domingo, 12 de novembro de 2017

Serviço Social: Uma Arte Altruísta

No conjunto dos mais de cento e noventa países independentes, certamente que a diversidade de regimes sociais atinge um leque bastante alargado, que pode incluir sistemas essencialmente públicos, privados e mistos, além de subsistemas criados e geridos por determinados grupos profissionais, económicos e liberais.
E se no passado, a instituição de um serviço social tinha por objetivo ajudar os pobres, grande parte dos quais não beneficiava de qualquer apoio na educação, na saúde, no emprego, na família ou na velhice, hoje, a cobertura social, em igualdade de condições, mesmo nos países, economicamente, mais desenvolvidos, não se verifica e, pior do que esta realidade é o facto de uns terem privilégios à custa da contribuição de todos, que uma maioria ainda não possui, embora contribua com impostos e descontos diversos, que efetua para o Estado, quantas vezes com sacrifícios diversos, para a alimentação, para a saúde e para a educação do agregado familiar, precisamente para que os primeiros beneficiem de regalias autenticamente luxuosas e ofensivas para aqueles que, trabalhando e descontando uma vida inteira, no final, pouco mais têm do que nada.
E se inicialmente, há cerca de dois milénios, o Serviço Social, então entendido: «Como assistência aos pobres, aos velhos, aos abandonados, era uma responsabilidade da família, do clã ou do grupo» (VIEIRA, 1980:26), de então aos dias de hoje uma profunda evolução se verificou, no sentido positivo, numa grande parte de países, ditos civilizados, e socialmente avançados, todavia, muitos outros existem onde as desigualdades no acesso aos cuidados e assistência sociais, são uma lamentável realidade.
Até ao século XIX, três grandes instituições assumem o protagonismo na implementação de um Serviço Social mais abrangente, relativamente aos pobres, então existentes: a Família, a Igreja e o Estado. Posteriormente vieram juntar-se organizações internacionais, encabeçadas pela própria ONU – Organização das Nações Unidas, através das suas Agências especializadas: para a educação, para a alimentação, para a saúde, para o trabalho, para os refugiados e tantas outras instituições, daquela dependentes, que trabalham com discrição e eficácia.
A diversidade e abrangência dos problemas no mundo atual, e à escala mundial, não se compadecem com formas de assistência social de natureza caritativa, pelo contrário, exigem intervenções técnicas, com a implementação de soluções duradoiras e eficazes.
O técnico de Serviço Social deve possuir uma formação superior qualificada, em simultâneo com uma formação pessoal, caracterizada por bons sentimentos e por uma experiência de vida que facilite, não só a compreensão, como também a intervenção na sociedade em geral e nos casos concretos individuais.
A atividade do Serviço Social postula a existência de técnicas, instrumentos, recursos e boas-práticas, disponíveis para, em cada momento e perante as diferentes situações, intervirem com eficácia e com respeito pela dignidade que é devida a toda a pessoa humana, com atenção reforçada, justamente, para as situações sociais que degradam a condição da pessoa humana.
Na verdade «(…) a finalidade do serviço Social consistiu sempre em prestar ajuda aos que dela necessitam; os objectivos passaram de um reajuste à vida normal para a capacitação do cliente para enfrentar e solucionar seus problemas e para um funcionamento social adequado; a qualidade da ajuda transformou-se de uma ajuda empírica e imediatista para a aplicação de valores, conceitos e conhecimentos, a fim de orientar o agir profissional; a finalidade geral do agir social engloba a promoção de mudanças nas estruturas, funcionamento das instituições sociais e promoção de uma política de desenvolvimento a fim de oferecer maiores oportunidades de desenvolvimento às populações» (Ibid.:100).
A intervenção social e comunitária constitui, atualmente, uma atividade que, para além de riscos diversos que os respetivos técnicos enfrentam, quando em contacto com grupos complexos, sob diferentes perspectivas, comporta, também, uma qualificação extremamente exigente e ainda uma apreciação muito positiva, quando exercida com nobreza de caráter e competência na ação.
O técnico meramente legalista, no sentido da interpretação e aplicação literal da Lei, não será, eventualmente, em muitas situações, o mais competente, se não souber identificar, avaliar e contextualizar as causas de uma dada situação social anómala, como igualmente se tornará ineficaz se desconhecer os instrumentos jurídicos, as estratégias, os recursos e os processos de avaliação, quando decorre a aplicação de uma solução para aquela referida situação anormal. Sempre será necessária uma postura humanista, por vezes, de compaixão. Afinal, são os milhares de casos degradantes que, infelizmente, até justificam muitos empregos.
A análise, avaliação e determinação das medidas para resolver uma concreta situação social nunca deverão ser efetuadas por um único técnico, e até poderá ser desaconselhável qualquer apreciação por um assistente social recém-formado, sem qualquer experiência nestes domínios.
O adequado situar-se-á, sempre, na constituição de equipas formadas por jovens recém-licenciados, portadores de novos conhecimentos, teorias inovadoras e voluntariosa generosidade, com técnicos experientes, portadores de práticas diversas, testadas e comprovadas pelos resultados científicos, sejam eles positivos e/ou negativos.
A natureza sociável do homem implica, necessariamente, relações, situações, intervenções e decisões sociais. A atividade social, na perspectiva de acudir aos pobres, é hoje apenas uma valência de toda a intervenção social e comunitária.
Os problemas que afetam a humanidade podem ser analisados sob diversas vertentes: económica, política, cultural, religiosa, social, cabendo, nesta última, aspetos diversos, de qualquer uma das restantes, justamente porque o homem é um ser social, está organizado em sociedade, mais ou menos estratificada, com mais ou menos classes sociais, com mais ou menos grupos distintos entre si, logo, qualquer situação considerada anormal, face ao conjunto de valores para uma dada sociedade, rapidamente se converte numa questão social, que será analisada, contextualizada e resolvida pelo domínio especializado da questão em apreço.
Uma situação de desemprego é, certamente, uma questão social que poderá ser resolvida pela intervenção nos domínios de: formação profissional; apoios diversos às empresas que admitam desempregados ao seu serviço, agora e entretanto, dotados de melhor formação profissional; manutenção de um sistema de formação ao longo da vida; incentivos aos empregadores enquanto as respetivas empresas funcionarem; num permanente, apertado e rigoroso controlo das partes envolvidas, por entidades isentas e especializadas. Pode entrar aqui, nesta fase do processo, o técnico de Serviço Social, especializado nesta área de funcionamento das comunidades e das instituições.
O serviço de intervenção social e comunitário não pode ser entendido e utilizado apenas para resolver situações anómalas, bem pelo contrário, haverá toda uma atividade a montante, como: prever, prevenir, proteger, evitar, refazer, antecipar por alteração as previsíveis situações que, a concretizarem-se, apontariam para determinadas consequências.
Em divergência com uma certa mentalidade técnico-positivista, o especialista do Serviço Social, no emaranhado e complexidade de situações sociais, é cada vez mais necessário e importante, como outros profissionais das diversas áreas e atividades humanas – um indivíduo pode morrer porque não teve a assistência médica adequada, desde logo, do médico especialista e dos meios necessários à sua cura; mas um outro indivíduo pode, igualmente, morrer porque não lhe foi dada a melhor orientação para a sua integração e/ou reintegração na sociedade, e ter caído no mundo da marginalidade, com a respetiva autodestruição físico-intelectual –.
Pode-se, então, afirmar que: «(…) a finalidade do Serviço Social: alcançar uma vida normal, assistir, curar, prevenir, construir, auxiliar, educar, reeducar e organizar; resolver problemas e aproveitar recursos. A operacionalidade do Serviço Social é um conjunto de esforços ou de trabalhos. Os assistentes sociais percebem que não basta observar para remediar, mas é preciso saber observar para deduzir as causas e saber ajudar.» (Ibid.: 1980:93)

Bibliografia


VIEIRA, Balbina Ottoni, (1980). História do Serviço Social. Contribuição para a construção da sua teoria. 3ª Edição, Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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