A dualidade que é patente
existir no ser humano, no quadro de um mundo físico, visível, e de um mundo
interior, invisível, tem conduzido à necessidade de um continuado
esclarecimento destes dois espaços, tão distintos quanto complementares.
E se o mundo físico, que
envolve o homem e ele próprio, na sua materialidade objetiva, igualmente é
parte importante desse mundo visível, cada vez mais conhecido, pelo contributo
dado pela ciência e pela técnica, a verdade é que o seu mundo interior, ou as
suas dimensões imaterial e subjetiva não estão, por enquanto, suficientemente,
esclarecidas. A angústia que de facto atormenta o poder, quase ilimitado, do
homem, reside, justamente, no insondável que ainda se verifica na sua
interioridade imaterial.
Se muito se deve à
ciência e à técnica, quanto ao desenvolvimento, ao progresso e a um certo e
relativo bem-estar material da humanidade, sem dúvida necessários à própria
condição humana, e até à própria dignidade de cada pessoa, da mesma forma se
pode atribuir à Filosofia uma função nada desprezível, desde logo na disciplina
do pensamento rigoroso, ordenado e triunfador do homem. Por isso é tão importante
na construção do projeto de vida, esta componente do conhecimento reflexivo
que, justamente, bem conduzido, contribui para o bem-estar individual e coletivo.
A racionalidade do projeto
de vida, obviamente, considera todos os elementos e recursos intervenientes
nesse projeto, e a sua construção e decisão de implementação exigem a
convocação e integração da ciência, da técnica e da Filosofia, entre outras
áreas das ciências sociais e humanas. É necessário ter-se uma visão de
conjunto, na maior parte das situações de vida e, muitas vezes, é insuficiente
o domínio de apenas uma parcela da realidade, porque essa parcela fará,
necessariamente, parte de um todo. A ciência não possibilita a visão da totalidade,
nem é esse o seu objetivo.
Será, naturalmente, numa
perspectiva globalizante que se considera importante, convocar a Filosofia para
a construção do projeto de vida que, em determinada fase da sua execução, exige
maturidade, sabedoria e prudência, aliás, se não houver o bom senso e a
humildade de se reconhecer que aquelas qualidades, não sendo de natureza
científica são, todavia, essenciais ao sucesso do desenvolvimento, então: «Os nossos conhecimentos destroem-nos.
Embebedam-nos com o poder que nos dão. A única salvação está na sabedoria.»
(DURANT, 1988:8).
Compreende-se, embora não
se aceite, que num mundo, excessivamente dominado pelos paradigmas científicos
e tecnológicos, muitos setores do universo político, empresarial e económico,
não valorizem, como seria adequado, as potencialidades da Filosofia,
preconceito que é agravado por uma mentalidade, segundo a qual: «A filosofia não enche a nossa carteira, não
nos ergue às dignidades do Estado; é até bastante descuidosa destas coisas. Mas
de que vale engordar a carteira, subir a altos postos e permanecer na
ignorância ingénua, desapetrechado de espírito, brutal na conduta, instável no
carácter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?» (Id. Ibid.:7).
E se: por um lado, sem
quaisquer preconceitos, nem complexos, há quem condene, nestes tempos modernos,
um novo valor, ou uma nova e fortíssima dinâmica, que se alastra por todo o
mundo, e que para já se convencionou designar por globalização, por enquanto, nos domínios da ciência, da tecnologia,
do comércio, do capital, do conhecimento e da informação; por outro lado, ainda
não se aceita, como parte interessada no sucesso do projeto de vida e de
desenvolvimento dos cidadãos, individualmente considerados e das comunidades no
seu todo, o contributo da Filosofia, de resto, Ciência, Tecnologia,
Globalização e Filosofia não são incompatíveis, bem pelo contrário, podem
complementar-se.
A Filosofia, cujo estudo
e prática se deseja e apela para que sejam estimulados, o mais cedo possível,
na vida das pessoas, dará um contributo inestimável para que, num futuro
próximo: o fosso entre ricos e pobres seja mais pequeno; para que os conflitos
se atenuem e venham a ser eliminados da face da Terra; e, finalmente, todos os
homens possam viver com a dignidade a que têm direito, com as melhores condições
de vida. É necessário refletir muito nas situações que, atualmente, menorizam
este animal superior chamado Homem.
O Criador colocou na
Terra tudo o que é necessário à vida, da qual é parte integrante, e
interessada, o homem, este, na perspectiva teológica: criado à imagem e
semelhança, não de qualquer outro animal, mas sim de um ente divino, superior e
absoluto, seu exclusivo criador: Deus.
A Filosofia pode ajudar,
pelo menos, a refletir nesta condição única, excecional e suprema que goza o
homem, o que justifica a sua necessidade: «Só
por isso a Filosofia tem garantida a sua presença no mundo, à procura do
esclarecimento das ideias, como o único e efectivo caminho para a solução dos
problemas da vida humana, na sua essência, cumprindo esta missão de ajudar o
homem, em primeiro lugar, a tomar consciência do que seja a força das ideias.
As ideias caracterizam os sentimentos; as ideias determinam a vontade; da
clareza das ideias depende, enfim, a firmeza das acções.» (MENDONÇA,
1996:34).
Bibliografia
DURANT, Will, (1988). Filosofia da
Vida. Os Problemas Filosóficos da Existência Humana, Trad. Monteiro Lobato,
Lisboa: Livros do Brasil.
MENDONÇA,
Eduardo Prado de, (1996). O Mundo Precisa
de Filosofia, 11ª edição, Rio de Janeiro RJ: Agir
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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