domingo, 17 de setembro de 2017

Complexidade Dramática da Sociedade Contemporânea

Responder, acertadamente, a partir de uma grelha de soluções, previamente elaborada, a questões de natureza afetiva, cognitiva, motora e de cultura geral, não será suficiente para uma adequada educação-formação, em ordem à integração plena do indivíduo humano numa sociedade cada vez mais complexa.
Atingir elevados níveis percentuais de respostas certas, em avaliações psicotécnicas, sociológicas, técnico-profissionais, comportamentais e a outros parâmetros que se procuram avaliar por estes “instrumentos de medida”, não garante, à partida, total e absoluta credibilidade e eficácia sobre a pessoa avaliada, porque esta tem sempre a possibilidade de se preparar para determinado tipo de questões e, assim, falsear, por exemplo, as suas mais profundas emoções, sentimentos, conhecimentos e caraterísticas.
Naturalmente que estes instrumentos de medida, e critérios que determinam a sua utilização, têm suporte científico e sustentabilidade técnica, de resto, este princípio não está em causa, porém, a honestidade intelectual, a perspicácia, a preparação prévia, e intencional, do avaliado, podem deturpar os resultados.
Esta insuficiência deverá ser suprida, ainda assim não totalmente, com a “observação-participante” do técnico, ao longo da atividade para a qual se avaliou uma determinada pessoa, com aqueles instrumentos, porque as reações mais imprevisíveis, podem surgir a todo o momento, face a uma circunstância não prevista e/ou a variáveis que não foram consideradas, aquando da construção do questionário e da grelha de avaliação.
A humanidade entrou no século XXI, envolvida numa eufórica confiança, quase ilimitada, nas capacidades e benefícios da tecnologia e de um bem divulgado cientismo positivista que, alegadamente, tudo resolve.
A auréola técnico-científico-materialista, em que alguns setores da sociedade procuram envolver-se, tem conduzido a situações deprimentes e humilhantes, precisamente para alguns dos povos em todo o mundo, desmistificando, assim, a ideia, segundo a qual, uma educação/formação que integre os domínios sócio-culturais, não tem relevância para o progresso e bem-estar humanos.
Que máquinas, que equipamentos, que objetos têm a capacidade de dialogar, vivenciar, emocionar e sentir os conflitos sociais, étnicos, religiosos, políticos, económicos, culturais, estratégicos e outros?
Encontrar soluções consensuais e aplicá-las, com garantia de resultados favoráveis às partes em conflito? Este tipo de intervenção está, por enquanto, reservado, exclusivamente, ao homem, mas, não a qualquer homem, principalmente, se não tiver uma educação/formação para se abrir, humildemente, ao diálogo, à compreensão, à tolerância, aos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da cooperação e do altruísmo.
Esta educação/formação não se consegue, apenas, com máquinas, mas também com outros seres iguais, ao longo da vida, em avaliação e formação permanentes. Se o bem-comum, a paz e a felicidade, entre outras necessidades básicas do ser humano, dependessem do potencial da maquinaria e das tecnologias, provavelmente, neste primeiro quarto do século XXI, não haveria fome, guerras, destruição e morte; analfabetismo, desemprego, doença, marginalização e exclusão, esta sob diversas formas, que facilmente se detetam entre diversos grupos: sem-abrigo; desempregados de longa duração; idosos abaixo do limiar da pobreza; crianças abandonadas e abusadas, mulheres violentadas.
O homem-professor, o homem-técnico, o homem-cientista, o homem-cidadão, o homem-religioso, enfim, o Homem em todas as suas dimensões, superiormente dotado, continua a ser insubstituível num mundo tão difícil, complicado, algo desorientado, muito descredibilizado e injusto.
 Assiste-se, com uma periodicidade preocupante, à divulgação de situações em que os amplos privilégios de uns poucos, ofendem, impunemente, a exclusão de muitos outros. O que comprova, à saciedade, que a ambição ilegítima não tem limites, na medida em que se tem vindo a fomentar a cultura do TER, a qualquer preço, não olhando aos meios, desde que se venha a possuir o que se deseja.
Esta mentalidade, que está corroendo a cultura dos valores que mais deveriam dignificar o homem, possivelmente, também é estimulada pelo aparato tecnológico, pela ostentação do último modelo de qualquer coisa, pelo domínio absoluto dos mais privilegiados, sobre um número cada vez maior de excluídos da saúde, da educação, do trabalho, dos cargos, da propriedade privada e, no limite, da própria vida.
Vive-se, portanto, num cenário dramático que urge alterar e, certamente, a intervenção dos homens de bom senso, prudentes e sábios, conseguirá vencer e conduzir a humanidade para o bem-comum, para a paz e para a felicidade. Esta é a realidade atual, não é pessimismo, mas um grito de alerta, porque ainda é possível reverter muitas situações iníquas.
Muito dificilmente as máquinas de ensinar terão capacidade para resolver todas estas situações. Serão os homens, de boa educação/formação, os professores/formadores dos valores, verdadeiramente humanos, a preparar os homens-cidadãos do futuro, por isso eles, os professores/formadores, são parte interessada na busca das soluções para os terríveis problemas que se avolumam sobre a sociedade humana, e até sobre a própria natureza envolvente ao homem: «A felicidade, dizem, não está na moda espécie de voluptuosidade; está unicamente nos prazeres bons e honestos. É para esses prazeres que tudo, até a própria virtude, arrasta irresistivelmente a nossa natureza; são eles que constituem a felicidade.» (MORUS, s.d.:97).

Bibliografia

MORUS, Thomas, (s.d.). A Utopia, Prefácio Prof. Mauro Brandão Lopes, Trad. Luís Andrade, S. Paulo: Editora Escala


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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