domingo, 7 de agosto de 2016

Escola e Dignidade Cultural

O mundo moderno, que se pretende civilizado e democrático, quaisquer que sejam os instrumentos constitucionais, em que uma determinada sociedade se constitua, tolera cada vez menos as práticas ditatoriais e, nesse sentido, implementará medidas educativas, formativas e cívicas que, gradualmente, inspirem um novo conceito de cidadania.
Na base de tais estratégias e para lhes dar a credibilidade e eficácia adequadas, encontra-se a escola no seu papel insubstituível de educar, formar, e instruir. Naturalmente que não se pode ignorar a força, legitimidade e competências do poder político, legal e democraticamente constituído, ao qual compete, em primeira instância, enquanto legislador e executor, traçar os objetivos, proporcionar os meios e acompanhar todo o processo educativo.
Construir um projecto educativo, à medida de determinadas vocações, é um objetivo nobre, que não só dignifica a instituição escolar como enriquece todos os intervenientes na iniciativa, sejam professores-formadores, sejam alunos-formandos e qualquer outro pessoal fora do contexto escolar, mas que sinta o chamamento vocacional para uma área da intervenção educativa.
Um projecto de existência, que dignifique este novo cidadão, não só enquanto tal, como ainda enquanto pessoa humana, portadora de princípios, valores, sentimentos, emoções, sonhos e projetos de vida, certamente, em função da sua cultura. Que maior riqueza e benefício para um país que, sem preconceitos narcisistas, xenófobos, etnocêntricos, religiosos, ideológicos ou outros, proporciona a toda a população, autóctone ou imigrante, condições para cada indivíduo realizar o seu projecto de vida?
Nesta linha de orientação, o perfil do cidadão que se pretende para os novos tempos que se avizinham, será o de um interventor decisivo na elaboração, desenvolvimento prático e validação do projeto vocacional, para o que, indiscutivelmente, carece de uma orientação credível e ao longo da vida, a qual será prestada por instituições escolares dos vários níveis do ensino/aprendizagem e formação, para o efeito dotadas dos recursos humanos, técnicos e financeiros, especificamente apropriados e compatíveis, na medida em que nestes projetos e no seu sucesso se joga, em grande parte, a felicidade, em todos os sentidos do humanamente possível, da sociedade do futuro.
Chamar aqui a escola multicultural para coordenar, incentivar e consolidar uma educação intercultural, parece uma boa medida, quer para os nacionais, quer para os imigrantes. O sucesso na aposta da escola multicultural depende, em primeira análise, dos nacionais residentes: sejam técnicos docentes; sejam quaisquer outros cidadãos discentes, porque o objetivo será, no seu resultado final, todos interiorizarem as vantagens de uma educação, que promova e facilite o relacionamento exemplar entre indivíduos de culturas diversas, para o que se pressupõem competências, atitudes e abertura para conviver com situações diferentes das que eram habituais.
No exercício da cidadania plena, liberdade e autonomia são dois valores essenciais à dignidade da pessoa humana e, qualquer deles, entre muitos outros possíveis, e igualmente fundamentais, não só devem ser divulgados e estudados, como também, exercidos plenamente.
O papel da educação revela-se, aqui, uma vez mais, de extrema importância e, nesse sentido, a escola tem a grande responsabilidade de ministrar: não só conhecimentos, em redor daqueles valores; como também transmitir práticas consentâneas com os mesmos, ou seja, só em liberdade se consegue uma preparação para a vida autónoma do cidadão, por isso não se aceitará, hoje e sempre, sem mais discussão, uma escola e uma educação que ignorem as realidades circundantes a ela.
Não se justificam certos preconceitos, a propósito de no país aumentar o número de graduados, nas diversas áreas do conhecimento, porque isso, a médio prazo, beneficiará a sociedade em geral, na medida em que passará a existir uma melhor compreensão dos problemas, mais criatividade para os resolver, ao invés de se poder estar a cair numa situação de pessoas indignadas, desmotivadas e improdutivas, porque não lhes foram reconhecidas capacidades, vocações, boa-vontade, disponibilidade e alguns sacrifícios para concretizarem um projeto de vida, assente no conhecimento, na cultura, na liberdade, na autonomia, em suma, na plena cidadania que assiste à pessoa humana, genuinamente digna e que pode, e deve, ser apoiada, também, pela comunidade científico-universitária. (TA-521).

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689

Imprensa Escrita Local:

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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