Afirmar-se que a sociedade contemporânea atravessa
tempos difíceis, é já um lugar-comum, infelizmente, porém, verdadeiro. Por todo
o lado se ouve falar em crise, habitualmente, reportada à economia que, por sua
vez, afeta todos os sectores de atividade, contudo, também estes provocam
impacto negativo naquela.
Vive-se, portanto, num círculo vicioso: economia
fragilizada porque não existe o dinamismo suficiente na produtividade e no
escoamento para o consumo sustentável, dizem uns; poder de compra enfraquecido
porque a economia não está a gerar emprego e riqueza suficientes, para melhorar
a aquisição de bens e serviços, através do poder de compra dos cidadãos, dizem
outros.
Eventualmente, não será necessário ser-se um
grande especialista em economia e/ou conhecimentos afins para se chegar a esta
conclusão simplista. É nos fatos simples, nas decisões elementares que, quantas
vezes, se resolvem grandes problemas. A complexidade da vida já é um problema
que se enfrenta todos os dias, nas mais diversificadas situações.
Quanto mais pobre for a pessoa, a família, a
instituição e o país, tanto maiores serão as suas fragilidades gerais. Daqui
resulta que a crise material nos domínios da economia e das finanças,
resolve-se: por um lado, com o maior poder de compra das pessoas, pagando-lhes
os justos salários e reformas, a que têm direito e, por outro lado, não as
sobrecarregado com impostos desumanos e, muito menos, retirando-lhes direitos
que fazem parte das suas expetativas de qualidade de vida e para as quais, muitas
pessoas, descontam há várias décadas.
Os alegados sacrifícios devem ser assumidos por
todos aqueles que, de alguma forma, têm responsabilidades na situação que se
vive, sejam os indivíduos, as famílias, as instituições e as nações.
Certamente, todos serão culpados, em todo o caso, seguramente, uns mais do que
outros.
Mas a crise não será apenas económica e
financeira, nas diversas vertentes materiais. Fala-se pouco na crise de
valores, talvez porque sendo estes imateriais, não geram riqueza, pensarão alguns.
Parece que será precisamente o contrário, isto é, quanto mais enaltecidos forem
os sentimentos, valores, princípios, regras, educação e formação das pessoas,
maior será a participação das mesmas na busca das soluções que urge
implementar, melhor será a sua compreensão para os sacrifícios que lhes são
pedidos.
A sociedade ainda não terá acordado para este
verdadeiro drama, que é o não-exercício real dos muitos valores que podem
alterar mentalidades e comportamentos para uma atitude positiva, de esperança
no futuro, de otimismo e elevação da auto-estima de cada pessoa e de todo um
povo que, uma vez mais, é chamado a mostrar a sua grandiosidade.
Educar, formar e reconhecer a importância das
boas-práticas de valores essenciais ao desenvolvimento equilibrado, justo e
solidário de toda uma população, deveria constituir a principal preocupação de
quem dirige uma instituição, seja a família, seja a empresa, seja o próprio
Estado, este representado num governo democrática e confiantemente eleito pelo
seu povo.
O ser
humano tem capacidades inatas para resistir, adaptar-se e vencer as mais
complexas situações naturais, e as que são provocadas por ele próprio. Trata-se
de uma faculdade que se vem conhecendo cada vez melhor e que, cientificamente,
se denomina por “resiliência”. Este poder de adaptação a situações
catastróficas, e de algum sucesso sobre elas, é fundamental para a
sobrevivência de toda a pessoa que é apanhada em tais circunstâncias da vida.
É bem sabido que as crises, quaisquer que elas
sejam, não se vencem pelo medo, nem com ameaças, nem com o pessimismo, pelo
contrário, são os valores da esperança, do otimismo, da capacidade em se
acreditar nas próprias faculdades, até porque: «Os seres humanos estão predispostos para a normalidade, que é o que nos
sucede habitualmente. Inclinámo-nos a pensar que no nosso dia-a-dia não vamos
ter grandes surpresas e, na realidade, é quase sempre assim, por isso nos
acomodamos tão bem aos hábitos, aos costumes, às rotinas.» (MARCOS,
2011:91)
A crise de valores, em praticamente todos os
estratos da sociedade será, provavelmente, a primeira que se tem de vencer,
obviamente, com o apoio das principais instituições envolvidas: família,
Igreja, comunidade, empresas, o Estado.
Isoladamente, não se perceberá como se poderá
vencer as crises, quaisquer que elas sejam, incluindo-se, aqui, por exemplo,
crises de relacionamento interpessoal: seja entre profissionais, entre amigos,
entre familiares, ou em qualquer outro contexto, se não se recorrer ao
exercício pleno de valores como: a amizade, a lealdade, a solidariedade, a
reciprocidade entre pessoas de bem.
Os agrupamentos humanos, habitualmente organizados
em função de valores, princípios, regras e objetivos comuns, mantêm-se unidos
enquanto acreditarem que é possível atingirem os resultados a que se propuseram
e, nesse sentido, o bom relacionamento é como que o cimento que os mantém
colados, porque: “(…) a vida seria melhor
se pensássemos com mais frequência que a nossa salvação consiste em
restabelecer os relacionamento rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a
maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos
feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso.” (BAKER,
2005:51)
Naturalmente que se podem evitar muitas
crises, desde logo se cada pessoa for capaz de desempenhar as inúmeras funções
diárias, sem atropelar os direitos e deveres dos seus semelhantes e, até pelo
contrário, se tiver a generosidade de estar sempre disponível para o exercício
dos valores essenciais à comunidade, como a saúde, a justiça social, a paz, a
educação, a formação, o trabalho, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa.
Indiscutivelmente que, antes do todo estão as
partes, e estas devem entender-se nos seus relacionamentos diários, pela via da
amizade sincera, da compreensão, da generosidade, da tolerância, do respeito,
da consideração, da estima, enfim, dos valores que fazem com que as pessoas se
amem verdadeiramente, se disponibilizem para o diálogo, para a priorização do
amigo sobre todos os restantes compromissos materiais.
Espiritualmente e em bom rigor, vencerá quem
vem sendo vítima de violências axiológicas, psicológicas e comportamentais, à
humanidade, dignidade, e generosidade próprias. As atitudes vexatórias serão
vencidas pelo amor, pelo bom-senso, pela verdade dos valores da lealdade, da
solidariedade, da reciprocidade, da cumplicidade e da gratidão que, mais tarde
ou mais cedo, revelarão toda a força da sua importância e imprescindibilidade.
O futuro joga-se neste xadrez axiológico.
Bibliografia
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já
Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da
Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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