domingo, 26 de outubro de 2014

Aprender para Competir


Muitas são as expressões que atualmente se utilizam para significar, afinal, que hoje ninguém está formado para o resto da vida, independentemente da idade que tiver, mas é, seguramente, no período da vida ativa que mais se exige uma permanente aquisição de conhecimentos: «Dado que a aprendizagem ao longo da vida é uma necessidade, os gestores têm a responsabilidade de desenvolver os seus colaboradores, enquanto indivíduos, com o dever de erguer a sua voz, expressar os seus interesses e participar ativamente nesses programas.» (JUERGUEN BROKATZY, in CUNHA, et. al., 2010:381).
O ser humano é um todo, complexo, único, indivisível, inimitável e irrepetível. Cada pessoa é verdadeiramente singular, dotada de características biopsíquicas e espirituais infalsificáveis, portanto, deve ser cuidada como tal, merecer uma atenção muito especial e, jamais, poderá ser “coisificada”. As múltiplas dimensões da pessoa humana postulam, por conseguinte, diferentes intervenções, contudo, mantendo a integralidade e unicidade, próprias da sua condição superior.
Quando se abordam a educação, a formação e a cultura da pessoa humana, pretende-se melhorar e defender, justamente, não só aquelas como as demais dimensões, ou seja: uma preparação integral para que ela se insira e vença num mundo altamente competitivo, onde reinam os mais sofisticados processos de concorrência, de captação de clientes, fornecedores, colaboradores, equipamentos e toda uma panóplia de recursos que facilitam o sucesso, infelizmente, nem sempre obtido pelos procedimentos mais corretos, justos, legítimos e legais.
A disponibilidade para aprender e a vontade indomável de acrescentar mais conhecimentos, são duas excelentes qualidades da pessoa que deseja continuar a valorizar-se, a melhorar a sua autoestima, mas é preciso ter alguma prudência porque: «O volume de informações que muitas vezes é passado às pessoas de uma maneira didática deixa a ilusão de que o aprendizado está acontecendo. Porém, quando se busca o resultado ou aplicação prática do ensino, o resultado causa frustração.» (ROMÃO, 2000:92-93).
A competitividade de uma empresa também passa, necessariamente, pelo maior, ou menor, nível de escolaridade e formação dos seus colaboradores. Hoje, por si só, o Saber-fazer, sendo muito importante e imprescindível, não é o único que se deseja, numa formação integral, que contempla várias dimensões do conhecimento, como os: Saber-ser, Saber-estar e o Saber-conviver-com-os-outros, porque o ser humano não é uma máquina que, a partir de um comando, funciona de acordo com um determinado programa, previamente introduzido pelo homem.
Atualmente, a legislação laboral portuguesa já prevê que as instituições sejam obrigadas a ministrar formação profissional, normalmente, em áreas específicas, relacionadas com as respetivas funções dos colaboradores, mas também em domínios ético-culturais, relacionamento interpessoal, gestão do tempo, motivação e liderança, entre outros porque, justamente, a pessoa humana tem princípios, valores, sentimentos, emoções, projetos profissionais, familiares e até sociais, enfim, objetivos de vida que deseja alcançar.
Facilmente se comprova o nível de competitividade, através da produtividade, rigor, inovação para procedimentos e produtos diferentes, com detalhes singulares bem identificados para o cliente, que são do agrado dos consumidores e é por isso que a formação deve abranger todo um conjunto de saberes. O investimento na formação de todos os colaboradores da instituição, incluindo administradores, diretores e demais chefias, proporciona elevados retornos, incluindo o prestígio, credibilização e a expansão da instituição.
Sem relutância aceita-se que: «A formação pode ser definida como o conjunto de experiências de aprendizagem, planeadas por uma organização, com o objetivo de induzir uma mudança nas capacidades, conhecimentos, atitudes e comportamentos dos empregados no trabalho.» (CABRERA, 2006:168, in CUNHA, et. al., 2010:381).
Genericamente, como conceito geral, considera-se que: «(…) a formação permite aprender a saber, a fazer e a ser. No extremo das suas possibilidades, permite também aprender a aprender e esse é porventura o seu mais elevado desígnio, na medida em que assegura a prossecução dos restantes domínios da aprendizagem.» (CUNHA, et. al., 2010:384).
A valorização profissional, de qualquer trabalhador, é um dos fatores que o leva a sentir-se realizado na organização onde exerce a sua atividade. É claro que estar integrado numa instituição, que lhe permite progredir num sistema hierárquico vertical, com todo um conjunto de benefícios: remuneração, complementos, estatuto, poder e reconhecimento, são outras tantas razões para que um tal trabalhador se automotive para atingir a categoria máxima.
Na linha de pensamento que se vem desenvolvendo, também não se pode ignorar que: «O outro fator essencial em termos de crescimento, é o aperfeiçoamento profissional, um ponto que vem se tornando cada vez mais valorizado hoje em dia entre os funcionários de uma empresa. As pessoas prestam atenção crescente, no mercado de trabalho competitivo em que vivemos, à sua própria qualificação como profissionais.» (BERNARDI, 2003:36).
Hoje, e ao contrário do que muitos “dirigentes” e trabalhadores pensam, é fundamental que as instituições, qualquer que seja a sua natureza e de todas as áreas de atividade, elaborarem, executem, consolidem um Plano de Formação Profissional Contínua, que avaliem, objetivamente, os resultados alcançados, introduzindo, periódica e sistematicamente, todas as atualizações que se mostrem necessárias, em ordem a competirem com qualidade, inovação, diferenciação e tempo útil, na medida em que: «A formação é um dos métodos mais eficazes de melhorar a produtividade dos indivíduos e de comunicar os objetivos organizacionais aos novos colaboradores.» (ARTHUR, et. al., 2003:234, in CUNHA, et, al., 2010:392).
Entre outros, igualmente importantes e indispensáveis, o investimento que se deve fazer na melhoria dos recursos humanos, globalmente considerados necessários numa organização, também a própria pessoa, enquanto colaboradora de uma instituição, se deve preocupar com o seu próprio esmero e evolução, porque: «O ser humano que não se consegue desenvolver plenamente é vítima de um modelo educacional que renunciou aos fundamentos básicos da formação do cidadão, do profissional e da sua sensibilidade humana, tornando-se alguém capacitado apenas para a produção e o lucro. Formar o cidadão é dar-lhe a dimensão dos seus direitos e deveres em relação à sua família, ao seu trabalho, à sua comunidade e ao seu país.» (CARVALHO, 2007:104).
Quando se ignora a conveniência de fornecer ao trabalhador a formação profissional ajustada ao perfil das suas funções, também não se pode esquecer que: antes, durante e depois do trabalhador, existe sempre um ser humano, um cidadão com deveres e direitos, por isso é muito importante que os planos de Formação contemplem as dimensões: cívica, ética, moral, religiosa, interpessoal e tantas outras, para que o colaborador se sinta cada vez mais realizado, como pessoa, cidadão e funcionário, ou seja: integralmente formado.
Presentemente, e cada vez mais no futuro, a sociedade movimenta-se com uma velocidade estonteante, quando se confronta com a ciência, a tecnologia, a execução sempre evoluindo para o rigor e perfeição do saber-fazer, porque nada é estático, um dinamismo acelerado toma conta das pessoas e das organizações e, ainda, na medida em que: «A mudança é uma constante na vida (…). Uma das formas de lidar com a mesma é a educação e a formação. Para quem entra no mundo do trabalho, os desafios são inúmeros. (…) É por isso relevante que beneficie, por meios formais e informais, de processos de formação, que o capacitam para ser um membro verdadeiramente útil da organização.» (CUNHA, et. al., 2010:392).
Educação e formação são, portanto, dois carris muito importantes na vida de uma pessoa. Claro que há mais linhas, que vão conduzir a um mesmo destino que é a evolução, a satisfação, o bem-estar e a felicidade do ser humano (felicidade tomada no conceito que cada pessoa entender, desde que lhe confira tranquilidade pessoal, nas diferentes dimensões: física, psicológica, intelectual, princípios, valores, sentimentos e lhe proporcione os aspetos materiais necessários à vida confortável).
Esta preparação, afinal, é para se viver a vida serenamente, com tudo de bom que ela nos pode dar, porque: «Não temos de nos preocupar em viver longos anos, mas em vive-los satisfatoriamente; porque viver longo tempo depende do destino, viver satisfatoriamente depende da tua alma. A vida é longa quando é plena; e se faz plena quando a alma recuperou a posse do seu próprio bem e transferiu para si o domínio de si mesma.» (SÉNECA, 4 a.C. a 65, in CARVALHO, 2007:102).

Bibliografia

BERNARDI, Maria Amália, (2003). A Melhor Empresa. Como as Organizações de Sucesso atraem e mantêm quem faz a diferença. Rio de Janeiro: Elsevier.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional
CUNHA, Miguel Pina, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

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