A importância de disciplinas como a história, a
sociologia, a psicologia, a filosofia educacional, a didática e a pedagogia, na
formação do professor/formador é inquestionável, a par das disciplinas
específicas da área de especialização do futuro docente/formador.
Uma visão global dos conhecimentos essenciais e
caracterizadores da pessoa-humana, constitui um património cultural que deve
ser exigido ao professor/formador, que assim se considera melhor preparado para
formar verdadeiros profissionais e cidadãos responsáveis.
Nessa perspectiva é incorreto que certos organismos
e seus dirigentes exijam ao docente/formador trabalho burocrático, mais
apropriado aos funcionários administrativos porque: «… o processo de trabalho do professor/formador não pode ser entendido
apenas nas dimensões controle ou autonomia, mas também na dimensão de formação
de novas gerações, construindo possibilidades de exercício de cidadania.»
(SOUZA, 1996:20).
Em todos os níveis e nos diversos domínios
ministrados, é sempre possível ao professor/formador, conceber o cidadão atual,
para que, no mínimo, fique sensibilizado para aprofundar e exercer os direitos
e deveres de cidadania, seja qual for a sua profissão, estatuto e habilitações
académicas.
Por isso, em certos domínios, se recusa,
categoricamente, não só a substituição do professor/formador por máquinas de
ensinar, como o seu afastamento precoce, ou a negação em aceitar a sua oferta
de colaboração profissional, integrado num cargo docente/formativo estável,
efetivo e apoiado, numa escola pública ou privada, porque: «O professor/formador é aquele que tem
conhecimentos e que sabe transmiti-los (…). Também é aquele que transmite
experiência, entendida não só como valores culturais, mas também como
compromisso político, seja com os alunos/formandos, de forma mais direta, ou
com a sociedade. Assim, a educação escolar – conteúdo do trabalho docente – tem
por finalidade construir a possibilidade de cidadania.» (Ibid:94).
É claro que nem todo o sucesso pertence ao
professor/formador, quando se discute a formação de pessoas, que não é a mesma
coisa que domesticar ou amestrar animais de circo e, muito menos, ainda,
transformá-las em máquinas comandadas por outras máquinas.
A preparação das pessoas para a vida humana, passa
pelos vários intervenientes que se estão a identificar e a desenvolver,
reservando-se este número à escola, em todos os níveis, sendo seguro que na
parte mais avançada do processo se encontram universidades e institutos
superiores, que possuem recursos humanos, técnicos e financeiros de dimensões
diferentes das do ensino obrigatório, aprendizagem e formação.
Os estabelecimentos superiores de ensino e de
formação profissional, em quaisquer domínios, tem uma responsabilidade muito
específica na preparação da sociedade do futuro, porque: «uma das formas da Universidade desenvolver bem o ensino e a pesquisa é
através da formação de cidadãos aptos a exercerem funções especializadas em
todas as áreas do conhecimento. E essa formação de cidadãos deve
caracterizar-se como a preparação de homens pensantes, que buscam continuamente
novos caminhos e não de máquinas que sempre repetem automaticamente os mesmos
movimentos.» (LINHARES et. al., s.d.:56).
Hoje, primeiro quarto do século XXI, a formação do
cidadão luso-brasileiro, por exemplo, passa pela escola e cada vez mais se
deseja que o cidadão possua uma preparação superior. O professor/formador, para
a maior parte do ensino/formação, já possui tal nível ou grau académico,
todavia, em muitas outras atividades, cujos responsáveis também têm funções de
lidar diretamente com pessoas, ainda não possuem a preparação que seria, a
nível pedagógico e cultural, desejável.
Mas, no que aos professores/formadores concerne,
igualmente se verifica que, em algumas especializações, ainda falta uma certa
cultura educacional e, noutros casos, a experiência é mínima, ou praticamente
nula, não obstante os estágios a que os recém-licenciados são submetidos.
A saída para melhorar os sistemas educativos passa
por um investimento muito forte na formação de professores, educadores,
orientadores educativos, formadores e tutores. Educar, formar e orientar, é um
trinómio que o professor/formador bem preparado pode utilizar, muito
eficazmente, porque não só contribui para a credibilização dos sistemas
educativos e formativos, como, também, para a criação de uma genuína geração de
cidadãos de excelência.
Neste contexto, o papel do professor/formador, e
também do educador, muito enriquece a formação dos cidadãos a partir dos
primeiros anos de aprendizagem geral. Na verdade, «ao desempenhar sua tarefa educacional, o professor/formador educador o
faz, ainda (…) como tarefa essencialmente ética e política, sem dúvida alguma,
abrange as crianças, valores e formas de agir de seus alunos e, por isso,
extrapolam a sala de aula, interferindo na formação do cidadão…» (PLACCO,
2000:31).
O cidadão preparado para a modernidade e enquanto
naquela qualidade, será formado pela escola, em consonância com os restantes
elementos da sociedade, de tal forma que em circunstâncias adequadas possa ser,
também ele, no exercício das múltiplas tarefas que a vida lhe vai
proporcionando, e/ou exigindo, um autêntico educador, designadamente, daqueles
que com ele convivem. Cria-se aqui como que uma espécie de cumplicidade em
círculo vicioso que, depois de completado o ciclo das primeiras gerações, todos
estarão, reciprocamente, formando-se para a cidadania e para o trabalho ativo
competente.
Apesar deste sistema, em dado momento, se auto-alimentar,
em termos de educação para a cidadania e para o trabalho produtivo, as
principais fontes devem manter-se sempre em permanente atualização: família,
igreja, escola, empresa e comunidade, prosseguirão na educação e formação dos
seus membros.
Com esse antídoto e no âmbito do presente tema,
escola, professor/formadores e alunos/formandos continuam as atividades
próprias. O professor/formador desenvolverá as suas competências, desempenho e
atualização, sempre buscando a excelência do seu magistério.
Sem se pretender aqui aprofundar o conceito de bom
ou de mau professor/formador, dada a subjetividade da análise, a complexidade
dos processos avaliativos e a determinação dos objetivos a atingir, a partir de
normas legais, e porque não cabe no âmbito do presente trabalho, a questão
sempre se coloca, ainda que genericamente, por alunos/formandos, encarregados
de educação, dirigentes e demais agentes do sistema educativo e formativo.
Ainda assim, e sempre pela positiva, deixar aqui
uma referência ao bom professor/formador, enquanto conceito valorativo deste
tempo e espaço, parece um razoável contributo, no sentido de se refletir nas
vantagens de se ser bom profissional em geral e, concretamente, bom
professor/formador.
Pela
pertinência da situação portuguesa, no que respeita ao insucesso escolar, e/ou
abandono da escolaridade, conjugados com as questões sociais que igualmente
afetam e, meditando-se no atual momento que vive a sociedade portuguesa (e
também a brasileira), a reflexão que se impõe, sobre uma de muitas outras
possíveis, quanto ao conceito de bom professor/formador, pode resumir-se na constatação de que: «... é necessário um professor/formador consciente das questões
sociais e competente tecnicamente para
engajar-se na luta em favor da melhoria das condições de vida do povo brasileiro
» (CUNHA, 2001:171) e, acrescentar-se-ia o povo português, a comunidade
lusófona, enfim, a resolução das carências dos mais desfavorecidos em todo
mundo, porque em todos os países há situações sociais deprimentes.
Bibliografia
CUNHA, Maria Isabel da,
(2001). O Bom Professor/formador e a sua
Prática, 12ª Ed., Campinas-SP: Papirus, (Colecção Magistério: Formação e
trabalho Pedagógico)
LINHARES, Célia, et al., (s.d.). Formação
de Professor/formadores: Pensar e Fazer, 4ª. Ed., São Paulo SP: Brasil,
Cortez.
PLACCO, Vera Maria Nigro de
Sousa, (2000). Formação e Prática do
Educador e do Orientador: Confrontos e Questionamentos, 4ª Ed. Campinas:
Papirus. (Colecção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
SOUZA, Aparecida Neri de,
(1996). Sou Professor/formador, sim
senhor: representações do trabalho docente, Campinas: Papirus. (Colecção
Magistério: formação e Prática Pedagógica).
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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