Numa sociedade, ainda,
fortemente, masculinizada, a situação da mulher não alcançou o lugar que por
direito, e por mérito próprio, lhe pertence, pesem, embora, alguns avanços que
no último século se verificaram e, principalmente, a partir da segunda metade
do século XX, com a implementação de vários documentos oficiais, a nível
mundial.
Erroneamente, há quem
coloque em causa as faculdades intelectuais e as capacidades de trabalho da
mulher, quando, em boa verdade, são muitos os exemplos de que ela estará
preparada para desempenhar, praticamente, todas as atividades que o homem
desenvolve, podendo-se excluir uma ou outra que, eventualmente, postula
características masculinas de difícil substituição. Mas o contrário também é
verdade: o homem não realizará certas tarefas, experimentalmente exclusivas da
mulher, todavia, em termos gerais, pensa-se que homem e mulher se complementam,
perfeitamente, sem que haja superioridade de um em relação à outra.
A mentalidade, segundo a
qual, existe uma certa inferiorização da mulher, acredita-se que não será da
responsabilidade exclusiva da sociedade, no seu todo, e do homem em particular,
porque também cabe à população feminina lutar pelos seus legítimos interesses,
pela igualdade de oportunidades e pelo reconhecimento da sua
insubstituabilidade, porque a discriminação negativa, contra a mulher, revelará
sempre um profundo atraso cultural.
A sociedade, ao que tudo
indica, maioritariamente constituída por mulheres, em muitos países, ditos
civilizados, não tem o direito de subjugar a mulher porque: «O certo é que até hoje as possibilidades da
mulher foram suprimidas e perdidas para a humanidade, e que já é mais do que
hora de se permitir que ela se arrisque em seu próprio interesse e no interesse
de todos.» (Simone de Beauvoir, in: LOBOS, 2003:5).
Importa, por isso,
refletir, neste trabalho, sobre a integração plena da mulher em todos os
setores de atividade, onde ela se sinta útil à sociedade e realizada, porque os
requisitos essenciais, seguramente, não lhe faltam: seja para assumir
responsabilidades ao mais alto nível de qualquer instituição; seja para
posições modestas, tal como já acontece com os homens.
A sensibilidade feminina,
em muitas atividades, provavelmente, será uma mais-valia inestimável, em
relação aos homens, o que lhes confere, a elas, mulheres, uma posição nobre,
difícil de igualar ou ultrapassar, por isso, quando surgem as oportunidades, os
empregadores deverão ter em conta essa e outras circunstâncias, em vez de se
preocuparem com aspetos, que são mais do foro íntimo, da vida privada da
concorrente.
Eliminar uma candidata a
um emprego, só porque ela pretende constituir, e/ou ampliar família,
desenvolver outros projetos, por exemplo: casar, ter filhos ou estudar, poderá
configurar uma mentalidade retrógrada, em que interesses meramente materiais,
e/ou atitudes preconceituosas, se sobrepõem a outras possibilidades bem mais
interessantes, para a instituição, caso aquela mulher viesse a ser admitida.
E se para o trabalho a
mulher deve ser cada vez mais solicitada, também para outras tarefas,
nomeadamente de voluntariado, o seu apoio é impagável, e a verdade é que tem-se
conhecimento que, na esmagadora maioria das instituições, elas estão presentes,
desenvolvem funções altamente meritórias, eficazes e com grande espírito de
missão. A presença das mulheres em atividades sociais, é já um dado adquirido
incontestável.
Voltando ao trabalho nas
diversas organizações públicas e privadas, em muitas delas, cinquenta por cento
das mulheres já atingiram lugares de executivas de topo, por mérito próprio, e
sem quaisquer influências “estranhas”
às suas funções e muito menos por alegadas “simpatias”
ou “favores”. Também se sabe que a
mulher quando decide colocar a sua carreira profissional à frente de outras
situações, incluindo a família, então o sucesso é, praticamente, garantido, no
entanto, na maioria das situações, a família continua a ser o seu baluarte
defensivo.
A sociedade, em que
homens e mulheres se movimentam, possivelmente, começa a compreender as
virtualidades da mulher, em quaisquer contextos e, nesse sentido, a abertura
para a sua integração total, e irreversível, é já um facto consumado, por isso,
de nada valerá, algumas resistências masculinas absurdas, para a excluir desta
ou daquela intervenção, salvo motivos justificáveis e aceites pela comunidade,
e por ela própria, enquanto mulher de deveres e direitos.
O que atualmente, e
também para o futuro, se deseja é uma mulher do lado do homem: nem à frente,
nem atrás, mas sim ao lado, uma mulher complemento do homem, mas que também é
complementada por ele. Uma mulher que, lado a lado com o homem, contribua para
uma sociedade melhor.
Que alguém possa ter o
preconceito de que há pessoas “ideais”,
deve-se respeitar, concordando-se, ou não, mas ter a noção, segundo a qual, existe
a mulher ou o homem perfeito, talvez seja uma opção, mas deve-se recusar tal
afirmação, porque na verdade a perfeição pura, e outros qualificativos
soberanos, encontram-se ao nível dos absolutos, e estes transcendem o ser humano.
Aceitar que no universo
humano as pessoas são todas diferentes, que nenhuma é perfeita em coisa alguma,
mas que poderá haver quem reúna melhores condições, em diversos domínios, tal
já é possível, independentemente de quaisquer estatutos, orientações, género, raça,
idade e origem. Nesta perspectiva é que se pode conceber a mulher que: a
sociedade em geral; e o homem em particular, mais desejam.
O relacionamento entre
homens e mulheres, no local de trabalho não tem de ser, necessariamente,
conflituoso, pelo contrário: desde que o respeito exista; o espírito de
colaboração esteja presente; e haja a adequada adaptação ao posto de trabalho,
tudo funcionará corretamente. Não deveria subsistir, para o homem, nenhum
complexo de inferioridade, quando o seu superior hierárquico é uma mulher, até
porque: «A liderança feminina é fácil,
clara e objetiva; liderança masculina é difícil, não é clara e muitas vezes não
é objetiva. Mulheres seguras são grandes líderes.» (Rita Buri, in: LOBOS,
2003:153).
A opinião acima transcrita,
certamente, que não será partilhada por uma faixa de homens imbuídos, ainda, de
uma mentalidade poderosamente masculinizada, ou mesmo machista, mas a verdade é
que no mundo empresarial, e também no setor público, já se detetam mudanças
profundas, no sentido de promover a mulher aos lugares superiores que, tal como
os homens, a eles têm direito.
A ascensão da mulher
nesta sociedade, em permanente evolução, é já um fenómeno irreversível. Com
efeito: «No século XXI, o sucesso
profissional irá requerer destreza para lidar com a ambiguidade, gerenciar
tarefas múltiplas ao mesmo tempo, e construir redes de suporte tanto no
trabalho como na comunidade. As mulheres parecem adaptarem-se melhor, enfim, às
carreiras do futuro.» (Morrison, et. al., in: LOBOS, 2003:205).
Apesar da evolução
positiva que se vem verificando, em relação à mulher, a verdade é que o homem
tem, igualmente, o seu papel de destaque, ao lado da mulher e, nestas
circunstâncias, é fundamental partilhar o que uma e outro possuem de melhor, jamais
desencadear quaisquer tentativas de rivalidades, ou de supremacias, porque o
que, inequivocamente, a História da Humanidade nos prova é que: é impossível ao
homem viver sem a mulher; é impensável a mulher existir sem o homem.
Compatibilizar sinergias,
femininas e masculinas, tanto quanto possível, em projetos ecléticos, ainda
assim parece ser uma nova estratégia a adotar-se, aliás, é isso mesmo que se
pretende da nova mulher deste século XXI, deseja-se uma mulher profissional,
companheira e mãe, papeis que, querendo, só ela tem faculdades para desempenhar
muito bem.
Se se analisar bem, do
ponto de vista sociológico, rapidamente se pode concluir que ela, a mulher, é
insubstituível, designadamente na sua função mais nobre e sublime que é a
maternidade. Selma Santa Cruz, afirma o seguinte: «Acredito que nós mulheres temos uma grande, imbatível, intransferível
e deliciosa vantagem competitiva: a maternidade. Afinal, ser mãe é um exercício
permanente de construir tirando o melhor de cada situação.» (Cf. in: LOBOS,
2003:208).
Entretanto, se se abordar
a intervenção profissional da mulher, no domínio ético, também aqui poderá
haver agradáveis surpresas porque: «As
mulheres percebem nitidamente o que é correto – e o correto é seguir as regras.
A menos, claro, que as regras estejam equivocadas. (…). Justamente porque as
mulheres percebem com clareza o que é correto, elas não reconhecem a existência
de várias éticas, mas de uma só. A ética da felicidade sobrepõe-se à da razão.»
(LOBOS, 2003:179).
A colocação da mulher ao
nível do homem, constitui um imperativo categórico, que deve entrar para a “agenda” dos deveres e direitos humanos,
de facto, e não apenas em teorias legislativas. A mulher é parte integrante e
insubstituível da humanidade, portanto, cabe a todas as instâncias, de todos os
poderes, contribuir para que este desiderato se concretize, o mais rapidamente
possível, até porque, pensa-se que, cada vez mais, existirá uma maioria
masculina que deseja ter a seu lado, em todas as circunstâncias da vida, uma
mulher profissional, companheira e mãe. Quando isto acontecer, certamente, as
famílias se tornarão mais sólidas, mais felizes e não haverá tantas separações.
Estaremos, então, perante a mulher que se deseja.
Bibliografia.
LOBOS, Júlio,
(2003). Amélia, Adeus. São Paulo: Instituto da Qualidade.
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com
o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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