É desejável e, provavelmente, benéfico que a
docência seja entendida como uma forma pedagógica, cognitiva e didática do
exercício da autoridade educativa/formativa. A autoridade docente deve,
preferencialmente, circunscrever-se aos níveis educativos, formativos e
cívicos, de tal forma que o docente, no seu espaço físico interterritorial, que
começa na escola, se amplia no laboratório/oficina, e se prolonga pela
sociedade, seja sempre reconhecido pela autoridade que exerce, no poder que tem
de ensinar/aprender/formar e preparar para a vida, todos aqueles que ingressam
no sistema educativo/formativo, ele próprio, o professor/formador, incluído.
Exige-se ao cidadão investido de autoridade docente,
que seja testemunho vivo e atuante, paradigma das boas-práticas da cidadania
democrática, com todos os deveres e direitos que ela comporta; igualmente se
requer aos poderes, legal e democraticamente constituídos, que valorizem e
prestigiem a autoridade docente.
A quadratura para a formação do cidadão, com
autoridade, pode ser aplicada em quaisquer situações socioprofissionais e
estatutárias. Educar, formar, instruir e integrar no seio da família, da
escola, da igreja e da comunidade, constitui o espaço privilegiado e delimitado
por estas organizações.
A urgência
em se dotar as instituições intervenientes no processo educativo/formativo de
um novo educador, impõe-se, nitidamente, à sociedade que, através das suas
organizações, públicas e privadas, profissionais, culturais, sociais e outras,
nas diversas áreas específicas, tem o dever de contribuir, ativamente, com todo
o tipo de recursos, para que a figura de um novo educador se transforme,
posteriormente, numa nova sociedade educativa, progredindo do educador
individual, para as famílias, escolas, cidades e nações educadoras.
O novo tipo de educador vai promover, a médio
prazo, um modelo de cidadão profissional, de pessoa humana, no limite,
contribuir para um novo mundo, mais justo, solidário, fraterno e competente. Um
projeto educativo, para a formação de um tipo novo de educador, terá de
envolver, à partida, pessoas disponíveis e sensibilizadas para assumirem
funções muito exigentes, com um elevado nível de rigor e espírito de missão.
Cidadãos que da vida e do mundo tenham, entretanto,
uma determinada vivência experienciada, uma sabedoria prudencial e,
consequentemente, o bom-senso que caracteriza as mulheres e os homens de
boa-vontade, moderados, tolerantes, compreensivos, clarividentes e firmes.
Uma nova escola, para formar um novo tipo de
educador, deve recorrer àqueles cidadãos que reúnam as condições consideradas
adequadas, obviamente com a formação especializada para os domínios que vai
orientar: «Eu digo que é preciso antes de
mais que ele próprio seja um homem ou uma mulher verdadeiros, adultos que
atingiram a maior idade, com maturidade afectiva equilibrada, indispensável
para tomarem conta de crianças e para a sua relação com elas. É este o ponto
fundamental porque não se pode pretender nem esperar formar homens autónomos
por pessoas que não sejam elas próprias livres, responsáveis e autónomas. (…)
Nestas condições, o educador não pode esperar ter êxito na sua tarefa se não
possuir quatro qualidades fundamentais: optimismo pedagógico, imaginação
criadora, espírito científico, espírito de equipa.» (GLOTON, 1974:255).
Um novo tipo de formador, está diretamente
correlacionado e conduzirá ao bom cidadão docente. Poderá ser, num futuro
próximo, este o novo educador, progressivamente extensível a todos os níveis de
ensino e formação profissional, que terá toda a autoridade docente para,
coniventemente, com o aluno/formando e as instituições, desenvolver os projetos
educativos e formativos.
Numa perspetiva de curto prazo e na execução de
projetos abrangentes de todas as idades, etnias e estatutos, as qualificações
requeridas serão mais exigentes e avançam para um conceito mais profundo, agora
designado por bom cidadão docente. Haverá uma evolução de mentalidades, de
técnicas, de estratégias e metodologias, a partir do novo tipo de educador.
O bom cidadão docente implica ter características
muito específicas, que determinam condutas muito difíceis, designadamente: ser
consciencioso, altruísta, civicamente virtuoso, cortês, pacificador e
desportista, as quais se podem descrever como: «Ser consciencioso significa ir para além do que está formalmente
prescrito para a função. O altruísmo engloba os actos de ajuda a pessoas
específicas (docentes, discentes …). A virtude cívica denota a participação
responsável na vida da organização. Ser cortês implica agir com tacto, respeito
e consideração na relação com os outros. O desportivismo reflecte a tolerância
para com situações menos agradáveis e desconfortáveis. Ser pacificador
significa agir como moderador de conflitos e zelar pelo ambiente social da
escola.» (REGO, 2003:57-58).
A docência exercida por pessoas com tais
características recuperará e consolidará, definitivamente, a autoridade, tantas
vezes reclamada. Assumir a docência apenas como uma ocupação provisória, como
um complemento remuneratório a outras atividades, pode revestir uma atitude de
lesa-cidadania.
A atividade docente ganha autoridade, não tanto
pela apresentação de um diploma de licenciatura e/ou especialização,
direcionada para a educação/formação, mas também por uma conduta docente
irrepreensível, paradigmática dos princípios, valores, sentimentos e atitudes,
a partir da qual a comunidade lhe atribua, espontânea e responsavelmente, essa
autoridade, à qual adere sem nenhuma oposição.
Selecionem-se, então, bons-cidadãos docentes, para
bons-educadores docentes. Parece ser este o caminho a seguir para um novo tipo
de educador intercultural que, simultaneamente, congregue em si o cidadão, a
pessoa humana revestida da dignidade que lhe pertence.
Bibliografia
GLOTON, Robert, (1976). A
Autoridade à Deriva, Trad. Carmen González, s.l. Ulisseia.
REGO, Arménio, (2003).
Comportamentos de Cidadania Docente: na Senda da Qualidade no Ensino Superior,
Coimbra: Quarteto Editora.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Jornal: “Terra e
Mar”
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
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