domingo, 22 de novembro de 2015

Reconhecimento no Estado de Direito Democrático


Deparam-se, contemporaneamente, diversos, graves e complexos problemas sociais, originados em diferentes comunidades, em contextos naturais ou artificiais, com objetivos explícitos ou intencionalidades inconfessáveis e, quaisquer que sejam as áreas de intervenção: política, religiosa, ecológica, económica e financeira, a dimensão cultural está, intrinsecamente, mais ou menos envolvida, por isso não se deve estranhar este permanente confronto de culturas, tanto mais acentuado quanto mais o fator étnico-rácico se revela e interfere.
Na verdade, nunca como hoje se falou tanto em culturas, multiculturas, interculturas, de tal forma que se coloca a questão, cada vez com mais pertinência, se não se estará a caminhar para uma hibridação cultural, ou uma cultura transgénica, como quaisquer outros produtos do campo alimentar e biológico?
Deverá a cultura ser manipulada até ao radicalismo etnocêntrico? Ou, pelo contrário, porque não se caminha no sentido do reconhecimento cultural, sem lutas, sem supremacias, sem exclusivismos? Ou, ainda, tendo em conta que devido ao sonho totalitário da pureza étnica – na raiz de reiterados e alegados crimes de Estado, conforme os que se teriam vivido no séc. XX – porque não se aceita que as sociedades culturais se venham afirmando pela tal hibridação de culturas, decorrente, entre outros fatores, da generosa mistura de gentes?
A policromia cultural avança, portanto, contra a autocracia do Estado, para diluir a autoridade de homogeneidade, ultrapassar a conceção de uma cultura oficial que, subtilmente, controla o acesso à cidadania, e aceita como inevitáveis a diversidade e a necessidade de construir uma nova ordem paradigmática, respeitadora do pluralismo cultural.
E se é certo que alguns governos vivem preocupados porque a democracia revela fragilidades, entre as quais se destaca a popularidade de novos grupos políticos e ideologias diferentes, não é menos verdade que a coesão social se vê afetada pelos confrontos étnicos, religiosos, linguísticos ou culturais: Palestina-Israel, Rússia-Ucrânia, Síria, Bascos-Espanha, enfim, um pouco por todo o mundo, os conflitos vão surgindo, as dificuldades para os resolver não param de aumentar: o recurso à agressão deixou de poder passar incólume, perante a mediatização da informação e a proliferação de uma cultura de cidadania universal e de direitos humanos que não se intimida nas fronteiras físicas e políticas.
O fenómeno cultural não está, por enquanto, suficientemente estudado e aprofundado, muito embora exista uma crescente consciencialização, designadamente nos Estados Democráticos, para uma apologia de tolerância cultural, no sentido de se aceitar uma interrelação cultural dos povos que, no seu início, pode fomentar atitudes e reflexões sobre a importância das diferenças, e a correlativa indispensabilidade do reconhecimento das diversas culturas.
A hibridação cultural, a partir dos movimentos migratórios, pode ser uma boa solução para atenuar conflitos, quer através da convivência interpessoal quotidiana, quer pelo relacionamento laboral, quer pela união matrimonial: «c) o apoio a famílias híbridas: no quadro mais vasto de uma política do incentivo à instituição familiar importará reconhecer a especificidade das famílias mistas e o seu relevante papel como instâncias de socialização dos diferentes para a paz e para a pacificação (...)» (CARNEIRO, 1999:43-48).

Bibliografia 

CARNEIRO, Roberto, (1999). “Choque de Culturas ou Hibridação Cultural”, in Nova Cidadania, S. João do Estoril/Lisboa: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, (2), pp. 43-52.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Telefone: 00351 936 400 689
 
Imprensa Escrita Local:
 
Jornal: “O Caminhense”
Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

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