Toda a tentativa de compreender implica,
necessariamente: a dialética pergunta/resposta; e entender significa ajustar
constantemente a pergunta, isto é, pôr em jogo os pressupostos próprios, para
melhor formular a pergunta; provoca este jogo dialético, entre leitor e texto,
que faz parte da experiência mais originária do homem, cujo modo de ser é
compreender.
Ora, ao interpretar o objeto (texto), o
interpretante parte da sua experiência que se põe em jogo, por isso, os objetos
históricos e os seus efeitos participam e influenciam o presente, quer dizer: a
compreensão não é uma atividade subjetiva (romantismo), mas uma inserção no
processo de transmissão; a experiência hermenêutica envolve, antes de mais, a
participação e a pertença a uma tradição cultural; e emerge da relação entre o
familiar (pré-compreensão) e o estranho (texto).
O meio permite a tensão presente/passado, a dialética
pergunta/resposta, na fusão de horizontes (GADAMER). A revelação ontológica
(HEIDEGGER) é, precisamente, a linguagem. Esta fornece o suporte, no qual e
sobre o qual, os horizontes se podem encontrar.
A linguagem é o meio em que a tradição se esconde e
é transmitida. Toda a experiência ocorre na e pela linguagem. O homem tem um
mundo e vive no seu mundo, por causa da linguagem. Há, por assim dizer, um
acordo, ou apalavramento originário, na constituição linguística do mundo, e é
neste apalavramento linguístico (coletividade cultural), que se encontra a
condição “sine qua non” para toda a
comunicação e compreensão: «Uma
antropologia que reconhecer que a condição humana repousa neste acordo profundo
pode, então, interpretar em função dele a variedade de discursos sobre o homem,
aliás, engendrados e geridos pela natureza dialógica deste acordo.»
(ORTIZ-OSÉS, 1983:13).
Assim, a pertença e a participação na linguagem,
como meio da experiência humana no mundo, é a verdadeira base da experiência hermenêutica.
Como ouvir é um poder muito maior do que ver (GADAMER), e como a linguagem é o
repositório do passado, e o meio que existe para o conhecer, é na audição da
linguagem, que a experiência hermenêutica encontra a sua total realização: «A linguagem é finita e histórica, é um
repositório e um condutor da experiência do ser que se tornou linguagem no
passado. A linguagem tem que nos levar a compreender o texto, a tarefa hermenêutica
é tomar a sério a linguisticidade da linguagem e da experiência e desenvolver
uma Hermenêutica verdadeiramente histórica.» (PALMER, 1969:215).
O homem, como ser no mundo, tem, forçosamente, um
comportamento perante esse mundo, conduta que implica diálogo. É este diálogo
que faz, para além do ambiente, o mundo do homem. A linguagem representa o
ponto de partida, comum da experiência do mundo e da prática hermenêutica.
Consequentemente, o homem encontra-se numa relação
de pertença para com a sua experiência originária do mundo (ligado ao
matriarcal), não é sem o que já foi, sem o que já viveu e experimentou, não é
sem a experiência acumulada por si e seus antepassados.
A sua experiência hermenêutica realiza-se dentro da
linguagem e dentro duma tradição, numa atitude de escuta e interpretação, a
estrutura desta experiência assenta no acontecer da linguagem, inserta numa
tradição cultural. A história é que primeiramente interpreta: «Esta história, sujeito da nossa própria
interpretação, acaba por ser linguagem, texto a comprovar, jogo a conjugar,
diálogo a realizar» (Ibid:56).
A transferência da questão hermenêutica de uma
Gnoseologia a uma Ontologia da linguagem (GADAMER) não é o suficiente, no entender
de ORTIZ-OSÉS, porque esta mesma fica prejudicada. ao ser entendida em
“perigosa” circularidade. A linguagem não é uma mera dialética histórica, uma
vez que para além da sua função “imediadora”, o objetivo e o subjetivo se
“disputam”.
Como interpretação primeira da realidade e do homem,
a linguagem ultrapassa uma mera razão histórica (fundista de horizontes), e
torna-se numa razão hermenêutica (razão crítica), auscultadora da verdade da
linguagem, como apalavramento da realidade.
Perante a tendência esteticista de GADAMER, segundo
a qual tem que trazer tudo à linguagem, para proceder à sua revelação, há que
opor uma tendência complementar, segundo a qual é necessário desenvolver,
criticamente, a linguagem ao todo da realidade, porque: «Se o que somos é um diálogo, a verdade do diálogo não radica num falar
para não estar calado – onde tudo é simultaneamente verdade e mentira -, mas
falar para calar, onde algo é mais ou menos verdadeiro e falso.»
(ORTIZ-OSÉS, 1983:59).
Importa trazer à linguagem os princípios determinantes
da vivência cultural do homem. A filosofia grega apresenta-se como a trave
mestra, como a origem matriarcal do mundo ocidental. Ora, como dependentes e
participantes, encontramo-nos imersos nesta tradição, vivendo efetivamente as
consequências (negativas e positivas), da experiência e do pensamento grego.
Mas mais importante que a pura contemplação do
mundo, da receção da cultura tradicional e da dialética integradora desta mesma
tradição, é a conversão e transformação do mundo. Por isso, ORTIZ-OSÉS propõe-se,
através da mediação hermenêutica, atribuída à linguagem (proto interpretação),
transformar a tensão matriarcal/patriarcal, em fatriarcado (diálogo crítico).
Através da linguagem, o mundo humano é interpretado
entre o mito e o logos (CASSIRER). É nesta tensão mito/lógica, que se encontra
na linguagem a dialética pertença/conquista. A Hermenêutica Filosófica aparece,
assim, como uma interlinguagem crítica e mediadora (Razão Hermenêutica), entre
o senso comum (mito), e o pensamento lógico (logos). A Hermenêutica mediatiza
dialeticamente o polo ontológico da experiência do mundo, e o polo
lógico-racional da ciência.
A metafísica clássica, está intimamente ligada e
condicionada pelo sistema sociopolítico, em que se insere (matriarcalismo e
patriarcalismo), e a metafísica Hermenêutica está ligada a uma estrutura
fatriarcalista, isto porque a Metafísica Hermenêutica, não se pode reduzir a um
corpo teorético, a uma simples e passada interpretação da realidade, mas sim a
uma atividade prática de transformação da realidade humana. A nova Metafísica Hermenêutica
será, então, um novel tipo de linguagem, que leva a cabo uma articulação
totalizadora do universo do discurso humano.
O homem vive numa permanente dependência duma
interpretação do passado, e assim se ousa designar o homem de “animal
hermenêutico”, que se compreende a si mesmo, em termos de interpretação de uma
herança que está constantemente presente, ativante em todas as suas ações e
decisões.
Interpreta, e está sempre interpretado em relação ao
mundo que constrói, e em que vive, por isso, a sua existência como
interpretante imerge no pré-conceito (experiência), porque o homem esteve, está
e estará sempre carregado desta experiência tradicional, que pavimenta e
sustenta a sua possibilidade de compreender.
Há que entender que: os pré-conceitos são sempre o
ponto de partida; e que a linguagem é o reservatório e o meio de comunicação da
tradição; a linguagem e a história não estão, somente, relacionadas, mas também
misturadas: «Não é o tempo quem dirá as
coisas – o tempo diz apenas o que a linguagem sabe» (ORTIZ-OSÉS, 1983:26).
O homem vive numa relação de pertença com a
tradição, a partir da qual elabora, segundo as normas transmitidas, um discurso
que retoma e altera através da dialética: passado/presente; pergunta/resposta,
e pondo em jogo os pré-conceitos do interpretante.
A compreensão, o novo sentido, a nova visão (pensar)
corresponderá a um processo de integração gradativa, que se vai tornando
inteligível no contexto do discurso pré-elaborado.
Falar da tradição cultural como condição “sine qua non”, no ato de compreender, é perguntar pelos últimos pressupostos (paradigmas e pré-paradigmas, segundo KHUN), que tornam possível o entender e a verdade como tal, circunstância fundamental para uma teoria da ciência.
Bibliografia
ORTIZ-OSÉS, Andrés, (1983).
Antropologia Hermenêutica. Tradução, L. Ferreira dos Santos. Braga: Eros.
PALMER, Richard E., (1969). Hermenêutica. Tradução, Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70
GRATIDÃO. «Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Por favor, cumpra, rigorosamente, as instruções das autoridades. Aclamemos a vida com Esperança, Fé, Amor e Felicidade. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco. Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros. Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela músic
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Venade/Caminha –
Portugal, 2020
Com o protesto da minha
permanente GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
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