O problema de Deus é um
grande tema porque extenso, complexo, difícil e muito importante, na medida em
que na história do Pensamento Ocidental, ao longo dos tempos, se tem encontrado
expressões variadíssimas, opostas e até desdenhosas, relativamente à
possibilidade de o homem conhecer Deus, ou pelo menos, provar a sua existência
e, neste sentido, há os que afirmam ser impossível provar tal existência; e
outros que defendem a viabilidade de se chegar a tais provas, e por conseguinte,
a Deus.
Há quem afirme que «Deus é a chave da unidade na visão do mundo
do crente monoteísta» e o próprio termo Deus é de natureza religiosa, não
podendo ser apropriado pela Filosofia, embora contenha questões que interessem ou
afetem o pensamento filosófico, porque o homem, na sua atividade religiosa, se carateriza
por descobrir um âmbito sagrado, ao qual se refere com adoração e expetativa de
salvação, remetendo para um ponto mais além de todas as manifestações
simbólicas ou hierofanias.
Tal ponto é já o Mistério,
o que é específico da religião monoteísta e para compreender a sua essência,
teremos que colocar o seu Deus único ao lado do Mistério, invocando-se Aquele
pelo diálogo da oração, e assim o Deus único do Mistério e o Deus invocado pela
oração, resume-se na fórmula do Mistério Agraciante.
Neste primeiro
raciocínio sobre Deus, parecem-me importantes as ideias definidoras do termo
Deus como sendo de natureza religiosa e, por outro lado, que no âmbito do
sagrado, se condense o Mistério Agraciante.
Importa, igualmente,
destacar a aproximação dos dois termos básicos no desenvolvimento, e que são: a
Razão e Deus, porque se Este, é um termo religioso; aquela, é a capacidade de
recolher, ordenar e unificar a realidade, aparecendo Deus como princípio de toda
a realidade.
Ora se a Razão tem
capacidades tão profundas, é razoável que o homem, através dela, acredite na
existência de Deus, na medida em que os seres humanos necessitam de sentido
para as suas vidas, sentido que encontram acolhendo-se a uma outra visão do
mundo, que dá consistência e unidade às suas condutas.
Mas a Razão que aqui se
desenvolve, não é de natureza científica, do âmbito das ciências
empírico-positivas e formais abstratas. A Razão que efetivamente nos impele
para Deus é uma “Razão Vital”, que penetra a vida do homem e se deixa penetrar
por essa mesma vida, é uma razão que supera o sentimento trágico, segundo o
qual, Deus não se consegue pela razão científica positiva, o que faz sentir
tragicamente o problema.
A Razão Vital é uma
Razão Constitutiva do desejo do homem de ter uma certeza sobre a realidade, a
partir da adaptação a essa mesma realidade. O homem deseja conhecer Deus, que é
uma realidade que se prova a partir de raciocínios e experiências vivenciais.
Destas vivências, duas respeitam, exclusivamente, ao homem, sendo designadas
por: “Vivências de Fundamento e Vivências
de Esperança” (cf. CAFFARENA:1985)
As Vivências de
Fundamento, prendem-se com o facto de que tudo quanto o homem faz, fá-lo
procurando fundamentar-se a determinados níveis. Assim, o homem encontra, ou
não, o fundamento nos seus conhecimentos, no meio social em que se desenvolve,
na sua capacidade a afrontar com êxito os desafios da vida. Tal fundamentação
serve, também, para a necessidade de, filosoficamente, situar o problema de
Deus como “O Ser Fundamental”
Quanto às vivências de
esperança, elas dão-nos a vivência de sentido, numa esperança que é tanto mais
afetante, quanto mais profundo é o projeto de autorrealização que somos, isto
é, “Desejo Constitutivo”. Nesta estrutura vivencial e a este nível, o termo
sentido é tirado da orientação espacial, e o ser é orientado pelas suas
esperanças. O homem vive de esperanças, e tudo o que faz é com a esperança de
obter algo. É neste núcleo vivencial que se situam as vivências morais,
amorosas e de liberdade.
Se por um lado, as
vivências de fundamento originam uma atitude de espera de salvação, consubstancial
à atitude religiosa; por outro lado, as vivências de esperança, ou de sentido,
possibilitam um relacionamento com a religião, na medida em que originam
atitudes religiosas, tal como a adoração que consiste em viver-se como
radicalmente fundamentado noutro ser, de quem se está recebendo o ser
existência. É possível que as vivências religiosas tenham sido as mais
originais ao longo da história humana.
O desenvolvimento
racional em ordem a Deus, comporta duas categorias de provas, a saber: Provas
Cosmológicas e Provas Antropológicas. Nas Provas Cosmológicas seguiram-se mais
as vivências de fundamento, porque buscam a justificação de toda a realidade, e
o argumento-síntese de todas as provas desta natureza poder-se-á expressar,
filosoficamente, por uma fórmula silogística: «Se o nosso mundo é constituído por seres limitados e contingentes;
ora, não é possível que um mundo assim exista por si mesmo; logo, temos que
admitir um fundamento pelo qual tudo existe e que seja transcendente ao mundo».
As provas cosmológicas são importantes porque não é possível haver homem sem
mundo.
Seguindo o mesmo
esquema, as provas antropológicas da existência de Deus, também se podem
resumir ao seguinte silogismo: «Se quando
vivemos segundo a consciência moral, procuramos realizar o projeto radical, ou admitimos
o bem supremo, que é amor originário, ou procedemos de maneira desesperada;
ora, admitir este último seria o sem-sentido vital inadmissível; logo, podemos
e devemos admitir o bem-supremo, isto é, o amor-originário.»
Nas provas
antropológicas, verificamos que predominam as vivências de esperança, ou de
sentido, pois pretende-se chegar a Deus como a uma meta última de projeto do
homem, como garante da sua realidade. No fundo do argumento, está o desejo
estrutural ou radical metafísico do ser, significando que existe algo capaz de
satisfazer este desejo.
Os postulados ou
hipóteses do tipo metafísico, são exigidos pela radicalidade do próprio ser e a
que Kant chama “Fé Racional”. É uma fé enquanto se distingue do simples
raciocínio científico, e conserva sempre um certo sentido de Mistério, mas é
racional porque é metafisicamente exigível pela radicalidade do ser. Como
conclusão será possível, salvo melhor opinião, ficar-se com as seguintes
ideias:
1) Deus é um termo
religioso, porque se situa no âmbito sagrado, ao lado do Mistério e invocado
pela oração, resumindo-se na fórmula: “Mistério Agraciante”;
2) Razão Vital, que
constitui a ligação entre a Razão Científica das ciências empírico-positivas e
Razão Científica das ciências formais-abstratas, Razão que penetra a vida do
homem e se deixa penetrar por essa mesma vida, numa dinâmica vivencial;
3) Vivência ou Experiências
Vivenciais: a) “Vivências de Fundamento”, pelas quais o homem se alicerça a
determinados níveis, assumindo uma atitude religiosa de “espera de salvação”;
b) “Vivências de Esperança”, que dão ao homem o sentido da sua vida, que afeta
o seu projeto de autorrealização, e incute-lhe uma atitude religiosa de
adoração a um ser do qual se recebe existência;
4) Provas da Existência
de Deus: a) Cosmológicas, que partem da realidade mundana. No seu
desenvolvimento procuram aplicar o princípio metafísico da Razão Suficiente, ou
de que tudo tem que estar fundamentado, para se chegar a Deus; b)
Antropológicas, que partem das vivências humanas. Desenvolvem exigências das
próprias vivências de sentido, que são o desejo constitutivo de autorrealização
e adoração a um ser, do qual se recebe o ser existência.
Bibliografa
CAFFARENA, José Gómez, S.J. (1985). Lenguaje sobre Dios. Madrid: Fundación Santa María (págs
27-90)
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
E-mail: bartolo.profuniv@mail.pt
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)
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