domingo, 15 de março de 2020

Cidadão Ideal Universal


O homem-cidadão é, não só o problema, mas, com boa vontade e determinação, a solução do problema. Contribuir para a resolução do problema, corresponde a dotar o homem de novas competências sociais e cívicas, educá-lo, formá-lo e capacitá-lo para uma nova atitude face à vida, aos homens e ao mundo.
Nesse sentido, o pólo de desenvolvimento, e fio condutor da presente reflexão, sustentam-se neste novo homem, valorizado pela cultura lusófona e pelos valores universais, circunscritos pela Educação, pela Formação, pela Filosofia, pelo Direito e pela Religião que, interdisciplinarmente, com as ciências cognitivas, sociais, humanas e da educação, proporcionarão um vasto conjunto de saberes que este novo cidadão interiorizará e colocará em prática.
Tentar formar o cidadão ideal universal, seria uma utopia que, na realidade, muito dificilmente se concretizaria, no curto prazo. Mas desenvolver um esforço para, no espaço mais restrito, a que corresponde, também, uma área geográfica - Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa -, a que também se juntou a Guiné Equatorial, (esta, apesar, de não ter o português como língua oficial) justifica-se plenamente e poderá ser um bom início.
A situação que hoje se vive, (2020), um pouco por todo mundo, em grande parte por falta de alguma preparação cívica do homem e que é o grande problema do momento, poderá começar a ser atenuada, precisamente, pelo processo educativo e formativo para a cidadania construtiva e responsável, originando um novo cidadão, que será o objetivo da presente cogitação que, tanto quanto se sabe, tem algo de inédito, pelo menos na conjugação de elementos intervenientes, quanto ao reconhecimento da situação, e na busca da solução que se julga razoavelmente adequada.
Assumir a cidadania plena, em qualquer parte do mundo, em geral, e no próprio espaço, já referido, em particular, postula um conjunto de requisitos institucionais e também uma capacidade multifacetada, para colocar ao serviço da sociedade todas as potencialidades do cidadão, enquanto tal considerado. Igualmente fundamental é a sensibilidade com que cada pessoa se deve munir para poder enfrentar as mais difíceis e diversas situações.
O mundo vive um período crítico no que concerne aos valores que enobrecem a pessoa humana; os países, isoladamente considerados, confrontam-se, diariamente, com problemas complexos que, quando não são resolvidos com reflexão, com bom senso, conhecimentos e empenhamento, conduzem a situações perigosas, de autêntica violação dos mais elementares direitos humanos.
Aliás, mesmo nos pequenos países, onde a alegada tradição de “brandos costumes”, constituía um motivo de orgulho, verifica-se, neste primeiro quarto deste novo século XXI, que a tranquilidade e o respeito pelo outro estão a tornar-se numa utopia.
Portugal tem atravessado, desde o início do século XXI, períodos sociais, culturais, económicos e de segurança muito difíceis: pedofilia, desemprego, exclusão social, droga, toxicodependência, prostituição, violações, falências, fraudes, roubos, assaltos, pobreza, fome, maus-tratos a menores e a mulheres, são algumas das “doenças” mais profundas que atingem o país.
E no Brasil, bem como nos restantes países lusófonos, a situação não será muito diferente. Dir-se-ía que estas são algumas das razões que motivam para um trabalho árduo e prolongado, que impõem o dever de o realizar para, por esta via, todos contribuírem, ainda que modestamente, para uma nova tentativa de se ajudar a formar um outro cidadão, para uma cidadania cada vez mais ameaçada, desde logo a partir da família, origem da vida e da sociedade.
Isto mesmo é confirmado por Sua Santidade: «A crise da família torna-se, por sua vez, causa da crise da sociedade. Numerosos fenómenos patológicos – indo da solidão à violência e à droga – explicam-se igualmente pelo facto de os núcleos familiares terem perdido sua identidade e sua função. Onde se desagrega a família, tende a desaparecer o entrelaçamento unitivo da sociedade, com desastrosas consequências para as pessoas, em particular as mais frágeis.» (PAULO II, 1999b: 8).
Independentemente da posição individual, toda a humanidade deve assumir uma nova postura, para que se avance na busca de soluções, novos projetos que possibilitem debelar as situações mais desumanas existentes no mundo. É necessário que os povos intervenham nas suas comunidades para se poder alcançar o sucesso.
Tal como noutras áreas, também neste domínio existem bons técnicos, bons cientistas, bons cidadãos, capazes de concorrer, com quaisquer outros especialistas e ganhar prémios nacionais e internacionais, em vários campos do saber. A grandeza está em reconhecer-se as fragilidades e os erros, assumi-los e resolvê-los.
O cidadão que se pretende para estes novos século e milénio, vai constituir a prova do que se acaba de afirmar. Com a preparação que irá receber, pela via da educação e formação da melhor qualidade, certamente que em duas ou três gerações, o mundo poderá ser bem diferente e para melhor.
A complexidade social que vem afetando pessoas, famílias, comunidades, sociedades, nações inteiras, continentes e o mundo, obriga a uma paragem na caminhada para o sucesso material, na satisfação dos egoísmos mais absurdos, para se pensar um pouco sobre o que cada um é, o que quer, e como deve prosseguir para alcançar objetivos mais razoáveis, mais nobres, mais humanos.
É fundamental ter-se a noção de que não se pode conduzir a humanidade para o apogeu do irracional, do horror e do holocausto. Impõe-se, não um, mas muitos apelos à paz, a todos os níveis e em todos os sentidos, em todos os momentos da vida. Vamos todos dar tolerância zero à fome, à guerra e à exclusão.
Neste contexto, é indispensável que cada pessoa possa contribuir com a sua pequenina quota-parte, para suavizar as situações mais degradantes, e conduzir o homem à sua nobre e mais sublime função que se realiza no bem-comum, pelo trabalho, pelo estudo, pela investigação, pelo exemplo. Que cada um possa ser modelo, paradigma, perfecionista, uma referência, um caminho, um farol e um processo para o bem. Todos serão poucos para empreender este longo e difícil percurso.
Os conhecimentos, as experiências e as vontades, nunca serão demais para vencer esta grande guerra em que os homens estão envolvidos e a sofrer as suas consequências. Basta de abusos, de arrogância, de prepotências, de discriminações, a todos os títulos: sociais, económicas, laborais, religiosas, educacionais e em tantos outros domínios.
A esmagadora maioria das circunstâncias desfavoráveis, com que as pessoas e as famílias se deparam, no seu dia-a-dia, convergem para uma nova situação, que vem aumentando diariamente e que, modernamente, se denomina por “exclusão”, sob as muitas e diversas formas, algumas delas, mais ou menos camufladas: política, social, religiosa, económica, profissional, educacional, habitacional, cuidados de saúde e muitas outras. Justificações para a exclusão, seja ela qual for, certamente que existem e há quem defenda que a globalização será uma delas:
Com efeito: «Este fenómeno está directamente relacionado com o processo de globalização, com mudanças estruturais que vão ocorrendo na sociedade e que permitem uma constante mutação, conduzindo ao aparecimento de novas formas de exclusão. (...). Sendo um fenómeno multidimensional poderá apresentar-se de forma diferente de caso para caso. Este processo poderá conduzir o indivíduo à exclusão face ao grupo, ao trabalho, à escola, à família, e num momento mais distante, excluído face à sociedade.» (AVEIRO, 2003:6).

Bibliografia

AVEIRO, Ana, (2003). “Exclusão Social: Fenómenos e fatores, in: Revista Samaritanos, Vila Nova de Gaia: Samaritanos-Missão de Caridade, Nº 4.
PAULO II, João, (1999b). Audiência Geral 01/12/1999, in: Revista Arautos do Evangelho, São Paulo: Associação Arautos do Evangelho, Ano II, (22), outubro-2003, pp.6-11

Venade/Caminha – Portugal, 2020

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Sem comentários: