A Hermenêutica que vem do grego “hermēneuein”, que significa interpretar, era um termo inicialmente teológico, que indicava a metodologia própria da interpretação da Bíblia, dependendo da exegese linguística e histórica.
O vocábulo transitou
depois para o domínio laico, para designar o esforço de interpretação
científica e, se possível, exaustiva, de um texto difícil, tendo sido retomado
contemporaneamente, por Paul Ricoeur, entre outros.
Certamente que a
interpretação da Bíblia, ou de um texto difícil, ou mesmo de uma cultura,
constitui, eventualmente, um obstáculo intransponível, se se considerar a
ausência de investigação científica, profunda, exclusiva e longa no tempo,
situação que se verifica, com muita frequência, entre estudantes,
investigadores e académicos. Não é fácil, nem levianamente encarada a obrigação
de elaborar um trabalho, sobre qualquer tema hermenêutico, como bastante
espinhoso se torna o estudo desta matéria.
Neste contexto
hermenêutico, a cultura é, portanto, a base fundamental, a partir da qual o
homem se projeta para um horizonte de esperança, porque conhecedor do seu
passado, ciente dos erros que a História lhe narra e das virtudes que lhe
ensina.
Tradição
e Cultura são aspetos do mesmo enquadramento humano no mundo, porque,
efetivamente, a cultura acumula-se pela tradição, pela experiência, pelo
intercâmbio entre os povos, ela é, afinal, o modo de ser, agir e pensar de um
povo e, só na posse desse conhecimento, tão rico e profundo, é que a
compreensão se torna possível. A cultura é, acima de tudo, um estudo
prolongado, sempre renovado, sempre atualizado aos seus temas, no contexto
histórico-social.
Como ser no mundo, o homem tem, forçosamente, um
comportamento perante esse mundo e que inclui diálogo. É este diálogo que faz,
para além do ambiente, o mundo do homem. Em consequência, o homem encontra-se
numa relação de pertença para com a sua experiência originária do mundo: não é
sem o que já foi, sem o que já viveu e experimentou; não é sem a experiência acumulada
por si e seus antepassados.
Ele
pode captar, perfeitamente, o seu sentido último, compreender a sua posição no
mundo e explicar aos vindouros os factos do presente, interpretando com
segurança os projetos que deseja para o futuro, não numa atitude dedutível nem
puramente lógica, mas numa postura de entendimento dos valores que lhe estão
subjacentes, os quais deve aplicar e desenvolver no sentido positivo, depois de
corretamente assimilados.
A
cultura é memória e desejo, uma recapitulação do mundo antigo, em projeção para
o futuro. A cultura é mais uma formação de caráter do que transmissão de saber,
uma valorização total do homem, no sentido da sua otimização humana, pelo que
não há cultura sem um certo conceito de humanismo, que lhe sirva de suporte e
de orientação permanentes
É
neste âmbito que se pode defender o investimento na cultura: não como uma forma
de intelectualismo encapuzado; não numa perspetiva de “sucessocracia” material e faustosa, mas, bem pelo contrário, numa
estratégia antropológica, direcionada para o desenvolvimento do homem, para o
seu apalavramento com o mundo e com os outros, seus iguais, justificando-se
como pessoa de direitos e deveres, como “animal
de cultura”, enfim, como Homem, como Pessoa Humana.
No
domínio da Hermenêutica, nenhum texto fica concluído, sob o ponto de vista da
interpretação, completamente fechado, até porque, a abertura que nas suas
entrelinhas se revela seria suficiente, para se continuar nova interpretação,
novos ensaios. O Homem, com todo o peso da sua cultura, será indefinidamente um
ser aberto, incompleto e sempre em busca da verdade da sua condição.
Venade/Caminha – Portugal, 2020
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
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