As solicitações que se colocam a cada pessoa, em
todos os contextos em que ela se envolve, são cada vez mais exigentes,
pressupõem uma permanente atualização nos domínios em que são necessários ao
bom desempenho das tarefas inerentes aos diversos papeis que cada uma é chamada
a desempenhar.
E se, por um lado: a relação pessoa-máquina já é
difícil, devido à tecnologia cada vez mais sofisticada e multifuncional,
obrigando, inclusivamente, a uma formação específica e constantes aperfeiçoamentos,
atualizações e especializações; por outro lado, o relacionamento interpessoal
torna-se, extremamente, complexo, na medida em que a pessoa humana, para além
da componente física, visível e relativamente conhecida, tem uma outra
dimensão, inefável, que se pode designar, para uma compreensão simplificada,
por psíquica, consciência, espírito ou alma.
A formação da pessoa humana é, portanto, muito
exigente, postula uma aprendizagem ao longo da vida e que nunca ficará
concluída, no sentido de relacionar-se com os seus pares, de forma exata e
infalível, pela simples razão de que não há duas pessoas exatamente iguais. Por
enquanto existem dificuldades que são difíceis de superar, desde logo, porque
há uma grande diversidade de conceitos sobre uma hierarquia axiológica, a sua
importância e necessidade.
Com efeito, cada pessoa tem uma noção diferente
sobre determinados valores, que regem a sociedade nas suas múltiplas facetas e
estruturas. O elevado grau de subjetividade que persiste, na avaliação de determinados
valores, dificulta: por um lado, o relacionamento interpessoal; mas também se
pode considerar uma análise positiva, justamente, a partir da diferença de
conceitos, que talvez conduza a uma perspetiva, eventualmente, mais adequada à
sociedade contemporânea.
O ser humano, aliás, tal como muitos outros
animais, busca, ao longo da vida, várias situações, designadamente, aquelas que
de alguma forma lhe permitem exercer autoridade, poder, influência sobre os
seus semelhantes e, até, sobre os restantes constituintes da natureza.
Mas poder significa, principalmente, liderança,
porque só se exerce o poder sobre alguém que, voluntária ou obrigatoriamente,
obedece, deixa-se conduzir, aceita as ordens, as sanções, positivas ou
negativas. De facto, “quem lidera, pode”.
O poder desenvolve-se, com mais destaque, nas
pessoas que, de alguma forma, exercem um cargo, seja de que natureza for que,
como é sabido: «O mais conhecido poder de
posição é o poder do cargo, outorgado a alguém assim que assume determinadas responsabilidades,
numa organização. É o poder instituído, convencionado a um cargo específico,
referendado diariamente em todos os atos formais na estrutura organizacional.»
(ARAÚJO, 1999:94).
É
indiscutível que, para se exercer o poder, é necessária uma preparação muito
específica e rigorosa, de resto, até se pode ter em atenção o que rezam alguns
aforismos populares: “Nunca sirvas a quem
serviu, nem peças a quem pediu”; “Quem
não sabe obedecer, não sabe mandar”, “Manda
quem pode, obedece quem tem juízo”. Portanto, poder e obediência, ou
vice-versa, são situações complementares, e nunca será benéfico que sejam
entendidas como adversárias porque, estas sim, conduzem ao conflito.
Na relação interpessoal o poder, ainda que sob a
forma tácita, está presente, ou então sob uma qualquer outra dimensão: moral,
religiosa, política, técnica, científica, económica, empresarial, profissional,
paternal, entre outras. Há sempre uma parte que tem mais poder, evidentemente,
num contexto de estatutos sócio-profissional, cultural, ou qualquer outro,
porque enquanto pessoas humanas, não poderá haver qualquer superioridade: «Todos os cidadãos têm a mesma dignidade
social e são iguais perante a lei» (CRP, Artº 13º, nº 1).
Qualquer líder que se preze de exercer o poder,
seja qual for, por exemplo: democrático, político, militar, religioso,
empresarial, docente, económico, entre outros, sempre que os seus liderados têm
sucesso, numa determina ação, todo o mérito deverá ser atribuído a eles, que
devem ser elogiados; todavia, em caso de fracasso, o líder deverá saber tomar a
atitude correta, porque: «Assumir a
responsabilidade é tomar para si o controlo de determinada situação,
comprometendo-se com o seu resultado. É muito saudável e vital para relações
que se pretendem produtivas.» (Ibid:100)
O exercício do poder não envolve, apenas,
determinadas caraterísticas, tais como liderança democrática, prudência,
sabedoria, humildade e sentido de justiça. O poder também exerce influência nos
sentimentos, quer do líder e, principalmente, dos liderados, na medida em que:
«Os sentimentos e, em especial, o medo
interferem muito na relação de poder e no desempenho. Sentimentos de
frustração, vitória, incapacidade, confiança, humilhação ou reconhecimento
estão profundamente conectados com a disposição de enfrentar obstáculos e
desafios.» (Ibid.)
O exercício do poder democrático, em qualquer
organização, deve obedecer a uma Ética própria, por forma a, em circunstância
alguma, humilhar. É importante assumir uma Ética do poder e para isso é preciso
merecer o poder e não conquistá-lo a qualquer preço, porque realmente: «Poder, reconhecimento e respeito se
conquistam por merecimento. Não vem de graça. São os comportamentos, as ações
do dia-a-dia que demonstram quando somos confiáveis, quando merecemos – de
facto – o poder que está nos sendo atribuído.» Ibid:173).
O exercício do poder, com Ética, implica, ainda, a
exigência de cada pessoa se conhecer a si própria, saber escutar-se e ouvir
atentamente o tribunal da sua consciência. As razões que cada pessoa apresenta
para justificar as suas atitudes têm de ser escutadas porque: «Ao escutarmos os outros, descobrimo-nos a
nós mesmos como seres singulares, distintos, dotados de ideias próprias e
capazes de delimitar fronteiras e espaços de convergência com o outro.»
(TORRABLDA, 2010:182).
A tentação do exercício do “poder-pelo-poder” é
uma caraterística do ser humano, todavia, é essencial que também haja um
esforço de grande humildade, de gratidão para com aquelas pessoas sobre quem se
exerce algum tipo de poder, porque lideres e liderados são uma única dimensão
do poder: uns não existem sem os outros. O apreço deve ser sempre recíproco.
A estima e consideração mútuas, a gratidão, a
solidariedade, a amizade, a lealdade, a cumplicidade e a reciprocidade serão,
talvez, os melhores ingredientes para que desta relação, entre líder e
liderado, frutifique bons e duradouros frutos, entre as pessoas que, realmente
se querem bem, independentemente dos estatutos que tenham na vida.
A amizade sincera e incondicional, quando for
possível e desejável pelas partes, deverá ser o núcleo duro das relações entre
as pessoas, independentemente dos cargos e situações que detenham na sociedade.
Assumida uma amizade pura, entre duas pessoas, tudo o resto decorre com alegria
e felicidade, com aceitação da crítica justa, amiga, corretora, sempre no
sentido do aperfeiçoamento.
Bibliografia
ARAUJO,
Ane (1999). Coach: Um parceiro para o seu sucesso. 6ª Ed. São Paulo: Editora
Gente
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (2004), Versão de 2004. Porto:
Porto Editora.
TORRABLDA,
Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Trad. António Manuel Venda. Lisboa:
Guerra e Paz, Editores S.A.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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