domingo, 27 de outubro de 2024

A ESSÊNCIA ASCÉTICA DA LIDERANÇA.

A administração das pessoas, nos tempos que correm, primeiro quarto do século XXI, em diversas organizações, nem sempre corresponde às boas práticas que visam: por um lado, o alcance de objetivos empresariais, associativos ou de qualquer outra natureza; por outro lado, a garantia dos deveres, direitos e dignidade das pessoas que colaboram com tais instituições.

As lideranças modernas, humanistas e competentes, na verdade, vão muito além do material, do concreto. Elas absorvem e aplicam uma base inefável, mística, por isso: «O novo modelo – que chamamos de modelo de liderança administrativo/espiritual – diz que as funções de líderes e gerentes são diferentes, e que a própria base da liderança é espiritual. Isso não significa que a administração não continue sendo legítima, nobre ou necessária.» (HAWLEY, 1995:206).

A liderança terá, portanto, de se colocar num plano superior, por forma a conseguir um clima de trabalho e de relacionamento entre colaboradores, verdadeiramente excecional, porque os trabalhadores, os clientes, os fornecedores e quaisquer outros intervenientes na atividade da instituição, são pessoas humanas.

Na verdade: «Nós sabemos que a boa administração, como há muito conhecemos, é a “administração das pessoas”, a administração do esforço humano; mas os líderes trabalham no nível mais abstrato da energia, do coração e do espírito das pessoas. Também vemos que os gerentes lidam com a forma da empresa e com o trabalho de equipe (estruturas e sistemas para a realização do trabalho); ao passo que os líderes lidam com a cultura e o senso de comunidade da empresa.» (Ibid).

O bom líder não pode, nem deve, exercer as suas funções de forma unipessoal e, quando integrado numa equipa diretiva colegial, é incorreto e antiético, tomar decisões sem primeiro as comunicar, e obter o apoio dos restantes membros do colégio diretivo, de resto, ninguém é dono da verdade, e quantas mais opiniões existirem acerca de uma determinada situação, melhores poderão ser as soluções a adotar para a corrigir, melhorar e assim, ficar bem resolvida.

O líder preocupado com os utentes da instituição, com a própria empresa, com os seus colaboradores, certamente terá uma visão de conjunto, o que não significa que seja a melhor, e muito menos a única, apesar de lhe caber a ele a decisão final, em conjunto com os seus colegas, quando existe uma direção.

Na verdade: «Como líder, você traz sua visão para o local de trabalho e, muito importante, você permite que os outros tragam as deles. Você compartilha suas ideias, suas previsões e sua visão de longo alcance; e permite que os outros sigam as visões especiais que possuem. Você usa a imaginação disciplinada para ver, ler, ouvir e sentir o maior destino da empresa – e apresenta-o, para que os outros façam o mesmo.» (Ibid.:210).

Afinal, o líder é mais um servidor da empresa, que tem responsabilidades acrescidas perante a instituição, seus colaboradores internos e externos. Ele, em certas circunstâncias é o “espelho” da organização e, enquanto tal, todos os seus atos devem ser escrutinados, para poderem ser melhorados e com esta metodologia, todos os intervenientes beneficiarem.

O líder tem de dar o exemplo, no melhor sentido do termo, porque a boa administração começa nele, no relacionamento que ele tem para com os seus colaboradores. Ele tem a obrigação de se “entregar”, incondicionalmente, à instituição, zelar pelos superiores interesses dos utentes e colaboradores da mesma.

Com efeito a: «Boa administração é o ato de conseguir, o máximo das pessoas: mais orçamento, mais lucros, mais produtividade. A estrutura mental da administração, corretamente, é conseguir alguma coisa em troca de cada coisa que você dá. A liderança, por outro lado, é um ato de doação. Este é o grande segredo da boa liderança. Dar é uma mudança gigantesca no modo como os gerentes pensam, agem e são. Esta é a diferença entre gerentes e líderes. Esta é a diferença que faz a diferença, uma diferença ao nível do ser.» (Ibid.:212).

Qualquer liderança, preocupada, apenas, com normas regulamentares, punitivas dos colaboradores, que facilitam suspensões, despedimentos e desgraça, é uma governação cruel, desumana e condenável perante os mais elementares princípios da ética, da moral e dos valores que dignificam a pessoa humana.

Pode-se, portanto, afirmar que: «A doação vem naturalmente quando você se envolve profundamente. É outra face do amor, e isso torna a liderança espiritual um ato de amor. É simples.» (Ibid.:213). Num contexto organizacional, importa valorizar as lideranças que pautam a sua atuação por uma doação espiritual, no sentido de considerar os seus colaboradores iguais ao líder, enquanto pessoas de deveres, de direitos, com identidade e dignidade próprias.

Poderá parecer utópico, inexequível e desvantajoso para a empresa, que nela se tente implementar lideranças espirituais, mas no caso concreto de instituições de base essencialmente religiosa, já se compreende muito bem, e deseja-se que as lideranças tenham uma componente espiritual muito acentuada e, nesse sentido, os responsáveis ajam com bom senso, com tolerância, com benevolência e compreensão das dificuldades dos seus colaboradores.

Comunga-se da ideia, segundo a qual: «Os bons líderes são: incessante, invariável e regularmente cônscios do Espírito. E toda verdadeira liderança é espiritual, porque o líder busca liberar o melhor nas pessoas, e o melhor está sempre ligado ao nosso Eu superior. Portanto, isso implica a criação de um estado coletivo de constante consciência espiritual, uma fusão contínua entre coisas elevadas e o mundo.» (Ibid.).

O líder que interiorizou em si próprio valores espirituais, para os aplicar na instituição que dirige, normalmente é uma pessoa boa, otimista e grata. A gratidão do líder para com os utentes, colaboradores internos e externos da empresa, é uma mais-valia para o sucesso da mesma, um conforto para todas as pessoas que com ela têm de se relacionar.

Em bom rigor: «A verdadeira liderança traz uma energia oposta (aquela em que o espírito atua, sublinhado nosso). Há luminosidade nela, brotando da gratidão e do otimismo. A tarefa do líder é a criação de nada menos do que uma versão coletiva do “pensamento correto”. Isso traz de novo uma forma de energia para a empresa.» (Ibid.:219).

Como em quaisquer outras circunstâncias, de facto a gratidão é um valor, um sentimento, uma atitude que qualifica muito bem as pessoas com o mais elevado e íntegro caráter: «A gratidão é uma das faces mais brilhantes do amor. É uma apreciação altíssima que inclui muitas ideias espirituais. Livros inteiros, e até mesmo vidas inteiras, foram dedicados a observar o poder imenso da gratidão.» (Ibid.).

É claro que o líder que conduz a sua equipa, que ajuda a enaltecer a instituição, recorrendo aos valores espirituais, também se orienta e comporta como um autêntico defensor dos valores, desde logo, os morais, até porque: «Em última instância, a liderança torna-se moral no sentido de que eleva o nível da conduta humana (…) do líder e do liderado, e assim transforma a ambas.» (James McGregor Burns, in: HAWLEY, 1995:220).

E se a autoridade democrática e benevolente, assim como os valores espirituais e morais, são fundamentais, entre outros que integram uma axiologia humanista, para uma liderança verdadeiramente justa, também há algumas caraterísticas que revelam a superior condição de toda a pessoa e que é a sua faculdade pensante e hoje, primeiro quarto do século XXI, sabe-se que: «O mundo está cheio de gente que parou de pensar por si mesma.» (Joseph Campbell in: HAWLEY, 1995:221).

Hoje, mais do que nunca, as pessoas procuram incessantemente: a saúde, o amor, a ventura, a solidariedade, a lealdade e a gratidão. É obrigação de qualquer líder, tudo fazer para promover, e conseguir, que aqueles desejos legítimos e justos se realizem nos seus colaboradores, porque estes não são, não poderão ser, em circunstância alguma, meros objetos descartáveis que, depois de servirem a instituição, com zelo, lealdade, competência, às vezes durante uma vida, acabam por ser votados ao ostracismo, à indiferença, atirados para a dor, para o sofrimento, e até para a morte.

Sim, é verdade que: «As pessoas devem viver em liberdade e felicidade, como acontece na casa dos pais. A própria essência de seu papel é proteger as pessoas e sua felicidade. Não é fácil garantir a felicidade das pessoas. Você precisa usar vários métodos. Habilidade, inteligência e verdade, todos os três são importantes.» (HAWLEY, 1995:225).

Há líderes que pensam que a vida física nunca mais acaba e, com essa ideia fixa, vivem “infernizando” os seus colaboradores esquecendo-se que: «A cada instante a morte se aproxima de cada criatura. O que você planejou fazer amanhã deve ser feito hoje, de manhã! A morte é implacável. Nunca esperará para ver se seus projetos serão realizados. É importante estar pronto para ela. O mundo é apenas um cortejo que passa.» (Ibid:227).

Por tudo o que fica exposto, pode-se afirmar que o líder não pode, nem deve utilizar o seu cargo para satisfação das suas vaidades, do seu egocentrismo, para domínio e humilhação dos seus colaboradores. Ele tem de ser o primeiro a compreender as dificuldades, a ajudar os que mais precisam, a respeitar as pessoas em toda a sua dignidade, porque ele próprio, seguramente, também exigirá e gostará que os seus superiores, os seus iguais e os seus subordinados o considerem, o estimem e tenham por ele o apreço e admiração que realmente pretende para ele, enquanto pessoa digna.

 

Bibliografia.

 

HAWLEY, Jack, (1995). O Redespertar Espiritual no Trabalho. O Poder do Gerenciamento Dharmico. Tradução, Alves Calado. Rio de Janeiro: Record

  

“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2024

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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