As sociedades, que atualmente compõem o mundo
contemporâneo, vivem em situações difíceis, independentemente dos estatutos
sócio-profissionais e económico-financeiros dos seus membros, excetuando-se,
certamente, algumas minorias, detentoras de um qualquer poder influenciador no
decurso das vidas das maiorias, embora, e por vezes, tais minorias
privilegiadas, também acabem por cair no mundo das muitas desgraças,
normalmente: ou por um determinado tipo de abuso do poder; ou porque a ganância
as levou a arriscar demasiado, ou, ainda, porque perderam a confiança em
valores que sustentavam os seus poderes e intervenções.
A confiança é, portanto, um sentimento ou uma
convicção que fortalece as pessoas, para desenvolverem os seus projetos,
desempenharem com segurança os diversos papéis que a vida lhes exige ou, ainda,
o autoconhecimento das suas próprias capacidades. Sem confiança naquilo em que
se acredita, nada se consegue na vida. Sem a confiabilidade recíproca, as
pessoas dificilmente se entendem.
O sucesso individual, organizacional, comunitário,
societário e universal, pressupõe sempre uma grande participação do elemento
confiança. Confiar é uma atitude difícil, num mundo em permanente tensão, mas
na verdade, sem esse espírito, pouco ou nada se consegue, inclusivamente ao
nível das relações interpessoais, em todos os contextos da vida. A confiança,
seguramente que implica outros valores, igualmente fundamentais na boa ligação
entre pessoas.
As relações humanas, desejando-se assertivas,
pressupõem que as partes envolvidas num qualquer relacionamento, confiem
suficientemente, uma na outra, porque sem um tal espírito de abertura, de
sinceridade, de lealdade, de reciprocidade, de confiabilidade mútua, de dádiva
e de cumplicidade, jamais se conseguirá atingir uma boa relação.
Por vezes: «Aprendemos
a confiar em quem demonstra gostar de nós ou estar aberto para nós; é um
fenómeno emocional, baseado em empatia, sensações e sentimentos (…). Que bom
seria se o mundo fosse assim tão simples; confiar nas pessoas amorosas, não
cofiar nas mal-encaradas … o facto é que a realidade é bem mais complicada.
Aqueles em quem confiamos às vezes se mostram indiferentes, ou irritados, negam
o que queremos, não agem de acordo com a nossa vontade (…). A partir do
relacionamento com as pessoas mais próximas, testamos e desenvolvemos um
conjunto de comportamentos que geram os retornos desejados.
Conforme
crescemos, entendemos cada vez melhor que a confiança não está apenas
relacionada com os nossos instintos e sentimentos, mas também com as nossas
atitudes em relação aos outros e às dos outros em relação a nós. Entendemos que
a confiança se conquista, se inspira e se constrói num plano de interesses em
comum, objetivos compartilhados, afinidades de valores, respeito e
consideração. É a confiança baseada na razão.»
(NAVARRO e GASALLA, 2007:19-20).
Abordar
a Felicidade, como uma possibilidade de sucesso para uma vida digna, é uma
tarefa árdua, porém, aliciante e que se torna gratificante pelo facto de se
tratar de um tema que a toda a pessoa interessa. Quem não deseja ser feliz, à
sua maneira, é claro? Até porque: «Todo o
homem quer ser feliz; mas para o conseguir, seria necessário começar por saber
o que é a felicidade.» (ROUSSEAU, in: RICARD, 2003:11).
Numa
abordagem conceptual muito simples a Felicidade poderá considerar-se que existe
quando: «Uma Pessoa sente-se em harmonia com
o mundo que a rodeia e consigo própria. Para quem vive tal experiência, como
passear numa paisagem de neve, os pontos de referência habituais desvanecem-se:
além do ato simples de caminhar, nada espera de particular: está, simplesmente
aqui e agora, livre e aberto.» (in: RICARD, 2003:14). Claro que a ideia
bucólica de Felicidade é interessante, todavia, torna-se necessária uma
abordagem mais profunda, sentimental e vivida intensamente.
Refletir
sobre a Felicidade revela-se de grande dificuldade, mas viver a Felicidade será
algo que transporta a pessoa que a experiencia, para um mundo que se poderia
aproximar do transcendental, ou mesmo do sobrenatural porque, provavelmente, a
Felicidade pura, que também se desconhece, não existirá, além de que cada pessoa
tem o seu conceito deste supremo bem, não havendo, por isso mesmo, uma
definição fechada, e ainda bem, porque se houvesse, tal seria redutora para
outras concepções e até para uma dimensão supra-universal.
Apesar
das dificuldades em conceptualizar a Felicidade, é necessário acreditar que ela
existe, é importante confiar nas suas virtualidades, que muitas pessoas dizem
ser felizes. É essencial crer na felicidade que, de diversas formas, cada
pessoa vive. Sim, porque se há quem se considere infeliz, então, nesta
afirmação, está implícito o oposto: a Felicidade existe.
É
possível, no meio de tanta indefinição, dúvidas e incertezas, encontrar uma
ideia pacífica para descrever a Felicidade, como por exemplo: «A verdadeira felicidade provém da bondade
essencial que deseja, do fundo do coração, que cada um descubra um sentido para
a sua existência. É um amor sempre disponível, sem ostentação nem cálculo. A
simplicidade imutável de um coração bom.» (RICARD, 2003:30).
Há quem defenda que, por um lado: «Não é possível viver feliz se não se levar
uma vida bela, justa e sábia, nem levar uma vida bela, justa e sábia sem se ser
feliz» (EPICURO, in: RICARD, 2003:242) e, por outro lado: «A ética nasceu como a ciência da
felicidade. Para ser feliz vale mais ocupar-se dos outros ou pensar
exclusivamente para si?» (LUCA e CAVALLI-SFORZA, in: Ibid.), ou ainda: «Portanto, deve-se renunciar a todo o prazer
egoísta – a que não se poderia dar o nome de felicidade – que só se pode
conseguir em detrimento de outrem. Em contrapartida convém realizar um ato que
contribua para a felicidade de outrem, ainda que no momento o sintamos como
desagradável. É certo que por fim ele concorrerá igualmente para a nossa
verdadeira felicidade, isto é, para a satisfação de ter agido em conformidade
com a nossa natureza profunda.» (RICARD, 2003:243).
Na
linha axiológica-racional que se tem vindo a seguir, poder-se-á inferir que a
Felicidade é um bem partilhado, na medida em que ela só é possível numa pessoa
quando isenta de egoísmo e sempre que envolva, igualmente, a Felicidade de
outra ou outras pessoas, ou seja, não se pode desejar a Felicidade própria à
custa da infelicidade de outrem e, quando se pugna pela Felicidade, deve-se ter
o cuidado, se possível, ajudar que outra ou outras pessoas consigam também ser
felizes, sem quaisquer sentimentos ou atitudes de inveja.
Como corolário e ideia central estatística pode-se
admitir, como primeira hipótese de trabalho que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e a participação em
organizações beneficientes, a prática do desporto e música e a pertença a um
clube que proponha actividades diversas. Está estreitamente ligada à presença e
à qualidade das relações privadas. As pessoas casadas ou que vivem maritalmente
são quase duas vezes mais felizes do que os solteiros, os viúvos ou os
divorciados que vivem sós.» (Ibid.:217
NAVARRO, Leila e GASALLA, José
Maria, (2007). Confiança. A Chave para o Sucesso Pessoal e Empresarial.
Adaptação do Texto por Marisa Antunes. s.l., Tipografia Lousanense
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade.
Tradução, Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.
Venade/Caminha –
Portugal, 2020
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
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