Quando se aborda este ou aquele texto, incluiu-se
num determinado tipo de conteúdo e, assim, coloca-se, logo à partida, numa
posição mais adequada a esse tipo de texto. O seu encontro com a obra: não se
dá num contexto exterior ao tempo, e ao espaço externo ao seu próprio horizonte
de experiência e de interesses; dá-se sim num tempo e num lugar determinados.
O círculo hermenêutico, implicado na compreensão,
funda-se na experiência ontológica que o homem tem do seu mundo: «A situação fundamental do homem no mundo
pode descrever-se em termos de implicação e explicação, e o chamado círculo
hermenêutico quer designar esta situação fundamental do homem.»
(ORTIZ-OSÉS, 1983:75).
A estrutura dialética não é a do “sujeito/objeto”,
mas a de “mundo e homem”, porque a peculiaridade do homem não se coloca na mera
inteligência, mas no seu entendimento (compreensão), isto quer dizer que a
postura do homem no seu mundo, não é de inexperiência (tábua rasa, ponto zero),
mas de portador de uma pré-compreensão da realidade, o homem compreende: «A partir da própria experiência
auto-interpretativa humana» (Ibid:76).
O mesmo círculo mostra que a antecipação de um
horizonte depende, efetivamente, do passado. O compreender será atual,
formulando o horizonte do presente, em comunicação efetiva com a tradição. Isto
significa que não há compreensão sem pressupostos (ligação matriarcal que
existe por trás de tudo).
Compreende-se, através duma constante referência à
experiência vivida (ontológica), visto que se entende sempre a partir de um horizonte
próprio, a compreensão pressupõe, constantemente, um movimento às coisas, ao
mundo, às origens: «Uma teoria da
compreensão torna-se extremamente significativa quando considera a experiência
vivida – o evento da compreensão – como seu ponto de partida.» (PALMER,
1969:76-77), e o pensamento torna-se uma fenomenologia deste evento.
A compreensão envolve, permanentemente, a linguagem,
a confrontação com um outro horizonte humano, um ato de penetração histórica,
por isso, a Hermenêutica abarca uma teoria da compreensão linguística e
histórica, tal como funciona na interpretação do texto.
Compreender é uma operação essencialmente
referencial; compreende-se algo, quando se compara com algo, que já se conhece.
O homem não realiza o seu conhecimento a partir do nada, mas por meio de uma
reestruturação, correção e integração dos seus próprios ‘a prioris’ e ‘a posterioris’,
por isso, a interpretação é um conhecimento simultaneamente: reconstrutivo e
integrativo. (cf. ORTIZ-OSÉS, op. cit.)
Do que foi escrito, facilmente se dá conta que a
compreensão possui uma estrutura intrinsecamente histórica e que: «Não precisamos cair numa atitude
psicologizante para defender que a compreensão não pode ser concebida
independentemente das relações significativas que tem com a nossa experiência
anterior.» (PALMER, 1969:102), pois esta, como ato histórico, está sempre
relacionada com o presente. Seria ingénuo falar-se de interpretações objetivamente
válidas, porque isto implicaria ser possível uma compreensão que partisse de um
ponto de vista exterior à história.
Na realidade, no seu situar-se mundano (responsável
pelo mundo), o homem responde desde o seu posicionamento atual: quer a um passado
a interrogar e a integrar; quer a um futuro a predizer (possibilidade), isto é,
antes de tomar uma decisão fundamental, emprega a sua experiência, interpreta e
está interpretado na sua própria circunstância: «A sua atitude fundamental não aparece nem como progressiva nem como
regressiva, mas como ingressiva, integradora.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:48).
Compreendemos um texto, não com a consciência vazia,
mas porque mantemos um modo de ver já estabelecido, e algumas conceções prévias
ideacionais, (pré-estrutura da compreensão): «O passado não se nos pode opor como objecto de interesse arqueológico.
A auto-interpretação do indivíduo é apenas uma luz trémula na corrente fechada
da vida histórica. Por essa razão, os juízos prévios do indivíduo são mais que
meros juízos; são a realidade histórica do ser.» (PALMER, 1969:185).
Os juízos prévios traduzem a capacidade que toda a
pessoa tem para compreender a história: dentro ou fora das ciências, não pode
haver compreensão sem pressupostos, resultantes da tradição em que cada
indivíduo se insere (horizonte no interior do qual pensamos).
Uma dupla operacionalidade se apresenta: uma
operacionalidade do presente no passado – não há uma visão pura da história,
sem referência ao presente; e uma operacionalidade do passado no presente
(consciência historicamente operativa) – o presente só é visto e compreendido
através das intenções, modos de ver e pré-conceitos que o passado transmite: «Não podemos inventar nem recusar o
horizonte que faz alteridade à nossa consciência.» (ORTIZ-OSÉS, 1983:12).
O passado não é um amontoado de factos, é antes um
fluxo, em que nos movemos e participamos: «A
tradição não se coloca, pois, contra nós, ela é algo em que nos situamos e pela
qual existimos.» (PALMER, 1969:180). Dá-se no ato de compreensão uma
simbiose do estranho e do familiar (simultaneidade).
A tensão, presente-passado, é, em si mesma, essencial
e frutífera em Hermenêutica; a distância temporal tem, simultaneamente, uma
função negativa e positiva, tanto faz com que se eliminem certos juízos prévios,
como provoca o aparecimento daqueles que nos levam a uma compreensão
verdadeira.
Os nossos pressupostos não podem ser tomados como
absolutos, mas sim como algo sujeito a mudança. São positivos: quando conduzem
à compreensão; e negativos, quando conduzem ao mal entendimento. Esta distinção
faz-se no interior da própria experiência hermenêutica.
Bibliografia
ORTIZ-OSÉS,
Andrés, (1983). Antropologia Hermenêutica. Tradução, L. Ferreira dos Santos.
Braga: Eros.
PALMER, Richard E., (1969). Hermenêutica. Tradução, Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70
Gratidão. «Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de
si. Cuide de todos». Aclamemos a vida com esperança, fé, amor e felicidade.
Estamos todos de passagem, e no mesmo barco. Tenhamos a humildade de nos perdoarmos
uns aos outros. Alimentemos o nosso espírito com a oração e a bela música.
Por favor
aceite: https://www.facebook.com/100005661551752/videos/1257179961147377/
Venade/Caminha
– Portugal, 2020
Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
NALAP.ORG
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https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
http://diamantinobartolo.blogspot.com
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