Numa sociedade em que as preocupações: pelo PODER,
pelo TER e pela DESLEALDADE, estão cada vez mais acentuadas, as dimensões
opostas: do SERVIR, do SER e da SINCERIDADE são, frequentemente, relegadas para
um plano inferior, precisamente porque aqueles princípios e valores não
facilitam a ascensão, a qualquer custo, a um determinado e alegado estatuto político-social
e estatutário-profissional.
Com alguma frequência, verifica-se que muitas
pessoas iniciam e mantêm um relacionamento, durante um certo tempo,
designadamente, enquanto conseguem retirar algum tipo de proveito da pessoa com
quem mantiveram tal relação para, mais tarde, paulatina e deslealmente, se
afastarem, humilhando, magoando e provocando sofrimento, afinal, a quem, até
então, esteve solidário e foi amigo verdadeiro e incondicional.
Realmente, é difícil, hoje em dia, “abrir” a
consciência, o “coração”, confiar, entregar-se a alguém, com total segurança e receber
a indispensável reciprocidade e, por que não, o muito apreciado e de “marca”
portuguesa do “muito obrigado”, e, mais difícil ainda, a muito esperada GRATIDÃO.
Infelizmente, uma parte, talvez até muito significativa, da sociedade, vai
ignorando os mais fundamentais princípios, deveres, direitos, valores e
sentimentos para com os seus semelhantes.
A harmonização entre a solidariedade, amizade,
lealdade e gratidão para com uma pessoa e a manutenção de diversos
relacionamentos, convívios e outros contactos, com outras criaturas, por vezes
incompatibilizadas entre estas e aquelas, verifica-se que do ponto de vista
intelectualmente honesto, tal não poderá ser possível, porque: ou se agrada a
“gregos e troianos”; ou a opção terá que ser para uma das partes, falseando a
amizade e a lealdade para com a outra.
As dificuldades em fazer escolhas não são, de
facto, custosas, principalmente para quem tem um caráter ambivalente. Na
verdade, quando se decide conviver, hipocritamente, com todas as pessoas,
interesses e situações, caminha-se, a curto ou médio prazo, para o descrédito.
Em contrapartida, para uma personalidade reta, trata-se de uma questão de bom senso,
de maturidade, de equilíbrio de princípios, valores e comportamentos a ele
inerentes.
É impossível manter, durante uma vida inteira: a
máscara da imposturice, do cinismo, o verniz da aparente boa educação e da
cortesia bajuladora. Mais tarde ou mais cedo: a “máscara de cera derrete-se”, o
“verniz estala” e então surgem: a verdadeira personalidade; o caráter
embusteiro; a inautenticidade da pessoa que, durante um certo tempo, se
disfarçou para poder enganar tudo e todos, e assim alcançar objetivos
inconfessáveis.
Caída a máscara, estalado o verniz, ficam expostas
as verdadeiras “mazelas” da pessoa que, enquanto pôde, tentou e, nalguns casos,
até conseguiu ludibriar a solidariedade, a amizade e a lealdade de quem nelas
acreditou, quantas vezes a família, os amigos e os colegas. As pessoas, assim
enganadas, vão ter muita dificuldade em voltar a confiar, a acreditar e a
apoiar, quem até então se fazia passar por amigo.
Como é possível, por exemplo, que durante
determinado período de tempo, duas pessoas que se diziam amigas especiais, uma
delas, todavia, decide manter relações muito estreitas, com outras que sabe
serem do desagrado do alegado amigo, até então, considerado especial, íntimo?
Afinal, de que lado estará aquela pessoa? Ao lado do amigo especial, solidário,
leal, grato, cúmplice, apoiante, ou fazendo uma espécie de jogo duplo,
entregando-se às amizades de outros?
É claro que em situações desta natureza, a reação
mais provável, compreensível e honesta, é uma grande indignação por parte de
quem se considera amigo especial da pessoa que, entretanto, continua a pactuar
com outras criaturas, que, de alguma forma, ou por qualquer motivo, não são das
amizades, nem do agrado do amigo especial.
Importa referir que as amizades não se “medem”
pela antiguidade. Igualmente não se afigura plausível que, por uma questão de
gerações próximas, tenha de se manter uma relação amigável, perturbando e
prejudicando, injusta e cruelmente, outras amizades verdadeiramente sólidas,
solidárias e leais embora de gerações diferentes!
Como também não parece obrigação que, pelo facto
de há vinte, trinta ou quarenta anos, ter-se recebido algum “favor”, que se
fique em dívida “ad aeternum”, muito embora se aceite que, não havendo prejuízo
para outras amizades, inequivocamente solidárias, amigas, leais e cúmplices,
com provas dadas, aquelas não possam continuar a existir, desde que não tenham
interferido, ofensivamente, nestas últimas.
Cabe aqui a sabedoria popular: “Que Deus nos dê a serenidade e a tolerância
suficientes para aceitarmos que não se consegue mudar o que as pessoas
obstinadas não querem alterar”. É injusto, e de muita impiedade,
afastarem-se amizades autênticas, para manter outras que, em relação a diversas
pessoas, interesses e instituições, deixam muito a desejar.
A amizade autêntica, especial e incondicional é,
realmente, solidária, leal, agradecida, conivente, confiável e não pode ser
substituída, rejeitada, desvalorizada, em favor daquelas outras que são
“antigas”, “geracionais” ou de “favores”. Não, quando uma pessoa se entrega,
inteiramente a outra, já num contexto, por exemplo, de “Amor-de-Amigo”, com
profunda intimidade, ofertando-lhe os seus mais nobres sentimentos, ela não
pode ser penalizada, humilhada, magoada e ofendida.
E se tal acontecer, então poder-se-á pensar que,
afinal, a pessoa por quem se tinha uma amizade tão profunda, por vezes muito
íntima, não haveria aquela amizade sincera, superior a outros interesses, pessoas
e situações. Na vida há que tentar fazer escolhas acertadas. Os amigos, ao
contrário dos familiares, realmente escolhem-se, justamente a partir de
determinadas caraterísticas, princípios, valores, sentimentos, emoções,
honestidade intelectual e moral.
A sociedade tem vindo a menosprezar determinados princípios,
valores, sentimentos e emoções. Muitas pessoas não se assumem com verdade,
preferem o jogo da deslealdade, do oportunismo mediático e, quando se julgam
numa posição superior: profissional, social, afetiva e/ou sentimental, como que
“espezinham” alguns dos seus semelhantes; ou “encostando-se” às alegadas
“velhas amizades”; ou às companhias de idêntica geração, ou a pessoas de
estatuto social dito importante, ou, ainda, a quem lhes alimenta o egocentrismo.
Como refere o adágio popular: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe”, por isso
resta, sempre que a justiça “mística” funcione, ou quaisquer outras situações
negativas surjam na vida de quem humilhou os seus amigos em geral, e o amigo
especial em particular, assim como de igual modo, novas possibilidades
positivas aconteçam na existência de quem foi, entretanto, rejeitado, magoado e
por vezes ofendido na sua autoestima e dignidade.
Quando se reflete sobre o comportamento de muitas pessoas,
não se tem qualquer intenção de ofender, nem revelar indícios de
ressentimentos, mas tão só, pensar nas injustiças que, por vezes, uma pessoa é
alvo, depois de, constantemente, ter sido solidário, amigo incondicional, leal,
apoiante e grato.
Naturalmente que toda a gente é livre de: escolher
as suas amizades; conviver com quem muito bem entende; como, quando e onde
deseja visitar-se, relacionar-se; mas não é justo, nem moralmente correto, que
seja desleal para com outros amigos, que até já teriam sido especiais, porque
íntimos, incondicionais e leais. É essencial ser-se humilde e, simultaneamente,
GRATO a quem sempre tem estado do nosso lado, nas mais adversas circunstâncias.
É preciso estar-se preparado para enfrentar as desventuras
que as pessoas nos provocam. Por vezes confiamos demasiado, entregamo-nos,
apoiamos, defendemos e somos autenticamente amigos, todavia, não raro,
recebemos, em troca, a desconsideração, o afastamento, a rejeição da pessoa
pela qual demos praticamente tudo na vida.
Quando um amigo que consideramos especial, íntimo,
solidário e leal, tem comportamentos que nos magoam, ou até nos ofendem, a dor,
o sofrimento, o desgosto, a desilusão e a tristeza infinita e profunda, não nos
abandonam mais na vida e, a partir desta situação, tudo pode acontecer,
inclusive a morte física.
Compreende-se muito bem que um amigo que se considera traído por outro amigo, que o tinha como verdadeiro, especial e incondicional, reaja, aparentemente, de forma abrupta, desabrida, porque, uma vez mais, como destaca a filosofia popular: “Quem não se sente, não é de boa gente” a que se segue, uma outra afirmação: “Quem tem génio, tem bondade e quem tem bondade não cultiva o rancor, nem o ódio”. É assim que em certas pessoas e circunstâncias, se deve entender as suas reações.
“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo.
Caminho para a PAZ”
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Venade/Caminha – Portugal, 2024
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras
e Artes de Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
http://diamantinobartolo.blogspot.com
https://www.facebook.com/ermezinda.bartolo
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