A existência humana
compõe-se de êxitos e fracassos, sejam eles de natureza material ou imaterial.
Elaborar projetos de vida, executá-los e avaliá-los é um dever legítimo de toda
a pessoa.
Lutar pelo êxito de tais
projetos é uma atitude salutar, que promove o desenvolvimento, o progresso e o
bem-estar. Exigir educação e formação para a aplicação de uma filosofia do
sucesso é uma condição que deve ser considerada, não só pelo próprio, como
também pelos grupos intervenientes, institucionais ou não, formais ou
informais, destacando-se, pela sua capacidade de congregar recursos diversos, o
Estado.
Quanto maior for o
sucesso dos cidadãos individuais, mais aumentam as possibilidades da comunidade
em geral, para alcançar idêntico êxito e o correspondente bem-estar. Para que
tais objetivos sejam alcançados é necessário criar um espírito de
competitividade, uma filosofia para o sucesso, o mais cedo possível, na vida de
cada pessoa, desejavelmente, na idade escolar.
Educar e formar para a
filosofia do sucesso pode constituir um bom princípio para percorrer o caminho
do bem-estar, obviamente sem atropelar idênticos direitos e estratégias dos
seus semelhantes.
A Filosofia também tem
uma imensa dimensão prática. Nem outra condição seria de esperar, na medida em
que é através da reflexão, da criatividade, de ideias originais, de teorias,
mais ou menos consistentes, que se constrói o mundo abstrato e artificial em
que a humanidade vive, se buscam as condições máximas para o bem-estar geral e
material, mas também individual e interior.
A ideologia, na sua
vertente de construção de ideais, entenda-se, bons ideais, ao serviço dos
valores universais de: Deus, paz, justiça, família, trabalho, educação,
liberdade, segurança, propriedade, democracia, tolerância e tantos outros,
representa o mais elevado grau da inteligência abstrata do homem, que nenhum
outro animal consegue atingir.
Também aqui, no mundo dos
valores, a Filosofia tem um papel fundamental porque: «Embora o reconhecimento do universo de valores seja tão antigo quanto
a capacidade que o homem tem de pensar a respeito de suas acções, apenas no
século XIX surge a teoria dos valores ou axiologia, como disciplina filosófica
específica que aborda de maneira sistematizada essa temática.» (ARANHA,
1996:118).
O projeto de vida que
incorpore as dimensões: científica, técnica e filosófica, provavelmente, terá
as melhores condições possíveis para o sucesso material e espiritual ou
interior, pensando-se que não será fácil a uma pessoa sentir-se realizada,
(feliz?) apenas na vertente material; o contrário também se aceita como
possível (mesmo indo contra um certo romantismo, defensor da pobreza digna e
honesta).
O sucesso e os bens
materiais não são inimigos, nem incompatíveis com os valores morais, éticos e
religiosos, nem tão pouco com uma vida simplificada, humilde e despida de
preconceitos.
Aliás, o que seria
desejável é que o homem se realizasse integralmente, nas suas duas principais
dimensões: física e espiritual. Nessa perspectiva, as famílias e as outras
instituições – escola, Igreja, empresa, associações, organizações não
governamentais, comunidade, comunicação social – têm uma função primordial na
educação das crianças, jovens e adultos, (e até nos idosos) para uma filosofia
do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar, assente no estudo, no trabalho
e na economia, esta, por via da poupança.
O primeiro quarto deste
novo século, bem poderia ficar indelevelmente inscrito na história da
humanidade, como o início de uma nova era do desenvolvimento, do progresso e da
harmonia entre os vários povos de um mesmo planeta.
O caminho a percorrer,
dados os imensos obstáculos, criados e mantidos pelo próprio homem, é longo e
difícil, mas não haverá outro se de facto se desejar um mundo melhor para as atuais
e vindouras gerações. É necessária muita coragem, um forte sentimento de
solidariedade e grande controlo sobre os egoísmos exacerbados e, praticamente,
ilimitados de uns, que teriam o dever de ajudar os milhões de pobres, discriminados
e marginalizados.
Àqueles que já possuem
muito, mesmo que os seus bens tenham sido adquiridos, legitima e legalmente,
por mérito próprio, com base no trabalho, no estudo e na poupança, não causará
grande diferença se aplicarem uma parte desse património no desenvolvimento que
favoreça os mais necessitados.
Uma tal atitude dos mais
ricos vem confirmar que: «São
indispensáveis novas formas de desenvolvimento entre os ricos para o melhor
desenvolvimento dos mais desfavorecidos. É por um duplo esforço tendente a um
fim comum que se pode esperar a redução das desordens mais flagrantes na
economia mundial. A reestruturação material da produção e das trocas exige a
renovação dos instrumentos de análise e das doutrinas. Para esta tarefa de
civilização são convocadas as culturas originais em que conjuntos humanos, no
decurso de uma longa história, tentaram inscrever as suas razões de viver.»
(PERROUX, 1987:35).
A existência de extrema
pobreza de muitas famílias, e da miséria absoluta de outras, a par daquelas
que, por vergonha, tentam encobrir situações verdadeiramente desumanas,
constitui, atualmente, para um mundo pretensiosamente civilizado, moderno,
progressista, científica e tecnologicamente avançado, um libelo impossível de
se ignorar.
A responsabilidade por
esta inaceitável chaga mundial, que deve envergonhar todos aqueles que, podendo
fazer alguma coisa, não o têm conseguido, estende-se um pouco a toda a
humanidade, incluindo os próprios indivíduos que vivem aquelas situações
humilhantes, partindo do pressuposto que não teriam feito tudo o que poderiam,
e deveriam, para viverem uma vida melhor.
Em todo o caso, a
responsabilidade maior sempre poderá ser atribuída a quem detém os recursos e
os meios para os implementar, bem como àqueles que tendo a obrigação de darem
exemplos de sobriedade, rigor, simplicidade e transparência, na gestão dos
recursos públicos, agem, precisamente, ao contrário e, muitas vezes, em
benefício de um determinado grupo privilegiado em que se inserem, porque em bom
rigor: «O desenvolvimento de cada homem é
uma finalidade que deveria ser aceite unanimemente pelos responsáveis da
política, da economia e da investigação, hoje que alguns dos estratagemas mais
grosseiros foram desmascarados pela história contemporânea, à custa das violências
sangrentas que as violências íntimas provocam nas instituições.» (Ibidem.:34).
É evidente que ao
imputarem-se responsabilidades, a quem detém determinados poderes: político,
económico, investigativo, estratégico, bélico, religioso, influenciador na
organização e desenvolvimento da sociedade, pretende-se envolver o homem no seu
estatuto individual, adquirido ou construído.
Nessa perspectiva, e na
linha de pensamento já esboçada acima, defende-se o princípio, segundo o qual:
cada pessoa tem de se responsabilizar pela elaboração, desenvolvimento e
validação (ou não) do seu próprio projeto de vida.
Se os resultados negativos não lhe forem
maioritariamente imputáveis, então sim, os poderes constituídos e já
mencionados, têm a obrigação de ajudar, orientar, conduzir e avaliar quaisquer
outros projetos, que conduzam ao sucesso daquele indivíduo, daquela família ou
comunidade.
Desta forma, pretende-se,
assim, incluir o indivíduo no seu próprio projeto de vida, concedendo-lhe todas
as facilidades possíveis e exigindo-se-lhe as correspondentes
responsabilidades, porque esta estratégia pode contribuir para o êxito do ideal
de vida e da própria auto-estima do sujeito, diretamente envolvido e
interessado no seu sucesso.
Resulta, em primeira
instância, que concedidas todas as condições materiais, técnicas e
administrativo-legais ao cidadão, para desenvolver o seu projeto de vida, ele
não poderá, em circunstâncias normais, imputar a responsabilidade de um
eventual fracasso a outras pessoas e/ou instituições.
Recusa-se assim um
Estado, ou um determinado poder público e/ou privado, paternalista, benfeitor,
misericordioso ou obrigado a prestar caridade, porque em boa coerência,
concorda-se que: «O desenvolvimento das
pessoas é obra das próprias pessoas; nem uma só pode descarregar sobre outrem o
cuidado de sua existência humanizada e da sua própria expansão. Este imperativo
é precedido em muitas culturas e encorajado por um grande número de pensamentos
religiosos.» (Ibidem.:251).
Governantes e governados, empresários e
trabalhadores, professores e alunos, religiosos e crentes, todos serão
envolvidos numa filosofia de vida direcionada para o desenvolvimento de
melhores condições de bem-estar individual e coletivo.
A existência e manutenção de: certos
preconceitos, estatutos sociais e outros; excessivos egoísmos e ilimitadas
ambições, certamente que prejudicam qualquer projeto de desenvolvimento pessoal
e comunitário, sendo, igualmente, verdade que o homem, na sua passagem física
pela Terra, tem o dever de deixar a sua marca humanista, solidária, altruísta e
progressivamente ao serviço de toda a humanidade.
O processo de desenvolvimento passa,
necessariamente, pela rápida aproximação entre ricos e pobres, pela inclusão
dos povos, pela livre circulação e estabelecimento das pessoas, num espaço interplanetário
que a todos foi concedido, sem privilégios para ninguém.
É correto e plausível
aceitar-se que uns possam viver melhor do que outros, quando os que estão em
piores condições, se recusam a participar no seu próprio projeto de vida e na
construção de uma sociedade mais humana e mais justa; a assertiva contrária é,
igualmente, correta e aceitável, isto é, se aqueles que pelo trabalho, pelo
estudo, pela poupança e participação no desenvolvimento individual e coletivo,
se encontram numa situação mais favorável, deve-se-lhes reconhecer o mérito e,
na medida do possível, procurar imitá-los, precisamente, com as mesmas armas.
A inveja, a maledicência
e outros sentimentos e comportamentos, respetivamente, em relação aos ricos
e/ou àqueles que tem sucesso na vida, não são valores e processos compatíveis
com o homem educado, bem formado, que se pretenda impor na comunidade como
pessoa competente, digna e respeitada.
Bibliografia
ARANHA, Maria
Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed.
São Paulo: Moderna.
PERROUX, François, (1987).
Ensaio sobre a Filosofia do Novo Desenvolvimento. Tradução, L. M. Macaísta
Malheiros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (UNESCO, 1981)
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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