domingo, 16 de junho de 2013

Filosofia para o Projeto de Vida


A dualidade que é patente existir no ser humano, no quadro de um mundo físico, visível, e de um mundo interior, invisível, tem conduzido à necessidade de um continuado esclarecimento destes dois espaços, tão distintos quanto complementares.
E se o mundo físico, que envolve o homem e ele próprio, na sua materialidade objetiva, igualmente é parte importante desse mundo visível, cada vez mais conhecido, pelo contributo dado pela ciência e pela técnica, a verdade é que o seu mundo interior, ou as suas dimensões imaterial e subjetiva não estão, por enquanto, suficientemente, esclarecidas. A angústia que de facto atormenta o poder, quase ilimitado, do homem, reside, justamente, no insondável que ainda se verifica na sua interioridade imaterial.
Se muito se deve à ciência e à técnica, quanto ao desenvolvimento, ao progresso e a um certo e relativo bem-estar material da humanidade, sem dúvida necessários à própria condição humana, e até à própria dignidade de cada pessoa, da mesma forma se pode atribuir à Filosofia uma função nada desprezível, desde logo na disciplina do pensamento rigoroso, ordenado e triunfador do homem. Por isso é tão importante na construção do projeto de vida, esta componente do conhecimento reflexivo que, justamente, bem conduzido, contribui para o bem-estar individual e coletivo.
A racionalidade do projeto de vida, obviamente, considera todos os elementos e recursos intervenientes nesse projeto, e a sua construção e decisão de implementação exigem a convocação e integração da ciência, da técnica e da Filosofia, entre outras áreas das ciências sociais e humanas. É necessário ter-se uma visão de conjunto, na maior parte das situações de vida e, muitas vezes, é insuficiente o domínio de apenas uma parcela da realidade, porque essa parcela fará, necessariamente, parte de um todo. A ciência não possibilita a visão da totalidade, nem é esse o seu objetivo.
Será, naturalmente, numa perspectiva globalizante que se considera importante, convocar a Filosofia para a construção do projeto de vida que, em determinada fase da sua execução, exige maturidade, sabedoria e prudência, aliás, se não houver o bom senso e a humildade de se reconhecer que aquelas qualidades, não sendo de natureza científica são, todavia, essenciais ao sucesso do desenvolvimento, então: «Os nossos conhecimentos destroem-nos. Embebedam-nos com o poder que nos dão. A única salvação está na sabedoria.» (DURANT, 1988:8).
Compreende-se, embora não se aceite, que num mundo, excessivamente dominado pelos paradigmas científicos e tecnológicos, muitos setores do universo político, empresarial e económico, não valorizem, como seria adequado, as potencialidades da Filosofia, preconceito que é agravado por uma mentalidade, segundo a qual: «A filosofia não enche a nossa carteira, não nos ergue às dignidades do Estado; é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingénua, desapetrechado de espírito, brutal na conduta, instável no carácter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?» (Id. Ibid.:7).
E se: por um lado, sem quaisquer preconceitos, nem complexos, há quem condene, nestes tempos modernos, um novo valor, ou uma nova e fortíssima dinâmica, que se alastra por todo o mundo, e que para já se convencionou designar por globalização, por enquanto, nos domínios da ciência, da tecnologia, do comércio, do capital, do conhecimento e da informação; por outro lado, ainda não se aceita, como parte interessada no sucesso do projeto de vida e de desenvolvimento dos cidadãos, individualmente considerados e das comunidades no seu todo, o contributo da Filosofia, de resto, Ciência, Tecnologia, Globalização e Filosofia não são incompatíveis, bem pelo contrário, podem complementar-se.
A Filosofia, cujo estudo e prática se deseja e apela para que sejam estimulados, o mais cedo possível, na vida das pessoas, dará um contributo inestimável para que, num futuro próximo: o fosso entre ricos e pobres seja mais pequeno; para que os conflitos se atenuem e venham a ser eliminados da face da Terra; e, finalmente, todos os homens possam viver com a dignidade a que têm direito, com as melhores condições de vida. É necessário refletir muito nas situações que, atualmente, menorizam este animal superior chamado Homem.
O Criador colocou na Terra tudo o que é necessário à vida, da qual é parte integrante, e interessada, o homem, este, na perspectiva teológica: criado à imagem e semelhança, não de qualquer outro animal, mas sim de um ente divino, superior e absoluto, seu exclusivo criador: Deus.
A Filosofia pode ajudar, pelo menos, a refletir nesta condição única, excecional e suprema que goza o homem, o que justifica a sua necessidade: «Só por isso a Filosofia tem garantida a sua presença no mundo, à procura do esclarecimento das ideias, como o único e efectivo caminho para a solução dos problemas da vida humana, na sua essência, cumprindo esta missão de ajudar o homem, em primeiro lugar, a tomar consciência do que seja a força das ideias. As ideias caracterizam os sentimentos; as ideias determinam a vontade; da clareza das ideias depende, enfim, a firmeza das acções.» (MENDONÇA, 1996:34).

Bibliografia

DURANT, Will, (1988). Filosofia da Vida. Os Problemas Filosóficos da Existência Humana, Trad. Monteiro Lobato, Lisboa: Livros do Brasil.
MENDONÇA, Eduardo Prado de, (1996). O Mundo Precisa de Filosofia, 11ª edição, Rio de Janeiro RJ: Agir

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)

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