domingo, 17 de novembro de 2013

Confiança. Segurança. Felicidade


A infelicidade humana será um estado de espírito que, em última análise, afeta, gravemente, a produtividade de quem sofre deste mal e reflete-se, certamente, na competitividade das instituições empresarias, públicas e privadas, nas associações de vária natureza e fins, porque a motivação para o trabalho profissional e para a intervenção cívica, praticamente, desaparecem. As pessoas perdem a Confiança nos seus dirigentes, em si próprias e no futuro.
Com efeito: «A Confiança é reconhecida como um fenómeno emocional que predispõe as pessoas a se entregar e se abrir para trocas, o que fomenta a cooperação e a transferência do saber, encoraja-as a dizer o que pensam e experimentar sem medo de ser punidas, o que favorece a inovação; derruba barreiras defensivas e colabora com o fluir da organização. Ela pode ser a chave para navegar através da complexidade e incerteza de novos cenários organizacionais.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:67).
Admite-se que a pessoa confiante, nas suas capacidades, nos seus projetos, nos seus princípios, valores e sentimentos, tem mais possibilidade de sucesso e, correlativamente, ainda que numa atitude relativamente materialista, ser mais feliz, porque de contrário, se pensar que é infeliz, perde a Confiança e isso pode provocar consequências negativas para as organizações, tais como: «Apatia e desinteresse; alto nível de absentismo; aumento do número de acidentes; pouca integração e cooperação entre áreas e pessoas; aumento da resistência às mudanças; pouca lealdade para com a chefia e empresa; imagem negativa interna e externa.» (RESENDE, 2000:133).
A pessoa verdadeiramente humana torna-se tanto mais confiante quanto mais Segurança sente nas diversas dimensões da sua vida: pessoal, familiar, profissional, associativa, social e axiológica. É claro que Confiança gera Segurança e Felicidade, mas para que tal aconteça é importante o domínio, mais ou menos profundo, de conhecimentos e possuir experiência de vida, através do estudo, do trabalho e da formação ao longo de toda a existência.
Em boa hora foi decidido, por exemplo, incorporar no Código do Trabalho Português a obrigatoriedade de formação profissional que estabelece: «No âmbito da formação contínua, o empregador deve: Promover o desenvolvimento e a adequação da qualificação do trabalhador, tendo em vista melhorar a sua empregabilidade e aumentar a produtividade e a competitividade da empresa; (…) O trabalhador tem direito, em cada ano, a um número mínimo de trinta e cinco horas de formação contínua, ou sendo contratado a termo por um período igual ou superior a três meses, um número mínimo de horas proporcional à duração do contrato nesse ano.» (Código do Trabalho, Artº 131º, in CUNHA, et. al., 2010:390-391).
As três vertentes humanas, em título: Confiança. Segurança. Felicidade, que também se podem equiparar a um estado de espírito, muito propício ao sucesso, não sendo as únicas, constituem um bom princípio para ter uma vida excelente que, por sua vez, abre portas para novas e melhores oportunidades, nos vários contextos em que a pessoa está envolvida na sociedade. Aqui chegada, toda a pessoa tem fortes possibilidades de assumir cargos mais importantes, com mais responsabilidades, mas também com estatuto sócio-profissional e remuneratório muito mais aliciante.
Numa linha de ascensão profissional é desejado, pela maior parte dos trabalhadores, atingir a categoria máxima possível, dentro da organização, designadamente a de líder, responsável por um determinado departamento, chefiando a/s respetiva/s equipa/s de trabalho. Ora, um primeiro passo para ganhar a Confiança dos seus superiores, colegas e subordinados é ter humildade.
Pode-se aceitar que a Humildade é uma: «Atitude associada à competência cumplicidade. Infelizmente, é muito comum encontrar profissionais pouco maduros, que relacionam humildade com debilidade, quando na verdade a humildade tem mais a ver com fortaleza de caráter. Numa organização a atitude de humildade implica assumir os próprios erros, reconhecer dificuldades e compartilhar sentimentos.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:79).
Acredita-se que a Humildade fortalece a Confiança, a Segurança e a Felicidade, porque ela implica uma exposição reveladora de uma auto-avaliação que transmite aos colaboradores a falibilidade da pessoa e dos sistemas e, portanto, ninguém é perfeito, absoluto e insubstituível, bem pelo contrário.
Com esta atitude de humildade, que se pretende verdadeira (o excesso de humildade pode assemelhar-se à vaidade encapuzada), fica-se mais próximo da sociedade complexa onde os erros humanos grassam nas pessoas e nas instituições porém, nem sempre assumidos por quem os pratica.
Confiança e Segurança são duas poderosas alavancas para um progresso sustentável: quer na vida pessoal, familiar social e profissional; quer noutros domínios da intervenção humana na sociedade, designadamente na política e na religião, mas é preciso demonstrar, não só pela retórica mas, principalmente, pela práxis, de que estamos confiantes e seguros para assumir determinadas responsabilidades.
Tem-se por adquirido que: «Um dos principais desejos das pessoas no trabalho é poder mostrar seus conhecimentos, aptidões, habilidades e competências ainda que nem sempre saibam manifestar isto, clara e completamente para suas chefias e lideranças. Estas, por sua vez, não possuem o preparo necessário para lidar de forma mais ampla e eficaz com aptidões, habilidades e competências dos seus comandados. A consequência inevitável disto é que as pessoas se sentirão frustradas e nunca – se a situação não mudar – estarão plenamente satisfeitas em relação à execução das suas tarefas.» (RESENDE, 2000:136).
E se a Confiança e Segurança se vão adquirindo ao longo da vida, pelo estudo, trabalho e experiência, também é verdade que a sociedade, as organizações e as pessoas, estas individualmente consideradas, nos possibilitem as oportunidades para demonstrarmos do que somos capazes, porque de contrário nunca sairemos do “anonimato”, ou seja: terá sempre de haver uma primeira vez, a partir da qual, e caso a nossa intervenção seja positiva, iniciarmos, com Confiança e Segurança, novas atividades.
A autoconfiança, a autossegurança e a Felicidade social conquistam-se paulatinamente, testam-se frequentemente e acabam por ser reconhecidas pela sociedade, todavia, é muito perigoso qualquer excesso daquelas atitudes, porque pode conduzir à exacerbação da própria auto-estima, manifestada em egocentrismo, narcisismo e vaidade despropositada que, por sua vez, levam, muitas vezes, à arrogância, ao orgulho e ambição desmedida, enfim, à prepotência e subjugação dos mais fracos.
Ao longo da vida podem demonstrar-se e exercer-se, honesta e solidariamente, várias atitudes, que geram Confiança, Segurança e Felicidade, não só em nós próprios como nas outras pessoas, e isso é muito importante e positivo, quaisquer que sejam as nossas atividades sociais, profissionais e cívicas.
A título de informação, invoque-se, por exemplo, a Generosidade. Na verdade: «A generosidade com as pessoas nos faz perceber as suas limitações, tolerar as suas dificuldades e ter paciência com o seu ritmo de crescimento; nos faz aceitar o outro como legítimo outro, o que é uma forma de amor. Se queremos receber algo do próximo, devemos primeiramente dar-lhe algo. É pena que tão frequentemente o orgulho e as razões do ego nos impeçam de fazê-lo.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:79).
Efetivamente, ao sermos generosos, estamos a revelar ao nosso semelhante: que nos preocupamos com o seu bem-estar; que desejamos para ele uma vida melhor; que viveremos sempre do seu lado, nas mais difíceis circunstâncias da vida; que ele pode contar connosco, com os nossos valores e sentimentos; com as nossas virtudes e qualidades, mas também com os nossos defeitos, erros e imperfeições; que estamos disponíveis para suportar o infortúnio e partilhar a felicidade. A nossa generosidade não terá limites e este comportamento, seguramente, vai gerar Confiança, abertura, entrega e cooperação recíprocas.
Portanto, a Confiança, a Segurança e a Felicidade, constituem um primeiro tripé para o sucesso pessoal e, nesse sentido, é crucial abrirmo-nos aos outros, àqueles em quem realmente confiamos, que nós sabemos que têm igual comportamento connosco, porque a partilha de ideias, aspirações, desilusões, sofrimentos, desgostos, mas também de alegrias e felicidade, torna-nos mais fortes, mais motivados para concretizar projetos e dividir sucessos.
Realmente: «Se confiar é uma utopia, bendita seja. Por ela vale a pena fazer esforços e correr algum risco. A recompensa, afinal, é um mundo melhor. Mas, como qualquer outra coisa na vida, a confiança será um tema importante desde que cada um creia nisso. Eis o caminho: ir buscando e encontrando os benefícios que nos incentivam a confiar cada vez mais uns nos outros.» (Ibid.:114).
É claro, numa perspetiva cética ou, se se preferir, de grande prudência, admitir-se que há certos setores em que confiar nos outros é muito perigoso, e desde já talvez não seja pejorativo apontar o mundo dos negócios, a atividade política, o envolvimento em concursos com determinados objetivos: um emprego, uma adjudicação de um trabalho, eventualmente, pormenores da vida mais íntima, aqui no contexto de um relacionamento pessoal que, não sendo bem aceite pela sociedade será, porventura, do agrado e em consonância com valores, sentimentos e emoções muito profundos, entre duas pessoas.
No limite, é necessário analisar bem em quem podemos confiar, que tipo de assuntos, acontecimentos e projetos poderemos, realmente confessar, salvaguardando-se sempre a solidariedade, a amizade, a lealdade, a consideração e a gratidão para com as pessoas que já revelaram confiar em nós. Em relação a estas, será do mais elementar bom-senso e justa retribuição que a elas confiemos, igualmente, tudo o que nos faz bem partilhar, que ajuda a consolidar a nossa Confiança, Segurança e Felicidade.

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina, et al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
NAVARRO, Leila e GASALLA, José Maria, (2007). Confiança. A Chave para o Sucesso Pessoal e Empresarial. Adaptação do Texto por Marisa Antunes. s.l., Tipografia Lousanense.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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