sábado, 5 de dezembro de 2020

A Filosofia e o Texto

Partindo do texto de Nietzsche (Friedrich Wilhelm NIETZSCHE 1844-1900, filólogo e influente filósofo alemão do século XIX) Genealogia da Moral”, importa evidenciar a situação da Filosofia no futuro, e que no mais profundo da sua intencionalidade consiste, afinal, na sua sujeição à interpretação: «programada no espaço de uma prática activa e regulada, a filologia».

Neste novo espírito de abertura da Filosofia, é necessário decifrar o sujeito, e inscrever o processo de formação, num sistema de ficções e de crenças, ou seja, é preciso redescobrir a sua genealogia.

O texto nietzschiano vai perspetivar os processos mais importantes do idealismo, numa dialética metafísica entre o significado, o valor e suas equivalências, o que corresponde a afirmar que a: «metafísica e a religião nos seus esforços conjugados lançaram uma proibição sobre qualquer ciência do corpo, ao mesmo tempo que sobre qualquer prática filológica» (cf. NIETZSCHE, 1976: op. cit.), relegando o corpo e o significante para uma posição de dominados, o que resulta num recalcamento, cuja lógica se inscreve numa leitura do código linguístico, moral e religioso, colocando a descoberto o simbolismo cristão.

Tal lógica, que revela um desconhecimento do sujeito pleno, presente a si, sujeito capaz de um domínio absoluto, sobre a cadeia dos significantes, parece ter por objetivo o “fantasma da totalização”, que seria o índice mais constante do idealismo, lugar onde sempre se realizam uma ocultação e um recalcamento, o que leva a decifrar os conceitos essenciais, utilizados pelos diferentes sistemas metafísicos e seus parentescos.

Os filósofos, vêm-se, assim, enredados nos sistemas de conceitos filosóficos, procuram estruturar novos sistemas, mas acabam por cair na mesma circularidade da «ordem sistemática inata dos conceitos e o seu parentesco essencial. O pensamento consiste menos em descobrir do que em reconhecer, recordar-se, em voltar atrás.» (Ibid.) e, desde que haja um parentesco linguístico, tudo fica preparado para um desenvolvimento e um desenrolar análogo dos sistemas filosóficos.

Assim, as metafísicas, nas suas variantes, são apenas o retorno contínuo ao fundamento de uma gramática, que requer sempre a posição incondicionada de um sentido, a determinação ideal de uma série de enunciados suficientes a si próprios e, nesse sentido, a genealogia tem por espaço privado a língua, os processos de inscrição postos no texto metafísico.

Esta língua “funcionou como uma fé, como um sistema de crenças eternas” e o sinal deve tornar-se o espaço ascensional genealógico, que tem de ser decifrado como um sintoma. O reconhecimento dos valores morais e religiosos assenta, portanto, na crença da verdade dos conceitos e na transparência dos sinais.

A linguagem serviu, ainda, para o homem situar o seu próprio mundo e a partir deste construir o resto do globo e tornar-se o seu senhor. O conhecimento do mundo fundamentava-se na língua. A crença na linguagem tornou-se um dogma, e o homem o detentor orgulhoso que se elevava acima do animal.

Pela língua se estabeleceram os conceitos, e por estes o conhecimento universal, fundamentos que fora do seu tempo se reconhecem, no entanto, errados. Na verdade, e a título de exemplo, o conceito de “castigo”, em termos semióticos, o que implica que qualquer significado só pode ser decifrado na posição de significante.

 O mesmo se passa com tudo o que se apresenta como “valor”, porque a genealogia é uma construção, um trabalho sobre os próprios materiais da Filosofia (abordagem semiótica), porque o filósofo crê que a sua Filosofia reside no conjunto, na construção, e mesmo que tal construção possa ser destruída, ela conservará o seu valor material.

GLOSSÁRIO

Semiótica - Literalmente "a ótica dos sinais", é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenómenos culturais, como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ambos os termos são derivados da palavra grega σημεον (sēmeion), que significa "signo", havendo, desde a antiguidade, uma disciplina médica chamada de "semiologia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica

Bibliografia

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, (1976). A Genealogia da Moral. 3ª Edição. Tradução, Carlos José de Meneses. Lisboa: Guimarães & Cª Editores.

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Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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