As situações de conflito, que ocorrem um pouco por
todo o mundo, umas mais graves do que outras, não são um produto exclusivo do
tempo atual. Sempre houve, ao longo da História da Humanidade, acontecimentos
violentos, que conduziram à morte milhares de pessoas.
Obviamente que não se incluem aqui as ocorrências
naturais, também elas mortíferas: sismos, vulcões, tempestades, fenómenos
imprevisíveis, que a ciência e a tecnologia ainda não resolveram definitivamente.
O incompreensível reside na incapacidade racional do homem, para criar, e
consolidar, as condições favoráveis à pacificação do mundo.
Por isso é essencial a aceitação de um novo
conceito de cidadania, mais abrangente, mais democrático, tendencialmente, uma
cidadania universal. Para que tal venha a ser possível, é necessário, também,
que a democracia seja interiorizada e praticada livremente, pelos cidadãos de
todo o mundo, o que implica uma dupla interpretação conceptual deste valor
político-social.
Na verdade: «A
literatura sobre o conceito de democracia apresenta, de uma maneira geral, duas
vertentes. De um lado uma linha de pensamento que concebe a democracia, em uma
perspectiva instrumental, como um método eficiente de adopção de decisões,
capaz de proteger a liberdade individual dos cidadãos. De outro, uma visão
substantiva da democracia, baseada em um ideal normativo, valioso em si mesmo,
porque vai além de um simples processo instrumental de tomada de decisões. Esta
vertente constitui a premissa fundamental da democracia participativa, na qual
os cidadãos se colocam como actores responsáveis nas políticas públicas e,
consequentemente, próximas do poder público.» (BENEVIDES, 1991 e AVRITZER,
1994 apud MIOTTO, 2006:65).
Democratizar a política para uma cidadania
universal, é uma tarefa que responsabiliza os cidadãos em geral e os políticos
em particular. Aceite, institucionalizada e implementada a cidadania universal,
entre todas as nações, congregadas na ONU - Organização das Nações Unidas -,
acredita-se que no decorrer do presente século, seja possível atenuar muitos
conflitos, eliminar outros e pacificar um pouco mais o mundo.
A tarefa é tanto mais difícil, quanto maiores forem
os interesses hegemónicos da economia e dos recursos naturais mundiais e,
nestas circunstâncias, as possibilidades de consensos e celebração de acordos
são igualmente difíceis, complexas e imprevisíveis e também enquanto os atuais
dirigentes mundiais não facultarem os meios para uma educação-formação que
aponte para este objetivo universal: pacificar o mundo.
Por mais estratégias, metodologias, técnicas e
recursos que se utilizem, a educação-formação de novas gerações, sensibilizadas
para modernas práticas de convivência pacífica, e para os valores do humanismo
e da afetividade, é o caminho que se apresenta como o mais adequado, para se
atingirem os objetivos da pacificação do Mundo, porque, de contrário, os
problemas, os conflitos, as situações degradantes, jamais se resolverão.
A escola, logo nos primeiros anos de vida da
pessoa, deverá ter um papel interventivo primordial, no sentido de formar a
consciência destes novos cidadãos, que terão por missão suprema, e altruísta, a
pacificação do mundo, porque: «Diante
deste quadro, a escola, especialmente do ensino fundamental e médio se
apresenta como a instituição carregada e única capaz de dar um encaminhamento a
este verdadeiro drama humano que a sociedade contemporânea vive, e que se
manifesta através da proliferação da violência, do alcoolismo, do consumo de
drogas, das doenças endémicas e atípicas, dos acidentes mutilantes e
responsáveis por mortes prematuras e desnecessárias, do desemprego, da
corrupção, fome, miséria e tantos outros males que, num crescimento desenfreado
ameaça a própria estabilidade do estado, democrático ou autoritário.»
(COLETA, 2005:19).
As gerações que, atualmente, ainda se encontram na
sua fase de vida de crianças, devem ser, de imediato, preparadas para um futuro
que, elas próprias, vão usufruir e, simultaneamente, todas as restantes pessoas,
incluindo aquelas que já se aproximam do fim do seu percurso biológico normal.
Na família, na Igreja, na escola, na empresa, na
comunidade, na sociedade mais alargada, no país, enfim, em todos os locais e
circunstâncias em que se encontre uma pessoa, deve-se intervir, porque cada dia
que passa, neste pré-caos humano, poderá representar anos na recuperação das
pessoas e do mundo.
Impõe-se uma pedagogia para a paz, se possível já,
para hoje, porque amanhã poderá ser demasiado tarde. Uma pedagogia para democratizar
a política, os políticos, os educadores e a humanidade em geral. Uma pedagogia
que ensine toda a pessoa, qualquer que seja o seu estatuto ou condição, como
pode e deve participar nas soluções dos problemas, porque: «Todos os homens ao longo da sua existência, terão de resolver
problemas que lhes serão apresentados, semelhantes aos de ontem ou marcados
pela mudança; (…). Isso leva a considerar as questões ligadas ao cuidado com a
educação de todos e de cada um…» (BONBOIR, 1977:189)
Igualmente, uma filosofia para analisar,
reflexivamente, a situação em que o mundo se encontra, que aponte caminhos
possíveis para rumos compatíveis com a dignidade humana. As disciplinas da área
das ciências sociais e humanas, têm um grande contributo a dar para a pacificação
da humanidade, a Filosofia não pode ser excluída deste projeto, aliás, sem ela
e seus ramos específicos, muito dificilmente se atingirão resultados que
atenuem o sofrimento em que a humanidade vive, neste primeiro quarto de século.
Uma parceria entre Ciência, Técnica, Filosofia,
Pedagogia, Antropologia, Ética e Axiologia, enfim com as Ciências Sociais e
Humanas, pode fazer parte da fórmula que conduza aos primeiros e bons
resultados do processo de pacificação: «Sem
dúvida, a filosofia tem uma importante tarefa epistemológica, mas ela não pode
ser desenvolvida sem a referência a uma antropologia fundante bem como a uma
axiologia geral. A questão do agir humano, tanto no plano ético, como no plano
político, não pode ser posta de lado numa reflexão filosófica sistematizada. E
o pedagógico, como contexto da existência humana, constitui a mediação articuladora
do ético com o político.» (SEVERINO, 1997:242).
Bibliografia
BONBOIR,
Anna, (Dir.). (1977). Uma Pedagogia para
Amanhã. Tradução, Frederico Pessoa de Barros. São Paulo: Cultrix.
COLETA, António Carlos Dela, (2005). Primeira Cartilha de
Neurofisiologia Cerebral e Endócrina, Especialmente para Professores e Pais de
Alunos de Escolas do Ensino Fundamental e Médio, Rio Claro, SP – Brasil: Graff
Set., Gráfica e Editora
MIOTTO, Luciana Bernardo, et. al. (2006).
“Qualidade da Democracia: Comunicação, Política e Representatividade”, in: Comunicação, Cultura & Cidadania.
Vol. 1 (2). Jul-dez.2006. Pp. 63-77, citando BENEVIDES, M.V.M. (1991). A
Cidadania Activa: referendo, plebiscito e iniciativa popular. São Paulo: Ática
e AVRITZER, L. (Coord.). (1994) Sociedade civil e democracia. Belo Horizonte:
Del Rey
SEVERINO, Antônio Joaquim, (1999). A Filosofia Contemporânea do
Brasil. Petrópolis RJ: Vozes.
Venade/Caminha, Portugal, 2015
Venade/Caminha/Portugal,
2018
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e
Tribuna)
http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_d0045_dbartolo.html
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