Por vezes pensamos que determinada pessoa é nossa
sincera amiga e então, nela confiamos tudo da nossa vida, solidarizamo-nos com
ela, sempre que houver injustiças; somos leais, educados, atenciosos, generosos
e, se for necessário, até nos incompatibilizamos com outras pessoas que foram
injustas e/ou incorretas com o nosso amigo. Tudo se faz por uma amizade
incondicional.
Acontece que se a pessoa que consideramos ser nossa
amiga, pela qual tudo demos e fizemos, ela não tem igual procedimento, quando
somos nós os alvos de injustiças e, pelo contrário, até se relaciona com outras
pessoas que, em dado momento, nos ofenderam, magoaram ou foram incorretas
connosco, será aquela pessoa, verdadeiramente nossa amiga, quando se junta aos
que nos ofenderam e magoaram?
Onde estão a solidariedade, a amizade, a lealdade, a
reciprocidade? Será correto que um amigo pactue com pessoas que humilharam o
meu amigo? Cabe aqui a sabedoria popular: “Quem
não se sente não é filho de boa gente”, ou então: “Quem é amigo do meu adversário, não pode ser meu amigo”, ou ainda:
“quem é amigo de quem não é meu amigo,
não será amigo meu”. Para as consciências bem-formadas, não se pode “Amar a Deus e ao Diabo” ao mesmo tempo.
Se se estiver dos dois lados, então tudo não passa de falsidade, hipocrisia,
traição. Nestas circunstâncias, não poderá existir amizade verdadeira, pura,
solidária. Não existe amigo incondicional.
Em boa consciência e honestidade intelectual, quando
os valores e sentimentos em que acreditamos e os oferecemos, generosamente, à
pessoa que consideramos nossa amiga, que pela amizade desta pessoa, lhe abrimos
o nosso coração, confiamos os nossos desejos, projetos, dificuldades, às vezes,
as mais íntimas, e dela, mais tarde, recebemos a indiferença, a rejeição, a
desconsideração, a falta de estima, de carinho e de amizade, tal comportamento
provoca profunda mágoa, tristeza, dor, sofrimento e desgosto. Pode conduzir, a
emoções fortíssimas, a uma ansiedade tão acentuada e, finalmente, eclodir em
situações irreversíveis.
Nestas conjunturas, o amigo que se doou a quem
pensava que também era seu amigo, sente-se traído nos seus valores e
sentimentos não retribuídos e, pior do que isso, a dor da humilhação, da
rejeição, da ridicularização a que fica submetido, pode conduzir à doença:
primeiro, do foro psicológico, apatia, depressão; depois, fisicamente,
caminhando, inexoravelmente, para a degradação, para a morte inglória, por uma
amizade que deixou de ser correspondida e acabou por ser atraiçoada.
Sem dúvida que o mundo é demasiado
pequeno: 1) tem imensas “esquinas” e, em muitos momentos da vida, ao dobrarmos
uma dessas esquinas, encontramo-nos com pessoas que foram nossas amigas, que
nos apoiaram, mas que depois nós abandonamos, desprezamos e humilhamos; 2) Deus
é imenso, - e para quem não é crente – Ele, fica representado pelo Tribunal da
Consciência, ao qual não temos escapatória possível, que sancionará todos os
nossos atos; 3) a vida ensina-nos muito do que precisamos para sobreviver num
mundo de falsidades: desde hipocrisias, deslealdades, faltas de solidariedade,
desconsideração, mágoas, desgostos, tudo nos vai caindo em cima e assim vamos
aprendendo; 4) o passado fica inscrito para sempre na nossa consciência e tudo
o que tivermos feito, de bom e de mal, nos será premiado ou censurado, até que
a morte nos leve; 5) finalmente, vai surgir a maturidade, o bom senso, alguma
sabedoria, a tranquilidade. Aqui haverá uma réstia de esperança na
reconciliação e, quem sabe, a retoma de uma amizade que estaria “enferma”;
Poderá, então, surgir a humildade, a
gratidão, a paz de espírito, porém, quantas vezes, estes nobres sentimentos
chegam tarde, muito tarde. Restará, então, desejar ao amigo que nos abandonou
que siga o seu rumo, que vá com Deus. Numa frase bem sentida, diremos então: “Vai, vai com Deus, Querido Amigo. Vai, vai
com Deus, meu Amor-de-Amigo. Deus te proteja.”
Este amigo, que nos abandonou, que nos
trocou, que traiu as nossas esperanças numa amizade duradoura, quantas vezes
com argumentos injustos, com a frieza de uma racionalidade cirurgicamente
orientada para outras pessoas, outros interesses, outras situações, um dia
sofrerá, também ele, a hipocrisia de algumas dessas mesmas pessoas com as quais
nos traiu. Então saberá valorizar a grandeza dos nossos valores, sentimentos e
dedicação que tivemos para com ele. Surgirá aqui a Reconciliação?
Amigo do coração, especial, responsável por
promessas de “Amor-de-Amigo”, para
sempre, juras de solidariedade, de amizade, de lealdade, do: “estar do seu lado” e nunca do lado do “Amo e do Servo”, ou “em cima do muro”, onde estás amigo
exclusivo, verdadeiro, incondicional? Mas esse amigo existe e todos nós
poderemos ter a oportunidade de ganhar um amigo assim, o que é um privilégio,
diria mesmo, uma Dádiva Divina e que, por isso mesmo, tudo, mesmo tudo,
deveremos fazer para nunca o perder.
Como é maravilhoso, então, podermos ouvir de uma pessoa que
consideramos nossa verdadeira amiga, frases como: «Querido Amigo, a minha amizade por si continua a mesma, não estou do
lado de Deus e do Diabo ao mesmo tempo, estou sempre do mesmo lado (Deus), em
particular do seu, poderá sempre contar comigo, seja a nível pessoal, familiar
ou profissional em projetos futuros. Também lhe lanço um desafio, aguardo que
no próximo ano lance um Manual de Ciências Sociais (por um especialista em CS)!
Aguardo este manual e outros livros que venha a comunicar! Obrigado pela sua
amizade pura, sincera e incondicional. Muitos beijos para um amigo especial!»
(2012).
É de um amigo puro que precisamos. Um amigo, com as
dimensões já identificadas, é suficiente para sermos felizes no campo da
amizade. Quem conseguir conquistar e consolidar um amigo destes, não morrerá
sozinho no hospital, nem na cadeia, nem no infortúnio e terá as dificuldades da
vida muito amenizadas.
Eu quero um amigo destes! Onde encontrá-lo? Onde
estás amigo especial? Eu sei onde está: tal amigo reside em quem me quer bem,
em quem me é solidário, naquela pessoa que me tem amizade, que me é leal, que
confia em mim e que, inequivocamente, está incondicionalmente do meu lado,
tanto: na alegria, na felicidade, na prosperidade; como na tristeza, na
adversidade e nas contrariedades da vida. Esse amigo existe, certamente, e eu
acredito nele.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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