A administração/gestão empresarial, atualmente, pressupõe, não só conhecimentos técnicos, em vários domínios, nomeadamente, negociação nas compras, penetração e diversificação nos/dos mercados, contratação e gestão dos recursos humanos, organização contabilística, controle financeiro, fiscalidade, benefícios e responsabilidades fiscais, sociais e mutualistas, angariação de carteira de clientes, nas melhores condições de estabilidade e segurança, bem como a maior sensibilidade para a gestão dos recursos humanos, afetos à empresa e predisposição para uma política sadia, leal e honesta, de relacionamento humano com todos os públicos intervenientes na empresa – acionistas, fornecedores, clientes, trabalhadores e famílias, com idêntico destaque para as instituições legais que mantenham relações com a empresa.
Naturalmente que sem resultados positivos, nenhuma
empresa sobreviverá e, mais tarde ou mais cedo, o seu encerramento será
inevitável, com as consequências, por vezes dramáticas como: desemprego,
dívidas, aumento das dificuldades para empresas fornecedoras, instituições
públicas credoras e quaisquer outras dependentes da empresa, incluindo as
famílias dos trabalhadores.
É óbvio que os resultados, no mínimo, dependem da
gestão da Administração, do empenho dos trabalhadores e da estabilidade do
mercado, porém, sempre caberá aos executivos dos vários departamentos a
condução eficaz dos respetivos processos e procedimentos, conforme as
orientações superiores.
A Filosofia da Administração, fundamentada em
valores ético-morais, como a probidade, a transparência, a equidade, o espírito
de equipa e de missão e a solidariedade, entre muitos outros que se relacionam
com a empresa, deve ser escrupulosamente implementada, acompanhada e periodicamente
testada.
E, paralelamente, uma atenção privilegiada aos
recursos humanos, às pessoas, para além da circunstância e do papel que
desempenham, porque, indistintamente dos respetivos estatutos
socioprofissionais, assiste-lhes uma dignidade que é superior a quaisquer
outros aspectos na medida em que: «Administração
significa realçar as qualidades dos indivíduos. Indivíduos que, em suas
personalidades e caracteres, exibem uma integração de valores universais, como
a sabedoria e reverência, honestidade, integridade e devoção aos interesses
humanos, (...). São esses os indivíduos que dão vida e espírito aos números,
aos mapas e aos organogramas, os quais, de outra forma, seriam símbolos
insípidos. (...) A única solução segura é dar aos indivíduos de todos os níveis
um sentimento de missão, uma compreensão de inter-relações e um senso
obrigatório de objetivos e valores globais.» (DIMOCK, 1967: 20-21).
O sucesso das instituições públicas, tal como o
êxito das empresas privadas, e o dinamismo que se pretende para as associações
e movimentos cívicos, passam, inevitavelmente, pelas pessoas, cada uma das
quais no exercício das suas funções, executadas com competência, entusiasmo,
responsabilidade e sempre atualizadas, num verdadeiro espírito de missão, de
cooperação solidária, institucional e profissional, entre os vários grupos,
técnicos e utentes da instituição, qualquer que seja a sua natureza.
Afinal, o centro de irradiação do sucesso, ou do
fracasso, de quaisquer organizações, está sedeado na pessoa, considerada em
todas as suas dimensões – política, social, axiológica, religiosa,
profissional, cultural, entre outras.
Instituição que não valoriza os seus trabalhadores,
na perspectiva da dignidade humana, que enquanto pessoas lhes é devida, caminha
para o descrédito e para o fracasso, designadamente, e em primeira instância,
nos seus mais diretos responsáveis, administradores, executivos e quadros
superiores, porque a estes pertence darem provas concretas, inequívocas e
permanentes, através das suas intervenções, atitudes e relacionamento humano,
relativamente aos restantes trabalhadores, seus subordinados, porquanto: «Assim é que é a pessoa humana a fonte, a
causa, a raiz e o fim de todas as instituições. Ela é a portadora da
espiritualidade, da dignidade de imagem de Deus, da responsabilidade, da
consciência e da liberdade. É, portanto, a ela que se devem atribuir os
direitos que por justiça, inalienáveis, inamissíveis, irão lhe conservar a
posição de rainha entre os seres da criação.» (SARTORI, 1990:34).
O que eficientemente se exige aos colaboradores da
empresa privada, na perspectiva do trabalho por metas, para que os objetivos
sejam alcançados e ultrapassados, o mesmo se deve postular para as instituições
públicas, embora com as devidas e necessárias adaptações.
Importa, neste contexto, enquadrar as autarquias
locais em geral e as Câmaras Municipais em particular, dado que estas se
revestem de dimensões, competências, recursos e objetivos diferentes das outras
autarquias do nível das Juntas de Freguesia que, na sua esmagadora maioria,
carecem de, praticamente, tudo o que é necessário para a concretização de
determinadas intervenções.
Direcionar o foco das atenções administrativas,
financeiras, técnicas e dos recursos humanos para as Câmaras Municipais
(Prefeituras no Brasil) é um dever dos poderes constituídos ao nível do Governo
Central (Federal no Brasil), contudo, exigindo-se aos autarcas, a maior
prudência, racionalidade e probidade na aplicação dos recursos financeiros, já
que a maior parte destes, provêm dos impostos que os contribuintes, quantas
vezes com imensos sacrifícios e privações, são coagidos a pagar, sob pena de
lhes serem retirados os bens que possuem.
Administrar a autarquia segundo a filosofia
empresarial, com as devidas e necessárias adaptações, poderá constituir o
primeiro e grande objetivo da boa gestão. Nesse sentido, a seleção dos melhores
fornecedores, aqui se considerando empreiteiros, prestadores de serviços e de
bens de consumo, entre muitos outros aspectos importantes, embora, eventualmente,
com menor impacto.
Uma gestão bem organizada, culminará no corolário,
segundo o qual, deverá congregar algumas características e/ou critérios, a
saber: melhor qualidade, melhor preço, melhor garantia, melhor assistência,
maior disponibilidade para resolver problemas e situações pontuais, não
importando, inclusivamente, que sejam sempre os mesmos a ganhar os concursos e
tornando-se irrelevante a “formação
sub-reptícia” de uma espécie de grupos organizados para vencer este ou
aquele concurso, porquanto os respetivos Serviços Técnicos da empresa/autarquia
estarão em boas condições para emitirem parecer sobre as propostas
apresentadas, a fim de o executivo decidir em conformidade com tais pareceres
técnicos e segundo os critérios definidos.
Uma outra componente da administração, igualmente
aplicável às autarquias, refere-se aos recursos humanos, mais radical e
profundamente, às pessoas, investidas de dignidade própria e inegociável. Ainda
não foi inventada a máquina que substitua, integralmente, a pessoa humana, esta
considerada em todas as suas dimensões, até porque para tal acontecer teria de
existir uma máquina que, por sua vez, inventasse, construísse e pusesse a
funcionar outras máquinas e, ainda assim, restariam muitas outras situações
que, no atual estado de desenvolvimento da ciência e da técnica, parece
impossível que uma máquina possa substituir, por exemplo, a dimensão espiritual
e/ou sentimental da pessoa humana.
Assim, cada vez se torna mais importante, mas
também interessante e estimulante administrar com e pelas pessoas, por isso: «A preocupação com o elemento humano
continuou a crescer até o dia de hoje. Nos últimos anos, especialistas em
administração têm estudado as ciências comportamentais. A partir dos campos da
psicologia, sociologia, antropologia e disciplinas afins, eles adaptaram muitos
conceitos os quais não apenas resultaram em aumento de produtividade, mas
também fizeram do mundo do trabalho um ambiente mais aprazível. Este avanço tem
possibilitado que mais e mais pessoas alcancem um alto grau de satisfação a
partir de seus trabalhos.» (DALE CARNEGIE & ASSOCIADOS, 1978: 19).
Gestor empresarial e/ou executivo de organismo
público, técnico especialista ou político, objetivos financeiros ou sociais,
respetivamente, importa dominar muito bem as técnicas de relacionamento
interpessoal e, fundamentalmente, estar dotado, sensibilizado e disponível para
considerar a pessoa como o recurso mais valioso e insubstituível. Nesta
perspectiva, administrar a autarquia privilegiando a dignidade da pessoa,
independentemente das suas opções políticas, religiosas, sexuais, étnicas,
estatuto e posição económica é o mínimo que o gestor/político deve fazer.
O titular de cargo executivo com competências de
administração de recursos materiais e humanos, quando eleito pelo voto dos seus
parceiros, correligionários ou concidadãos, conforme as situações, tem o dever
ético-moral de, em circunstância alguma, misturar, confundir ou manipular os
legítimos interesses daqueles que o elegeram, com quaisquer orientações político-partidárias,
porque isso seria humilhar a pessoa, aliás: «Chamar
um sistema de capitalista, democrático, socialista ou autocrático não é
importante. Importante é aquilo que proporciona ao indivíduo a oportunidade de
desenvolver sua personalidade e sua autodeterminação.» (DIMOCK, 1967: 170).
De resto, nem se compreende que em meios tão
pequenos, como são os territórios sob administração autárquica, onde as pessoas
se conhecem, convivem e se entreajudam, as disputas político-partidárias e
depois o exercício do poder, sirvam para atacar, ofender e prejudicar aquelas
pessoas que, no passado, até eram amigas e, mais grave do que isso, se utilizem
estratagemas e recursos para destruir a credibilidade, a honra, o bom-nome e a
dignidade. Tais comportamentos não são, de facto, próprios da competência,
imparcial e humana.
Trabalhar nestas condições e com objetivos, quantas
vezes confusos ou intencionalmente discriminatórios, pela negativa, ofensivos e
maldosos, é desumano. Com as devidas adaptações ao funcionamento das
autarquias, até se pode concordar que: «(...)
na empresa comunitária o grande capital é o homem. E como o sopro das mudanças
é no sentido do comunitarismo, devemos cada vez mais valorizar o homem. Este,
sem formação, não se sustenta com reformas formais nem com mais dinheiro.»
(SARTORI, 1990: 58).
Existem valores universais, intemporais e absolutos
que, realmente, nenhum dinheiro consegue comprar: a vida, o respeito, a
dignidade, a justiça, a liberdade, a paz, entre outros, que devem fazer parte
dos objetivos do gestor, do político, do religioso, enfim, de todos quantos têm
funções de administração: na família, na empresa, nas instituições públicas,
religiosas, desportivas, finalmente, na comunidade cívico-política. A pessoa
humana está no centro de todos eles e como tal é responsável pela sua violação.
BIBLIOGRAFIA
BARTON, Anthony, (1975). A Formação do Executivo. Tradução,
Roberto Cataldi. S. Paulo: Difel
CARNEGIE, Dale & ASSOCIADOS,
(1978). Administrando Através das Pessoas. Tradução, Ivan Zanoni Hausen. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército - Editora
DIMOCK, Marshall E., (1967). Filosofia da Administração. Tradução,
Diógenes Machado e Arnaldo Carneiro da Rocha Netto. Rio de Janeiro: Editora
Fundo de Cultura – Brasil-Portugal
JENNINGS, E. E. (1972). O Executivo, Autocrata-Burocrata-Democrata.
Tradução, Oswaldo Chiquetto. S. Paulo: Livraria Pioneira Editora
SARTORI, Luís Maria,
(1990). Quando a Empresa se Torna
Comunitária. Aparecida SP: Editora Santuário.
“NÃO,
ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
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Venade/Caminha – Portugal, 2025
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras
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