Afirma-se que o século XX ficará na história da
humanidade como um dos mais violentos, em que a força de armas poderosíssimas
se impôs à fragilidade do diálogo democrático, fraterno e solidário. Período de
tempo que a humanidade viveu: sob regimes ditatoriais ferozes, durante os quais
se cometeram as mais irracionais barbaridades; em que os mais elementares
direitos e valores humanos não foram respeitados, nomeadamente, o direito à
vida e o valor da dignidade humana; tempo que viu crescer a miséria, a exclusão
a todos os níveis, a fome, a doença, a guerra, a destruição, as migrações de
refugiados, enfim, a morte.
O quadro negativo e pessimista, defendido por
muitos, conforme acima sumariamente descrito, naturalmente que corresponde a
uma realidade que passou para o atual século XXI, independentemente do grau de
gravidade e da maior ou menor extensão que se pretende atribuir, e também dos
sofisticados meios de intervenção na sociedade, para o bem e para o mal.
Mas aquela realidade, mesmo que levada ao máximo
dramatismo, também foi acompanhada por um progresso material, científico e
técnico, jamais verificado noutras épocas, excluindo-se, eventualmente, os
grandes feitos histórico-culturais dos períodos áureos da expansão de certas
nações, (obviamente, Portugal na segunda metade do século XV até ao início do
século XVI, é um caso exemplar).
Com efeito, o século XX, assistiu à criação e
desenvolvimento da ciência e da técnica, através da investigação e da tecnologia,
aplicadas em todas as áreas da existência humana, inclusivamente e com grande
destaque para a medicina, biogenética, engenharias e biotecnologia, entre
outros grandes domínios do conhecimento.
Numa atitude positiva e otimista, pode-se aceitar que
o balanço é, apesar de tudo, favorável, no sentido em que havendo vontade,
educação, formação e humildade, se poder ter aprendido com os erros cometidos,
evitando-se, no futuro, repeti-los e iniciando-se uma caminhada com os
superiores objetivos altruístas, consentâneos com a vida e dignidade humanas.
Cientistas, investigadores, académicos, políticos,
técnicos sociais e todo um mundo de estudiosos, elaboram e tentam aplicar as
suas teses, em contextos reais de vida, com resultados, por enquanto, insatisfatórios,
no domínio da pacificação da humanidade, o que comprova a complexidade da
organização social humana e as dificuldades em se atingir desideratos próprios
de um mundo mais pacífico.
Todos aqueles intervenientes, seguramente, têm
procurado estabelecer uma fórmula, construir paradigmas, desenhar cenários,
implementar regras, todavia, é possível, para já, admitir que a fórmula
perfeita, mágica e solucionadora, para se aplicar à conflitualidade mundial, é
difícil de encontrar e, tanto mais árdua, quanto os dirigentes mundiais não
colaborarem.
Reconhecendo-se a auto-insuficiência para
solucionar as situações conflituosas, ou para contribuir para um mundo mais
pacífico, tal circunstância não invalida, pelo contrário, estimula para o dever
de dar um singelo contributo para a minimização de tão grave problema e, nesse
sentido, se aponta e defende uma estratégia assente na educação-formação das
pessoas, do berço ao túmulo.
Ao longo de
toda a vida: «A educação permanente, a de
todos os momentos da vida, dinamismo pelo qual cada pessoa, independentemente
da idade, poderá preparar o futuro de uma forma competente, não se situa,
exclusivamente fora da escola. Diante das mudanças próprias do mundo em
contínua evolução, faz-se necessária uma concepção global do processo
educativo; precisamos abarcar todas as idades, todos os níveis e sectores da
educação.» (BONBOIR, 1977:16).
A aposta maciça aponta, portanto, para a
educação-formação, não apenas ao nível dos conhecimentos cognitivos, mas também
através de uma pedagogia não-cognitiva, uma pedagogia que leve para o teatro da
vida real, a aplicação dos saberes adquiridos e a assimilação de novas
práticas. Uma conjugação dos conhecimentos apreendidos pela via clássica e a
experiência vivenciada no terreno.
Casamento adequado, entre teoria e prática, através
de uma educação-formação, ao longo da vida, poderá ser, ainda que mais uma, a
fórmula que ajudará a encontrar algum equilíbrio num mundo em permanente e, por
vezes, violentas mutações.
Talvez não se esteja a afirmar nada de novo, mas,
certamente, que nunca é demais insistir nesta estratégia, quanto mais não seja,
para sensibilizar as gerações atuais, mais novas e, eventualmente, menos experientes,
porque da sua preparação dependerá o futuro que vão viver e oferecer aos seus
pais e avós, numa idade em que estes já pouco ou nada podem fazer.
Numa sociedade democrática, o sistema de ensino é
fundamental na preparação da criança, do jovem, do adulto, do idoso e da
comunidade no seu todo. Um ensino que proporcione a todos as mesmas
oportunidades de aquisição de conhecimentos e preparação responsável para a
vida numa sociedade livre, pacífica e justa, onde as discriminações negativas,
o abuso do poder, a invasão e monopolização da propriedade privada alheia, bem
como outras prepotências, sejam radicalmente banidas.
A sociedade
democrática deve investir, fortemente, na educação, na formação, num sistema de
ensino integrado e livre, com matérias e programas pluralistas, que contemplem
uma visão democrática do mundo, em que as diversas perspetivas possam ser,
responsavelmente, criticadas, fundamentadamente, aceites ou excluídas.
Na verdade: «Não
há sociedade democrática e pluralista em que o sistema de ensino não seja
também democrático e pluralista; para isso, além da garantia de real liberdade
de actuação de professores e alunos, da igualdade de oportunidades de acesso ao
ensino e do seu conteúdo efectivamente libertador e pluralista, importa
reconhecer e assegurar a todos o direito de receberem uma educação adequada às
exigências do bem-comum e ao desenvolvimento integral de cada pessoa.»
(ARAÚJO, s.d.:113).
Bibliografia
ARAÚJO, Miguel. (Dir. /Coord.). (1974). DICIONÁRIO
POLÍTICO: Os Bispos e a Revolução de Abril. Lisboa: Ispagal
BONBOIR, Anna, (Dir.). (1977). Uma Pedagogia para Amanhã. Trad.
Frederico Pessoa de Barros. São Paulo: Cultrix. Venade/Caminha, Portugal, 2015
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
Portugal:
http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e
Tribuna)
http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_d0045_dbartolo.html
https://laosdepoesia.blogspot.ca/search/label/Diamantino%20%20B%C3%A1rtolo
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