domingo, 26 de maio de 2013

Teóricos da Filosofia Portuguesa do Séc. XIX


A crítica pertinente à filosofia tradicional, elaborada por Luís Verney e exposta no “Novo Método de Estudar”, teve grande repercussão no momento e após ele. A sua mensagem é reelaborada durante o século XIX, com novas atitudes de ordem filosófica, que pretendem a naturalização do espírito e a sua concomitante explicação de tipo naturalista, ou têm em vista espiritualizar, excessivamente, a matéria, diluindo-a em formas abstratas, herdadas ainda do Aristotelismo medieval.
Pode afirmar-se que a Filosofia Moderna em Portugal começa com Silvestre Pinheiro Ferreira, (1769-1846) conselheiro de D. João VI que, em Paris, tomara direto conhecimento com as doutrinas que se elaboravam sob a designação de “Ideologia”, movimento esse resultante dos principais pensadores que, após a Revolução, reorganizaram a vida intelectual francesa. Também outros nomes saídos da Congregação do Oratório são dignos de menção, como Teodoro de Almeida, empenhado na restituição do autêntico Aristóteles, e apaixonado cultor do que nessa época se chamava filosofia natural.
Descortina-se, na segunda metade do séc. XIX, quatro tendências dominantes, aparentemente irredutíveis, mas todas elas convergentes, como tomada de consciência de atitudes afirmadas no estrangeiro: o sensismo, o ecletismo, o tomismo e o positivismo.
A primeira tendência é assumida pelos discípulos portugueses de Condillac, cuja “Arte de Pensar” foi traduzida e publicada, com prefácio dirigido aos portugueses. O ecletismo é representado por numerosa falange e continua, desse modo, a operar os malefícios imputados ao manual do Genovense.
Trata-se, em geral, de autores didáticos, que traduzem ou compõem os seus livros de filosofia, com conteúdos áridos e dogmáticos, com largas mas imprecisas reputações do panteísmo, do sensualismo e do idealismo. Cunha Rivara, em 1836, em bem documentado escrito, insurge-se contra a insuficiência entre nós do ensino da Filosofia.
E, neste aspeto, o mesmo acontecia à corrente tomista, sobretudo a partir da encíclica “Aeterni Patris”, de Leão XIII, com o uso e abuso do Manual de Simbaldi. É, porém, na segunda metade do século XIX que a Filosofia de Comte encontra numerosos aderentes em Portugal. O positivismo passa a ser considerado como a última palavra de toda e qualquer atitude que possa valer como filosofia nos tempos modernos.
 Teófilo Braga e Teixeira Bastos são os principais propagadores do positivismo, e editam a primeira revista de Filosofia em Portugal. Por influência do positivismo, a Filosofia torna-se a síntese das ciências. Da escolástica, em nome de Deus e do Céu, passa-se a uma escolástica filosófico-científica, em nome do homem e da terra.
A reforma pombalina havia dado um rude golpe na metafísica aristotélica, postulando o ensino essencial da filosofia, e o cultivo dos seus autênticos problemas, substituindo-os pela ciência, considerada na sua forma mais empírica e utilitária. Tratava-se de mais um movimento de opinião orientado para objetivos políticos, do que uma explanação filosófica.
Em contestação ao positivismo, outros autores se afirmam e outras correntes se defendem. Domingos Tarrozo, Amorim Viana, Antero de Quental, Cunha Seixas e Ferreira Deusdado enriquecem a temática vigente, carreando materiais, exercitando novas formas de pensamento, proclamando novos valores: quer defendendo o racionalismo, em oposição às atitudes motivadas por crença irrefletida; quer propondo nova visão evolucionista do universo e do homem; quer afirmando novas categorias de sentido dialético para a compreensão do real e do espírito; quer organizando vasto panorama crítico e sistemático da galeria das ciências, ordenadas lógica e sistematicamente; quer, ainda, buscando novas formas que não separem, mas congreguem, os homens no estudo da nova estrutura da sociedade.
Sampaio Bruno e Leonardo Coimbra, pelo significado metafísico, antónimo do pensamento, aproveitando as críticas anteriormente feitas por Antero de Quental e Cunha Seixas, alcançaram triunfo sobre as teses positivistas e uma transmissão filosófica do pensamento português, desapossando o positivismo do lugar dominador das escolas, na cultura e na política. Seguramente que poder-se-á dizer que a filosofia no século XIX, como aliás em séculos anteriores, oferece uma série de posições ideológicas, cuja estrutura unitária não é patente.
E nisso consiste o seu valor e o seu significado: busca motivada pelo amor de saber o que se ignora. As coordenadas com que este não-saber se relaciona alteram-se com o tempo e com a pessoa, donde se conclui que é o anseio de busca que é válido, e não o resultado da pesquisa.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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