domingo, 19 de maio de 2013

Estoicismo Português


Portugal e o mundo atravessam um período extremamente complicado, socialmente injusto, como há muitos anos não se verificava. A “malfadada” crise, argumento para se cometerem muitas e indesejáveis originalidades, vem ensombrando e dificultando, a já complexa, vida das pessoas, de tal maneira que as doenças de natureza neuropsiquiátrica e oncológica estão a conduzir à morte, mental e física, seja naturalmente, seja pelo suicídio, quem não aguenta as exigências que vão sendo impostas, quase mensalmente.
A desmotivação, o desânimo e a indignação instalaram-se nas pessoas, nas famílias e na sociedade. Estamos perdidos, sem rumo, num mar encapelado de sacrifícios, de sofrimento, de perdas de direitos, adquiridos há várias décadas e, nesta tormenta de impostos colossais, muitas pessoas não resistem e, inexoravelmente, vão-se degradando até à morte.
O povo português, provavelmente, não teria sofrido tanto durante os primeiros anos da democracia, embora vivendo sempre, pelo menos grande parte da população, com dificuldades diversas mas, ao que os números oficiais apontam, nunca tantas pessoas estiveram desempregadas, nunca tantas famílias passaram fome e a emigração começa a aumentar preocupantemente.
As estatísticas oficiais regularmente publicadas, e no que concerne a algumas situações, nunca foram tão dramaticamente expressivas e não são desmentidas pelas entidades competentes. Há como que uma vergonha “encapuzada” em assumir tamanho descalabro. O desemprego é colossal, quase um milhão de portugueses. Centenas de milhares de famílias a passar fome; reformados e pensionistas atemorizados, sem estabilidade. Trabalhadores sujeitos a cortes permanentes nos seus salários.
Quem pode acreditar no futuro de um país, cuja sociedade, paulatina e irremediavelmente vem sendo delapidada dos seus bens materiais e dos seus valores culturais? Quem estará seguro numa sociedade em que o ataque sistemático aos mais fracos, àqueles que durante uma vida inteira, de mais de sessenta, setenta e oitenta anos, estão a ver os seus recursos desaparecer, os direitos adquiridos, no início de uma atividade profissional, são retirados da noite para o dia. Quem estará seguro num país em que o que ontem era verdade e seguro, hoje não passa de uma inverdade, de uma incerteza?
Onde estão a justiça social, a segurança do direito, a garantia de uma velhice relativamente tranquila para a qual se trabalhou uma vida inteira? Será justo que ao longo de uma vida sejam exigidas determinadas comparticipações, para se auferirem os correspondentes direitos e que, de um momento para o outro, se fique despojado de bens que se adquiriram com sacrifícios, muito trabalho, imensa poupança? Será legítimo, justo e legal que depois de durante uma vida inteira se tenha investido em apoios complementares a um determinado salário, de repente tais apoios sejam, liminarmente, retirados?
A sociedade portuguesa, na sua maioria, está a caminhar para a pobreza extrema, para a mendicidade (situação que já no século dezanove era proibida), para a miséria, para a fome e para a morte indigna de quem, condignamente, trabalhou uma vida inteira, com empenho, entusiasmo e esperança num futuro honroso e compatível com tudo quanto cada pessoa entregou ao Estado.
Mas que Estado é este que em vez de proteger os seus cidadãos, os ataca insensivelmente, com uma tal violência de austeridade que já não se olha a meios para se atingirem objetivos económicos e financeiros, que são coercivamente impostos pelos credores internacionais, nomeadamente os mercados mundiais, imperturbáveis aos dramas da sociedade portuguesa?
Portugal é um país pobre. De facto não possui recursos naturais que lhe permitam uma posição forte na cena internacional do grande capital. Mas Portugal é uma nação que deve ser respeitada, que deu ao mundo inequívocas provas da capacidade do seu povo, que nenhuma outra nação foi capaz de igualar.
O país não pode ser visto nem tratado como o parente pobre da Europa e do mundo, porque o seu contributo para a civilização universal do humanismo, da cultura e dos grandes feitos, da educação além-fronteiras e da recuperação de povos abandonados à sua sorte, para o mundo humanizado, são factos incontornáveis, que deveriam ser valorizados, premiados e imitados. Os Portugueses deveriam ser respeitados, acarinhados e fortemente apoiados.
Os Portugueses são um povo pacífico, trabalhador, honesto, humilde e educado. Não se pode transformar os Portugueses em simples números fiscais. Não podem ser tratados como elementares fontes de receita e explorados até à exaustão, por um Estado que coloca a austeridade brutal e injusta acima dos direitos adquiridos dos cidadãos.
E que futuro para os jovens Portugueses? Quem vai ajudar as atuais e posteriores gerações nos próximos trinta anos, quando os pais e avós falecerem? Para onde vai o investimento efetuado nestes jovens, inteligentes, generosos, ávidos de colaborarem na melhoria das condições de vida, precisamente dos seus pais e avós, mas também nas suas próprias vidas?
Estes jovens que tanto gostariam de colocar ao serviço do seu país todas as suas competências, saberes e dinamismo, estão condenados à possível exploração de uma eventual emigração menos adequada. Como sofrem estes jovens e como se angustiam os seus pais, avós e a família mais próxima. Quem é responsável por esta catástrofe humana?
E as crianças Portuguesas, que na sua ingenuidade, ainda sorriem, ainda brincam, mesmo de “barriga vazia”, apesar de passarem frio, apanhando chuva e vento, contraindo doenças? Que “bom” que seria voltarmos todos, mas mesmo todos, a sermos crianças, sentirmos as dificuldades e a fome de quem hoje já vive nesta dolorosa situação. Seria “bom”, para valorizarmos o sofrimento dos que se encontram na mais indigna miséria.
É difícil imaginar-se um cenário tão dramático, num país que está incluído numa Europa civilizada, desenvolvida e humanista, um “Clube de Ricos”. Esta situação deveria constituir um libelo acusatório, contra quem, de forma tão impiedosa e brutal, sujeita este povo dócil ao sofrimento, à penúria, à desgraça, enfim, à redução de frios e cruéis números estatístico/fiscais. Onde estão a honra, a glória, o prestígio e o respeito devido aos Portugueses?
Portugal tem nove séculos de história, de fronteiras estáveis, de uma língua que é a sexta mais usada em todo o mundo, tem cultura antropológica e intelectual, desenvolvidas, em todos os domínios: do social ao profissional; do religioso ao laico; do económico ao financeiro; do trabalho à empresa.
Os Portugueses merecem, e exigem, o respeito, mas é evidente que essa deferência comece dentro das suas próprias fronteiras, entre Portugueses, independentemente dos estatutos políticos, socioprofissionais e económico-financeiros, porém: a defesa, a consideração e o respeito, devem partir, indubitavelmente, de quem possui o poder, seja ele qual for, embora e em primeira instância, daqueles que legislam, executam e fiscalizam, daqueles que prometem uma vida digna aos seus concidadãos.
São alguns destes cidadãos, muitos deles, oriundos do próprio povo anónimo, cujos pais e avós os ajudaram a “subir na vida”, que agora estão contra os seus mais diretos progenitores, para obedecerem a estranhos ao país, impondo sacrifícios insuportáveis. Tanta injustiça não é fácil de se encontrar em muitos mais países, talvez porque uns são poderosos, outros relativamente autónomos e outros, ainda, porque têm quem os defenda intransigentemente.
Vive-se numa sociedade muito materializada, ávida e cega por um poder devastador e cruel para com os mais fracos: crianças, jovens, desempregados e reformados/pensionistas que, infelizmente, não têm o poder de fazer parar o país, ou um setor importante das atividades económicas, porque quanto a estes, os responsáveis vão satisfazendo as insistentes reivindicações, algumas delas até serão justas, outras, eventualmente, nem tanto.
Portugal, sobreviverá, é certo, porque os feitos inigualáveis, ao longo da sua história, são a garantia da vitória do povo anónimo, para provar ao mundo de que, mesmo na miséria, temos dignidade e seremos capazes de vencer, sem que alguém tenha de nos impor regras, exigências desumanas, especulação e desrespeito pelos nossos mais elementares direitos.
 Somos, materialmente, pobres mas trabalhadores incansáveis, competentes, honestos, poupados quanto baste. Precisamos é de oportunidades, de alguém que nos defenda e esteja verdadeiramente do nosso lado, ao nosso serviço, zelando pelos nossos interesses, pela nossa nobreza. O povo Português também sabe ser grato para com quem o ajuda.
Estão em jogo a sobrevivência condigna das nossas gerações: atuais e futuras, a dignidade de um povo que não é nenhum bando de ociosos, de criminosos ou de esbanjadores de dinheiros públicos, nacionais ou internacionais. Restituir a honra, o bom nome e a dignidade aos Portugueses, devolvendo-lhes todos os direitos, há décadas conquistados legítima e legalmente, é o mínimo que de imediato se deve fazer.
Claro que é preciso coragem, determinação e sentir-se bem Português para enfrentar e, se necessário, contrariar quem, insensivelmente, nos está a impor a brutalidade de uma austeridade cega, quem apenas vê Portugal como um rico “paraíso” para férias, gastronomia e a hospitalidade do seu povo.
Os Portugueses são corajosos, determinados, práticos, “desenrascados”, saberão vencer mais esta afronta. Também não lhes falta a esperança, a fé e a vontade de vencer esta situação dramática, em que se encontram, mas para que isso aconteça é fundamental que estejam unidos, que partilhem do objetivo comum de se autoprotegerem, de produzirem com qualidade, rigor e quantidade.
A esperança em melhores dias, não nos abandona; mostrar ao mundo que somos competentes para vencer, que temos força, inteligência, conhecimentos, experiência, sabedoria e prudência, como os povos das nações mais ricas e poderosas, também o sabemos fazer. Os Portugueses esperam que alguém os ajude, compreenda, respeite e saiba esperar, no tempo e no espaço, os resultados positivos que, sem qualquer dúvida, somos capazes de alcançar. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)
                                                            Brasil: http://www.webartigos.com/autores/bartoloprofunivmailpt/

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