domingo, 28 de fevereiro de 2021

Estruturalismo da Linguística

É bem sabido que até SAUSSURE (Ferdinand de SAUSSURE 1857-1913 foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autónoma), foram seguidos os postulados platónicos, privilegiando-se o sentido, e omitindo-se o significado na organização da linguagem.

A palavra era um símbolo conceptual, mas Saussure deu notável destaque à forma do signo, abrindo a investigação para o estudo do significante e, simultaneamente, a análise realmente sintática (relações formais) da linguagem, porque o que carateriza uma língua, são as relações que se desenvolvem entre os seus elementos, na medida em que a língua é um sistema de sinais, interdependentes entre si.

A língua é uma doutrina na qual os diferentes signos tomam posição, uns em relação aos outros, e o valor de um signo deriva da sua posição, porque a língua passa de uma posição diacrónica (evolução), para uma determinante sincrónica (relações existentes num dado momento entre os elementos da língua).

Os diferentes signos que estabelecem entre si uma dependência lógica vão formar as denominadas relações de paradigma, ou de sistema e: «… qualquer enunciado é, portanto, compreensível por meio deste jogo de sintagma e de sistema.» FAGES, 1976:33).

A influência Saussuriana, através das diversas conceções e métodos nos estudos linguísticos, fez-se sentir nas Escolas de Praga, em algumas ciências (Antropologia e Psicologia), e até mesmo em certas doutrinas (Marxismo). De realçar as repercussões que igualmente se fez sentir na análise literária (numa perspetiva crítica).

Roland BARTHES (Roland BARTHES 1915-1980 foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês), considera que toda a criação literária se inscreve numa ordem denominada texto, ou estrutura escrita, que se distingue da língua, e que possui estruturas próprias.

O texto é uma estrutura diagramática. A obra literária constitui um sistema, é um todo, formado por elementos solidários entre si, interligados por uma tensão dinâmica, cabendo à crítica descrever estes elementos, as relações existentes entre eles, os quais definem a estrutura do sistema, e as respetivas funções, utilizando um processo analítico, para o efeito.

O objeto da investigação estrutural não é o de explicar o conteúdo da obra, mas analisar as regras combinatórias, que estão na base do funcionamento do sistema semiótico. De igual forma, à linguística estrutural importa mais a gramaticalidade das frases, do que a sua significação.

Tal crítica, não parece ser uma análise dos aspetos concretos da obra, mas antes se afigura ser a elaboração de um modelo, que permita compreender, o funcionamento do seu universo semântico.

Na origem da linguística estrutural está a linguística interna, que estuda as regras pelas quais uma língua se organiza e produz sentido e, a separação: língua/fala, paradigma/sintagma, diacronia/sintonia, marcam bem esta orientação da linguística para a língua, para o paradigma e para a sincronia, mais do que para a fala e para a diacronia, porque a língua, tomada como estrutura, ou seja: sincronicamente, tem regras de funcionamento; uma estrutura determinada e transformações estruturais, que obedecem a leis muito estritas e rigorosas.

Neste contexto estruturalista, o desenvolvimento de reflexões de uma ciência da literatura, e uma leitura efetiva, movimenta-se toda uma crítica literária, que poderá incidir sobre se: «Uma linguagem em si não é verdadeira ou falsa, é válida ou não: válida se constitui um sistema coerente de signos. Os signos que sujeitam a linguagem literária não dizem respeito à conformidade desta linguagem com o real (quaisquer que sejam as pretensões das escolas realistas) mas simplesmente à submissão, ao sistema de signos a que o autor se fixou» (BARTHES, 1964:255-56).

O estruturalismo faz nascer, e conserva uma certa desconfiança em relação ao significado, e procura traços formais que o possam revelar. Para os estruturalistas americanos, o significado é um elemento de contexto. Eles concebem a frase como construção, que integra outras construções menores, e procuram caraterizar a língua abstraindo dos significados dos signos como conjunto de classes distribucionais.

As marcas, ou elementos de uma estruturação, não existem em si, no exterior das relações da frase, mas tomam forma e significação através das relações sintáticas. Uma palavra é nome ou verbo, porque tem um determinado papel sintático na frase, e não por ter em si um certo sentido que a predestina a ser nome ou verbo, o que leva a uma tendência da linguística moderna, para reduzir a morfologia e a semântica, à sintaxe, ao estudo das construções.

Bibliografia

BARTHES, Rolando, (1983). O Prazer do Texto. Tradução, Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70.

FAGES, J.B., (s.d.). Para Entender o Estruturalismo. Tradução, M. C. Henriques. Lisboa: Moraes Editores

 

 


 

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