domingo, 20 de novembro de 2011

Inclusão pelo Trabalho


Para o projecto de inclusão existe, entre outros, um instrumento facilitador, pelo qual a esmagadora maioria dos cidadãos se esforça por alcançar: o trabalho ou emprego, se possível estável, digno, material e socialmente compensador. A precariedade no emprego constitui uma chaga social que urge erradicar da sociedade.
A própria demografia nacional é prejudicada com esta situação, na medida em que os jovens receiam constituir família porque, em bom rigor, não podem esperar qualquer espécie de segurança. Ter filhos, torna-se, ainda mais complicado e poderá ser um risco que, mais tarde, possivelmente, afetará uma ou mais crianças.
Preparar as novas gerações para uma actividade profissional, proporcionar novas oportunidades para todos os que, por qualquer motivo, perderam o emprego, ou ainda para aqueles que, não obstante terem atingido uma situação de reforma, querem continuar a trabalhar, deve ser uma preocupação, não só dos interessados como também das instâncias oficiais competentes, no sentido de facultarem aos cidadãos a formação profissional integral, que lhes permita encarar o futuro com segurança, entusiasmo e desempenharem, produtivamente, uma determinada profissão na sociedade. 
Ao inserir-se no mundo do trabalho, o ser humano foge a outras situações, nomeadamente, as da ociosidade, do vício que, mais tarde ou mais cedo, pode conduzir à marginalização e consequente exclusão.
O ser humano é muito mais do que um outro animal qualquer, na medida em que, não se conformando com a natureza animal que o integra e também o envolve, procura, através de uma praxis, concertando teorias e práticas, numa dialéctica sempre em tensão, mas progressiva, vencer as dificuldades, autoproduzindo-se.
Pelo trabalho o indivíduo humano se distingue, se eleva e se dignifica, atingindo vários estatutos, que ele próprio também inventa e aplica, ao ponto de se tornar elemento fundamental na organização da natureza e do mundo que o rodeia.
Na verdade: “(…) pelo trabalho o homem aprende a conhecer as próprias forças e limitações, desenvolve a inteligência, as habilidades, impõe-se uma disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afectos de toda a relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois ele se modifica e se constrói a partir da sua acção. E nesse movimento tece a sua liberdade.” (ARANHA, 1996: 17)
A sensibilização para hábitos de trabalho deve constar dos programas educativos e de formação profissional, designadamente, na componente sócio-cultural: Cidadania e Empregabilidade, Cidadania e Profissionalidade, Mundo Actual, Integração, Desenvolvimento Pessoal e Social, Ética e Deontologia, Religião, Psicologia, História, Relações Interpessoais, Língua materna, Direito, e outras disciplinas de sustentação de valores, necessários, também, à formação da personalidade e do cidadão responsável.
O trabalho é um valor, tomado aqui o conceito de valor como sendo: “Tendência natural do homem. Valor é interesse, e tudo quanto satisfaça uma necessidade profunda, quer se trate de objecto ou de ideia, de pessoa ou de realização. É o sistema de valores, isto é, os princípios e os ideais que governam no jovem de carácter, seu estilo de vida, bem como a sua vida emocional.” (SCHMIDT, 1967: 202).
Incutir na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e, se necessário, no idoso, o conceito de trabalho como um valor ideal, que dignifica o ser humano, elevando-o à condição da cidadania plena, com amizade, solidariedade, liberdade, lealdade, verdade, reciprocidade, competência, responsabilidade, entre outros valores, constitui, indubitavelmente, um instrumento que, rapidamente, retira a pessoa da exclusão e/ou a mantém firme e respeitada na sociedade inclusiva.

Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna.
SCHMIDT, Maria Junqueira, (1967). Educar para a Responsabilidade, 4ª edição, Rio de Janeiro RJ: Livraria Agir Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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