domingo, 1 de setembro de 2013

Política com Lealdade


Enquanto valor e atitude, a Lealdade é uma dimensão humana que importa enaltecer e praticar, sistematicamente, em quaisquer contextos da intervenção da pessoa verdadeiramente humana. A Lealdade poderá, também, ser uma virtude, se se considerar que colocada ao serviço do bem-comum produz resultados que, em parte, conduzem à harmonia, à paz e à felicidade entre as pessoas que se querem relacionar de forma saudável, sem azedumes, sem invejas, sem ódios.
Na política, tal como noutras atividades humanas, exige-se valores e comportamentos compatíveis com a dignidade individual e coletiva, respeitadores das ideias, opiniões e intervenções dos adversários, partindo-se do pressuposto que todos são pessoas de bem, com direito inquestionável à honra, reputação e bom-nome. “Até prova em contrário, todas as pessoas são inocentes”.
Na política, como noutras atividades, a Lealdade fará parte, certamente, de um processo, este entendido como o conjunto de boas-práticas, de organização, de aplicação de normas éticas e morais, de transparência e de respeito pelos adversários. Respeito como valor cívico e civilizacional.
O exercício da atividade política implica, por parte de quem se envolve na vida pública, ao serviço da comunidade, a maior isenção e rigor no que respeita ao relacionamento com os cidadãos em geral, e com os adversários em particular. Com efeito, quem se predispõe, voluntariamente, a servir o povo, não pode, nem deve, valer-se da sua posição, do poder que detém e das influências que conquista, discriminar quem não comunga das suas ideias.
Desempenhar uma função política exige qualidades de liderança competente, assertiva e, fundamentalmente, grande nobreza de caráter. É necessário considerar que antes de se ser líder político, possivelmente, desempenharam-se outras tarefas na vida, como simples cidadão e que, certamente, nesta qualidade, não gostaria de ser humilhado, marginalizado e, tão pouco, devassado na sua vida privada.
O cidadão/político que se envolve na “luta” pela conquista do poder, tem consigo toda uma equipa de colaboradores que, evidentemente, tem de liderar, com humildade e segurança, também com firmeza e generosidade: «A verdadeira generosidade não é evento ocasional. Vem do coração e permeia todos os aspetos da vida de um líder, tocando o seu tempo, dinheiro, talento e bens. Os líderes eficazes, o tipo que as pessoas vão querer seguir, não juntam as coisas apenas para si próprios, fazem-no para dar aos outros. Cultivam a qualidade da generosidade nas suas vidas. (…) A generosidade requer que se coloque os outros em primeiro lugar.» (MAXWEL, 1999:62).
O líder político age, portanto, com valores essenciais à dignidade da pessoa humana, independentemente de serem os seus fiéis seguidores ou os seus adversários políticos, religiosos, profissionais ou de quaisquer outras atividades e estatutos e em diferentes contextos.
É, naturalmente, inconcebível e intolerável que, em pleno século XXI, ainda se utilizem “recursos e técnicas” de inaceitável comportamento. O líder que hoje recorre à difamação, ao ataque pessoal e à ofensa da honra, reputação e bom-nome dos seus adversários, amanhã fará o mesmo em relação àqueles que tiverem a infelicidade de estarem debaixo do seu poder, sempre que o contrariarem.
Regra geral, toda a pessoa tem a obrigação de ser educada, correta, amável, tolerante. Em concreto, todo o líder político tem o dever ético-moral de ser generoso, leal e compreensivo para com os seus adversários e, nesse sentido, deve preocupar-se em apresentar, claramente, as suas ideias, os seus projetos, informando e prometendo com verdade o que tenciona realizar, efetivamente, sem demagogias nem populismos ocasionais.
O debate democrático das ideias e dos projetos é o melhor processo para respeitar os adversários e o povo eleitor, de contrário o descrédito da política e dos políticos é a consequência natural e que, rapidamente, se concretizará, para prejuízo de todos. Ao que as sondagens indicam, parece o que está a acontecer um pouco por todo o lado: a difícil aceitação da atividade política e seus agentes.
A lealdade na política pressupõe, portanto, atitudes que sejam entendidas como preocupações que o líder/candidato tem para com a comunidade que, voluntária e generosamente, quer servir. Ações de grande transparência, sinceridade e humildade, nas quais se possa acreditar como sendo próprias de uma pessoa bem-formada, sem preconceitos, de uma qualquer superioridade.
A lealdade não é compatível com intervenções improvisadas, ilusórias e de pura e sedutora duplicidade. A lealdade em política deve, inclusivamente, contribuir para a credibilização, para a dignificação de todos os agentes no processo democrático, em todos os setores da vida das comunidades.
É pela lealdade que se incute a confiança, seja nos concorrentes, seja no povo anónimo. Em princípio, quem não é leal para com os seus adversários, muito menos o será para com os cidadãos comuns, pelo que estes devem estar muito atentos em relação ao que é dito, prometido e exequível de realização, pelos diversos candidatos, a um determinado cargo público.
O líder leal será sempre uma pessoa que procurará a verdade, que sabe esclarecer com clarividência todas as suas posições, que não recorre a métodos que humilham as pessoas em geral, e os seus adversários em particular. O líder leal, assertivo e justo deve apoiar-se na sua própria convicção, acerca de uma ideia, de um projeto, de grandes princípios, valores e sentimentos, até porque este líder deverá ser uma pessoa portadora de diversas dimensões humanas, familiares, religiosas, políticas, profissionais, sociais, entre tantas outras.
A lealdade, em política, paga um preço muito alto, quando confrontada com a deslealdade dos adversários, com os ataques pessoais, vilipendiosos, difamatórios e intimidatórios. Mas o povo é sábio, prudente e justo, pelo que saberá muito bem que se um líder/candidato não é leal para com os seus concorrentes, jamais o será para com a comunidade em geral.
A mentalidade da promessa fácil e enganosa, do sorriso forçado, do cumprimento forçado, do denegrir os adversários para “conquistar” simpatias, entre outros “truques”, tem os seus dias contados, porque, em bom rigor: “Quem hoje me quer mal a mim; amanhã quererá o teu mal”; ou ainda: “Quem é amigo do meu adversário, não pode ser meu amigo, nem estar do meu lado com lealdade”.
O líder que se pauta pela lealdade, preoupa-se com o respeito pelos seus adversários, solidariza-se com eles quando são vítimas de injustiças, de ataques pessoais, de comportamentos que humilham e ofendem. A lealdade na política coloca-se acima de meros interesses político-partidários, egoísmos e oportunismos. A lealdade não é solidária com jogos duplos, nem compatível com posições ambíguas, neutras, de mero comportamento de circunstância. Lealdade implica firmeza, verticalidade, transparência, tolerância e solidariedade.
O líder/candidato a um cargo público, através do voto livre e democrático, tem de ser uma pessoa com formação cívico-institucional e democrática, bem consolidada, porque o respeito pelos valores da cidadania, exercidos pelos adversários e eleitores, é o núcleo central, à volta do qual deve funcionar todo o processo democrático
Com efeito: «Cidadania é um estado de espírito e uma postura permanente que levam as pessoas a agirem, individualmente ou em grupo, com objetivos de defesa de direitos e de cumprimento de deveres civis, sociais e profissionais. Cidadania é para se praticada todos os dias, em todos os lugares, em diferentes situações, com variadas finalidades.» (RESENDE, 2000:200).
Como corolário, pretende-se deixar bem vincado que a lealdade em política passa, necessariamente, pelos valores cívicos, pelos comportamentos democráticos, pelas atitudes corretas, educadas e amáveis, rejeitando, liminarmente, toda e qualquer intervenção que vise devassar a vida privada, profissional, social, cultural, religiosa e empresarial dos adversários, dos seguidores e da população em geral.
O líder leal é o que orienta a sua atividade política dentro dos valores democráticos, no respeito pela dignidade, ideias e projetos dos seus adversários, que é solidário com estes, sempre que forem vítimas de injustiças, humilhações e ofensas. O líder leal terá de ser a pessoa com quem a sociedade pode contar, para o bem e para o mal, confiar e socorrer-se, sempre que seja necessário.
O líder lela e democrático, em circunstância alguma, se for bem formado, recorrerá à injúria, à humilhação, à devassa da vida dos seus adversários, familiares, seguidores e colegas. O líder leal, suscita confiança, estima, consideração, solidariedade e, por que não, amizade, e recebe também idênticos valores e sentimentos de todos os que como ele intervêm na sociedade

Bibliografia

MAXWELL, John C., (1999). As 21 Indispensáveis Qualidades de um Líder. 1ª Edição Portuguesa, 2010.Trad. Paula Alexandra. Lisboa:SmartBook. 
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

         www.caminha2000.com (Link’s: Cidadania e Tribuna)
         http://www.caminhense.com

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