domingo, 9 de março de 2025

FELICIDADE NA INFIDELIDADE: SERÁ POSSÍVEL?

 Naquela manhã de Verão, relativamente fria e assolada por uma chuva miudinha, junto à praia, tendo pela frente as rochas e o mar imenso, bastante calmo, de um azul profundo, Benedita e Gentil, estacionaram a viatura, conduzida pela jovem senhora, antes de efetuar a marcha de regresso, conforme estava previsto.

Benedita, como que sondava o mar sem-fim, com um olhar nostálgico, algo misterioso, com o rosto levemente branco, muito lindo, aparentemente, com uma expressão preocupada e, simultaneamente, transmitindo uma sensação de tranquilidade, de uma felicidade disfarçada de melancolia, tendo o seu rosto bem próximo de Gentil, que continuava sentado ao seu lado.

Aquele jovem, que estava fixado em Benedita, como que hipnotizado e, ao mesmo tempo, atraído pela beleza e serenidade da jovem senhora, não aguentou mais o sofrimento que lhe ia na alma, ganhou coragem e perguntou-lhe: “Posso dar-te um beijinho, apenas um, nos teus lábios, qual passarinho a voar, levemente esvoaçando?

Entre os dois jovens tinha-se estabelecido, desde há muito tempo, um laço muito forte de amizade, que aumentava dia após dia, que se ia consolidando, uma afeição muito especial, pelo menos por parte de Gentil, extremamente sincera, sem quaisquer artifícios, nem intenções inconfessáveis, porque este jovem, jamais pretendia magoar, muito menos ofender, aquela jovem senhora tão nobre.

Benedita, primeiro não teve qualquer reação perante o pedido de Gentil, porém, ela olhou bem fundo nos olhos dele, certificou-se que estava a ser verdadeiro, humilde e angustiado, sorriu deliciosamente e, com uma candura profundamente sedutora, ofereceu-lhe a boca, com uma expressão angélica, ficando a aguardar a concretização do pedido de Gentil.

O jovem, tremia, transpirava, era o seu primeiro beijo numa jovem casada, mas não resistindo por mais tempo àquela boca, contornada por uns lábios relativamente volumosos, muito vermelhos, não tinham qualquer pintura, mais pareciam cerejas maduras, daquelas de excelente qualidade, que só de olhar para elas, logo se tem apetite para as saborear delicadamente.

Os lábios de Benedita, como que estavam a tremer, porque, tudo indica, também ela, desejava aquele momento, de contrário, não teria acedido ao pedido do seu companheiro de viagem. Gentil aproxima, então, a sua boca daqueles lábios rijos, quentes e húmidos, tremendo de desejo, ou de ansiedade, ou até de preocupação, não fosse alguém vê-los naquela situação, que resultava de uma amizade que se transformava em amor, talvez não o amor matrimonial, mas um parental, entre primos, onde se impunha o respeito, em simultâneo com o prazer.

Foi um primeiro beijo, apenas nos lábios, não muito prolongado, mas com o tempo suficiente para fortalecer uma ternura que ambos desejavam duradoura, num local romântico, onde o sussurrar das ondas, o barulho do vento e o ruído dos pingos da chuva, a cair no tejadilho do carro, enriqueciam o ambiente aparentemente amoroso, propício a juras de amizade eterna, muito especial e que passaria a constituir um primeiro segredo entre os futuros amantes, porque entre primos, não se coloca a situação de incesto.

Benedita era, uma jovem senhora, dotada de qualidades invulgares, em diversas dimensões: pessoais, profissionais, éticas e sociais, ela estava acima da média das jovens do seu tempo e até com mais idade, sempre muito empenhada nos projetos e atividades em que se envolvia, e que quem com ela se relacionava, sabia muito bem que não facilitava, e que lutava sempre pelos melhores resultados.

Seu marido, sensivelmente da mesma idade dela, trabalhava noutro setor, relativamente distante do local onde naquela manhã ela se encontrou com Gentil e, certamente, não sonharia sobre o que a esposa estaria a fazer que, por enquanto, não seria assim extremamente grave, talvez tivesse dado um primeiro passo. para uma futura traição, em toda a sua extensão. O tempo o diria.


“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”

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Venade/Caminha – Portugal, 2025

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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