domingo, 9 de junho de 2013

Educação Cívica em Portugal


É salutar que as sociedades modernas se preocupem com os seus jovens, afinal, serão estes que, no futuro, conduzirão os destinos dessa mesma sociedade, sempre renovada. Nessa perspectiva, os estimulem a participar nas questões políticas, como sendo um desígnio importante, especialmente nas sociedades democráticas.
O significado de uma cidadania eficaz e o papel da educação em construir uma cultura cívica são fundamentais, para todos os cidadãos envolvidos na dignificação de uma sociedade mais justa, mais fraterna, onde todos os direitos humanos sejam respeitados e os correlativos deveres cumpridos.
A educação cívica, que durante muitas décadas tem sido matéria “escamoteada”, talvez ensombrada, de sentido educativo, por vezes, fortemente marcada pela ideologia e pelo receio de manipulações, tem remetido, em Portugal, para uma posição de “avestruz”. Felizmente, os currículos ocultos já vinham denunciando práticas que culminariam na inclusão de matérias, atos sociais e escolares que modelam os jovens de hoje com as competências de cidadania reveladas e cada vez mais implementadas.
Iniciou-se o terceiro milénio e pode-se afirmar que ao nível do ensino básico foram dados passos importantes na atualização dos currículos, de onde se destaca a “Grelha de conteúdos das questões de cidadania”, a saber: 1ª) Democracia: conceito, definição, características e alternativas; 2ª) Instituições: processos para escolher os líderes, exercício do poder; 3ª) Objetivos de aprendizagem: conhecimento e conhecimento crítico; 4ª) Identidade nacional: relevância, significado e conteúdos: símbolos, acontecimentos; relações internacionais; países aliados; 5ª) Gestão e diversidade: quem é discriminado? Etnia, classe social, género, objectivos de aprendizagem: respeito e tolerância; 6ª) Economia: reconhecimento da relação entre economia e política; responsabilidade do estado/cidadão; 7ª) Problemas Locais: que problemas: ou nível de comunidade ou outro, o que deve ser feito.
Constata-se, portanto, que no que se refere ao primeiro ciclo se pretende favorecer a aquisição de atitudes de justiça, tolerância, solidariedade, cooperação e espírito crítico, enfatizando-se, também, a relevância da participação dos alunos na organização do ambiente da turma, e na elaboração de regras, análise de várias instituições, incluindo a escola: o conhecimento dos direitos e deveres dos alunos, professores e outros intervenientes no processo educativo.
Sem se pretender ser demasiadamente otimista, afirma-se que a relevância social dos temas da cidadania, poderá corresponder a uma preocupação intencional do currículo, no sentido de envolver a educação escolar na capacitação dos alunos para conhecerem, refletirem criticamente e tomarem posição sobre estas questões.
A produção de um saber escolar, sobre a cidadania, é uma inevitabilidade e, felizmente, hoje, em Portugal, já se vislumbram alguns pequenos mas esperançosos resultados, principalmente nas camadas mais jovens da população, pese embora a grande dificuldade em trazer para a vida política este público tão importante, quanto necessário para o futuro do país.
Depois do estudo da obra de António Sérgio intitulada “Educação Cívica” e da investigação a que se procedeu, verifica-se que no capítulo dos Direitos Humanos, há um caminho, ainda relativamente longo, a percorrer, reconhecendo-se, embora, que Portugal não constitui uma situação dramática, contudo, ainda é insatisfatória, dando fé ao que tem vindo para o conhecimento do domínio público, através dos Media.
Admite-se que, diariamente, ocorrem violações aos mais elementares Direitos Humanos, principalmente na sua análise psicológica, naqueles pormenores que não são visíveis ao público, que têm a ver com o foro íntimo das pessoas, aos níveis da ideologia política, religiosa e étnica, e que as relações se concretizam através da rejeição no acesso a determinados bens de primeira necessidade, desde logo, ao trabalho, à saúde, à educação.
Pode-se concordar com António Sérgio no que respeita às estratégias e metodologias para o ensino de Educação Cívica. Nessa perspectiva, em Portugal, já se caminha, a bom ritmo, com a inclusão de áreas disciplinares como: “Cidadania e Empregabilidade”; “Cidadania e Profissionalidade” naquela que foi a excelente estratégia e seus objetivos das Novas Oportunidades, ao nível do básico e do secundário; “Formação para a Cidadania” no ensino técnico-profissional e, mais recentemente, um mestrado em “Cidadania e Responsabilidade Social”, na Universidade Fernando Pessoa que, de alguma forma, podem atenuar a falta de uma disciplina, a nível secundário ou mesmo superior, sobre “Educação Cívica para os Direitos Humanos”.
Também parece fundamental centralizar tal matéria em professores vocacionados para lecionar: quer em termos de conhecimentos teórico/científicos; quer até pela exemplaridade profissional e isenção por estes previamente demonstradas, ou seja: não se pode aceitar que um professor, que não respeita os direitos dos alunos, possa ele mesmo lecionar Direitos Humanos e Cidadania, além de que, o sistema de avaliação, em termos de Direitos Humanos e Cidadania, suscita alguma complexidade, que poderá envolver outros instrumentos, complementares aos tradicionais testes escritos sobre a matéria dada, de natureza exclusivamente quantitativa, desde que haja condições para o efeito.
Entende-se que a lecionação da Educação Cívica para os Direitos, Deveres Humanos e Cidadania, poderia, técnica e cientificamente, ser muito bem entregue aos, entre outros capazes, licenciados nos domínios das Ciências Sociais e Humanas, com alguma especialização naquelas áreas.
Para o efeito seria necessário, conceder formação, ao nível dos respetivos Mestrados, sobre temas relacionados com esta problemática, possivelmente muito mais oportunos, práticos e eficazes do que “colecionar teorias” dos pensadores e da História das Ideias, as quais são importantes, num contexto comparativo das grandes Teorias Filosóficas.
É necessário e fundamental que o mestre naquelas áreas, não só saiba da existência das grandes correntes do pensamento filosófico, ao nível do “ensino da filosofia”, (se é que a filosofia alguma vez se pode ensinar!), Filosofia do Direito, Sociologia da Educação, etc., mas também os conhecimentos necessários para ministrar Educação Cívica para os Direitos Humanos e Cidadania; é essencial uma “praxis” permanente, desde logo por parte do professor, relativamente ao cumprimento daqueles direitos.
Corroborando António Sérgio (cf. SÁ, 1979:22) pode-se afirmar que é necessário olhar para os verdadeiros problemas, que urge pensar os alicerces da Democracia, assente nos valores e princípios da cultura, do trabalho, da instituição e da dignificação do professorado, da educação em geral, enfim, de uma Educação Cívica para todos.

Bibliografia

SÁ, Victor. (1979). A Historiografia Sociológica de António Sérgio, Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa. Colecção Biblioteca Breve.
SÉRGIO, António, (1974). Obras Completas: Ensaios, 1ª edição, Tomo VII, Lisboa: Sá da Costa.
SÉRGIO, António, (1976). Obras Completas: Ensaios, 2ª edição, Tomo I, Lisboa: Sá da Costa.
SÉRGIO, António, (1984). Educação Cívica. Lisboa: ICLP/ME.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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