O mundo deste primeiro quarto do século XXI, está a
experienciar, dolorosamente, situações que, nesta época, já designada por
“pós-moderna”, era impensável há alguns anos atrás, considerando que a maioria
das nações, e dos seus povos, entendiam que depois dos holocaustos, das duas
grandes guerras do século passado, entre outros conflitos regionais, tais
genocídios não voltariam a acontecer.
A Ciência, a Investigação e as Novas Tecnologias,
estão imparáveis; outros deveres, valores e sentimentos surgem e se impõem em
certos territórios que, alastrando a espaços mais frágeis, espalham a desgraça,
a dor, a fome e a morte. Tudo vem acontecendo com aceleração, eficácia e
frequência quase diária.
Os conflitos regionais, que rapidamente afetam as
nações, aumentam assustadoramente. O terrorismo invade, cruelmente, países,
cidades, vilas, instituições públicas e privadas, provocando o derrame de
sangue humano, de vítimas inocentes, civis e militares, crianças, adultos e idosos.
Ninguém escapa a esta fúria de destruição de pessoas e bens.
A complexidade da situação mundial em geral e,
particularmente em certas regiões do mundo, preocupa todas as pessoas que,
desejando viver em paz, segurança e felicidade, não têm essa garantia, porque,
a todo o momento, num qualquer local, o mais inimaginável possível, ou o mais
previsível, tudo de mal pode acontecer, com as consequências mais indesejáveis,
que se possam imaginar.
A Europa, tem vindo a ser um alvo preferido do
terrorismo organizado que, utilizando pequenas células humanas radicalizadas,
semeiam o pânico, a destruição e a morte, incluindo, por vezes, os próprios
autores dos atentados que nos estão assolando, sem tréguas nem contemplações.
Vencer as nações e as suas populações, pelo medo
imposto pela força das armas, é a estratégia mais utilizada. A rendição da
Europa a grupos e a autoproclamados Estados extremistas que, alegadamente,
pretendem resolver situações sociais, através de ações radicais violentas, é o
argumento mais utilizado por este tipo de intervenção autoritária e
antidemocrática.
Igualmente, nos países ou territórios de origem dos
fundamentalistas, as tragédias sucedem-se contra todas as pessoas que não
aderem às ideologias político-religiosas dos radicais, sendo, por isso mesmo,
perseguidas, massacradas e grande parte, assassinadas friamente e enterradas em
valas comuns, ou então ficando os seus corpos expostos aos abutres e predadores
diversos.
O mundo atravessa uma profunda crise provocada por
inúmeros interesses: económicos, estratégicos, religiosos, políticos,
ideológicos, não escapando, também, a avidez pelo controlo de determinados
recursos naturais, como o petróleo, as pedras preciosas, as madeiras valiosas e
o domínio da produção e comercialização de armas de guerra, cada vez mais
sofisticadas e mortíferas, porque a destruição maciça é avassaladora.
Neste contexto horrível, hoje, poucos serão os
países em que a segurança, o conforto e o bem-estar das populações sejam
elementos caracterizadores do bem-comum. Pelas mais diversas, incompreensíveis
e inaceitáveis razões, o terror espalha-se um pouco por todo o mundo e, quem
até agora não sofreu qualquer ataque terrorista, não pode garantir que, num
futuro próximo, não seja um alvo preferido, por isso, a vigilância, a coesão e
a solidariedade são essenciais.
Abordar o valor da solidariedade, nos tempos atuais
e com as situações extraordinárias que vão surgindo, tornou-se um imperativo
universal, desde logo para com os milhares de refugiados que, diariamente, são
obrigados a abandonar as suas terras, famílias e os seus bens, e a ficarem à
mercê de “traficantes” de pessoas humanas.
Salvar a vida é o desígnio principal das pessoas,
que a todo o custo têm de fugir de uma morte certa e cruel. Deixar tudo para
trás, o que, afinal, foi conseguido ao longo de uma vida de trabalho, de
esforços, de poupança e até de sofrimento, é a solução, não desejada, mas que
se impõe aos milhares de refugiados que, diariamente navegam no Mediterrâneo,
em condições verdadeiramente aterradoras, sem um mínimo de segurança,
embarcações sobrelotadas, governadas por pessoal incompetente e desumano, ao
serviço dos “traficantes”.
Nos últimos anos, centenas de milhares de pessoas
perderam a vida, no que já se denomina pelo “Cemitério do Mediterrâneo”:
crianças, adultos, idosos, mulheres, algumas delas grávidas, autênticas
tragédias de que já não havia memória, pelo menos nas circunstâncias que
envolvem estas situações dramáticas e inadmissíveis, agora em pleno século XXI.
A velha Europa Democrática, cuja Civilização
Ocidental, fundada nas três grandes dimensões que são: a Filosofia Grega, o
Cristianismo e o Direito Romano e, sustentada nos valores da solidariedade, da
fraternidade, da liberdade, da Igualdade, da Cidadania e dos Direitos Humanos,
não pode ficar indiferente a esta tragédia humana, não pode construir
barreiras, nem muros, nem linhas de arame farpado, para impedir a entrada de
seres humanos que sofrem na pele, o que os europeus não desejam para eles
próprios.
E se há países, que desde a primeira hora, têm
estado recetivos ao acolhimento destes nossos irmãos refugiados, outros não
assumem o mesmo posicionamento, muito embora tenham condições económicas e
infraestruturas para o fazer, porque, não obstante os “pergaminhos” tantas
vezes invocados, o racismo, a xenofobia o egoísmo e o etnocentrismo, entre
outras aberrações humanas, ainda prevalecem em diversos países, deste velho
continente.
Cabe aqui uma breve referência a Portugal. Com
efeito, o Senhor Ministro da
Administração Interna, Eduardo Cabrita, disse em 06 março 2017: «Que a chegada a Lisboa de 24 cidadãos
yazidis eleva para 1.150 o número de refugiados acolhidos por Portugal no
âmbito dos programas de recolocação da UE.
O
governante falava aos jornalistas no aeroporto de Lisboa, momentos após reunir
com o grupo de refugiados yazidis, vindos da Grécia - depois de terem fugido da
perseguição do Estado Islâmico no Iraque - «e que ainda tarde vão ser
instalados em Guimarães»
Eduardo Cabrita adiantou que: «há um outro grupo de 91 refugiados yazidis na Grécia que já
manifestaram "opção de recolocação em Portugal" e deverão chegar em
abril, sendo acolhidos em Lisboa.»
Eduardo Cabrita, acompanhado pela vereadora de Ação
Social da autarquia de Guimarães, frisou que: «os refugiados são cidadãos livres e que Portugal não terá nenhuma
estratégia que leve a qualquer limitação da sua liberdade de circulação».
E
continuou afirmando o seguinte: «Temos um processo [de recolocação de
refugiados] que é considerado uma referência no quadro europeu e da ONU", (sublinhou Eduardo Cabrita), deixando ainda uma garantia: «Não temos em Portugal campos de
refugiados, nunca os iremos ter.»
«Temos
um profundo envolvimento das comunidades locais, das estruturas da sociedade
civil", de organismos ligados às igrejas e ainda nove dezenas de
municípios que "decidiram participar neste esforço nacional de
acolhimento» (realçou o então Ministro Adjunto). Eduardo Cabrita salientou
ainda: «ter sido objetivo do Governo que ficasse no berço da nacionalidade o
primeiro grupo" de cidadãos yazidis que desejou vir para Portugal».
Paula Oliveira, vereadora da Ação Social da Câmara
de Guimarães, assegurou, por sua vez: estar
«tudo preparado" para "fazer com que [os yazidis] se sintam em sua
casa, em segurança e felizes».
Os 24
yazidis vão residir em habitações existentes na cidade e arredores, devidamente
preparadas, e vão reunir-se regularmente nos diversos "momentos culturais
e de convívio" organizados pela autarquia com o apoio do Conselho
Português para os Refugiados e outras entidades locais. Sobre o grupo de 43
refugiados acolhidos em Guimarães há cerca de um ano, Paula Oliveira frisou que: «todos são "cidadãos livres" e duas dezenas deles
"abandonaram voluntariamente" o projeto.» ([1]).
Os Portugueses podem orgulhar-se dos seus
princípios, valores e sentimentos, porque não obstante as dificuldades que têm
passado nos últimos anos, com uma austeridade caracterizada por “brutais
impostos”, corte de salários, pensões e reformas, desemprego ainda muito
elevado, uma economia que começa, timidamente, a arrancar positivamente, uma
dívida pública muito elevada, apesar de todas estas vicissitudes, o país e o
seu povo, dão uma lição ao mundo, em termos de solidariedade, tolerância,
generosidade, compreensão e apoio aos que mais precisam, sem quaisquer indícios
de atitudes racistas, xenófobas homofóbicas, ou outras de natureza negativa e
condenáveis.
Este povo, “à
beira mar plantado”, bem como os seus dirigentes, em todos os Órgãos de
Soberania e respetivos Departamentos, bem pode envaidecer-se, no melhor sentido
do termo, obviamente, dos novos feitos, e, tal como no passado percorreu o
mundo, emigrou e sofreu, agora é a sua vez de demonstrar que é um povo grato,
humilde e corajoso, mesmo com os sacrifícios que tais medidas de acolhimento
possam provocar, porque primeiro é necessário ajudar, apoiar, compreender e
acarinhar quem nesta fase da vida mais precisa.
Portugal é um país de construir pontes, diálogo,
inclusão. Uma nação ancestral na qual os valores da generosidade, da tolerância
e da solidariedade são como que a marca universal e indelével, que o
identifica. Um país pequeno, pobre, mas grande em ações e rico em virtudes
altruístas e comportamento humanitário.
“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As Regras,
são simples, para se obter a PAZ”
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=924397914665568&id=462386200866744
Venade/Caminha – Portugal, 2022
Com o protesto da minha permanente
GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras
e Artes de Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
http://diamantinobartolo.blogspot.com
https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
Sem comentários:
Enviar um comentário