O homem-cidadão é, não só o problema, mas, com boa
vontade e determinação, a solução do problema. Contribuir para a resolução do
problema, corresponde a dotar o homem de novas competências sociais e cívicas,
educá-lo, formá-lo e capacitá-lo para uma nova atitude face à vida, aos homens
e ao mundo.
Nesse sentido, o pólo de desenvolvimento, e fio
condutor da presente reflexão, sustentam-se neste novo homem, valorizado pela
cultura lusófona e pelos valores universais, circunscritos pela Educação, pela
Formação, pela Filosofia, pelo Direito e pela Religião que, interdisciplinarmente,
com as ciências cognitivas, sociais, humanas e da educação, proporcionarão um
vasto conjunto de saberes que este novo cidadão interiorizará e colocará em prática.
Tentar formar o cidadão ideal universal, seria uma
utopia que, na realidade, muito dificilmente se concretizaria, no curto prazo.
Mas desenvolver um esforço para, no espaço mais restrito, a que corresponde,
também, uma área geográfica - Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa -, a
que também se juntou a Guiné Equatorial, (esta, apesar, de não ter o português como
língua oficial) justifica-se plenamente e poderá ser um bom início.
A situação que hoje se vive, (2020), um pouco por
todo mundo, em grande parte por falta de alguma preparação cívica do homem e que
é o grande problema do momento, poderá começar a ser atenuada, precisamente,
pelo processo educativo e formativo para a cidadania construtiva e responsável,
originando um novo cidadão, que será o objetivo da presente cogitação que,
tanto quanto se sabe, tem algo de inédito, pelo menos na conjugação de
elementos intervenientes, quanto ao reconhecimento da situação, e na busca da
solução que se julga razoavelmente adequada.
Assumir a cidadania plena, em qualquer parte do
mundo, em geral, e no próprio espaço, já referido, em particular, postula um
conjunto de requisitos institucionais e também uma capacidade multifacetada,
para colocar ao serviço da sociedade todas as potencialidades do cidadão,
enquanto tal considerado. Igualmente fundamental é a sensibilidade com que cada
pessoa se deve munir para poder enfrentar as mais difíceis e diversas
situações.
O mundo vive um período crítico no que concerne aos
valores que enobrecem a pessoa humana; os países, isoladamente considerados,
confrontam-se, diariamente, com problemas complexos que, quando não são
resolvidos com reflexão, com bom senso, conhecimentos e empenhamento, conduzem
a situações perigosas, de autêntica violação dos mais elementares direitos
humanos.
Aliás, mesmo nos pequenos países, onde a alegada
tradição de “brandos costumes”, constituía um motivo de orgulho,
verifica-se, neste primeiro quarto deste novo século XXI, que a tranquilidade e
o respeito pelo outro estão a tornar-se numa utopia.
Portugal tem atravessado, desde o início do século
XXI, períodos sociais, culturais, económicos e de segurança muito difíceis:
pedofilia, desemprego, exclusão social, droga, toxicodependência, prostituição,
violações, falências, fraudes, roubos, assaltos, pobreza, fome, maus-tratos a
menores e a mulheres, são algumas das “doenças”
mais profundas que atingem o país.
E no Brasil, bem como nos restantes países
lusófonos, a situação não será muito diferente. Dir-se-ía que estas são algumas
das razões que motivam para um trabalho árduo e prolongado, que impõem o dever
de o realizar para, por esta via, todos contribuírem, ainda que modestamente,
para uma nova tentativa de se ajudar a formar um outro cidadão, para uma
cidadania cada vez mais ameaçada, desde logo a partir da família, origem da
vida e da sociedade.
Isto mesmo é confirmado por Sua Santidade: «A
crise da família torna-se, por sua vez, causa da crise da sociedade. Numerosos
fenómenos patológicos – indo da solidão à violência e à droga – explicam-se
igualmente pelo facto de os núcleos familiares terem perdido sua identidade e
sua função. Onde se desagrega a família, tende a desaparecer o entrelaçamento
unitivo da sociedade, com desastrosas consequências para as pessoas, em particular
as mais frágeis.» (PAULO II,
1999b: 8).
Independentemente
da posição individual, toda a humanidade deve assumir uma nova postura, para
que se avance na busca de soluções, novos projetos que possibilitem debelar as
situações mais desumanas existentes no mundo. É necessário que os povos
intervenham nas suas comunidades para se poder alcançar o sucesso.
Tal como
noutras áreas, também neste domínio existem bons técnicos, bons cientistas,
bons cidadãos, capazes de concorrer, com quaisquer outros especialistas e
ganhar prémios nacionais e internacionais, em vários campos do saber. A
grandeza está em reconhecer-se as fragilidades e os erros, assumi-los e
resolvê-los.
O
cidadão que se pretende para estes novos século e milénio, vai constituir a
prova do que se acaba de afirmar. Com a preparação que irá receber, pela via da
educação e formação da melhor qualidade, certamente que em duas ou três gerações,
o mundo poderá ser bem diferente e para melhor.
A
complexidade social que vem afetando pessoas, famílias, comunidades,
sociedades, nações inteiras, continentes e o mundo, obriga a uma paragem na
caminhada para o sucesso material, na satisfação dos egoísmos mais absurdos,
para se pensar um pouco sobre o que cada um é, o que quer, e como deve
prosseguir para alcançar objetivos mais razoáveis, mais nobres, mais humanos.
É
fundamental ter-se a noção de que não se pode conduzir a humanidade para o
apogeu do irracional, do horror e do holocausto. Impõe-se, não um, mas muitos
apelos à paz, a todos os níveis e em todos os sentidos, em todos os momentos da
vida. Vamos todos dar tolerância zero à fome, à guerra e à exclusão.
Neste
contexto, é indispensável que cada pessoa possa contribuir com a sua pequenina
quota-parte, para suavizar as situações mais degradantes, e conduzir o homem à
sua nobre e mais sublime função que se realiza no bem-comum, pelo trabalho,
pelo estudo, pela investigação, pelo exemplo. Que cada um possa ser modelo,
paradigma, perfecionista, uma referência, um caminho, um farol e um processo
para o bem. Todos serão poucos para empreender este longo e difícil percurso.
Os conhecimentos, as experiências e as vontades,
nunca serão demais para vencer esta grande guerra em que os homens estão
envolvidos e a sofrer as suas consequências. Basta de abusos, de arrogância, de
prepotências, de discriminações, a todos os títulos: sociais, económicas,
laborais, religiosas, educacionais e em tantos outros domínios.
A esmagadora maioria das circunstâncias
desfavoráveis, com que as pessoas e as famílias se deparam, no seu dia-a-dia,
convergem para uma nova situação, que vem aumentando diariamente e que,
modernamente, se denomina por “exclusão”, sob as muitas e diversas formas, algumas
delas, mais ou menos camufladas: política, social, religiosa, económica,
profissional, educacional, habitacional, cuidados de saúde e muitas outras.
Justificações para a exclusão, seja ela qual for, certamente que existem e há
quem defenda que a globalização será uma delas:
Com efeito: «Este fenómeno está directamente
relacionado com o processo de globalização, com mudanças estruturais que vão
ocorrendo na sociedade e que permitem uma constante mutação, conduzindo ao
aparecimento de novas formas de exclusão. (...). Sendo um fenómeno
multidimensional poderá apresentar-se de forma diferente de caso para caso.
Este processo poderá conduzir o indivíduo à exclusão face ao grupo, ao
trabalho, à escola, à família, e num momento mais distante, excluído face à
sociedade.» (AVEIRO, 2003:6).
Bibliografia
AVEIRO, Ana, (2003). “Exclusão Social: Fenómenos e fatores, in: Revista Samaritanos, Vila Nova de Gaia:
Samaritanos-Missão de Caridade, Nº 4.
PAULO II, João, (1999b). Audiência Geral 01/12/1999, in: Revista Arautos do Evangelho, São Paulo:
Associação Arautos do Evangelho, Ano II, (22), outubro-2003, pp.6-11
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com
o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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