domingo, 1 de julho de 2012

Linguagem Sobre Deus

O problema de Deus é um grande tema porque extenso, complexo, difícil e muito importante, na medida em que na história do Pensamento Ocidental, ao longo dos tempos, se tem encontrado expressões variadíssimas, opostas e até desdenhosas, relativamente à possibilidade de o homem conhecer Deus, ou pelo menos, provar a sua existência e, neste sentido, há os que afirmam ser impossível provar tal existência; e outros que defendem a viabilidade de se chegar a tais provas, e por conseguinte, a Deus.
Há quem afirme que «Deus é a chave da unidade na visão do mundo do crente monoteísta» e o próprio termo Deus é de natureza religiosa, não podendo ser apropriado pela Filosofia, embora contenha questões que interessem ou afetem o pensamento filosófico, porque o homem, na sua atividade religiosa, se carateriza por descobrir um âmbito sagrado, ao qual se refere com adoração e expetativa de salvação, remetendo para um ponto mais além de todas as manifestações simbólicas ou hierofanias.
Tal ponto é já o Mistério, o que é específico da religião monoteísta e para compreender a sua essência, teremos que colocar o seu Deus único ao lado do Mistério, invocando-se Aquele pelo diálogo da oração, e assim o Deus único do Mistério e o Deus invocado pela oração, resume-se na fórmula do Mistério Agraciante.
Neste primeiro raciocínio sobre Deus, parecem-me importantes as ideias definidoras do termo Deus como sendo de natureza religiosa e, por outro lado, que no âmbito do sagrado, se condense o Mistério Agraciante.
Importa, igualmente, destacar a aproximação dos dois termos básicos no desenvolvimento, e que são: a Razão e Deus, porque se Este, é um termo religioso; aquela, é a capacidade de recolher, ordenar e unificar a realidade, aparecendo Deus como princípio de toda a realidade.
Ora se a Razão tem capacidades tão profundas, é razoável que o homem, através dela, acredite na existência de Deus, na medida em que os seres humanos necessitam de sentido para as suas vidas, sentido que encontram acolhendo-se a uma outra visão do mundo, que dá consistência e unidade às suas condutas.
Mas a Razão que aqui se desenvolve, não é de natureza científica, do âmbito das ciências empírico-positivas e formais abstratas. A Razão que efetivamente nos impele para Deus é uma “Razão Vital”, que penetra a vida do homem e se deixa penetrar por essa mesma vida, é uma razão que supera o sentimento trágico, segundo o qual, Deus não se consegue pela razão científica positiva, o que faz sentir tragicamente o problema.
A Razão Vital é uma Razão Constitutiva do desejo do homem de ter uma certeza sobre a realidade, a partir da adaptação a essa mesma realidade. O homem deseja conhecer Deus, que é uma realidade que se prova a partir de raciocínios e experiências vivenciais. Destas vivências, duas respeitam, exclusivamente, ao homem, sendo designadas por: “Vivências de Fundamento e Vivências de Esperança” (cf. CAFFARENA:1985)
As Vivências de Fundamento, prendem-se com o facto de que tudo quanto o homem faz, fá-lo procurando fundamentar-se a determinados níveis. Assim, o homem encontra, ou não, o fundamento nos seus conhecimentos, no meio social em que se desenvolve, na sua capacidade a afrontar com êxito os desafios da vida. Tal fundamentação serve, também, para a necessidade de, filosoficamente, situar o problema de Deus como “O Ser Fundamental”
Quanto às vivências de esperança, elas dão-nos a vivência de sentido, numa esperança que é tanto mais afetante, quanto mais profundo é o projeto de autorrealização que somos, isto é, “Desejo Constitutivo”. Nesta estrutura vivencial e a este nível, o termo sentido é tirado da orientação espacial, e o ser é orientado pelas suas esperanças. O homem vive de esperanças, e tudo o que faz é com a esperança de obter algo. É neste núcleo vivencial que se situam as vivências morais, amorosas e de liberdade.
Se por um lado, as vivências de fundamento originam uma atitude de espera de salvação, consubstancial à atitude religiosa; por outro lado, as vivências de esperança, ou de sentido, possibilitam um relacionamento com a religião, na medida em que originam atitudes religiosas, tal como a adoração que consiste em viver-se como radicalmente fundamentado noutro ser, de quem se está recebendo o ser existência. É possível que as vivências religiosas tenham sido as mais originais ao longo da história humana.
O desenvolvimento racional em ordem a Deus, comporta duas categorias de provas, a saber: Provas Cosmológicas e Provas Antropológicas. Nas Provas Cosmológicas seguiram-se mais as vivências de fundamento, porque buscam a justificação de toda a realidade, e o argumento-síntese de todas as provas desta natureza poder-se-á expressar, filosoficamente, por uma fórmula silogística: «Se o nosso mundo é constituído por seres limitados e contingentes; ora, não é possível que um mundo assim exista por si mesmo; logo, temos que admitir um fundamento pelo qual tudo existe e que seja transcendente ao mundo». As provas cosmológicas são importantes porque não é possível haver homem sem mundo.
Seguindo o mesmo esquema, as provas antropológicas da existência de Deus, também se podem resumir ao seguinte silogismo: «Se quando vivemos segundo a consciência moral, procuramos realizar o projeto radical, ou admitimos o bem supremo, que é amor originário, ou procedemos de maneira desesperada; ora, admitir este último seria o sem-sentido vital inadmissível; logo, podemos e devemos admitir o bem-supremo, isto é, o amor-originário.»
Nas provas antropológicas, verificamos que predominam as vivências de esperança, ou de sentido, pois pretende-se chegar a Deus como a uma meta última de projeto do homem, como garante da sua realidade. No fundo do argumento, está o desejo estrutural ou radical metafísico do ser, significando que existe algo capaz de satisfazer este desejo.
Os postulados ou hipóteses do tipo metafísico, são exigidos pela radicalidade do próprio ser e a que Kant chama “Fé Racional”. É uma fé enquanto se distingue do simples raciocínio científico, e conserva sempre um certo sentido de Mistério, mas é racional porque é metafisicamente exigível pela radicalidade do ser. Como conclusão será possível, salvo melhor opinião, ficar-se com as seguintes ideias:
1) Deus é um termo religioso, porque se situa no âmbito sagrado, ao lado do Mistério e invocado pela oração, resumindo-se na fórmula: “Mistério Agraciante”;
2) Razão Vital, que constitui a ligação entre a Razão Científica das ciências empírico-positivas e Razão Científica das ciências formais-abstratas, Razão que penetra a vida do homem e se deixa penetrar por essa mesma vida, numa dinâmica vivencial;
3) Vivência ou Experiências Vivenciais: a) “Vivências de Fundamento”, pelas quais o homem se alicerça a determinados níveis, assumindo uma atitude religiosa de “espera de salvação”; b) “Vivências de Esperança”, que dão ao homem o sentido da sua vida, que afeta o seu projeto de autorrealização, e incute-lhe uma atitude religiosa de adoração a um ser do qual se recebe existência;
4) Provas da Existência de Deus: a) Cosmológicas, que partem da realidade mundana. No seu desenvolvimento procuram aplicar o princípio metafísico da Razão Suficiente, ou de que tudo tem que estar fundamentado, para se chegar a Deus; b) Antropológicas, que partem das vivências humanas. Desenvolvem exigências das próprias vivências de sentido, que são o desejo constitutivo de autorrealização e adoração a um ser, do qual se recebe o ser existência.

Bibliografa 

CAFFARENA, José Gómez, S.J. (1985). Lenguaje sobre Dios. Madrid: Fundación Santa María (págs 27-90)

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

Sem comentários: