A estruturação da sociedade envolve várias
vertentes e, em todas elas, a componente humana vai estando presente, seja de
forma direta e/ou indireta. Não é despiciendo considerar que a pessoa humana,
verdadeiramente assumida, e considerada como tal, é o motor de toda a
organização societária, na medida em que sem a sua intervenção, possivelmente,
apenas a natureza, respeitando os seus ciclos, cumpriria as respetivas funções,
e o mundo não teria evoluído até ao ponto em que hoje é conhecido, com todas as
suas grandezas e misérias que, afinal, constituem os dois extremos, a partir
dos quais se procura, incessantemente, o equilíbrio que se deseja cada vez mais
estável.
A intervenção humana, praticamente em todas as
áreas que lhe são conhecidas, ou sob investigação, tem sido notável, para o bem
e para o mal, todavia, e pelo menos, verifica-se que, ao longo dos milénios,
tem havido uma evolução cada vez mais acelerada, de tal forma que, atualmente,
é impossível acompanhar-se, em simultâneo, o avanço da ciência e da técnica. O
ser humano, seguramente, está dotado de capacidades que ele próprio, também e
ainda desconhece, bem como a diversidade de situações em que é capaz de
intervir, e que é incomensurável.
Mas se organizar e gerir certas conjunturas, lhe
está relativamente acessível, e até consegue, com mais ou menos sucesso,
nomeadamente, a modificação de parte da natureza, outro tanto não alcança, em
pleno, quando a intervenção tem por objeto as pessoas, seja qual for o contexto
em que estas se encontrem: familiar, profissional, social, político, religioso,
económico, empresarial, porque não é possível a experimentação absoluta, das
pessoas, em laboratório, e muito mais difícil estabelecer leis científicas e
universais, para certos comportamentos humanos.
A sociedade, através dos seus atores, e dos
instrumentos que são adequados às mais diversas situações, naturalmente, que se
vai organizando com a busca ininterrupta dos equilíbrios necessários, a fim de
ser possível chegar-se ao bem-comum, à paz e à felicidade. Por isso a
elaboração, a aplicação e controlo de regras, em todos os domínios, é
essencial. Gerir pessoas, é uma ciência e uma arte, que não está acessível a
qualquer cidadão, independentemente da sua vontade e recursos disponíveis.
Ninguém ignora que o capital humano, em qualquer organização: da família à
empresa, passando pela sociedade na sua imensa diversidade, é o bem mais
valioso que existe no mundo.
A sociedade de hoje está organizada em múltiplos e
complementares setores de atividade, logo, nesse sentido, toda a pessoa tem
capacidades para dar o seu melhor, num determinado contexto de intervenção: «As capacidades das pessoas são geralmente
consideradas no âmbito das suas funções, havendo pouco conhecimento daquilo que
um indivíduo é capaz de fazer fora do seu departamento ou seção. Assim se
desperdiçam competências disseminadas pela organização, se desmotivam as
pessoas, se perdem oportunidades de negócio e se desperdiça potencial
competitivo.» (CUNHA, et. al., 2010:64)
O que se aplica às empresas públicas e privadas,
pode-se, muito bem, adotar para a sociedade em geral, obviamente, com as
devidas adaptações, na medida em que esta é composta, precisamente, por
indivíduos, inseridos numa qualquer instituição ou, provisoriamente, num
determinado contexto ou, ainda, numa situação específica, porém, sempre dotado
de capacidades diversas, evidentemente, enquanto detentor das respetivas
faculdades, conhecimentos e práticas. Por isso, todas as pessoas são
necessárias e valiosas.
Educar e formar uma pessoa, nas suas diversas dimensões, é uma tarefa
que envolve meios complexos e avultados, qualitativa e quantitativamente
considerados. Preparar a pessoa, verdadeiramente humana, para intervir em
várias frentes: família, sociedade, profissão, instituições culturais, desportivas,
religiosas e de lazer, com sentido responsável e cívico, implica, por sua vez,
um conjunto de recursos materiais e humanos que devem ser disponibilizados pelo
Estado Democrático de Direito e também com grande envolvimento das próprias
pessoas.
Pese embora um conjunto de grandes dificuldades que atravessa todas as
sociedades de diferentes naturezas: familiar, económica, laboral política e
axiológica, a verdade é que a gestão das capacidades positivas, individual e/ou
grupalmente consideradas, não estarão a ser usufruídas, optando-se,
provavelmente, (mal) por se ignorar estes fatores de desenvolvimento do país,
apelando-se à saída da pátria, ou então a enviá-las para uma existência de ócio
e inutilidade social, o que até constitui uma grande ofensa a quem deseja
colaborar na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos duma determinada
sociedade.
O desperdício que resulta da inatividade dos
cidadãos, e do conformismo perante a adversidade, constitui, por si só, uma
perigosa descrença quanto à possibilidade que realmente existe de um futuro
melhor. O exercício de valores, atualmente tão esquecidos, ajuda a vencer as
dificuldades em que o mundo se encontra. É fundamental acreditar-se de que se
pode vencer, com estudo, trabalho, poupança, investimento e boas-práticas
cívicas.
Na verdade, e a título de estímulo, pode-se
afirmar, sem vergonha que: «A sociedade,
entendida como sentimento de fraternidade, de adesão, de fidelidade e de
compreensão que nos impele a cuidar, apoiar, animar mutuamente, é uma força
natural que incute confiança, segurança, esperança e fomenta uma perspetiva
mais comunitária do mundo, menos individualista.» (MARCOS, 2011:122)
A gestão do capital humano, seja em que âmbito for,
não pode visar, exclusivamente, resultados materiais quantificáveis numa
determinada unidade monetária mas, paralelamente, haver uma forte preocupação
pela realização pessoal de cada pessoa, pelo seu próprio bem-estar e da família, profissional, económico, social e por
uma interiorização do valor espiritual que cada uma transporte consigo mesma,
enfim, por uma convicção bem consolidada da importância e insubstituabilidade
de cada ser humano. Princípios e valores, não se negoceiam. A felicidade não se
mede, sente-se, vive-se e transmite-se solidariamente.
Atualmente, terceira década do século XXI, não
poderá haver mais lugar para a desordem, para o divisionismo do capital humano,
que é o mesmo que dizer, colocar pessoas contra pessoas, porque os resultados
familiares, sociais, políticos, económicos, religiosos e empresariais são,
seguramente, desastrosos e, eventualmente, definitivos, deixando feridas
insanáveis, que jamais deixarão de sangrar e doer.
Uma boa gestão do capital humano, em todos os
contextos da intervenção da pessoa, passa pela conjugação de todas as
sinergias, pela educação e formação, por objetivos bem claros e, previamente,
definidos, sempre reiterados, no caminho que conduz à realização suprema de
cada pessoa em particular, e da sociedade global em geral. Numa sociedade que,
maioritariamente, busca o gozo dos mais elevados valores, gerir este
valiosíssimo património humano é fundamental, para que, pelo menos, as próximas
gerações tenham uma vida digna.
Superintender este capital humano deve conduzir,
entre outros, a valores universais que se dirijam à paz e à felicidade. Mas governar
este capital passa, em primeiro lugar, por cada pessoa, porque tem de ser ela a
gerir-se a si própria, obviamente, com as regras societárias que estão
estabelecidas e sevem aqueles valores, a outros que enaltecem a dignidade
humana, seria demasiado irresponsável: exigir aos outros o que em primeira
instância pertence ao próprio; ou seja, cada pessoa deverá ser um bom exemplo
para outra e assim sucessivamente.
A interiorização de valores altruístas e a sua
prática começa por ser da livre vontade de cada pessoa de bem, porque: «Se nós transformarmos a nossa consciência
individual começaremos o processo de mudança da consciência coletiva.
Transformar a consciência do mundo não é possível sem a mudança pessoal. O
coletivo é feito de indivíduos, o indivíduo é feito do coletivo, e todo e cada
indivíduo tem um efeito direto na consciência coletiva.» (HANH, 2004:60)
Bibliografia
CUNHA, Miguel
Pina e, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª
Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz.
Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder
da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com
o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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