domingo, 24 de novembro de 2013

Caráter Nobre: Simplicidade. Humildade


As pessoas verdadeiramente humanas, educadas e formadas nos valores fundamentais, que a caraterizam como um ser superior, portanto, acima das minudências mesquinhas da vida egocêntrica, por vezes, excessivamente materialista e, aparentemente, alheia às preocupações e dificuldades da família e dos amigos, certamente que se revelam pelos seus gestos, palavras, atitudes, e comportamentos simples, como sendo, afinal, próprios de caráteres bem-formados, generosos, tolerantes e magnânimos.
De facto: é nas muitas e pequenas coisas da vida quotidiana que melhor se compreende a estrutura ético-moral e psicossocial de uma pessoa; não tanto nas grandes e várias intervenções, esporádicas, por vezes, muito bem elaboradas, calculadas no tempo, no espaço e nas circunstâncias mais propícias à admiração, ao elogio, à tentativa de rotulagem altruísta, que alimentam o ego, a vaidade e a ideia de importância, no seio de um determinado grupo societário.
Naturalmente que são muito importantes e, em algumas situações, a prática de atos verdadeiramente corajosos, altruístas, benevolentes, inimitáveis, e que as pessoas que os praticam com honestidade intelectual e ético-moral, despojadas de quaisquer interesses materiais, que ocorrem e se destinam, exclusivamente, a um bem-comum, ou mesmo particular, no sentido de proporcionar uma situação melhor, à que vigorava antes de tal ato, então, nestas circunstâncias, o correspondente comportamento é louvável e deve ser objeto da mais elevada consideração, estima e até amizade para com a pessoa que assim procede.
Certamente que também se conhece, por outro lado, que há pessoas que, ao longo da sua vida, no seu dia-a-dia, praticam atos, proferem palavras, assumem atitudes que, passando, inclusivamente, despercebidas aos olhos da maioria, por serem simples, humildes e discretas, que pouca importância se lhes atribui, porém, revelam, inequivocamente, o bom caráter destas pessoas, a sua apreciação, afeição e, eventualmente, amizade e respeito pelos seus semelhantes.
No decurso da vida exercem-se múltiplas funções, envolvemo-nos em diferentes relacionamentos, convivemos em diversos contextos e, em todas as situações, temos sempre a oportunidade de sermos verdadeiros, genuínos e simples, aplicarmos com sinceridade os nossos valores e sentimentos, deixarmos as nossas emoções fluir, sem complexos. Tudo isto é possível, e quanto mais caminhamos pela “estrada da vida”, e nos aproximamos do seu fim, mais vulneráveis ficamos, porque a sensibilidade como que se refina, na aprendizagem que vamos adquirindo na Universidade da Vida.
Com efeito: «A escola da vida é que nos está dando oportunidade de aprendermos a nos tornarmos melhores pessoas, mais sábias, inteligentes, menos carentes, mais autênticas e maduras. Estamos procurando ter mais consideração, dignidade, honra, respeito e liberdade. E aplicá-los na prática com sabedoria, seja na família, na sociedade ou no mundo corporativo.» (CARVALHO, 2007:13).
Como é bom recebermos a: atenção, consideração, estima e carinho de pessoas simples, que têm atitudes nobres, com autêntica humildade, em que um sorriso e um brilho nos olhos, nos transmitem sentimentos de verdadeira amizade, de grande simpatia; como é bom termos essas pessoas, incondicionalmente, do nosso lado, solidárias e leais, que nos protegem, nos apoiam em pequenos e grandes projetos que, generosamente, nos compreendem e toleram, sempre com imensa ternura e afabilidade; como é importante sabermos preservar, com afeição, cumplicidade, confiança e gratidão, estas pessoas que revelam por nós um verdadeiro “Amor-de-Amigo”, sem reservas nem suspeições.
Que bom que é usufruirmos de uma relação de profunda afeição com estas pessoas simples, tímidas, mas com um caráter magnânimo. Todos caminhamos pela “linha irreversível da vida”, e a maior gratificação que se pode obter é, sem dúvida alguma, sabermos que não estamos sós.
Tudo indica que: «Com a idade, poderá encontrar-se rodeado de amigos e pessoas que se preocupam genuinamente consigo, que proporcionam toda a segurança que resulta de ser amado e tratado com dignidade e respeito. Esses amigos, essas pessoas, tornam-se então a sua verdadeira família. Essas pessoas também podem partilhar os seus valores espirituais.» (BRIAN, 2000:103).
A simplicidade comportamental implica uma grande complexidade nos relacionamentos, na medida em que postula a recusa de princípios, valores, sentimentos e emoções inverdadeiros. Sabe-se que a autenticidade das nossas palavras, atos e atitudes têm de garantir previsibilidade, confiança e seriedade.
Talvez devido a uma tal dificuldade é que muitas pessoas se revelam extremamente flexíveis que: tanto afirmam estar do lado de uma pessoa e situação; como, quase em simultâneo, demonstram, exatamente o contrário. Nestas circunstâncias é muito difícil confiar em tais pessoas, e só uma grande amizade pode atenuar a incerteza, como igualmente é muito problemático deixarmo-nos apossar por valores e sentimentos que, mais tarde, nos fazem sofrer, apanhar desgostos, eventualmente, para o resto da vida.
Haverá pessoas que pela sua simplicidade, humildade, generosidade, sinceridade, respeito e vergonha, que são verdadeiramente amigas, manifestam sempre, através de “pequenas-grandes” coisas, que são genuinamente confiáveis, em quem podemos acreditar, ter a certeza que nunca nos vão enganar, que não nos vão magoar, defraudar, no limite, desprezar.
São estas pessoas simples, a tocar as fronteiras da ingenuidade, da pureza e da virtude que nos garantem estabilidade relacional, nos entusiasmam, nos incentivam e nos defendem em todas as situações. São elas que nos respeitam, a nós, aos nossos familiares e amigos. São estas pessoas que nunca se aproveitam das nossas fragilidades, desorientação e infortúnios da vida. São estas pessoas que tudo fazem pelo nosso sucesso e felicidade: familiar, profissional e social. São estas pessoas as nossas verdadeiras amigas.
Pessoas humanas simples, descomplexadas nos seus princípios, valores, sentimentos e emoções, profundamente preocupadas com o nosso bem-estar, que se revelam, diariamente, possuidoras de um espírito virtuoso, sempre disponíveis para nos escutar, aconselhar, orientar. A pessoa simples, facilmente se torna amiga, porque nela, praticamente, tudo é puro, não há intenções inconfessáveis, porque ela sabe e deseja partilhar as suas ansiedades, desejos, projetos, sucessos e fracassos. Ela quer estar inequivocamente do nosso lado.
São estas pessoas simples, que por vezes se tornam nossas verdadeiras amigas, e que até podem ser ignorantes, na perspetiva das pessoas complexas, difíceis, calculistas e intelectualmente desonestas. Claro que: «Existem pessoas que não sabem ficar sozinhas, que precisam de alguém com quem interagir. Basta um ouvidor: elas mesmas perguntam e respondem, têm revelações sem que o outro explicitamente tome parte – a propósito, essa é a função do amigo.» (NAVARRO, 2002:81).
A sociedade vive dias conturbados (2013). As relações interpessoais, familiares, institucionais e sociais nem sempre decorrem com: harmonia, respeito e dignidade. Em vez de se simplificarem as atitudes e os comportamentos, parece que até há uma preocupação e um grande prazer em se dificultar a vida às pessoas, eventualmente, com objetivos de notoriedade, a qualquer título, e daqui resultar alguma influência em proveito próprio.
Os comportamentos “sofisticados” “afetados” ou demasiado liberais, aqui no sentido da aparente boa convivência com “gregos e troianos”, sabendo-se que se forem autenticamente imparciais, justos e assertivos, não existem condições para uma tal “polivalência relacional”.
De resto, as pessoas envolvidas em certas atividades, conseguem um tal “equilíbrio” que não corresponde à sinceridade, lealdade, amizade e solidariedade, revelando assim um caráter do qual teremos de nos dissociar, sob pena de perdermos a nossa credibilidade, dignidade e respeito por nós mesmos.
Quando se abordam a simplicidade, humildade e lealdade das pessoas, tal não significa que nos estejamos a referir a um qualquer estatuto, mais ou menos importante e influente. Não estamos a privilegiar a: sabedoria e/ou a ignorância; riqueza e/ou pobreza; letrado e/ou inculto, aqui na perspetiva elitista, porque, antropologicamente, todos temos uma cultura e nela somos cultos.
É, facilmente, demonstrável que existem pessoas simples, modestas, humildes e leais em todos os: estratos da sociedade, classes sócio-profissionais, escalões etários, gerações, dimensões político-económicas, ético-morais e religiosas. Por isso não se pode estigmatizar as pessoas, porque são difíceis, complexas e calculistas, por causa de um qualquer estatuto, conhecimento, experiências, na medida em que o contrário também será possível.
O que aqui importa é enfatizar a atitude simples, a palavra, o gesto, o comportamento habitual, que assentam, essencialmente, nos valores caraterísticos da naturalidade, como: a humildade, a modéstia, a sinceridade, a assertividade e também em intervenções que, normalmente, revelam timidez, uma respeitável vergonha na exposição, no exibicionismo, ou seja: pessoas que são, por natureza, recatadas, algo austeras e disciplinadas.
Viver a vida com simplicidade ajuda à harmonia, à alegria, ao entusiasmo, à generosidade. Simplificar o discurso oral e escrito, a intervenção social, política, profissional, religiosa e empresarial, é um caminho possível para se: melhorar as relações interpessoais; exercerem, eficazmente, os mais nobres e positivos valores, numa cultura universal para a: paz, bem-comum e felicidade dos povos e das nações.
Simplicidade combina com humildade. Daqui pode-se inferir que: «A humildade favorece a força de carácter: o humilde toma as suas decisões consoante o que achar ser justo e assim se mantém. Sem se inquietar com a sua imagem ou a opinião de outrem. (…) Exteriormente é meigo.» (RICARD, 2005:169).

Bibliografia

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.
NAVARRO, Leila, (2000). Talento para Ser Feliz. 10ª Edição. S. Paulo: Editora Gente. Direitos Cedidos para Edição portuguesa à Editora Pergaminho, Ldª., 1ª Edição. Cascais, 2002
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo artigo!