domingo, 29 de julho de 2018

A Altivez de quem já não precisa de um amigo especial

Por vezes pensamos que determinada pessoa é nossa sincera amiga e então, nela confiamos tudo da nossa vida, solidarizamo-nos com ela, sempre que houver injustiças; somos leais, educados, atenciosos, generosos e, se for necessário, até nos incompatibilizamos com outras pessoas que foram injustas e/ou incorretas com o nosso amigo. Tudo se faz por uma amizade incondicional.

Acontece que se a pessoa que consideramos ser nossa amiga, pela qual tudo demos e fizemos, ela não tem igual procedimento, quando somos nós os alvos de injustiças e, pelo contrário, até se relaciona com outras pessoas que, em dado momento, nos ofenderam, magoaram ou foram incorretas connosco, será aquela pessoa, verdadeiramente nossa amiga, quando se junta aos que nos ofenderam e magoaram?

Onde estão a solidariedade, a amizade, a lealdade, a reciprocidade? Será correto que um amigo pactue com pessoas que humilharam o meu amigo? Cabe aqui a sabedoria popular: “Quem não se sente não é filho de boa gente”, ou então: “Quem é amigo do meu adversário, não pode ser meu amigo”, ou ainda: “quem é amigo de quem não é meu amigo, não será amigo meu”. Para as consciências bem-formadas, não se pode “Amar a Deus e ao Diabo” ao mesmo tempo. Se se estiver dos dois lados, então tudo não passa de falsidade, hipocrisia, traição. Nestas circunstâncias, não poderá existir amizade verdadeira, pura, solidária. Não existe amigo incondicional.
Em boa consciência e honestidade intelectual, quando os valores e sentimentos em que acreditamos e os oferecemos, generosamente, à pessoa que consideramos nossa amiga, que pela amizade desta pessoa, lhe abrimos o nosso coração, confiamos os nossos desejos, projetos, dificuldades, às vezes, as mais íntimas, e dela, mais tarde, recebemos a indiferença, a rejeição, a desconsideração, a falta de estima, de carinho e de amizade, tal comportamento provoca profunda mágoa, tristeza, dor, sofrimento e desgosto. Pode conduzir, a emoções fortíssimas, a uma ansiedade tão acentuada e, finalmente, eclodir em situações irreversíveis.
Nestas conjunturas, o amigo que se doou a quem pensava que também era seu amigo, sente-se traído nos seus valores e sentimentos não retribuídos e, pior do que isso, a dor da humilhação, da rejeição, da ridicularização a que fica submetido, pode conduzir à doença: primeiro, do foro psicológico, apatia, depressão; depois, fisicamente, caminhando, inexoravelmente, para a degradação, para a morte inglória, por uma amizade que deixou de ser correspondida e acabou por ser atraiçoada.
Sem dúvida que o mundo é demasiado pequeno: 1) tem imensas “esquinas” e, em muitos momentos da vida, ao dobrarmos uma dessas esquinas, encontramo-nos com pessoas que foram nossas amigas, que nos apoiaram, mas que depois nós abandonamos, desprezamos e humilhamos; 2) Deus é imenso, - e para quem não é crente – Ele, fica representado pelo Tribunal da Consciência, ao qual não temos escapatória possível, que sancionará todos os nossos atos; 3) a vida ensina-nos muito do que precisamos para sobreviver num mundo de falsidades: desde hipocrisias, deslealdades, faltas de solidariedade, desconsideração, mágoas, desgostos, tudo nos vai caindo em cima e assim vamos aprendendo; 4) o passado fica inscrito para sempre na nossa consciência e tudo o que tivermos feito, de bom e de mal, nos será premiado ou censurado, até que a morte nos leve; 5) finalmente, vai surgir a maturidade, o bom senso, alguma sabedoria, a tranquilidade. Aqui haverá uma réstia de esperança na reconciliação e, quem sabe, a retoma de uma amizade que estaria “enferma”; 
Poderá, então, surgir a humildade, a gratidão, a paz de espírito, porém, quantas vezes, estes nobres sentimentos chegam tarde, muito tarde. Restará, então, desejar ao amigo que nos abandonou que siga o seu rumo, que vá com Deus. Numa frase bem sentida, diremos então: “Vai, vai com Deus, Querido Amigo. Vai, vai com Deus, meu Amor-de-Amigo. Deus te proteja.”
Este amigo, que nos abandonou, que nos trocou, que traiu as nossas esperanças numa amizade duradoura, quantas vezes com argumentos injustos, com a frieza de uma racionalidade cirurgicamente orientada para outras pessoas, outros interesses, outras situações, um dia sofrerá, também ele, a hipocrisia de algumas dessas mesmas pessoas com as quais nos traiu. Então saberá valorizar a grandeza dos nossos valores, sentimentos e dedicação que tivemos para com ele. Surgirá aqui a Reconciliação?
Amigo do coração, especial, responsável por promessas de “Amor-de-Amigo”, para sempre, juras de solidariedade, de amizade, de lealdade, do: “estar do seu lado” e nunca do lado do “Amo e do Servo”, ou “em cima do muro”, onde estás amigo exclusivo, verdadeiro, incondicional? Mas esse amigo existe e todos nós poderemos ter a oportunidade de ganhar um amigo assim, o que é um privilégio, diria mesmo, uma Dádiva Divina e que, por isso mesmo, tudo, mesmo tudo, deveremos fazer para nunca o perder.

Como é maravilhoso, então, podermos ouvir de uma pessoa que consideramos nossa verdadeira amiga, frases como: «Querido Amigo, a minha amizade por si continua a mesma, não estou do lado de Deus e do Diabo ao mesmo tempo, estou sempre do mesmo lado (Deus), em particular do seu, poderá sempre contar comigo, seja a nível pessoal, familiar ou profissional em projetos futuros. Também lhe lanço um desafio, aguardo que no próximo ano lance um Manual de Ciências Sociais (por um especialista em CS)! Aguardo este manual e outros livros que venha a comunicar! Obrigado pela sua amizade pura, sincera e incondicional. Muitos beijos para um amigo especial!» (2012).
É de um amigo puro que precisamos. Um amigo, com as dimensões já identificadas, é suficiente para sermos felizes no campo da amizade. Quem conseguir conquistar e consolidar um amigo destes, não morrerá sozinho no hospital, nem na cadeia, nem no infortúnio e terá as dificuldades da vida muito amenizadas.
Eu quero um amigo destes! Onde encontrá-lo? Onde estás amigo especial? Eu sei onde está: tal amigo reside em quem me quer bem, em quem me é solidário, naquela pessoa que me tem amizade, que me é leal, que confia em mim e que, inequivocamente, está incondicionalmente do meu lado, tanto: na alegria, na felicidade, na prosperidade; como na tristeza, na adversidade e nas contrariedades da vida. Esse amigo existe, certamente, e eu acredito nele.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal


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