sábado, 19 de dezembro de 2020

Genealogia e Discursividade

 O sinal como sintoma produzindo implicações e reconstruindo a sua historicidade, num duplo sentido de movimento de reativação do sinal e apreensão dos processos que o constituem como simples pontualidade, constituem a “necessidade metafísica” na expressão de Nietzsche, e é assim que a genealogia se encontra continuamente confrontada com um texto opaco, sobrecarregado, cujos constituintes são sempre sobredeterminados.

Nestes contextos, e no de outras obras, o filósofo é na realidade intérprete, o espetador das “coisas europeias” perante um «texto misterioso e ainda não decifrado», cujo sentido se nos revela cada vez mais. (cf. NIETZSCHE, 1976).

Devido à opacidade dos textos metafísicos, a genealogia tem de abrir caminhos, entrelaçar códigos, numa perspetiva desenvolvimentista, colocando em relação as diversas figuras de representantes dos vários códigos: moral, religioso e até estético, pondo-se em questão o privilégio da “eterna presença do código”.

Por isso há que evitar a busca da experimentação dos valores, escudando-se na dupla defesa da revelação e da tradição, isto é, a sabedoria das leis é de origem divina, total, perfeita, um prodígio, e a afirmação de que a lei existe desde tempos imemoriais. Deus deu a lei aos antepassados e eles viveram-na.

O discurso metafísico utiliza metáforas que convertem em conceitos, implicando a “crença noutro mundo”; o idealismo é efeito de uma repetição, o mundo desdobrado e repetido, mais uma vez, e é por isso que o conhecimento filosófico só pode decifrar-se como uma repetição desfasada, deslocada de interpretações e nunca uma descoberta, mas o retomar modificado de um sistema de sinais, anteriormente produzido, daí a opacidade do texto metafísico, porque é um texto acumulado, condensado de diferentes interpretações.

A genealogia explica, portanto, que o conhecimento é o processo real do próprio conhecimento, seu logro de estrutura, por isso, «o conhecimento é uma interpretação, um conferir um sentido, mas nunca uma explicação» (Ibid.), muitas vezes uma interpretação nova de uma interpretação antiga, que se tornou ininteligível e que já não passa de um sinal, consistindo este processo num conferir valores, cujo curso completo foi orientado para a depreciação da vida.

A genealogia procura desvendar uma série de interpretações embaralhadas num movimento indefinido de significados, pelo qual se constituem, simultaneamente, o sentido e o valor, ela desmonta a pretensa unidade do sujeito, resolve-o nos seus constituintes materiais.

No termo do processo, a genealogia encontra séries de deslocamentos e de recuperações, que delimitam a articulação dos sinais. É assim que quanto aos conceitos o problema reside na demarcação das suas deslocações, distinguindo-se dois elementos fundamentais e que são: por um lado, o permanente, o uso, o ato, o drama; por outro lado, a fluidez, o sentido, o objetivo, tudo o que se liga à realização destes procedimentos, em cuja diferença se situa a leitura não determinada pelo idealismo da essência, evitando qualquer posição metafísica dos conceitos e dos valores, eliminando a confusão mantida pelo idealismo filosófico, entre o significado e o valor, o ativo e o passivo, o discurso e a gramática, o sinal e o interdito.

A genealogia explicita as condições formais da produção dos conceitos e nesta trajetória há a considerar três momentos:

1º) Assinalar um texto de caráter lacunar conhecido, os elementos significantes, os núcleos de sentido que funcionam como significados originários, como função legisladora no texto metafísico;

2º) Destacar a sintaxe que dá forma e sentido àqueles elementos, desvendar o sistema formal das crenças, dos postulados ou das hipóteses, pontos de apoio de uma produção conceptual, regulamentada como verdade;

3º) Decifrar o conjunto do texto, mostrando a função das lacunas, e trabalho de extinção, de obliteração e de erosão contínua.

A hierarquia dos significados remete para uma “vontade” de verdade, que encontrou num determinado grupo de representantes o seu suporte, os quais impulsionam a produção metafórica, codificada no espaço de uma retórica denominada “Filosofia”, no interior da qual a aparência assumiu o valor da essência, com o próprio nome de verdade. É assim que se pode entender a originalidade como qualquer coisa que ainda não tem nome. O nome é fundamental para tornar visíveis as coisas.

Aproveito para vos desejar: Um Santo e Feliz Natal, com verdade, com lealdade, com reciprocidade, se possível, com gratidão, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor Humanista», com um sentimento de tolerância, de perdão e muito reconhecimento para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida, me têm ajudado, compreendendo-me e nunca me abandonando. É este Natal que eu desejo festejar com muita alegria, pesem embora as atuais restrições e condicionalismos, impostos por uma pandemia cruel e mortífera.

 

Bibliografia

 

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, (1976). A Genealogia da Moral. 3ª Edição. Tradução, de Carlos José de Meneses. Lisboa: Guimarães & Cª Editores

GRATIDÃO.  «Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Cumpra, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. Aclamemos a vida com Esperança, Fé, Amor e Felicidade. Acreditemos nos investigadores, na Ciência, na tecnologia e instrumentos complementares. Estamos todos de passagem, e no mesmo barco. Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros. 

 

Alimentemos o nosso espírito com a ORAÇÃO e a bela música.

 

 

Brasil

https://youtu.be/Z7pFwsX6UVc       

 

Portugal

https://youtu.be/DdOEpfypWQA

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