sábado, 25 de outubro de 2025

NUM MUNDO DE ESQUINAS, CUIDADO COM OS FALSOS AMIGOS.

Defende-se, com muita frequência, que por via do avanço da ciência e da tecnologia, o mundo está cada vez mais pequeno. Não há, numa perspectiva espacial, distâncias intransponíveis, essencialmente quando se aborda a questão das viagens. Hoje, as distâncias são medidas em unidades de tempo, para cada trajeto a percorrer, utilizando um qualquer meio de transporte. Vive-se na era da globalização, que é irreversível e à qual nos temos de adaptar.

O conhecimento, a cultura, a ciência, a técnica, a circulação de mercadorias, pessoas e bens, praticamente, não tem limites. As relações humanas acompanham esta evolução, sendo possível comunicar-se, com uma pessoa, a milhares de léguas de distância, em direto, ao vivo e em simultâneo; assistir a um determinado acontecimento, participar, interagir, um pouco como se estivéssemos na presença com quem se conversa, do facto a decorrer, do acontecimento cultural, desportivo, científico, tecnológico, bélico, sideral. Quase tudo é possível neste mundo global.

Pode-se, portanto, admitir, sem grande constrangimento, que o mundo é tão pequeno que facilmente as pessoas se cruzam, em condições que se aproximam da realidade, quando se utilizam as tecnologias da informação e da comunicação - mundo fantástico -; como também, em poucas horas, elas se encontram, presencialmente, numa parte qualquer do planeta – mundo real -. Há duas dimensões que, cada vez mais, se complementam e completam: dimensão virtual; dimensão real.

Assim se pode chegar a uma grande verdade, infelizmente, para muitas pessoas, ignorada: o mundo é cada vez mais pequeno, tem imensas “esquinas”, as quais, as pessoas vão dobrando, ao longo das suas vidas. Nestas “esquinas” encontram-se, quase que se tocam, fisicamente, amigos, conhecidos, colegas, adversários e inimigos, sendo que a alegria ou a tristeza, podem provocar extroversão ou introversão, respetivamente.

É sempre interessante refletir, sobre aspetos concretos da situação da vida real das pessoas. Meditar, profundamente, com rigor e honestidade intelectual, é um exercício muito exigente, que pode colocar, em circunstâncias desagradáveis, perante a consciência de quem se predispõe a este ato de recolhimento, de autoavaliação muito crítica, eventualmente, muito negativa, quando se analisam princípios, valores, sentimentos, emoções, comportamentos ações e reações, deles decorrentes e realmente efetuados. O Tribunal da nossa Consciência é infalível.

Atualmente: corre-se à procura de bens materiais – que sem dúvida são necessários à vida, com alguma qualidade -; luta-se pelo poder, qualquer que este seja, em detrimento do ser, do ser pessoa digna, de respeito, de princípios, de valores e de  sentimentos – igualmente se concorda com a existência e fruição do poder (não o poder-pelo-poder) porque ele é essencial à satisfação de necessidades básicas de toda a pessoa (veja-se a pirâmide de Maslow) -; vive-se na preocupação de se ganhar, pelo menos, uma etapa da vida, qualquer que seja a natureza da corrida, porque é importante, para alegadas supostas “super-auto-estimas” demonstrar que se é melhor, mais forte, mais influente, mais dominador, ainda que, quantas vezes, à custa da humilhação, da rejeição, da mágoa, dor, sofrimento e desgosto dos mais fracos e inocentes.

Mas de facto, o mundo é muito pequeno, está pontuado das tais “esquinas” e, muitas pessoas, assoberbadas com o ritmo louco da vida que pretendem levar, ignoram que, mais tarde ou mais cedo, vão “tropeçar” numa dessas “esquinas”, encontrar-se, precisamente, com outras pessoas a quem, eventualmente, já tenham beneficiado ou prejudicado, de quem já se tenham considerado amigas e, entretanto, esquecendo, ou, quem sabe, “matando” tal amizade, se tornam indiferentes, desconfiadas, adversárias e, pior do que isso, inimigas. Numa destas “esquinas” pode acontecer o arrependimento, a resolução do que ficou mal resolvido na vida passada.

É nesta perspectiva racional-axiológica e sentimental-emocional que se devem dobrar as “esquinas” do mundo e, já agora, também as da vida. É, igualmente, nesta linha, que a imprescindibilidade do exercício assertivo, de uma amizade sincera, incondicional, conquistada e consolidada, ao longo da vida, (ou mesmo durante um pequeno período de convivência mais intensa e íntima), se pode revelar como a grande solução de situações que, por uma qualquer incapacidade, circunstância ou infelicidade, ficou mal resolvida no passado, mais ou menos remoto e que, quanto mais tarde demorar a solução, maiores são as mágoas, os sofrimentos e os desgostos.

Afirmar-se que a par da saúde, da família, do trabalho, da qualidade de vida, da felicidade (qualquer que seja o conceito que cada pessoa dela tiver), da Graça Divina, ter um amigo, pelo menos um, que nos ame com um genuíno e ilimitado “Amor-de-Amigo”, certamente, isso representa um valor, também um sentimento. É sabido que a amizade implica muitas exigências, valores, caráter, dádiva, renúncia à desconfiança, ao egoísmo, à humilhação, à indiferença, à desconsideração, à vingança e ao ódio.

Ter um amigo é uma responsabilidade imensa porque, não sendo exigência ou caraterística da amizade, na verdade, o comportamento recíproco, tácita e voluntariamente, como que se impõe, sob pena de um dos amigos não retribuir a afeição recebida, pela simples razão de que nem sequer sabe como reage o amigo, quando recebe uma determinada gentileza. Gestos simples que valem tudo na vida.

É claro que quando se conquista e consolida um amigo, não se está à espera de qualquer atitude de retribuição, até porque esta decisão cabe, por inteiro, à pessoa que recebe por amigo, quem a considera, estima e ama, com o singular e exclusivo “Amor-de-Amigo”, ou seja: a Amizade só é verdadeiramente um sentimento único, quando funciona nos dois sentidos, entre duas pessoas que, sem quaisquer dúvidas, se querem bem, se gostam, se respeitam e estimam. Os amigos incondicionais estão sempre solidários.

Mas então que qualidades, princípios, valores, sentimentos e atitudes deverá ter uma pessoa para que se possa considerar amiga de outra? Será possível selecionar os amigos? Por vezes escolhemos determinadas pessoas para nossas amigas e começamos por dar o exemplo, tornando-nos amigos delas.

Nesse sentido, e com tal objetivo, fazemos a nossa aproximação e, poderá, então, nascer uma certa empatia, um desejo de estarmos mais presentes. Começamos a abrir o nosso espírito, fazermos daquela pessoa nossa confidente, nossa conselheira, nossa protetora. Esta pessoa entra de facto na nossa vida.

“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2025

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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terça-feira, 21 de outubro de 2025

LIDERANÇA SOCIALMENTE EFICAZ.

É bem possível que o mundo em geral, e Portugal em particular, tenham e continuem a atravessar crises de liderança em muitos setores das diferentes atividades, instituições e de grupos não identificados. Tem-se conhecimento, por exemplo, da crise que se faz sentir no dirigismo amador, sendo prova desta situação as inúmeras coletividades que, nas pequenas comunidades locais, praticamente estão inativas, embora também por falta de recursos técnicos e financeiros.

Há, efetivamente, uma profunda crise de liderança a todos os níveis da sociedade, porém, compete àqueles que detêm o poder económico, político, empresarial e religioso, proporcionarem as condições para que os restantes setores se revitalizem. É claro que desta responsabilidade não se excluem as pessoas, individualmente consideradas, para o dever de participação, que é um dos grandes valores da cidadania moderna.

Na verdade, quem não passou, e/ou não pretende passar pela liderança de pequenas instituições, de fracos recursos técnicos, financeiros e humanos, muito dificilmente compreenderá a situação de crise a outros níveis, socorrendo-se aqui das técnicas e tecnologias da propaganda, do marketing e da demagogia.

O líder de qualquer instituição deverá subir os degraus hierárquicos, que numa organização credível e competente, sempre existem. A progressão horizontal, em muitas carreiras, poderá não ser o melhor processo para estimular e premiar os mais competentes. Bastaria referir, por exemplo, a organização existente nas Forças Armadas e de Segurança, para se compreender que a hierarquia é indispensável para se formarem bons líderes, sem prejuízo de outras instituições, funcionalismo público, religiões, entre outras, que funcionam exemplarmente, contudo, obedecendo, quase sempre, a uma ordem hierárquica.

A investidura num determinado cargo/função/título, sem um mínimo de experiência e/ou habilitação e/ou conhecimento e/ou determinação, previamente comprovadas, afigura-se um risco, embora não se exclua a possibilidade de sucesso, como exceção àqueles princípios, até porque, ninguém nasce ensinado e sempre terá de haver uma “primeira vez”, em tudo na vida.

Na política, como na vida empresarial, como nas atividades institucionais, a liderança é uma condição sem a qual todo o processo de evolução e alcance de objetivos pode ficar comprometido. Atualmente vive-se, inequivocamente, uma profunda crise de liderança, designadamente nos domínios político, social, financeiro económico, educativo, saúde, emprego, habitação, entre outros.

O exercício da autoridade democrática e credível, pode ser o núcleo desta grave e profunda crise. Com efeito: «Há quatro fontes principais de autoridade: posição, competência, personalidade e integridade. Todos estes factores constroem a autoridade total de um indivíduo como líder e nenhum deles é suficiente, de per si, para assegurar que o que deve ser feito o será. Em última instância há duas qualidades vitais na gerência supervisora: competência e integridade. Estas são as qualidades que caracterizam um homem maduro, que tira as lições certas das experiências de vida. Se estas duas qualidades forem temperadas por uma boa dose de consideração pela dignidade humana e o reconhecimento de que a livre expressão de pensamento é não apenas da mais alta importância em qualquer relacionamento humano, mas também é a única garantia de que haverá sempre progresso, é muito pouco provável que um homem que possua estes atributos deixe de vir a ser bem-sucedido como supervisor.» (WILLIAMS, 1978: 93-94).

A liderança, eficaz e moderna, bem como o exercício de outras funções, a vários níveis da estrutura institucional, passam por dinâmicas de permanente atualização e adaptação dos respetivos funcionários, quaisquer que sejam as suas profissões e cargos. O tempo em que um funcionário, um técnico, um chefe, depois de atingir uma determinada posição hierárquica, não precisaria mais de estudar, de se modernizar, de formação profissional, não existe mais, voltará a repetir-se.

Hoje, todos os intervenientes nos processos: políticos, laborais, empresariais, religiosos e outros, devem estar em permanente atualização, sempre capazes de resolver problemas, de acudirem às diferentes situações, que se colocam, quase diariamente, nas suas instituições. O conceito mais atual é a necessidade de aprendizagem ao longo da vida.

Considera-se, todavia, que um dos motores da sociedade está na classe política, a par de outras igualmente essenciais – empresários, trabalhadores, organizações não-governamentais, Igrejas, sistemas educativos, públicos, privados e cooperativos, entidades patronais e sindicais, apenas para referir alguns. Nesse sentido é necessária uma total determinação para se vencerem as crises, quaisquer que sejam e as dimensões com que se apresentam.

É necessária uma sincera vontade para resolver os problemas coletivos onde se incluem, naturalmente, situações individuais e de grupo. A verdade, porém, é que se verifica, em alguns países, que: «A falta de vontade nos políticos está na sua falta de (…) interesse e capacidade para influenciar nas mudanças de regimento dos legislativos, falta de capacidade de conciliar interesse partidário com interesse da nação (…)» (RESENDE, 2000:209).

Atualmente, um líder, qualquer que seja o setor de atividade em que se insira, não pode descurar uma vertente fundamental que respeita à dignidade da pessoa humana. Quem lidera deve estar preparado, e sensibilizado, para esta dimensão essencial, porque liderar pessoas humanas é completamente diferente de liderar outros animais, coisas, objetos e situações não diretamente relacionadas com o ser humano. A complexidade humana, não tem paralelo.

O líder tem de preocupar-se, em determinadas circunstâncias e situações, com a dimensão social da pessoa humana, porque esta dimensão não é incompatível com os demais objetivos da liderança. Na formação do líder deve entrar, também, a sua vertente religiosa, fundada na sua fé, e no espírito de bem-servir a comunidade.

Nesta perspectiva, torna-se interessante refletir sobre a seguinte abordagem: «A formação do sentido social é de uma necessidade peremptória. É necessário fomentar cada vez mais em todas as classes e em todas as idades o sentido social. Não nascemos com ele, precisamos adquiri-lo. Conhecendo os deveres sociais e praticando a justiça e a caridade, os cristãos devem ser os representantes e os campeões do sentido social.» (GALACHE-GINER-ARANZADI, 1969:241).

A liderança, socialmente eficaz, postula, por parte do líder, qualidades superiores, acima da média. O líder, em qualquer contexto, independentemente dos objetivos que lhe são propostos alcançar, incluindo os de nível bélico, não deverá descurar o sentido social permanente, inclusivamente, o seu adversário, ou mesmo inimigo. A sua grandeza e superioridade residem, justamente, nesta capacidade que, ao longo da vida, pode (e deve) adquirir e aplicar.

A insensibilidade, a indiferença, a rejeição e a crueldade humanas são incompatíveis com os valores da humanidade, tantas vezes, e por tão ilustres figuras, propalados em todo o mundo. É inaceitável, por exemplo, que à sombra da crise, que não será para todos, se retirem direitos a quem para eles trabalhou, participou e criou expectativas, ao longo de toda uma vida, para ter uma velhice mais tranquila. O sentido social de tais líderes fica, assim, bastante descredibilizado e não haverá motivos, nem argumentos, para a maioria desfavorecida acreditar neles.

Importa preparar os homens e as mulheres que se preocupam com lideranças, verdadeira e humanamente eficazes, incluindo-se, sempre, a dimensão e o sentido social, destacando-se, aqui, os principais agentes socializadores na formação de novos líderes: família, Igreja, escola, empresa, comunicação social, naturalmente, entre outros muito importantes.

Diversas têm sido as teses que abordam esta problemática. Há várias décadas, alguém afirmava: «Gostava de dizer que os homens de negócios precisavam de uma porção crescente de sensibilidade social. Ele também estava entre os primeiros a dizer que os chefes das grandes empresas careciam tanto de sensibilidade política, ou talvez ainda mais quanto àqueles que trabalhavam no governo. Em todos os seus escritos, deixa claro que, por sensibilidade social e senso político, entende, não apenas uma melhor compreensão do que os homens psicologicamente precisam, mas também daquilo que para eles e para a sociedade é bom.» (MAYO, Elton, in: DIMOCK, 1958:74).

 

BIBLIOGRAFIA

 

DIMOCK, Marshall E., (1967). Filosofia da Administração. Trad. Diógenes Machado e Arnaldo Carneiro da Rocha Netto. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura – Brasil-Portugal

GALACHE – GINER – ARANZADI, (1969). Uma Escola Social. 17ª Edição. São Paulo: Edições Loyola

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark

WILLIAMS, Michael, (1978). Relações Humanas. Tradução,  Augusto Reis. São Paulo: Atlas

  

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

GESTÃO AUTÁRQUICA SOLIDÁRIA

A intervenção direta do Poder Local Democrático, quer ao nível da Freguesia, quer ao nível do Município, junto das respetivas populações, pode assumir diversas vertentes, de harmonia com os setores de atividade económica, os estratos sociais, as situações individuais, familiares, grupais e comunitárias e, também, em função das carências que, em cada momento, se colocam.

Gerir a intervenção, administrar os meios e avaliar os resultados são tarefas para as quais é conveniente haver preparação, não só pela experiência, como, principalmente, e também, pelo conhecimento das realidades locais e sensibilidade para querer participar na resolução dos correspondentes problemas.

A gestão autárquica solidária consiste, genericamente, em administrar os recursos disponíveis, em função dos interesses comunitários, acudindo, em primeira instância, às situações que, diretamente, afetam as pessoas mais carenciadas. Nesta linha se defende, por exemplo em relação às Freguesias rurais: «O Poder Local é uma forma de Governo Local, logo, de cariz comunitário, cujo objectivo é pugnar pelos interesses de um determinado colectivo, com alguma forma de organização administrativa, ainda que rudimentar.» (DIAS, 2002:11).

Administrar, equilibradamente, os recursos da autarquia, poderá significar uma aplicação racional, mas também técnica, dos bens disponíveis, em benefício daquelas intervenções que, à partida, se tem um mínimo de certeza que vão melhorar as condições de vida de toda uma comunidade, acorrendo às situações que clamam soluções urgentes, que resolvem problemas verdadeiramente humanos. Para que as intervenções autárquicas sejam sustentadas e regulares, porém, sempre de forma positivamente exponencial, é necessário distinguir: o fundamental, do normal, do acessório, do casuístico e do supérfluo.

É essencial, tudo o que respeita à satisfação das necessidades básicas e correspondente à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos; é normal e/ou de rotina, tudo o que concerne à manutenção do que já foi adquirido, realizado e melhorado; é acessório, tudo o que poderá complementar o que é essencial, mas não é urgente nem importante; é casuístico, tudo o que, imprevisivelmente, surge e é necessário resolver para não prejudicar o bem-estar da comunidade; é supérfluo, tudo o que em nada contribui para o benefício e bem-estar da comunidade.

Naturalmente que, dada a elevada quantidade e a diversificada qualidade das intervenções do Poder Local Autárquico, é justo, e benéfico, que não se descurem algumas manifestações culturais, de lazer, ocupação dos tempos livres, entre outras.

A ideia de gestão solidária cabe, perfeitamente, no conceito constitucional, relativamente à função da autarquia: «As Autarquias Locais são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas.» (CRP, Versão de 2004:87, Artº 235º)

 Solidariedade: não só como um valor imaterial, mas aqui como uma regra de boas-práticas ao serviço do interesse coletivo da autarquia, em primeiro lugar; sem menosprezo pela cooperação com outras autarquias, instituições públicas e privadas, grupos de individualidades de fora do espaço geográfico autárquico, onde se insere a comunidade, cujos interesses se procura defender; isto é, em circunstâncias de normalidade, investe-se, redistribui-se, dão-se as oportunidades aos residentes na área da autarquia, no âmbito da intervenção.

 O critério residência é importante no combate à desertificação, obviamente, sempre com observância dos normativos legais contra a discriminação, excecionalmente, salvaguardando-se, também, as grandes catástrofes nacionais, internacionais e as correspondentes ajudas humanitárias, independentemente da localização e cor política da autarquia atingida.

Consideram-se, ainda, outras situações de manifesta carência, sistemática em autarquias de fracos recursos e populações pobres, perante as quais importa desenvolver ações de solidariedade sob a forma de apoios materiais, concretos e significativos.

O autarca, enquanto gestor, tem responsabilidades acrescidas, porque implica envolvimento direto na governação, na distribuição de recursos pela população, na preocupação constante pelo bem-comum da comunidade em geral, que nele confiou e o elegeu, sem exceções, nem discriminações negativas, mas também pelo bem-estar de cada família, de cada pessoa. As suas funções executivas vão para além da retórica politico-ideológica, do discurso comicieiro eleitoralista, e da demagogia popular enganosa.

O autarca, no exercício nas suas funções executivas, tem o dever de governar bem, para todos e sem discriminações negativas, solidarizando-se, incondicionalmente, em tempo útil, com os mais carenciados, desprotegidos e fracos, disponibilizando-lhes os recursos suficientes para viverem dignamente.

Administrar a autarquia, enquanto conceito de bom e solidário governo, revela-se como um serviço público de grande alcance social, um verdadeiro apostolado: «Governar é uma responsabilidade gravíssima, porque implica o zelo das vidas, dos bens, dos interesses respeitáveis dos governados, tanto quanto à sua feição presente como aos desenvolvimentos futuros.» (CAETANO, 1974:69). 

Governar a autarquia, com a preocupação focada no bem-comum da população e dos seus haveres, no presente e para o futuro, implica total disponibilização, competência e sensibilidade social, entre outras capacidades e sentimentos. Envolve cidadãos com princípios, valores, sentimentos, emoções e comportamentos solidários, que se projetam para além das intervenções, circunstanciais, eventualmente eivadas daquele tipo de piedade, nem sempre bem compreendida. 

Iniciado, há mais de uma década, este novo século XXI e, coincidentemente, um novo milénio, é tempo de se exigir, se possível, ainda mais empenhamento dos governantes, na resolução dos problemas que afetam as populações, sob as suas jurisdições legítimas, legais e territoriais. São necessários espíritos superiores, dotados de qualidades genuinamente intrínsecas, dir-se-ia, genéticas e não de pseudo-iluminados e salvadores da pátria.

Nos países democráticos, como nas respetivas autarquias, os governantes têm sido, e continuam a ser eleitos para servir o povo, por isso são necessários homens e mulheres que coloquem os superiores interesses coletivos acima dos particulares, que sejam competentes e superiormente habilitados para o governo dos recursos públicos. Parece óbvio que: «Os espíritos superiores são aqueles que pairam acima dos acontecimentos historicamente fugazes e conseguem a visão global e sintética que crie uma perspectiva crítica e justa da vida dum país. (leia-se, também, de um município, de uma freguesia). (GOMES, 1976:26).

Autarquias de freguesias, vilas e cidades, são instituições imprescindíveis ao exercício continuado das boas-práticas, da implementação dos sistemas sociais, educativos, culturais e de relacionamento interpessoal, a partir do momento em que detenham os recursos humanos, financeiros e técnicos, para desenvolverem os seus projetos de solidariedade, para com as respetivas comunidades.

Importa, aqui, evidenciar as sensibilidades, qualidades, valores e caráter dos respetivos autarcas: Presidentes e toda a equipa que os acompanha. Não será possível uma gestão autárquica solidária com pessoas impreparadas, insensíveis e desmotivadas para abraçar os valores subjacentes à fraternidade solidária entre os cidadãos.

A arrogância, a intolerância, a prepotência, a perseguição, a vaidade e a discriminação negativa, entre outros comportamentos, certamente, dificultam o projeto solidário. Além disso, a autarquia local é como que o garante dos legítimos direitos dos cidadãos comunitários, com especial relevância para os mais desfavorecidos, necessitados e fracos.

Administrar a autarquia implica estar: «Norteado pelo princípio da legalidade, a actividade das autarquias deve pautar-se pela observância de comportamentos, que visem assegurar a igualdade, a proporcionalidade, a responsabilidade e a transparência. (…). A administração autárquica deve fomentar a colaboração e a participação dos particulares na formação das decisões que lhes digam respeito, garantindo a audiência prévia dos interessados.» (GAIO, 1995:15).

A gestão autárquica solidária é perfeitamente possível em todos os domínios da intervenção do Poder Local, seja ao nível da freguesia, seja no contexto mais alargado do município. O sucesso da solidariedade, certamente, depende dos recursos da autarquia, mas também das qualidades, capacidades, sentimentos, valores e competências do autarca, porque até para se ser solidário é importante ser-se pragmático, objetivo e eficaz, no sentido de se passar das palavras e dos lindos discursos de circunstância, por vezes, piedosos, aos atos.

O conceito de competência profissional, cada vez mais reivindicado pela sociedade, em todos os setores de atividade, não exclui, pelo contrário, pressupõe que se deverá ser ainda mais exigente nos órgãos da administração pública, desde logo, no Poder Local Democrático, onde a competência para gerir recursos é, ainda, mais necessária, dada a exiguidade daqueles, na maioria das autarquias.

Com efeito: «A expansão da consciência de necessidade de se desenvolver a competência profissional, organizacional e comportamental, nos diversos níveis e sectores sociais, precisa, em virtude da sua oportunidade, importância e urgência, do envolvimento e participação das lideranças em geral, dos formadores de opinião, dos educadores e da midia.» (RESENDE, 2000: Introdução, pág. XI).

Assumir o compromisso de estar sempre ao lado das famílias, para ajudar a resolver, de forma e por processos legais, as situações mais difíceis, como o desemprego, a educação, a saúde, a habitação, constitui, por si só, uma garantia do caráter solidário do candidato e/ou governante.

Sem grandes questionamentos, a educação das crianças é um pilar importante na formação da sociedade do futuro, seguramente na e a partir da própria família, porque: «Disciplina, limites e valores são absolutamente necessários para que o cérebro da criança adquira arquivos que serão importantes para o resto de sua vida e assim deverão ser ensinados pelos pais, especialmente através de posturas diárias, de disciplina orçamentária, de horários, de trabalho, observância de dias de descanso, (…)» (COLETA, 2005:22).  

 

Bibliografia

 

CAETANO, Marcelo. (1974). Depoimento, Rio de Janeiro: Distribuidora Record de Serviços de Imprensa, S.A. p. 125.

COLETA, António Carlos Dela, (2005). Primeira Cartilha de Neurofisiologia Cerebral e Endócrina, Especialmente para Professores e Pais de Alunos de Escolas do Ensino Fundamental e Médio, Rio Claro, SP – Brasil: Grafas Set, Gráfica e Editora

CRP, (2004). Constituição da República Portuguesa, Versão de 2004, Porto: Porto Editora.

DIAS, José António Rajani Oliveira, (2002). Cartilha do Eleito Local. Odivelas: Jornal “Nova Odivelas”, Inclui: Lei Nº 169/99 de 18 de setembro – Comentada (Com a redação das alterações introduzidas pela Lei Nº 5-A/2002 de 11 de janeiro)

GAIO, Carlos Morais, (Coord.). (1995). Guia do Eleito Local. Porto: Edições ASA

GOMES, Costa, (1976). Discursos Políticos. Lisboa: Ministério da Comunicação Social - Direcção-Geral da Divulgação

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark

 

 

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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

AUTARQUIA EMPRESARIAL.

 A administração/gestão empresarial, atualmente, pressupõe, não só conhecimentos técnicos, em vários domínios, nomeadamente, negociação nas compras, penetração e diversificação nos/dos mercados, contratação e gestão dos recursos humanos, organização contabilística, controle financeiro, fiscalidade, benefícios e responsabilidades fiscais, sociais e mutualistas, angariação de carteira de clientes, nas melhores condições de estabilidade e segurança, bem como a maior sensibilidade para a gestão dos recursos humanos, afetos à empresa e predisposição para uma política sadia, leal e honesta, de relacionamento humano com todos os públicos intervenientes na empresa – acionistas, fornecedores, clientes, trabalhadores e famílias, com idêntico destaque para as instituições legais que mantenham relações com a empresa.

Naturalmente que sem resultados positivos, nenhuma empresa sobreviverá e, mais tarde ou mais cedo, o seu encerramento será inevitável, com as consequências, por vezes dramáticas como: desemprego, dívidas, aumento das dificuldades para empresas fornecedoras, instituições públicas credoras e quaisquer outras dependentes da empresa, incluindo as famílias dos trabalhadores.

É óbvio que os resultados, no mínimo, dependem da gestão da Administração, do empenho dos trabalhadores e da estabilidade do mercado, porém, sempre caberá aos executivos dos vários departamentos a condução eficaz dos respetivos processos e procedimentos, conforme as orientações superiores.

A Filosofia da Administração, fundamentada em valores ético-morais, como a probidade, a transparência, a equidade, o espírito de equipa e de missão e a solidariedade, entre muitos outros que se relacionam com a empresa, deve ser escrupulosamente implementada, acompanhada e periodicamente testada.

E, paralelamente, uma atenção privilegiada aos recursos humanos, às pessoas, para além da circunstância e do papel que desempenham, porque, indistintamente dos respetivos estatutos socioprofissionais, assiste-lhes uma dignidade que é superior a quaisquer outros aspectos na medida em que: «Administração significa realçar as qualidades dos indivíduos. Indivíduos que, em suas personalidades e caracteres, exibem uma integração de valores universais, como a sabedoria e reverência, honestidade, integridade e devoção aos interesses humanos, (...). São esses os indivíduos que dão vida e espírito aos números, aos mapas e aos organogramas, os quais, de outra forma, seriam símbolos insípidos. (...) A única solução segura é dar aos indivíduos de todos os níveis um sentimento de missão, uma compreensão de inter-relações e um senso obrigatório de objetivos e valores globais.» (DIMOCK, 1967: 20-21).

O sucesso das instituições públicas, tal como o êxito das empresas privadas, e o dinamismo que se pretende para as associações e movimentos cívicos, passam, inevitavelmente, pelas pessoas, cada uma das quais no exercício das suas funções, executadas com competência, entusiasmo, responsabilidade e sempre atualizadas, num verdadeiro espírito de missão, de cooperação solidária, institucional e profissional, entre os vários grupos, técnicos e utentes da instituição, qualquer que seja a sua natureza.

Afinal, o centro de irradiação do sucesso, ou do fracasso, de quaisquer organizações, está sedeado na pessoa, considerada em todas as suas dimensões – política, social, axiológica, religiosa, profissional, cultural, entre outras.

Instituição que não valoriza os seus trabalhadores, na perspectiva da dignidade humana, que enquanto pessoas lhes é devida, caminha para o descrédito e para o fracasso, designadamente, e em primeira instância, nos seus mais diretos responsáveis, administradores, executivos e quadros superiores, porque a estes pertence darem provas concretas, inequívocas e permanentes, através das suas intervenções, atitudes e relacionamento humano, relativamente aos restantes trabalhadores, seus subordinados, porquanto: «Assim é que é a pessoa humana a fonte, a causa, a raiz e o fim de todas as instituições. Ela é a portadora da espiritualidade, da dignidade de imagem de Deus, da responsabilidade, da consciência e da liberdade. É, portanto, a ela que se devem atribuir os direitos que por justiça, inalienáveis, inamissíveis, irão lhe conservar a posição de rainha entre os seres da criação.» (SARTORI, 1990:34).

O que eficientemente se exige aos colaboradores da empresa privada, na perspectiva do trabalho por metas, para que os objetivos sejam alcançados e ultrapassados, o mesmo se deve postular para as instituições públicas, embora com as devidas e necessárias adaptações.

Importa, neste contexto, enquadrar as autarquias locais em geral e as Câmaras Municipais em particular, dado que estas se revestem de dimensões, competências, recursos e objetivos diferentes das outras autarquias do nível das Juntas de Freguesia que, na sua esmagadora maioria, carecem de, praticamente, tudo o que é necessário para a concretização de determinadas intervenções.

Direcionar o foco das atenções administrativas, financeiras, técnicas e dos recursos humanos para as Câmaras Municipais (Prefeituras no Brasil) é um dever dos poderes constituídos ao nível do Governo Central (Federal no Brasil), contudo, exigindo-se aos autarcas, a maior prudência, racionalidade e probidade na aplicação dos recursos financeiros, já que a maior parte destes, provêm dos impostos que os contribuintes, quantas vezes com imensos sacrifícios e privações, são coagidos a pagar, sob pena de lhes serem retirados os bens que possuem.

Administrar a autarquia segundo a filosofia empresarial, com as devidas e necessárias adaptações, poderá constituir o primeiro e grande objetivo da boa gestão. Nesse sentido, a seleção dos melhores fornecedores, aqui se considerando empreiteiros, prestadores de serviços e de bens de consumo, entre muitos outros aspectos importantes, embora, eventualmente, com menor impacto.

Uma gestão bem organizada, culminará no corolário, segundo o qual, deverá congregar algumas características e/ou critérios, a saber: melhor qualidade, melhor preço, melhor garantia, melhor assistência, maior disponibilidade para resolver problemas e situações pontuais, não importando, inclusivamente, que sejam sempre os mesmos a ganhar os concursos e tornando-se irrelevante a “formação sub-reptícia” de uma espécie de grupos organizados para vencer este ou aquele concurso, porquanto os respetivos Serviços Técnicos da empresa/autarquia estarão em boas condições para emitirem parecer sobre as propostas apresentadas, a fim de o executivo decidir em conformidade com tais pareceres técnicos e segundo os critérios definidos.

Uma outra componente da administração, igualmente aplicável às autarquias, refere-se aos recursos humanos, mais radical e profundamente, às pessoas, investidas de dignidade própria e inegociável. Ainda não foi inventada a máquina que substitua, integralmente, a pessoa humana, esta considerada em todas as suas dimensões, até porque para tal acontecer teria de existir uma máquina que, por sua vez, inventasse, construísse e pusesse a funcionar outras máquinas e, ainda assim, restariam muitas outras situações que, no atual estado de desenvolvimento da ciência e da técnica, parece impossível que uma máquina possa substituir, por exemplo, a dimensão espiritual e/ou sentimental da pessoa humana.

Assim, cada vez se torna mais importante, mas também interessante e estimulante administrar com e pelas pessoas, por isso: «A preocupação com o elemento humano continuou a crescer até o dia de hoje. Nos últimos anos, especialistas em administração têm estudado as ciências comportamentais. A partir dos campos da psicologia, sociologia, antropologia e disciplinas afins, eles adaptaram muitos conceitos os quais não apenas resultaram em aumento de produtividade, mas também fizeram do mundo do trabalho um ambiente mais aprazível. Este avanço tem possibilitado que mais e mais pessoas alcancem um alto grau de satisfação a partir de seus trabalhos.» (DALE CARNEGIE & ASSOCIADOS, 1978: 19).

Gestor empresarial e/ou executivo de organismo público, técnico especialista ou político, objetivos financeiros ou sociais, respetivamente, importa dominar muito bem as técnicas de relacionamento interpessoal e, fundamentalmente, estar dotado, sensibilizado e disponível para considerar a pessoa como o recurso mais valioso e insubstituível. Nesta perspectiva, administrar a autarquia privilegiando a dignidade da pessoa, independentemente das suas opções políticas, religiosas, sexuais, étnicas, estatuto e posição económica é o mínimo que o gestor/político deve fazer.

O titular de cargo executivo com competências de administração de recursos materiais e humanos, quando eleito pelo voto dos seus parceiros, correligionários ou concidadãos, conforme as situações, tem o dever ético-moral de, em circunstância alguma, misturar, confundir ou manipular os legítimos interesses daqueles que o elegeram, com quaisquer orientações político-partidárias, porque isso seria humilhar a pessoa, aliás: «Chamar um sistema de capitalista, democrático, socialista ou autocrático não é importante. Importante é aquilo que proporciona ao indivíduo a oportunidade de desenvolver sua personalidade e sua autodeterminação.» (DIMOCK, 1967: 170).

De resto, nem se compreende que em meios tão pequenos, como são os territórios sob administração autárquica, onde as pessoas se conhecem, convivem e se entreajudam, as disputas político-partidárias e depois o exercício do poder, sirvam para atacar, ofender e prejudicar aquelas pessoas que, no passado, até eram amigas e, mais grave do que isso, se utilizem estratagemas e recursos para destruir a credibilidade, a honra, o bom-nome e a dignidade. Tais comportamentos não são, de facto, próprios da competência, imparcial e humana.

Trabalhar nestas condições e com objetivos, quantas vezes confusos ou intencionalmente discriminatórios, pela negativa, ofensivos e maldosos, é desumano. Com as devidas adaptações ao funcionamento das autarquias, até se pode concordar que: «(...) na empresa comunitária o grande capital é o homem. E como o sopro das mudanças é no sentido do comunitarismo, devemos cada vez mais valorizar o homem. Este, sem formação, não se sustenta com reformas formais nem com mais dinheiro.» (SARTORI, 1990: 58).

Existem valores universais, intemporais e absolutos que, realmente, nenhum dinheiro consegue comprar: a vida, o respeito, a dignidade, a justiça, a liberdade, a paz, entre outros, que devem fazer parte dos objetivos do gestor, do político, do religioso, enfim, de todos quantos têm funções de administração: na família, na empresa, nas instituições públicas, religiosas, desportivas, finalmente, na comunidade cívico-política. A pessoa humana está no centro de todos eles e como tal é responsável pela sua violação. 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BARTON, Anthony, (1975). A Formação do Executivo. Tradução, Roberto Cataldi. S. Paulo: Difel

CARNEGIE, Dale & ASSOCIADOS, (1978). Administrando Através das Pessoas. Tradução, Ivan Zanoni Hausen. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército - Editora

DIMOCK, Marshall E., (1967). Filosofia da Administração. Tradução, Diógenes Machado e Arnaldo Carneiro da Rocha Netto. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura – Brasil-Portugal

JENNINGS, E. E. (1972). O Executivo, Autocrata-Burocrata-Democrata. Tradução, Oswaldo Chiquetto. S. Paulo: Livraria Pioneira Editora

SARTORI, Luís Maria, (1990). Quando a Empresa se Torna Comunitária. Aparecida SP: Editora Santuário.

 

 

NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2025

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Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

PROGRESSO COLETIVO PELO TRABALHO.

A participação de cada pessoa, na edificação de uma sociedade mais próspera, mais justa e mais fraterna é uma condição essencial, também para o desenvolvimento, para o progresso e para a paz, quer em termos individuais, quer na perspetiva coletiva.

 

A cooperação formal, ou informal, entre indivíduos, grupos, povos e nações: seja ao nível institucional público, ou entre entidades privadas, bem como entre aquelas e estas; faça-se no domínio da cultura, da investigação, das tecnologias; exista, ainda, por razões humanitárias, tem sempre grandes possibilidades de produzir resultados positivos para os intervenientes.

 

A intervenção que estará mais acessível, às pessoas individuais, ocorre pela via do trabalho produtivo, competente, honesto, no respeito pelos direitos de cada interventor, e na exigência dos correspondentes deveres.

 

Quanto mais desenvolvida estiver a sociedade, nos seus aspetos materiais, culturais e espirituais, tanto mais oportunidades terão os cidadãos em obter sucesso na vida, não só para os próprios, como para os familiares e comunidade em geral.

 

O contributo que profissional, e civicamente, é exigível a cada cidadão, para o bem-geral, é compatível com o direito individual de melhor estatuto socioprofissional, e económico-patrimonial, do próprio e de sua família, desde que não interfira nem prejudique idênticas oportunidades, que aos seus semelhantes são igualmente concedidas, observando-se o respeito, e a reciprocidade, de cada pessoa ter o direito de, com liberdade e responsabilidade, desenvolver uma actividade profissional, preferencialmente no quadro das suas capacidades, competências, habilidades, atitudes e prazer. O trabalho com prazer será, certamente, bem executado, mais produtivo, para o próprio e para a sociedade. É essencial gostar-se do que se faz, com uma perspectiva de vida de sucesso:

 

«A vitória é a consequência de uma atitude diante da vida.» (SHINYASHIKI, 2000:177).

 

Revelar a atitude correta perante a vida, o trabalho e o mundo, no sentido de fazer com que as coisas aconteçam, é fundamental para o progresso do indivíduo e da comunidade. Deseja-se, portanto, uma atitude: moderna, no sentido em que cada um deverá ser competente na sua profissão, independentemente do estatuto que a sociedade atribui a determinadas atividades; competitiva, em ordem a produzir em qualidade, quantidade, preço (hoje o preço é relativo, porque:

«Não existe, pois, “caro” nem “barato”. Existe o “valor” que o cliente dá ao produto ou serviço» (MARINS,2005:137) e garantia; entusiástica, envolvendo sentimentos do dever cumprido e sensações de prazer, autoconfiança e auto-estima.

 

A vida deveria ser um prazer permanente, em que cada pessoa tivesse a oportunidade de se realizar nas diversas dimensões, entre estas e pelo menos: profissional, familiar, política, religiosa, social, económica e cultural.

 

O dever de trabalhar, competente e responsavelmente, é exigível a todos os cidadãos válidos, independentemente da sua idade, situação profissional – ativo ou aposentado –, que se pretendem livres, participantes de todo o processo de desenvolvimento, sucesso pessoal e da comunidade em que se inserem, e aspiram à concretização máxima das suas legítimas ambições e projetos de vida.

 

Reconhece-se, portanto:

 

«Através do trabalho torna-se real o princípio do “destino universal dos bens”. Através do trabalho torna-se real “a legitimidade da propriedade privada, como condição indispensável de autonomia pessoal e familiar. É na valorização do trabalho – de todos os trabalhos -, como fonte de onde surgem todos os bens que permitem a vida da sociedade, que radica a conceção dos deveres e direitos que o Estado deve regular e se clarifica o próprio papel do Estado como promotor e tutor do bem comum.» (BERGOGLIO, 2013:304).

 

Ao longo da história, certas teorias têm denunciado o trabalho como um processo que humilha e escraviza o homem, pelo menos em certas épocas e contextos. Hoje, porém, parece mais curial defender-se uma ocupação, na medida em que:

 

a) Todo o trabalho é digno e eleva a pessoa, quando exercido no total respeito pelas regras estabelecidas, produzindo resultados concretos para o bem-estar individual e colectivo;

b) Não se compreende que possa haver profissões mais dignas do que outras, atento o conceito de profissão, enquanto atividade legítima, legal, produtiva, necessária e aceite na comunidade, face aos valores, princípios e regras instituídas e praticadas pela maioria, no respeito pelas culturas minoritárias, segundo o princípio pelo qual: as minorias acatam as decisões das maiorias e estas respeitam os direitos, liberdades e garantias daquelas.  

 

Além do mais, cada cidadão tem o direito a aceder ao mercado de trabalho, em condições de igualdade com os seus semelhantes e, nesse sentido, terá todo o interesse: em primeiro lugar, apresentar-se bem preparado técnica e culturalmente; segundo, o conceito moderno da formação integral – saber-ser, saber-estar e saber-fazer –; por fim, revelar-se disponível para evoluir na sua carreira profissional, através do bom desempenho, da atualização, da especialização, da fidelidade à cultura da empresa e aos valores profissionais da competência, assiduidade, pontualidade, espírito de equipa, entre outros.

 

É importante considerar, que, sem qualquer dúvida:

 

«O exercício de uma profissão não é apenas fonte de sobrevivência. A profissão é como o casamento: se com amor já dá tanto trabalho, imagine sem amor como fica complicado. Evolua, mas respeite sua vocação. (…) A profissão é o instrumento de realização da vocação do ser humano. É algo que dá sentido à vida, que lhe dá a certeza de que está fazendo e construindo algo bom, de que a vida vale a pena.» (SHINYASHIKI, 2000:169).

 

Estabelecida a premissa fundamental para o progresso – trabalho competente, entusiasta e assíduo –, importa evidenciar o trabalhador, de forma que ele ocupe o lugar que merece, no seio da sociedade, como elemento essencial de produção de riqueza, não só para ele, seus familiares e quaisquer outros dependentes, como também para toda a comunidade.

 

A riqueza das nações passa por três intervenientes cruciais: Estado, Empresários e trabalhadores.

 

O progresso coletivo depende da harmonia e da cooperação entre aqueles três elementos, sem os quais a vida seria impossível, em termos de desenvolvimento e bem-estar sociais.

 

Investir na valorização do trabalhador, pela educação, formação profissional de qualidade, salários justos e pagos em tempo útil, regalias e benefícios empresarias e apoios sociais na doença, no desemprego e na velhice, será o mínimo que se deverá conceder a quem trabalha, e se dedica com lealdade e permanente colaboração, para com a instituição, fornecedores e clientes.

 

A sociedade, nos seus diversos constituintes e agentes interventores, deverá ter sempre uma atitude de respeito e palavras de gratidão, para com todos aqueles que trabalham, que produzem, nas diferentes áreas de atividade, por isso, valorizar o trabalhador e o trabalho por ele desenvolvido revelar-se-á, também, como um estímulo, um apoio ético-moral, que será tanto mais eficaz quanto mais sincero e oportuno se revelar.

 

Em bom rigor:

 

«O trabalho humano que se exerce na produção e na troca dos bens econômicos e na prestação de serviços, sobreleva aos demais factores da vida econômica, que apenas têm valor de instrumentos. Este trabalho, empreendido por conta própria ou ao serviço de outrem, procede imediatamente da pessoa, a qual como que marca com o seu selo as coisas da natureza, e as sujeita ao seu domínio. É com o seu trabalho que o homem sustenta de ordinário a própria vida e a dos seus. Por meio dele se une e serve aos seus irmãos, pode exercitar uma caridade autêntica e colaborar no acabamento da criação divina.» (CONCÍLIO VATICANO II, 1966:95).

 

O mundo do trabalho atravessa tempos complexos, devido ao avanço, sem precedentes, da ciência, da técnica e da tecnologia que, em conjunto, e em todas as atividades humanas, estão: por um lado, a aliviar o homem dos trabalhos mais penosos, violentos e perigosos, obrigando-o, porém, a um esforço de mais aprendizagem, mais atualização, mais concentração e elevação dos níveis de produtividade, em qualidade e quantidade; por outro lado, originam-se novas situações de desemprego, por substituição do elemento humano pela máquina, tendo como objetivo enfrentar a concorrência, possibilitar maiores lucros e com estes haver condições de manutenção do maior número possível de postos de trabalho.

 

Neste quadro de acelerada globalização, de crescente competitividade e de sustentabilidade das empresas, em consonância com a estabilidade laboral, justifica-se uma intervenção mais cuidada e pertinente, a desencadear pelos outros dois elementos do sistema, o Estado e o Empresário, justamente com a adoção de medidas institucionais, que visem promover as condições sociais adequadas, como a formação ao longo da vida, a modernização permanente, os apoios pecuniários, e outros benefícios ao nível da saúde, da habitação e manutenção da estrutura familiar de qualidade, verdadeiramente digna.

 

Quanto melhores forem o bem-estar e a estabilidade socioprofissional do trabalhador, maior será o seu empenhamento no processo produtivo.

 

O Estado, a empresa, as organizações, quaisquer que estas sejam, que investirem na satisfação dos seus colaboradores, terão, seguramente, o sucesso garantido. Uma boa estratégia para o êxito dos três elementos constituintes – Estado, Empresário e Trabalhador –, pode ancorar-se no princípio da máxima responsabilidade, para o maior benefício, numa perspetiva de carreira profissional ascensional, por mérito próprio, devidamente avaliado e atempadamente reconhecido.

 

A máxima responsabilidade, num contexto de ampla liberdade, possibilita que o trabalhador possa ser: ele mesmo, criativo, inovador, original e cumpridor das regras, normas e orientações superiores, no respeito pelos valores e cultura instituídos na organização, até porque:

 

«Os conquistadores silenciosos escolhem modelos úteis e adotam valores nítidos como guias de orientações para seu progresso. Eles sabem que o caminho mais simples e mais curto para o sucesso é o de tentar igualar ou exceder as características que funcionam para outras pessoas bem-sucedidas.» (POLE, 1998:32).

 

BIBLIOGRAFIA

 

BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Tradução, Maria João Vieira /Coord.), Ângelo Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.

CONCÍLIO VATICANO II (1966). Gaudium et Spes. Constituição Pastoral o Concílio Vaticano II sobre a Igreja no Mundo de Hoje. II Edição. São Paulo: Edições Paulinas

GREENER, Mark, (2004). Tempo para Tudo. Organização e Gestão Pessoal. Tradução, Alexandra Lemos, revisão e adaptação técnica: Osvaldo Santos, psicoterapeuta, 1ª edição portuguesa, Dezembro/2004, Lisboa: Edideco, Editores para a Defesa do Consumidor.

MARTINS, Vera Lúcia Franco, (2005). Seja Assertivo – como ser direto, objetivo e fazer o que tem de ser feito: como construir relacionamentos saudáveis usando a assertividade. Rio de Janeiro: Elsevier

POLE, Timothy, (1998). Ser Você. Tradução, Arlete Dialetachi. São Paulo: Editora Angra, Ltda.

SELECÇÃO DE TEXTOS (2000). “Educação em Matéria de Direitos Humanos”, in: Noesis. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional – Ministério da Educação, (56), Outubro-Dezembro-2000, Págs.18-21

SHINYASHIKI, Roberto T., (2000). Os Donos do Futuro. 31ª Edição. S. Paulo: Editora Infinito

  

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