A Hermenêutica Filosófica, enquanto disciplina para
aquisição de conhecimentos, metodologias a implementar para o seu estudo, que
requer profunda reflexão, exige um esforço suplementar, por razões de
dificuldades interpretativas dos textos que se apresentam neste domínio,
considerada a terminologia filosófica muito específica, transcendental e,
quantas vezes, ambígua alguns intérpretes de grande parte das obras.
Uma reflexão, ou mesmo um resumo, sobre o tema como
é o da “Função do Dogma na Investigação
Científica”, exige, no mínimo, uma capacidade acrescida de esforço intelectual,
ao nível da interpretação hermenêutico-científica sendo, por isso mesmo,
compreensível, o recurso a um certo ecletismo, uma colagem, a mais positiva
possível, ao autor de referência (Thomas
Samuel KUHN, 1922-1996) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Kuhn).
A tentativa de apresentação crítica na perspetiva hermenêutica, seguramente,
integrará a presente reflexão, com todos os riscos daí decorrentes.
Entre as várias caraterísticas do científico, uma
delas é ser objetivo, ter um espírito aberto, embora o cientista, em
determinadas circunstâncias, seja uma pessoa relativamente fechada, porque ele
tem um projeto próprio, quantas vezes individual e, os resultados que aguarda
da sua investigação, deseja-os conforme o seu modelo.
Os preconceitos, as reações negativas, os dogmas e
as interpretações, relativamente aos factos científicos, surgem em toda a
parte, quer a partir das convicções profundas dos seus autores, quer mesmo
através da opinião pública generalizada, veiculada pelos poderosos “mass
media”, por vezes com tal resistência ao avanço científico, que tais atitudes
mais parecem a regra do que a exceção, todavia, as crenças fortes que precedem
qualquer investigação são, frequentemente, pré-condições para o sucesso das
ciências.
E assim se vai criando: por um lado, uma certa
dogmatização das ciências já feitas e que assenta, fundamentalmente, no
preconceito e na resistência às inovações; por outro lado, uma adesão que,
afinal, é imprescindível a todo o ato indagador, na medida em que ela permite,
ao investigador, detetar os focos de dificuldades nos atos inovadores,
possibilitando-lhe, assim, contornar e vencer fracassos prévios, num projeto
científico. No fundo, a adesão dogmática é o instrumento que faz das ciências
uma atividade humana, profundamente revolucionária.
A educação científica tem vindo a ser muito
acompanhada por manuais escolares, que não permitem ao estudante objetivar-se,
perante o problema concreto científico, e orientar um projeto de investigação
atualizado e corretamente adequado ao facto investigado, muito embora, no campo
das ciências sociais, tal uso não seja nefasto, porquanto colocam o aluno
universitário perante várias soluções, para uma mesma questão, e haja um certo
consenso quanto às matérias que o estudante deve saber com rigor, sem entrar na
combinação eclética de originais de investigação.
Ainda que na falta de manuais para esta ou aquela
ciência, o aluno depara-se com formulações paradigmáticas que,
pré-estabelecidas há muito tempo, funcionam como arquétipos, que ele procura
aplicar no laboratório ou na elaboração da sua resposta académica e, assim, os
paradigmas orientam todo um esquema de desenvolvimento científico, constituem
uma aquisição, embora tardia, a que se chega no processo evolutivo de grande
parte das ciências.
Com efeito, o paradigma é um resultado científico
fundamental, que engloba uma teoria e aplicações. O resultado conclusivo do
paradigma é aberto, no entanto não admite quaisquer outras investigações. É,
ainda, um resultado aceite e recebido por um grupo que não lhe oferece
oposição, nem alternativas.
Muitos jovens cientistas aderem a uma forma especial
de analisar a natureza, a partir de um paradigma, porque este aponta-lhes as
entidades que povoam o universo e o comportamento dessa mesma população,
informando-os das questões que podem ser devidamente postas, e das técnicas que
devem aplicar na busca das respostas adequadas.
Há muitos campos onde o paradigma pode funcionar e,
no âmbito da natureza, o seu ajustamento àqueles pode ocupar os melhores
talentos científicos duma geração. Também no campo das ciências
físico-químicas, grande parte dos problemas dependiam de paradigmas, ainda
antes destes aparecerem, mas que após a sua implantação, absorviam aqueles,
pela resolução paradigmática.
Na investigação normal, o científico não pretende
desvendar o desconhecido, mas obter o conhecido, ele luta para conseguir esse
resultado, num esforço em que a solução final é já conhecida, de tal forma que
o paradigma que ele adquiriu, por força de uma preparação prévia, fornece-lhe
as regras do jogo, descreve as peças e aponta o objetivo a alcançar, devendo
ele preocupar-se em manipular aquelas, de forma a não falhar.
As regras
paradigmáticas não podem ser postas em causa, porque elas são parte integrante
do problema a resolver, pelo que, o praticante da “ciência madura” pressupõe a
adesão profunda a um paradigma, avançando a ciência, precisamente porque tal
adesão não permite o abandono do indivíduo ou grupo profissional, o que se
traduz, finalmente, na produção de uma solução, e daí, também, a resistência
dos cientistas à mudança de paradigmas.
O cientista necessita da indicação de onde procurar,
como fazê-lo e porque procurar esse algo que é, precisamente, o paradigma que
lhe foi fornecido pela sua educação científica, no qual acredita e confia,
lutando para concretizar o conhecido, levando-o à conceção de diversas versões
da teoria, o que consegue pelo ajustamento de paradigmas embora, em última
análise, bastante incompletamente, porque se a atividade normal de solucionar
“puzzles” tivesse sempre êxito, o desenvolvimento da ciência não podia conduzir
a qualquer tipo de inovação fundamental.
Um segundo aspeto é que na ciência normal, a
investigação de base paradigmática traz vantagem, esta verifica-se na medida em
que a partir de sucessivos fracassos, o cientista pode alterar as regras com
que tenta fazer o ajustamento do paradigma à natureza e, simultaneamente,
reconhecer e isolar uma anomalia, o que está na base de descobertas de novos
tipos de fenómenos, por conseguinte, das inovações fundamentais da teoria
científica.
É verdade que muitas descobertas ocorrem por acidente,
embora este não aconteça a uma pessoa qualquer, mas sim por força de
irregularidades que afetam os equipamentos especializados, manuseados pelos
cientistas, bem como nas falhas que, por vezes, surgem nos projetos de
investigação, traduzindo-se em fracassos espetaculares, que põem em causa
convicções e maneiras de proceder, correntemente aceites.
Assim, a resposta normal consiste em lançar a culpa
nos talentos ou aparelhos de alguém e mudar, a seguir, para outro problema,
sendo importante discernir entre uma anomalia essencial e um fracasso
acidental, resultando daqui o esquema: descoberta graças a uma anomalia, dúvida
relativamente a convicções e técnicas estabelecidas, que se repete ao longo do
desenvolvimento científico. Em suma, nas “ciências maduras”, as inovações
inesperadas são descobertas, muitas vezes, depois de algo ter corrido mal.
O dogmatismo científico, depois do que ficou
resumido, parece fundar-se, não só na adesão paradigmática e profunda do “status quo” mas, principalmente, na
inovação que se concretiza com o cientista, enquanto “solucionador de puzzles”,
produzindo-se, então, uma tensão entre as habilitações profissionais e a
ideologia profissional, cuja capacidade de a manter é condição essencial para o
êxito da ciência. É com o abalo das tradições, representadas pela continuidade
nas inovações, que se revela a vitalidade científica.
O tema em análise, reveste-se de dificílima
interpretação, na medida em que é a própria função do dogma da investigação
científica que torna, efetivamente, os textos estudados e interpretados, de
complexa assimilação, quer no aspeto filosófico, quer no domínio hermenêutico.
Em todo o caso, poder-se-á pensar que qualquer
paradigma constitui sempre uma boa base de trabalho científico, porquanto é a
partir dele que se pode aperfeiçoar os conhecimentos, o comportamento, enfim,
atitudes que devem ser normas éticas, praxis quotidianas da pessoa humana.
Neste contexto hermenêutico do paradigma, valerá a
pena enquadrar determinadas ações humanas, como verdadeiros modelos a seguir,
defendendo-os, inclusivamente, como autênticos dogmas, destacando-se entre
aqueles, algumas formas verbais, tão antigas quanto atualizadas, hoje, porém,
tão ignoradas, nomeadamente os conceitos que encerram os verbos “solidarizar”,
“amar”, “crer”, “pacificar”, “alimentar”, “educar”, e tantas outras conceções,
de sublime aplicação, sem ignorar valores essenciais à vida humana, em
sociedade, como a lealdade, a reciprocidade, a gratidão, a cumplicidade, a
coesão e a confiança.
Ao nível da investigação científica, naturalmente
que existem paradigmas que devem continuar atualizados, e modelares para a
resolução dos problemas concretos da humanidade, devendo os cientistas
agarrá-los e juntar as várias “peças”, no sentido de construírem a pirâmide
universal que culmina com a erradicação do obscurantismo, do desemprego, da
fome, da doença e da guerra.
A ciência deve saber trabalhar a natureza em
proveito do homem, nunca contra o ser humano, não mais com o objetivo de
destruir aquele mesmo homem que a faz progredir, inovar e solucionar. É neste
sentido prático e no aspeto ético que o dogma, na investigação científica, deve
modelar toda a pesquisa, toda a busca da verdade do melhor que possa haver para
o homem.
A função do dogma, na investigação científica, deve,
contudo, ser ajustada aos aspetos concretos de melhoria das condições de vida
da humanidade, os paradigmas devem ser aceites e trabalhados enquanto
constituem um instrumento no avanço da ciência benéfica, sim, porque também há
ciência nefasta e desta não interessa dar-lhe, aqui, desenvolvimento.
O dogma, neste contexto, será sustentado enquanto
valor da defesa da evolução da ciência benéfica, daquela ciência que o mundo
precisa para resolução dos problemas mais prementes da fome, da propagação do
ensino e da cultura, por todas as camadas sociais, qualquer que seja a sua
posição geográfica.
Tal como muitos dogmas religiosos, também os dogmas
científicos devem ser preservados naquilo que tiverem de melhor para o
bem-estar da humanidade, porque só assim se pode acreditar em todos os outros.
Aceitar e utilizar o dogma, também em ciência, com democracia, liberdade,
tolerância, mas nunca como blindagem e supremacia ditatorial de uma suposta
verdade.
Glossário
Arquétipo:
O termo é usado por filósofos, para denominar as ideias como exemplos de todas
as coisas existentes. Modelo pelo qual se faz uma obra material ou intelectual ideal,
inteligível, do qual se copiou toda coisa sensível. Para Platão, a idéia do Bem
é o arquétipo de todas as coisas boas da natureza.
Ciência: Conjunto organizado de conhecimentos humanos a respeito da
natureza, da sociedade e do pensamento, adquiridos através da descoberta e
aplicação das leis objetivas que regem os fenômenos e sua explicação. (Toda
ciência, para definir-se como tal deve, necessariamente, recortar, no real, seu
objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica).
Dogmas: São aspetos substanciais e inquestionáveis de uma
doutrina religiosa ou filosófica, mas também invocados na terminologia
científica. Fora do contexto religioso, os dogmas servem para designar uma
opinião que se confunde com uma verdade indiscutível. No sentido figurativo,
pessoas dogmáticas são tidas, portanto, por autoritárias, já que não admitem
questionamentos para seus pontos de vista.
Hermenêutica: Estuda a teoria e
interpretação de textos filosóficos, jurídicos, religiosos e científicos. A Hermenêutica é a ciência que estabelece os
princípios, leis e métodos da interpretação. Na sua abrangência, trata da
teoria da interpretação de sinais, símbolos de uma cultura e leis.
Paradigmas: Considerados como protótipos,
referências, normas, estruturas ou ideais. Algo adequado de ser seguido. Um
paradigma será a perceção geral e comum - não necessariamente a melhor - de se ver
determinada coisa, seja um objeto, seja um fenómeno, seja um conjunto de
ideias. Ao mesmo tempo, ao ser aceite, um paradigma serve como critério de
verdade e de validação e reconhecimento nos meios onde é adotado.
Bibliografia
KUNH, Thomas Samuel, (1969).
A Estrutura das Revoluções Científicas. 7ª Ed.Trad. Beatriz Vianna Boeira e
Nelson Boeira. S. Paulo: Perspetciva
Gratidão. «Proteja-se.
Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Aclamemos a vida com
esperança, fé, amor e felicidade. Estamos todos de passagem e no mesmo barco.
Perdoemo-nos uns aos outros e alimentemos o nosso espírito com a oração e a
bela música.
Por favor aceite: https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1/videos/1552897578209315/
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com
o protesto da minha permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
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