Coloque-se, num duplo centro, dois elementos
insubstituíveis e privilegiados: professor-formador; aluno/formando, quaisquer
que sejam as situações de um e de outro. Mais complexamente, admitam-se a
inversão e o poder dos intervenientes: hoje, professor; amanhã, aluno; depois,
formador, mais tarde, formando. Os ciclos e alternâncias devem suceder-se ao
longo da vida, deste novo cidadão do mundo, o qual nunca estará numa posição de
dominância definitiva.
Medite-se, por agora, na sublime e nobre condição
do professor/formador/educador, na perspectiva, práxis e interiorização de um
verdadeiro apostolado, porque em boa verdade, ser professor/educador não é
apenas sinónimo de um bom ensinante, de um conceituado técnico-especialista.
Muito mais do que isso, ele deverá ser um agente de
proximidade, de contágio, atento aos sinais da alteridade dos seus
alunos/educandos, um gestor hábil na manutenção dos equilíbrios necessários,
sempre difíceis, entre desejo de influência, inerente ao ato pedagógico e o
risco da manipulação.
Aliás, e para uma melhor contextualização, julga-se
ser conveniente iniciar-se esta reflexão a partir do conceito de educação o
qual: «Designa uma postura pedagógica de
valorização do ensino humanístico e da cultura geral. Segundo esse enfoque,
considera-se que o educando chegará à sua plena realização como pessoa através
do saber, do conhecimento, atingido por meio do esforço.» (SILVA 1988:79).
Além do mais, terá que ser tolerante, paciente,
atento, facilitador e rigoroso, eticamente parceiro no projeto
educativo/formativo, porque as respostas sociais e educativas, reclamadas pela
contemporaneidade, convocam-nos para a necessidade de desenvolver um pensamento
cada vez mais elaborado, porque mais complexo, sustentado num processo paciente
de ensino/aprendizagem que se vai (e deve) desenvolver ao longo da vida.
É fundamental ter-se presente que: «O desenvolvimento profissional envolve
todas as experiências espontâneas de aprendizagem e as actividades
conscientemente planificadas, realizadas para o benefício directo ou indirecto
do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem através destes, para a
qualidade da educação na sala de aula. É um processo através do qual os professores,
enquanto agentes de mudança, revêem, renovam, ampliam o seu compromisso com os
propósitos morais do ensino.» (GUEDES & MIRANDA 2005:2).
A formação que se impõe, para o futuro, deve surgir
como um projeto estruturante de uma cultura profissional, assente na atitude
metodológica reflexiva, tendo por objetivos o rigor e o sentido de humanidade.
O processo que pode suportar um tal projeto,
materializado num sistema de ensino/aprendizagem prático, realista e rigoroso,
sendo fascinante, não é fácil, na medida em que implica “aprender-a-prender”,
exige trabalho, esforço, paciência, disciplina e abnegação, um verdadeiro
apostolado, uma cruzada sem fim, no tempo e no espaço, embora com objetivos
concretos.
A aprendizagem significa, também, algum risco de
errância, de aventura e de abertura ao diferente. Implica, ainda, um esforço,
face ao ritmo alucinante da produção científica, que é paradigma do tempo
pós-moderno.
É por isso que se exige, como requisito
fundamental, o imperativo da promoção de uma vigorosa cultura de aprendizagem
permanente, transformando a informação em conhecimento útil, funcional, que
responda às solicitações da vida prática quotidiana, alimentando, porém, uma
referência obrigatória do sentido que deve prender a uma bem determinada e,
paradoxalmente, realística dose de utopia humana.
No processo de formação ao longo da vida, que a
todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida
em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os processos de aprendizagem e projetos
concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto
ético-profissional justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um
caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.
Nesse sentido, exige-se que a formação seja
valorizada e usufruída como um direito, como mais uma oportunidade do exercício
da autonomia e maturidade profissionais. Este processo de formação, ao longo da
vida, pressupõe: forte envolvimento, sem cedências a facilitismos; um
permanente espírito de curiosidade sócio-científica e técnico-cultural; uma
consciência da importância daquilo que surpreende e que é necessário cultivar
com atenção, no silêncio intelectual, sem revelações precipitadas, porque
infundadas; enfim, adoptar a flexibilidade mental e exercer a difícil ginástica
do espírito, praticando aquele princípio cartesiano da “dúvida metódica”, para não haver incomodidade quando surgem
interpelações para as quais ainda não existem respostas e soluções exequíveis.
A humildade que a prudência aconselha, será a atitude correcta e apreciada.
E se um dos objetivos da educação poderá equivaler
a um produto, com o qual é necessário lidar, com competências e planificações,
capazes de levar a resultados previamente conhecidos e calculados, então um
daqueles objetivos da educação é obter um bom produto final, consubstanciado na
pessoa, no cidadão, no profissional: «Educar
vai ser então esse esforço para levar à reflexão sobre a escala de valores que
melhor corresponda às exigências da pessoa humana, visando um aprimoramento não
apenas no pensar, mas especialmente no agir do homem.» (WERNECK 1994:74).
Paralelamente, ser professor, poderá significar:
tomar decisões com capacidade crítica e criativa; ser capaz de utilizar
conhecimentos, experiências e valores, em contexto pedagógico; utilizar
conhecimentos científicos na tomada de resoluções, tal como qualquer outro
profissional autónomo, independentemente de regulamentação oficial, implicando
um comportamento profissional, relacionado com a capacidade de, a partir da sua
formação inicial, desenvolver e ampliar o seu campo de saber, e de desempenhar
as funções sociais, e até políticas, que a sociedade dele espera.
Se se considerar a experiência, como sendo uma das
primeiras fontes da educação, então o professor, em determinada fase da sua
vida profissional, é sujeito do seu próprio desenvolvimento, em que a reflexão
sobre a experiência é uma prática fundamental, isto é, um investigador na sala
de aula, em vez de um técnico, ou seja: ele, o professor, será um prático
reflexivo, porque a teoria por si só, é insuficiente para orientar a prática
docente.
Até porque: a escola produz uma cultura interna,
que lhe é própria e que exprime valores, crenças, atitudes daqueles que nela atuam,
e também segundo uma sofisticada orientação ideológica, assente numa legislação
que tendo uma carga subjetiva inerente, é suscetível de várias interpretações.
Refletir sobre as vantagens de um esforço de
auto-formação, de um currículo mais espaçoso, onde caibam também a educação dos
valores, o humanismo de alunos e professores e, também, entender a sala de aula
enquanto espaço privilegiado de interação, entre o vivido e o novo, um
cruzamento de vivências, de culturas e de diversidade.
Bibliografia
GUEDES, J.
A. D. & Miranda, M. R. (2005). A
Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor, no domínio da Formação e
Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso de Pós-Graduação em
Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior
Politécnico Gaya.
REIMÃO, C. (2005). “Ética
da Profissão Docente”, 10ªs Jornadas Psicopedagógicas de Gaia. Resumo das
Intervenções sobre o tema: “Deontologia e Desempenho Profissional”, in Psicologia, Educação e Cultura.
Carvalhos: Colégio Internato dos Carvalhos. Vol. X, (1), Maio-2006, pp. 229-236
SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia:
ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não publicado)
WERNECK. V. (1994). “Pessoa
e Educação”, in Revista da Universidade
Católica de Petrópolis. Petrópolis: Universidade Católica, Vol. 2 (6)
Janeiro-Abril, pp.67-78
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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