se-ão, sem que os responsáveis respondam pelas situações resultantes: miséria, fome, doença, destruição e morte que, ao longo da história, atingem autênticos genocídios.
Parte substancial das riquezas nacionais são, legal e tradicionalmente, geridas pelos Estados, leia-se, Governos, por intermédio dos organismos competentes e especializados nas diversas políticas, sendo certo que nem sempre o Estado/Governo é o melhor exemplo para os cidadãos, porquanto, em muitas situações, utiliza critérios diferentes, precisamente quando deve retribuir e quando exige que os cidadãos lhe paguem, ou seja: o Estado recebedor, impõe condições, quantas vezes, verdadeiramente, desumanas, de autêntica prepotência sobre os contribuintes; o Estado pagador que cumpre (quando cumpre) tarde e mal.
Todo o aparelho fiscalizador, repressivo, jurídico e inibidor da liberdade dos cidadãos está na posse e controle do Estado. Reivindicar direitos legais e justos, em tempo útil, ao Estado, resulta, quase sempre, em aborrecimentos, desgastes físico e psicológico, despesas, perda de tempo e, eventualmente, negação de direitos adquiridos ou previstos na Lei Fundamental e legislação avulsa, específica para cada tipo de ocorrência. Assiste-se, muitas vezes, a um Estado com critérios opostos, perante situações idênticas, eventualmente, dois pesos e duas medidas.
A protecção aos mais “fortes” constitui um factor que dificulta a harmonia entre ricos e pobres, entre privilegiados e marginalizados, entre esclarecidos e desinformados. A constituição de elites a partir do trabalho próprio, produtivo, legal, competente, assíduo e actualizado, indiscutivelmente que deve merecer o aplauso da sociedade, tanto mais acentuado, quanto mais e melhor tais elites cumprem com todas as suas obrigações cívicas, sociais, contributivas e remuneratórias em relação àqueles que para elas trabalham.
A criação e manutenção de elites, com base na alegada representatividade divina, por descendência e sucessão política, ou sustentadas na tradição mais arcaica, certamente que dificulta todo e qualquer processo de redução das desigualdades sociais.
Algumas destas elites, algumas das quais nem sempre produzem para a comunidade, pelo contrário, ainda são alimentadas, com sumptuosidade e até uma notória e ofensiva exuberância, pelos contributos fiscais dos cidadãos, seguramente que devem ser recontextualizadas, sensibilizadas a participarem no processo produtivo nacional, bem como na redistribuição das riquezas naturais e/ou construídas, no seio da comunidade e com o apoio desta.
O conceito de justiça distributiva da riqueza, bens e serviços, agora em pleno século XXI, não pode fundamentar-se na tradição, uso e costume, quando são contrários e/ou não favorecem a esmagadora maioria das populações carentes, que nem sequer têm capacidade para se defenderem perante um Estado, ou entidade institucional, injusto e friamente racional, quando assumem um de dois papéis: beneficiário-contribuinte; recebedor-pagador; juiz-arguido.
A justiça distributiva da riqueza que é produzida por todos, deve ser partilhada por todos os que nela participam, atendendo sempre, aos que mais precisam, aliás, trata-se, até, de implementar um valor supremo que é a solidariedade: “Os que Podem, Ajudem os que Precisam” (vide meu artigo, disponível em http://diamantinobartolo.blogspot.com/ de 29.01.2012)
A injustiça mais flagrante e que tem de se contestar é a que resulta da situação do trabalhador por conta de outrem, onde se incluem todos os trabalhadores do Estado, e a do empresário, que trabalha para o mesmo Estado, porque são contribuintes líquidos, que de acordo com as suas disponibilidades, tentam cumprir com as respectivas obrigações.
Onde estão a justiça fiscal, social e a distribuição justa da riqueza e tratamento adequado à situação de cada cidadão? Onde está a garantia da real e efectiva manutenção de direitos adquiridos, muitos dos quais obtidos por via de descontos legais mensais? Onde está um dos grandes valores e pilares do Direito, num Estado Democrático que é a superior e inalienável “Segurança do Direito”?

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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